Luneburgo (Lüneburg) é uma dessas muitas pérolas de cidadezinhas históricas que há na Alemanha, a maioria delas desconhecidas dos turistas. Ela fica a 30 min de trem de Hamburgo, no norte do país, e assim como essa metrópole alemã era parte da famosa Liga Hanseática noutros tempos. Só que enquanto Hamburgo cresceu e se tornou cidade grande, Luneburgo permaneceu reservada. Hoje é uma pitoresca cidade estudantil que abriga a boa Universidade Leuphana.
Luneburgo dá um ótimo bate-e-volta a partir de Hamburgo para conhecer o mimoso convento beneditino do século XII, ver a formosa arquitetura tradicional da cidade, comer uns bolos alemães, e dar umas voltas pelo seu simpático centro histórico bem preservado, repleto de ruas antigas.



Quando você chega à estação de Luneburgo, é uma caminhada tranquila dali ao centro histórico da cidade. No entanto, eu antes tomei um rumo lateral até o antigo Convento Beneditino medieval da cidade.
Luneburgo é uma cidade cujo registro histórico mais antigo data de 956 d.C. Nós hoje não pensamos muito nisso, mas naqueles idos da Idade Média a cristianização dos “bárbaros” seguia sendo objetivo primordial. Não foi do dia para a noite que a Europa se converteu; o processo levou séculos e séculos. Havendo um vilarejo ou cidade nova, tratava-se logo de enviar os frades e padres para catequizar a população e assegurar sua fidelidade religiosa.
Por vezes, vinham também monges cristãos. Aqui se instalaram no século XII monjas beneditinas na Abadia de Lune sob ordens do bispo, enquanto a cidade começava a prosperar com o comércio de sal. Sob a Reforma Protestante, o convento mais tarde seria convertido à denominação luterana, mas continuou servindo de destino a muitas filhas solteiras do gentio de Luneburgo.
Ele hoje é um lugar singelo, que preserva sua simplicidade nas construções de tijolinhos cercadas por flores. Era primavera.








Ao contrário do que você talvez pense, a abadia não acabou. Ela permanece luterana e em funcionamento, habitada por senhoras solteiras dedicadas à religião. Você pode dar umas voltas boas aqui. Há exibição de algumas peças históricas da abadia e, é claro, um café.
Eu, entretanto, optei por me dirigir à cidade e lanchar por lá. Tudo em Luneburgo se faz a pé. Eu sequer vi ônibus circulando, embora deva haver fora do centro.
Você encontra uma rua mais pitoresca que a outra aqui, e tudo de uma bela tranquilidade a-turística. Há visitantes, mas eles são tão poucos que você pouco os distingue dos moradores.
As pontes sobre o Rio Ilmenau (um afluente do Elba) marca o que antigamente eram as muralhas da cidade.








Eu havia comprado esse quitute acima numa padaria próxima e me assentado para ver o movimento. Vi ciclistas a pedalar através da praça principal da cidade, e vi poucos transeuntes passarem. Não é uma cidade movimentada, mesmo durante a primavera. A impressão que você tem é a de estar em algum vilarejo medieval ligeiramente deserto, como se quase toda a gente tivesse ido apreciar alguma coisa no campo e você estivesse aqui circulando.


Pois foi nessa rua onde eu me cria só que algumas crianças me abordaram. Em alemão, um pequeno trio de meninas — que deveriam ter seus oito ou nove anos — me chamou quando eu passavam. Pareciam estar pra alguma coisa com uma pequena banquinha armada na porta de casa.
“Ich spreche kein deutsch” [Eu não falo alemão], disse-lhes eu em leve tom de desculpas no meu alemão ultra-limitado. “We speak English“, me retornou inabalada e ainda gentil uma das moçoilas bilíngues no idioma de Shakespeare. Imediatamente fui assaltado pasmo pela humilhação, não a mim, mas a imaginar as tantas crianças do Brasil tão longe dessa habilidade.
Viria ainda mais quando a menina me explicou que estavam vendendo copos de chá a 50 centavos de euro para aplacar o calor. Disse-me que era um trabalho da escola, e que 1/3 da receita iria a um fundo para ajudar a educação de crianças na Tanzânia. A menina ativista mirim quase me faz ter um passamento no meio da rua. (Brinque com esta nova geração. Se alguns mal-criados não querem nada com nada, alguns querem tudo com tudo.)
Naturalmente dei a minha contribuição, para a satisfação do triumvirato mirim. O chá veio a calhar, e a experiência ainda mais.

Devolvi-lhes o copo e parti para o fim da rua, para ver o que ali havia senão o bosque encantado que me parecia.
Acabei por encontra uma linda praça arborizada com a portentosa Igreja de São Miguel, gótica de 1376.

Eu dali seguiria meu caminho para outra praça, a ver a imponente Igreja de São João, e começar a tomar meu rumo de retorno à estação de trens. O passeio encantado estava chegando ao fim.





E nós continuamos pela Alemanha.
Liiiiidinha. Parece uma cidade encantada dos contos de fadas, de príncipes e princesas. Acho que os livros infantis que circulavam aqui no Brasil há uns anos atras, vieram dessas regiões pois as casinhas, as arvores, as vestimentas antigas, tudo se parece com essas regiões, principalmente as construções. Uma graça. Lindinha.
Quanto ao ativismo das crianças, espero que sejam melhores que essa geração de jovens de hoje, com honrosas exceções.
Linda cidade. Postagem deliciosa com cheiro e jeito de infância.