Bem vindos a Viena, esta imponente capital austríaca, e ainda a cidade que exibe com maior propriedade a aura cultural e a elegância da Europa Central.
Em população, apenas Berlim e Hamburgo têm mais gente que Viena na Europa Central — mas Berlim carrega uma sombra muito grande da sua própria história, e Hamburgo está muito longe (tem mais semelhanças com Bélgica e Holanda) para representar a aura da Europa Central. É com sua irmã audaz Budapeste que Viena lidera como principal chamariz urbano dessa região da Europa, só que com mais riqueza e glamour que a capital húngara (embora eu pessoalmente seja fã inveterado de Budapeste, como deixei claro no meu post lá).
No mais, é simplesmente uma verdade histórica, uma questão de poder. O que chamamos hoje de Europa Central era, na sua maioria, território do Sacro-Império Romano Germânico, e a capital desse império durante a maior parte do tempo foi Viena. Aqui era o centro de poder. Às vezes a capital se mudava para Praga, Nurembergue ou outra cidade a depender de cada imperador, mas num geral voltava a Viena pouco depois. Afinal, a família dos Habsburgo tinha bala na agulha: terras, recursos, pedigree, casamentos estratégicos… um negócio meio Game of Thrones da vida real.
Strauss, Mozart, e tantas figuras mundialmente conhecidas fizeram parte do apogeu austríaco com os Habsburgo. Mais tarde ainda viriam Freud e outros pensadores a ocupar-se nos cafés de Viena, fumando e pensando. A quem crê isso desconectado de nós, saiba que aí se incluía o escritor vienense Stefan Zweig (1881-1942), que acabou por ir viver e morrer no Brasil. Literatura dessa época conta muito como era a vida nesses cafés de Viena e pela cidade.









Como em algumas outras capitais europeias bem recheadas de obras, é difícil tomar pé de tudo que há. Muito do prazer se dá em simplesmente circular por essas ruas densas de monumentos históricos e artísticos no 1º Distrito de Viena (o centro). Sim, Viena é organizada em distritos (e as pessoas aqui comunicam-se assim) tal como Paris é organizada em “arredondamentos” (arrondissements).
Uma nota de cautela a quem ainda não veio mas imagina o que esperar de Viena. Enquanto os brasileiros geralmente ficam presos lá atrás na bagagem histórica da cidade do século XIX ou do começo do XX, os europeus já descobriram — e, efetivamente, fizeram — uma Viena descontraída, jovem, de semáforos homoafetivos e sorvete de óleo de semente de abóbora. Sim, meus caros, o tempo passou na janela e a vida cultural de Viena andou, embora muitas Carolinas não tenham se dado conta.
Você pode preferir o que preferir, mas hoje essas duas Vienas de ontem e de hoje coexistem, e você as encontrará ambas aqui. Note o material humano nas fotos. Não são todos turistas. Se você perguntar a um europeu menor de 50 anos hoje sobre Viena, é muito mais provável que escute sobre a vida estudantil animada, as preocupações com imigração ou conservadorismo, e sobre os lugares para dançar e as cafeterias veganas do que sobre Francisco José, Mozart, ou a imperatriz Maria Theresa do século XVIII.
A verdade é que passado e presente aqui coexistem, como noutros cantos, mas talvez aqui mais visivelmente que na maioria dos outros lugares.



A primeira vez que eu vim a Viena foi no verão de 2010, meu primeiro mochilão na Europa. Uma eternidade atrás para os mais novos, mas sinto como se tivessem sido poucos anos atrás (eu já escrevia este blog). Lembro-me com nitidez da chegada de carro à noite, as voltas no centro de Viena e a visita ao Hotel Sacher para experimentar a versão original da famosa sachertorte austríaca. (Não pronuncie sucker-torte ou fica parecendo “torta do chupador”. Soa algo como zarra-torta, com som de Z no começo.) É um bolo de chocolate com geleia de damascos inventado para a realeza austríaca no século XIX.
Lembro que a nossa colega canadense disse que não tinha dinheiro para almoçar, mas veio comer a torta no hotel. Cada um com suas prioridades. O bolo é bom, mas para lhes ser franco não acho que seja a última bolacha do pacote. Prove como experiência cultural na cidade.


Se você ainda não assistiu ao peculiar Antes do Amanhecer (1995), faça-o antes de vir a Viena. É um ótimo aquecimento. Todo o filme se passa com um casal de turistas que aqui se encontram e viram a noite pela capital austríaca (daí o título). Há também peculiares continuações — Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013) — cuidadosamente lançadas a cada nove anos, em que os personagens envelheceram na mesma medida dos dois atores, mas o primeiro pra mim ainda é o melhor.
Viena fica especialmente glamurosa nas suas noites de verão, especialmente nas altas horas, depois que a turba já foi se recolher.



Como é de lei, nós fomos já no primeiro dia à principal atração de Viena que não fica no centro da cidade: O Palácio Schönbrunn. Eu acabaria retornando a ele todas as vezes que voltei a Viena.








