Hola, cabrones! Hora de fechar mais este périplo pelo país mais culturalmente interessante da América do Norte.
Eu vim duas vezes ao México, passando um total de três meses no país. Uma coisa que você logo aprende é que, com seus 31 estados e um Distrito Federal, o México é grande e cheio de regionalismos. Não vi tudo, mas conheci bastante coisa, e espero retornar um dia para conhecer o resto.
Abaixo, um balanço das minhas passagens pelo país, observações gerais para quem pretende viajar aqui, e algumas dicas.
- O que mais gostou. A riqueza cultural. Muita coisa de raiz indígena, bem mais do que a versão “gourmet” que te vendem do México na mídia e nas casas de fast food.
- Visita obrigatória. Cidade? A Cidade do México, grande metrópole do país onde você pode passar uns bons dias sem se queixar de falta do que fazer (mais abaixo). Estado? Oaxaca. Pra mim, é o estado “must see” do México.
- O que não gostou. A pobreza generalizada. 50 milhões de pessoas, ou 42% da população mexicana, vivem abaixo da linha da pobreza. A proporção é maior que no Brasil. A menos que se insule o tempo todo nos Starbucks da vida, você verá essa precariedade nas ruas. É de lamentar.
- Queria ter visto mas não viu. Guadalajara e outras referências no norte do país.
- Momento mais memorável da visita. Subir a imensa pirâmide de Teotihuacán e encarar, a olhos nus, a magnitude das obras das civilizações antigas do que hoje é o México.
- Alguma decepção. Que no México se encontre talvez ainda mais machismo e vira-latismo que no Brasil, este último manifestado em múltiplas formas de racismo — contra os indígenas — e puxa-saquismo dos Estados Unidos. (Não tenho nada contra se admirarem as coisas boas doa EUA, mas ser lambe-botas fere a dignidade própria.)
- Comida e bebida mais típicas. Tortillas de milho com pasta de feijão preto, queijo branco esmiuçado, alguma carne e um molho de pimenta vermelha ou verde por cima. Eis a base da alimentação mexicana. De beber, os fermentados (mezcal) e destilados (tequila) são o que há de mais típico, mas o que os mexicanos bebem exageradamente mesmo é Coca-Cola — mais até que nos EUA. (Detalhes sobre os comes & bebes mais abaixo.)
- Maiores surpresas. Que os mexicanos comam tanto frango e porco, e que apesar de ter duas longas costas você pouco veja pratos dignos com peixe ou frutos do mar.
PRINCIPAIS DICAS
Vistos, Imigração & Chegada. Brasileiros não precisam de visto para visitar o México por até 180 dias. O mesmo se aplica aos portugueses. Não é necessário pagar nada, nem na entrada, nem na saída.
A chegada através do Aeroporto Internacional Benito Juárez na Cidade do México, no entanto, às vezes é um tanto demorada pelas filas. Não tenha pressa. Esse aeroporto também é o único que já vi no mundo onde não há carrinhos de bagagem. Apenas na área da coleta de bagagem. Para além dali, ou você próprio arrasta ou paga a um dos muitos funcionários do aeroporto que cobram para carregar por você. (Geração de emprego é bom mas deveria ter limites!)
Segurança. Vamos direto a este ponto que intimida tantos visitantes do mundo inteiro aqui no México. Afinal, este país é famoso por seu tráfico de drogas e consegue ter uma taxa anual de mortalidade que fica atrás apenas da brasileira. Para todos os efeitos, portanto, aja com o nível de precaução que tem no Brasil. Evite certas áreas à noite, atenção nas aglomerações do transporte público, e nada de pertences valiosos à mostra.
Dito isso, a violência no México me parece mais “estadualizada” que no Brasil. Isso se dá porque o tráfico e as atividades do crime organizado no México se dão mais em certas partes do país que outras. Além disso, certas regiões são “fronteiras” entre áreas controladas por diferentes cartéis, e portanto mais violentas. O norte, o estado de Guerrero, e certas partes periféricas da capital são mais perigosas que o sul em geral. Os estados da Península de Yucatán, assim como Oaxaca e Chiapas me pareceram bem tranquilos — mais tranquilos que o Brasil.
Não fiquem só com a minha palavra; é o que também mostra o relatório anual Índice de Paz no México. Chiapas [4], Yucatán [1] e Campeche [2] estão há anos nas melhores posições, enquanto que Guerrero [31] (onde fica Acapulco) há anos está bem mal, assim como alguns estados do norte e, mais recentemente, Quintana Roo [29] (onde ficam Cancún, Tulum e Playa del Carmen), onde a situação piorou recentemente. Se quiser maiores detalhes, é só clicar ali no link.

