As Ilhas Faroe [ou Ilhas Feroe] são um país não-soberano sob a coroa da Dinamarca. No entanto, não ouse chamar um faroês de dinamarquês. Eles aqui falam um idioma algo diferente, têm a sua cultura própria, e administram a si mesmos — só se mantêm mesmo vinculados à coroa dinamarquesa por conveniência econômica. Ainda assim, as Ilhas Faroe são um caso curioso, pois ao contrário da Dinamarca, não fazem parte da União Europeia. Em resumo: estamos num país tutelado pela Dinamarca, mas fora da Dinamarca.

Caso você esteja sem saber como pronuncia, é mais Fároe que Faroé, pois nada tem de faroeste nem a ver com Robinson Crusoé. Em verdade, eu as estou chamando de “Ilhas Faroe” mas este nome é um pleonasmo.
Eu aqui aprendi que seu nome original, Føroyar, quer dizer “Ilhas dos Carneiros“: før queria dizer “carneiro” na antiga língua nórdica e oyar, “ilhas”. Portanto, dizer “Ilhas Føroyar” é repetição. Vou tentar sempre que possível referir-me a elas como “as Faroe”, que é como eles próprios aqui dizem quando estão conversando comigo em inglês (the Faroes).
É um lugar de surpreendente beleza rústica, natureza costeira indomada, e algum povoamento pelos escandinavos. Foi onde eu vim passar um feriadão.



Para chegar até aqui, a rota mais comum é voar por Copenhague (2:15h de voo), embora haja voos mais esporádicos do Reino Unido, da Noruega e de outras partes da Europa. Não há controle de fronteiras nem imigração, ainda que as Faroe não façam parte da União Europeia.
O único aeroporto das Faroe é pequeno, mas bom e funcional. Wi-fi livre, um café antes e outro depois do embarque. Há uma tabela de horários dos ônibus que eu recomendo que você estude de antemão pela internet (atualizada no site oficial) se quiser vir aqui, pois eles são bem pouco frequentes, coisa de um por hora ou menos. Programe-se bem. Há no aeroporto um prestativo Centro de Informações Turísticas também. Os ônibus à cidade são os azul-marinho n. 300 (há outros azuis-claro, que não levam à cidade).
Não há moeda própria aqui. Aliás há, mas é simbólica, pois as coroas faroesas são pareadas 1:1 com a coroa dinamarquesa (DKK). Não as leve embora, pois fora daqui só em banco na Dinamarca. Não se preocupe em trocar dinheiro; use coroas dinamarquesas, universalmente aceitas aqui, e gaste em tempo as coroas faroesas que porventura receber de troco.
Prepare o bolso: este não é um destino barato. Uma passagem de ônibus desde o aeroporto custa 90 coroas (12 euros). O serviço de info turística no aeroporto vende um passe de quatro dias por 500 coroas (67 euros) que pode valer a pena ou não, a depender de o quanto você pretender se deslocar.
As Faroe são um arquipélago bem espalhado. São 18 ilhas principais, às vezes horas de barco separadas uma das outras, embora entre as principais haja túneis sob o mar conectando-as por ônibus ou carro. A principal forma de deslocar-se é rodoviária, pedindo carona se preciso. Se você não quiser alugar um veículo, dá pra visitar as principais partes de ônibus, mas com atenção aos seus raros horários, senão você fica com os carneiros ao tempo esperando.

Estas ilhas são dos lugares mais cênicos e pitorescos que já vi. Parecem a Islândia, com a terra desprovida de árvores, campos baixos e uma grama amarelada que vai até as escarpas e rochas. Porém, pelo recorte geográfico das Faroe, aqui o mar se faz mais presente que lá.

Era um fim de manhã chuvosa de meado de primavera quando eu cheguei. Embora já fosse maio, o tempo continuava algo frio e molhado. Aqui chove bastante, a maior parte do tempo. Os dias, no entanto, já estavam longos. Parecia haver um perene ar úmido de zona rural depois da chuva, com um cheiro ocasional de estrume.
Tomei meu ônibus até Giljanes, na própria ilha de Vágar — onde fica o aeroporto — até meu albergue. Este era operado pelo animado Christian (os dinamarqueses, e pelo visto também os faroeses, adoram esse nome, embora não sejam mais religiosos). Era um garoto que como eu usava barba e gostava de viajar. Trabalhou um tempo na indústria pesqueira e resolveu mudar de vida.
O lugar ficava a poucos metros da praia, cercado pelo gramado e com vista da janela para o mar, próximo ao vilarejo de Sandavágur. Nestes dias iria à capital Torshavn e também conhecer o lago Leitisvatn à beira-mar, elevado e com uma cachoeira para o oceano. Acompanhem-me.





Instalei-me e logo fui dar umas voltas por Sandavágur para achar onde comer. Acabei por encontrar mais carneiros que pessoas. Eu logo aprenderia os três principais desafios da visita aqui: (1) A chuva frequente, que chega e vai de repente, e que às vezes leva dias sem dar trégua; (2) a dificuldade de deslocamento sem carro, inclusive para achar onde fazer refeições neste ermo; e (3) o os preços altos.





