Domingo de manhã na Cidade do México. A ampla e linda avenida Paseo de la Reforma com seu icônico Ángel de la Independencia fechada para carros, transformada num grande boulevard para bicicletas, pessoas e cachorros.



Minha meta era revisitar, desta vez com mais calma, o santuário da Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe (La Vírgen de Guadalupe, como eles dizem aqui em espanhol). Do Paseo de la Reforma, qualquer ônibus com direção a Hidalgo o leva à basílica mais rápido que o metrô. (Já se você estiver longe, a estação de metrô aonde chegar é La Villa-Basílica.)
Eu já havia visitado a basílica num tour há uns anos atrás, como cheguei a relatar anteriormente. Naquele post, contei a origem da tradição e de Guadalupe, corruptela do nome indígena coatallope, que na língua náhuatl significa “aquela que pisa a serpente”. Ela teria aparecido em 1531 ao índio Cuauhtlatoatzin (batizado de Juan Diego), e desde então se tornou o maior símbolo do cristianismo latino-americano.

São mais de 20 milhões de visitantes anualmente, mais que os 13 milhões de Notre-Dame ou os 5 milhões que visitam o Vaticano cada ano. Claro, muitos desses são devotos mexicanos, nesta nação onde o catolicismo — com seus sincretismos indígenas enraizados na população — permanece forte.
Curioso é que, como já havia ocorrido no Velho Mundo, o cristianismo aqui também foi construído por sobre as religiões nativas e aproveitando-se de elementos delas. Já falei sobre a inspiração da Sagrada Família, com Maria e o Menino Jesus, nas antigas lendas e imagens egípcias de Ísis e Hórus (aqui e aqui). Assim como a escolha da data do Natal aproveitou-se de celebrações primevas do solstício de inverno, dia mais curto do ano, em todo o hemisfério norte.
No México — como bem notou um leitor nos comentários no meu post anterior em Guadalupe — os astecas e outros celebravam “nossa venerável mãe” (Tonantzin na língua náhuatl). Um templo a ela que os espanhóis destruíram na guerra de conquista em 1519-1521 ficava precisamente na Colina de Tepeyac onde Juan Diego teve sua visão e onde viria-se a construir uma capela à Nossa Senhora. (Semelhanças não são coincidências.)
Tonantzin era particularmente celebrada no solstício de inverno, dia mais curto do ano, que àquela ocasião de 1531 caía dia 12 de dezembro. (Isso se deveu a limitações do Calendário Juliano, então em vigor. O atual Calendário Gregoriano, implementado a partir de 1582, “adiantou a fita” e passou o solstício de volta a 24 de dezembro. Naquele ano, se pulou de 4 para 15 de outubro.) Qual será a sua surpresa ao saber que o Dia de NS de Guadalupe foi fixado exatamente em 12 de dezembro, feriado nacional no México.
Os indígenas continuavam a trazer suas oferendas a Tonantzin/Guadalupe, agora sob o novo nome ou a nova roupagem. As identidades acabaram mescladas, como talvez é melhor demonstrado na Igreja de Santa María Tonantzintla no vilarejo de Cholula, perto de Puebla, onde até os nomes se misturaram.
Há quem diga que o próprio nome, com sua significação de “pisar na cabeça da serpente”, também remete à figura divina de Quetzalcóatl, a divina “serpente emplumada” então reverenciada pelos indígenas aqui de toda a Mesoamérica. Uma lenda prometia o seu retorno à Terra — que alguns à época parecem ter interpretado como a chegada dos espanhóis de pele clara —, mas a figura de Guadalupe parecia dissuadir a população de quaisquer afiliações com tais serpentes.
Quase 500 anos após Juan Diego, lá estava eu naquela área. Agora como antes, os mexicanos continuam trazendo suas oferendas.










Fazia um certo calor, embora fosse inverno aqui no México. Não sei se agravado pela multidão. Pessoas lá e cá, olho nos pertences, ao mesmo tempo em que me entretinha com as manifestações diversas.
Ambas as basílicas — tanto a colonial quanto a moderna — são belas à sua própria maneira. A colonial, geralmente mais vazia, segue o estilo das igrejas tradicionais, com suas arcadas e pilares. Já a moderna, de espaço amplo, lembra algo do Santuário de NS Aparecida no Brasil. É nessa mais nova que está a imagem original de NS de Guadalupe que teria se imprimido na capa de Juan Diego quando ele foi apanhar flores para o bispo em 1531.






Abaixo é um pequeno vídeo que fiz de uma manifestação cultural no local naquela manhã. Dá também uma noção da sensação popular naquele ambiente.
Se eu não soubesse que estava na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, acharia que estava diante de uma manifestação indígena, com suas flautas, ritmos e tambores. Esse é o México.
A vinda aqui é passeio para uma manhã. Algumas pessoas podem se deter um tempo orando, embora eu visse que muita gente fica mesmo é no fuzuê em seus grupos. Afinal, a vinda aqui é também um evento social. Grupos vindos de longe frequentemente trazem sua farofa, e quem não — como eu — precisa procurar algum dos muitos restaurantes das redondezas quando a fome aperta.
O restaurante onde me assentei parecia muito os do Brasil, aquele ambiente simples regado a pessoas também simples. Uma dupla de sertanejos — digo, de cancioneiros mexicanos do interior — faziam uma “moda de viola” à mexicana. Faltou luz mas isso não impediu os rancheros de cantar. A comida veio a seu tempo, tempo de eu naquele dia à tarde ainda ir a Coyoacán, o bairro mais simpático da Cidade do México.
Meu jovem, que espetáculo a cidade… Que linda, ampla, arborizada, limpa e movimentada avenida transformada em calçadão nessa linda manha de domingo. Elegante, charmosa e monumental. Maravilhosa. Assim como as imagens dessa cidade surpreendente.
Que magnifico Santuário!.., Belíssimo, adoro esses estilos antigos. Lindas cúpulas, as torres, os arcos, os tons, o rico interior, pleno de adornos e detalhes de uma beleza única. E que simbologia histórica. Linda e significativa. Um esplendor de arte, simbologia e história popular e religiosa. Estupenda.
Que maravilha o entusiasmo da multidão para reverenciar La Virgencita de Guadalupe, padroeira de latinoamerica.
Que bela festa!;… Que singeleza e riqueza de cores, danças, melodias, instrumentos, de fantasias, de atrações… Que musicalidade, lindo ver o povo simples alegre, feliz, apesar de tudo e tomando posse da grande festividade de louvor à morena e excelsa, Virgen de Guadalupe.
Linda postagem linda festa.
Amei a arquitetura, o povo, os tons, a arte, as cores, a alegria, o movimento, as danças as musicas, o sentimento que tomava conta de todos em reverencia, cada um ao seu modo, à la Virgencita Morena, com ares indígenas, como seu povo. Linda imagem, linda historia; Amei. Adorei a postagem e conhecer a festa e o Santuário através dessa rica apresentação.
Tem mesmo muita semelhança com o que ocorre aqui no Brasil com NSa Aparecida no estado de S Paulo. Tal como em Aparecida, um fenômeno de fé , arte e participação popular e religiosa. Muito bonita.