Dinheiro & Câmbio. O peso mexicano se desvalorizou muito nos últimos anos, como tantas das moedas de países emergentes. Ele recentemente tem valido cerca de 18-20 pesos (MXN) para 1 dólar americano (USD).
Como há certa flutuação (embora nada que se compare à Argentina), não se espante se certos custos de acomodação lhe forem fixados em dólar. Nesses casos, às vezes vale mais a pena pagar direto na moeda dos Estados Unidos e evitar uma taxa de câmbio ruim.
Excepcionalmente, aqui as melhores taxas de câmbio do país são no aeroporto: no Terminal 1 do Aeroporto Internacional Benito Juárez, na Cidade do México. Percorra as dezenas de frentes de casas de câmbio e veja qual oferece a melhor cotação no momento.Troque ali (ou ao menos na capital) tudo o que você quiser de pesos mexicanos, pois nas cidades menores país afora a cotação tende a ser menos vantajosa.
Repare que aqui — como em algumas outras partes do mundo, mas diferentemente do Brasil — costuma haver cotações diferentes para notas diferentes. Notas de 50 ou 100 USD normalmente recebem uma cotação melhor que as notas de valor mais baixo. Você verá isso informado na entrada da casa de câmbio.
Dólares são a melhor moeda para trazer, inclusive para pagar algumas acomodações ou tours que porventura sejam cotados nessa moeda, mas euros também são trocados com facilidade nas casas de câmbio.
Transportes. O México é um tanto como o Brasil: ônibus para distâncias curtas e médias, voos domésticos para as distâncias maiores.
A principal empresa de transporte viário no país é a ADO, e você pode verificar horários e adquirir passagens direto do site oficial. A menos que seja alguma época festiva, não senti muita necessidade de comprar antecipadamente, mas vai aí da sua preferência entre flexibilidade vs. previdência (nada a ver com a reforma, só no sentido se ser previdente).
Há mexicanos que têm receio em fazer viagens de ônibus à noite no México, e outros que dizem que “não tem nada a ver”. Acho que é muito como no Brasil. Leve em conta sua localização no mapa mexicano, mostrado acima. As viagens de ônibus que fiz no México foram todas pelo sul do país, inclusive virando a noite, e foram sem intercorrências.
Já no ar, a principal empresa aérea comercial é a AeroMexico, que é muito boa. Porém, ela é um tanto cara quando não há preços promocionais. Por sorte, há um número cada vez maior de empresas de baixo custo realizando voos domésticos no México: InterJet, Volaris, VivaAerobus. Experimentei todas exceto pela última, e são geral são como empresas aéreas de baixo custo de outras partes do mundo. Serviços mais básicos, mas levam você de A a B na mesma velocidade das outras.
Acomodações. Uma das coisas que mais amo no México é a quantidade de pousadas (B&Bs, Bed and Breakfast se você for procurar em inglês) cheias de charme e personalidade que você encontra pelo país. Não deixe de aproveitar. Não costumam ser caras; saem mais em conta que hotéis de redes famosas e lhe rendem uma experiência mais autêntica. Tem de todos os preços.

Aonde ir, e quantos dias em cada lugar?
O México é um país bem mais rico de atrações e lugares de interesse do que nos parece à primeira vista. A verdade é que nós no Brasil conhecemos relativamente pouco dos detalhes das regiões desse nosso hermano na América do Norte. Quando descobrimos algo é através do turismo, aí nos damos conta do catatau de lugares. Vamos aos poucos.

A Cidade do México merece pelo menos umas 4-5 noites, a depender dos seus gostos e do tamanho total da sua viagem. Se seu interesse é visitar ruínas astecas e conhecer mais da História mexicana, saiba que os lugares aqui são lindos mas consomem tempo.
- O Museu Nacional de Antropologia é dos mais fantásticos do mundo, mas não é uma visita rápida. De umas 2-3h a um turno todo, a depender do seu nível de interesse por detalhes.
- O mesmo vale para o Museu do Templo Mayor asteca no centro da capital, que toma umas 2h ou mais.
- Você ainda tem o Castelo de Chapultepec no parque central da cidade;
- A catedral e o zócalo;
- O Palácio de Belas Artes com seus espetáculos;
- Os murais de Diego Rivera na Secretaria de Educação Pública e no Palácio Nacional, e
- O aconchegante bairro de Coyoacán com sua herança de Frida Kahlo (embora parte da obra da autora você na verdade encontre no Museu Dolores Olmedo).
Se você quiser visitar a famosa Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, que fica na periferia da cidade (mas se chega fácil de ônibus ou metrô), agregue aí mais pelo menos meio dia. É o sítio cristão mais visitado do mundo e pessoalmente, seja do ponto de vista cultural ou religioso, eu acho que vale a pena.
Se quiser conhecer Teotihuacán, as magníficas (e imensas) ruínas pré-astecas próximas da Cidade do México, é um bate-e-volta que também vale muito a pena mas pode tomar quase outro dia só pra isso. Há tours na Cidade do México que organizam uma ida lá, caso você não queira ir por conta. (Só saiba que aos domingos os mexicanos têm passe livre nas atrações nacionais, e isso significa muita gente e filas para entrar. Levei 45min na fila para subir na Pirâmide do Sol num desses domingos.)