Se o lugar já é parado, num feriadão a vida humana desaparece. Todos os poucos estabelecimentos comerciais estavam fechados. Acabei por caminhar de volta todo o caminho à beira da estrada e ir ao outro lado, onde havia uma loja de conveniências a 2-3 Km num posto de gasolina e uma pizzaria operada por uns estrangeiros do Oriente Médio (sim, também aqui).
No dia seguinte, eu iria mais longe: a Torshavn, a capital, que eles aqui gostam de dizer que é “a menor capital do mundo”. Eles são 50 mil faroeses ao todo, e 20 mil moram na capital. (No entanto, Vaduz, a capital de Liechtenstein, tem ainda menos gente, apenas 5 mil pessoas.)
Torshavn é uma cidadezinha simpática, de pequeno porte, com construções pitorescas de madeira, algum comércio, hotéis, restaurantes, e o sítio do milenar parlamento faroês fundado pelos Vikings em 850 d.C. Em retrospecto, eu deveria ter me hospedado aqui, pois tem melhor infraestrutura.



Os Vikings chegaram aqui por volta do ano 800 d.C. com suas sagas de navegação. Antes, há evidências arqueológicas de que as ilhas já haviam sido habitadas por povoamentos menores, provavelmente de monges eremitas irlandeses ou escoceses nos idos dos anos 300-600 d.C. No entanto, são os nórdicos que aqui se estabelecem, criando na península de Tinganes (onde hoje fica a capital) uma assembleia ao modo do que já faziam na Escandinávia. Desde os primórdios, os escandinavos têm uma cultura muito consensual e participativa, em que muitos são consultados e têm voz.
Entre 1035 e 1814 as Faroe formalmente foram parte do Reino da Noruega. Entretanto, a própria Noruega (com todos os seus domínios) deixou de ser soberana quando entrou na União de Kalmar (1397), quando a Coroa da Dinamarca passou a controlar toda a Escandinávia, incluindo os reinos da Suécia, Noruega, e suas posses. A Suécia arrebentaria essa União em 1523, segurando a Noruega consigo, mas a Dinamarca jamais retornaria o controle das Faroe. Segue assim até hoje.











Embora os dinamarqueses estejam numa onda gourmet nos últimos anos e isso tenha meio que chegado até aqui, não se deixe impressionar demais. Há até um restaurante Michelin (com uma estrela) aqui nas Faroe, mas é aquela coisa isolada, para turistas de bolsos fundos. O prático do povão no dia-dia aqui continuam sendo essas coisas mundanas, tipo o peixe frito com batatas enrolados no jornal.
Foi o que deu para eu almoçar.
— “Quer que ponha sal e vinagre nas batatas?”
?, a minha cara, demorando-me dois segundos pra refletir a pergunta e responder.
— “Só sal. Vinagre, não.”
Não estava mau. As opções aqui são limitadas. Mesmo isso sai por uns 12 euros.
Aproveitei-me aqui na capital para ver também se não havia passeios para outras bandas das ilhas, mas os preços destes são de um surrealismo maior que Tinganes. Um passeio de 3h de barco, por exemplo, pode sair o equivalente a 240 euros. Vi um passeio de ônibus para ver vistas, nada do outro mundo, com um lanche embalado como almoço, 200 euros. Oi?

O que eu faria no dia seguinte foi ir àquele que é talvez o lugar mais fotografado das Faroe: o elevado Lago Leitisvatn à beira-mar com sua cachoeira Bøsdalafossur, na ilha de Vágar. Por sorte, tive a vantagem de estar hospedado bem ali perto, e foi fácil ir a pé em trilha (4 Km).
É onde você pode conferir com facilidade a estonteante beleza rústica das Faroe.










A quem gosta de paisagens e natureza, são um prato cheio.
A quem gostaria de vir, vale saber muito do país acorda apenas em junho e julho, na alta estação. Certos centros turísticos e passeios operam com mais frequência ou apenas nesses meses. Ainda assim, o tempo aqui é sempre volátil. Todo o ano, há altas chances de cancelamento em todos os passeios que incluam barco. Durante o período que passei aqui, por exemplo, até me pareceu que cancelamentos são mais comuns que não-cancelamento. As nuvens e a chuva estão sempre à espreita; não se surpreenda.
Tudo é impressionante, mas há pouca diversidade. Ou seja, não se mate para ir ao outro lado do arquipélago, onde as vistas são relativamente semelhantes (como o são em toda esta região do Atlântico Norte, a bem da verdade. Na Islândia, no norte da Irlanda e da Grã-Bretanha as paisagens são parecidas.) Foi minha impressão percorrendo algo do arquipélago em ônibus.
Para mim, acabou sendo um desses lugares idílicos onde se reconectar com a Terra. Não necessariamente num sentido esotérico, mas simplesmente natural, de você sair um pouco das cidades de concreto, cheios de estímulos visuais e sonoros, e vir experimentar um pouco de tranquilidade para variar. Isso você encontra de monte aqui.

Uuuuuuuuuaaauuu…. Que maravilha meu amigo. Estupendas essas Ilhas dos carneiros. Que falésias magnificas, impressionante. Parece-nos sentir o quebrar das ondas sobre os rochedos sobranceiros . Um espetáculo da Natureza!… e que beleza o tom das águas; lindas águas, azuis, verdes ou azuladas. Fiquei fascinada. Adoro águas limpas, rochedos, vegetação e céu azul. maravilha. Salve a mãe natureza.
Adorei as casinhas com telhadinhos vermelhos. Achei um charme as cidadezinhas, as casas com teto de grama, uma fofurinha… Um ar de fazenda, de zona rural, Achei lindas as ovelhinhas; Lindas, tanto as negras quanto as claras. E que grama engraçada!…
Adorei as construções. Apaixonei-me pela igrejinha. Até as galinhas e o gato são fofos. Curiosa a língua. E a iguaria parecia apetitosa.
Belíssima região, linda postagem. Parece mesmo coisa de cinema. Espetacular. Parabéns pela escolha da região e pela bela postagem. Abraços.