Na minha primeira vinda a Viena, a viagem foi encurtada meio de urgência. Minhas companhias alemã e canadense haviam tomado seus rumos, eu permanecia na cidade, e na pouca experiência não reservei acomodação para todos os dias. Não me passou pela cabeça que todos os albergues de Viena pudessem ficar lotados no verão, mas ficam. De repente não tive onde dormir. Tive que ir para Bratislava a 50min daqui, mas essa é uma ida sobre a qual eu conto depois.
Antes de ir embora eu ainda veria o Prater, tradicional parque da cidade, e o impressionante Museu de História Militar. Este museu é antes de tudo um embola-língua: Heeresgeschichtliches Museum. Serve primeiro para ver se seu alemão está afiado, e segundo para quem gosta de política e do desenrolar das guerras entre reinos europeus ao longo dos séculos passados. Mostra bem a ascensão da Áustria como potência centro-europeia e depois sua decadência política. Ele fica mais afastado, enquanto que no centro estão os museus de História da Arte (Kunsthistoriches) e de História Natural (Naturhistoriches) face a face na Museums Quartier.
Já o Prater é fruto de uma exposição no século XIX e ainda tem certo aroma de parque de diversões à antiga. Ele é, no entanto, mais que a área de entretenimento, é o parque da cidade no sentido ambiental também, com uma ampla área florestada.






Se você estiver a se perguntar sobre feirinhas de Natal, há várias em Viena. Umas cinco ou mais, incluso uma aqui nos jardins do Palácio Belvedere, outra no Schönbrunn, outra diante da prefeitura, e por aí vai. No entanto, saiba que especialmente as do Schönbrunn e da prefeitura ficam lotadas de gente. Cuidado para não derrubar o quentão esbarrando-se nas pessoas.
Outra pedida comum, esta em qualquer época do ano, é ver ópera ou alguma outra apresentação clássica. São coisas típicas de Viena no seu astral perenemente imperial.
Você pode sempre topar aqueles programas turistão por 30 euros que incluem 5 min de cada coisa (balé, valsa…) para dizer que viu. (Não vou mentir: eu próprio topei isso na minha primeira vez aqui). Mas se preferir algo mais autêntico, sugiro obter de antemão — com antecedência e pela internet — entrada na Volksoper ou na Staatsoper, as duas principais casas de espetáculos musicais de Viena. Há sempre uma combinação de obras clássicas e contemporâneas em exibição. Quando em alemão, há legendas do texto em inglês acima do palco.
Eu fiz esse programa na minha segunda visita a Viena, indo à Volksoper. Comprando alguns meses antes eu consegui entrada pelos mesmos 30 euros do programa turistão que jovens fazendo bico lhe oferecerão nas praças de Viena.



Viena em certos aspectos nunca muda. Já em outros, sim. Quando eu vim pela terceira vez para dar umas voltas com minha amiga Isadora, já não eram a salsicha e o pão de carne as únicas opções na cidade. Viena, como eu indiquei mais acima, tem abraçado muito bem a cultura jovem europeia alternativa. Há toda uma geração que pode ter respeito histórico e cultural pela Áustria, mas já não necessariamente curte mais seus cafés de fumantes e garçons pomposos dos tempos de Freud.
Viena pode conservar materialmente a estética barroca de outrora, mas sua população tem mudado.




E, afinal, onde está o Danúbio azul de Strauss? você pode estar a se perguntar. O Rio Danúbio não passa pelo centro de Viena. Vê-lo em evidência é muito mais fácil em Budapeste que aqui. No entanto, Viena tem, sim, sua área banhada pelo Danúbio, só que é preciso tomar um transporte público até lá. É hoje uma espécie de parque aonde muitos vão relaxar, andar de skate ou assistir ao pôr-do-sol.



Eis um panorama da capital austríaca, uma das mais tradicionais da Europa. Nos vemos por aí.
Uuuuuuuuu. Meu jovem, que maravilhosa cidade. Magnifica. Parece que ainda vive o seu apogeu. Bem merecida o titulo de capital da Europa central. Encantada com seus monumentos, com a grandiosidade e linhas da sua arquitetura soberba, com seus belos arcos e lindas construções de um estilo magnifico. Belíssimos os interiores das igrejas, lindos jogos de luz, tons e cores, alem dos detalhes da arte barroca. Belíssimas, assim como as linhas e estilo dos diversos prédios, Lindas fachadas, arcos, escadarias e outras manifestações de arte e bom gosto.
E o que dizer das belas praças e jardins, dos palácios que ainda parecem respirar a vida dos seus antigos e famosos soberanos? Um primor que excede o tempo, Magnificat.
Por fim a alegria e a emoção de ver o Danúbio imortalizado por Strauss nas suas canções e músicas divinas. Um primor de cidade e de postagem. Feliz por poder desfrutar dessas maravilhas que existem pelo mundo afora, só superada a felicidade, pela presença nesses belos lugares. Obrigada jovem viajante, Valeu.
merecido *