A Cidade do México é riquíssima em atrações, mas está longe de ser tudo que o país tem a oferecer. Não deixe de ir também ao interior se puder. Há uma grande quantidade de pueblos (cidadezinhas) históricas, simpáticas e bem preservadas onde absorver mais da cultura mexicana. Para você ter uma ideia, o Governo do México fez uma lista com mais de 100 deles, os chamados pueblos mágicos. Estão por toda parte. Aqui você tem a lista completa se quiser ver.
Como escolher é preciso, eu digo que para mim Oaxaca é o estado obrigatório numa viagem ao México. É um dos que melhor representa a riqueza de cultura popular do país — na gastronomia, nas artesanias, na beleza histórica indígena e colonial, na música etc. O roteiro que fiz e que sugiro consiste nas 2h de viagem da Cidade do México até a encantadora Puebla, uma bela cidade que merece umas 2-3 noites, e de lá outras poucas horas até Oaxaca de Juárez.
De Oaxaca é um ônibus noturno até a simpática San Cristóbal de las Casas, a cidade mais bonita e aconchegante do magnífico estado de Chiapas, no extremo sul do México. A própria San Cristóbal e seus povoados adjacentes já podem embebê-lo em cultura colonial e indígena por umas 3 noites, mas você pode também ir conferir o Cañon del Sumidero e as ruínas mayas de Palenque.
À Península de Yucatán (estados de Yucatán, Campeche, e Quintana Roo) eu fui numa viagem distinta, mas de Tuxtla Gutiérrez (a capital de Chiapas) é fácil tomar um voo a Mérida (capital do estado de Yucatán) ou a Cancún. É possível também tomar um ônibus noturno a Campeche.
Essa é uma a parte do México que atrai muita gente pela herança dos mayas. Mérida é uma cidade colonial tranquila e autêntica; Cancún é área de resorts dominada pelo turismo estrangeiro. De qualquer das duas você pode fazer passeios bate-e-volta para conhecer os sítios mayas de Chichén Itzá, Uxmal e outros, além de ver os belos cenotes (poços naturais de água às vezes azul como nas chapadas brasileiras) e povoados típicos. Se quiser ver todo o principal, prepare pelo menos umas 4 noites, mais o tempo que você quiser desfrutar à beira-mar.

Se você quer praia, pense na costa atlântica, de preferência aqui mesmo na Península de Yucatán. A costa do Pacífico é mais para surfe; as águas são mais frias e seu principal balneário, Acapulco, está longe de ser a cidade mais segura do mundo hoje em dia. Já no lado do Atlântico você tem as famosas Cancún, Playa del Carmen, Tulum e a Isla Mujeres. Já vi fotos maravilhosas, mas não são lugares aonde eu tenha ido pessoalmente. O que ouvi dizer é que Cancún é extremamente americanizada, Playa del Carmen um meio termo, e Tulum mais alternativa. Mas são considerações gerais que ainda não fui verificar pessoalmente.
Se você tem apenas 1 semana, eu diria que conheça bem a Cidade do México e passe um par de dias em outras cidades próximas como Guanajuato ou Puebla. Com 2 semanas, já é possível “descer” a Oaxaca e Chiapas, ou voar à Península de Yucatán caso sua preferência seja pelas praias ou especificamente por cultura maya. De 3 semanas em diante, já dá para fazer vários desses lugares mencionados aqui no post.
Comes & Bebes. O México tem uma culinária muito característica e rica, embora alguns elementos básicos como o milho, o feijão e a pimenta sejam constantes. Os detalhes dos comes & bebes mexicanos você encontra no post O Básico da Comida Mexicana (2.0): Milho, pimenta e chocolate na veia.

Compras. Se você é do tipo que gosta de levar uma lembrancinha dos países aonde vai, o México lhe ofertará muita coisa artesanal, especialmente produtos têxteis (roupas típicas, blusas floridas, toalhas em estilos indígenas mexicanos, tapetes de fio de agave), mas também imagens de pedra, como em obsidiana. Você pode ver mais sobre aqueles têxteis neste post aqui no estado de Oaxaca, e mais sobre obsidiana aqui, perto de Teotihuacán.
Por toda parte, sobretudo nas áreas de monumentos ou ruínas históricos, não faltarão barracas vendendo de tudo, especialmente representações do Calendário Maya ou da “pedra do sol” asteca em material ordinário que quebra fácil.
Eu acho que valerá mais a pena comprar algo de melhor qualidade numa das muitas oficinas incluídas nos tours que você pode fazer país afora. Os têxteis são fortes sobretudo nos estados de Oaxaca e Chiapas. Já por Yucatán você encontra guayaberas, camisas de linho ou algodão em corte típico da região.

Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.
Fascinante o pais, e impressionantes suas manifestações históricas culturais e civilizacionais. Belíssimo. Merece ser todo tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade.