Brugge é das poucas cidades europeias que se atrevem a desafiar Paris e Veneza como destino romântico. Uma das cidades mais charmosas da Bélgica e da Europa, ela tem um charme singelo, de porte pequeno, despretensioso, e talvez também por isso tão atraente. É que Brugge tem quase um ar de amor escondido, aquele jeito estar quietinho aqui enquanto o mundo lá fora se desenrola.
Estamos no norte da Bélgica na região de Flandres, que fala flamengo, língua que é praticamente um holandês com sotaque belga. Bruges, a outra grafia, é como a chamam os valões, da Valônia, a metade sul e francófona do país. Os flamengos aqui a leem como Brugge [brú-rhe], a cidade da ponte, brug em flamengo ou holandês.
Chega-se aqui em 1h de trem de Bruxelas ou 1h30 desde Antuérpia, a maior cidade de Flandres. Não é necessário reservar: os trens belgas têm preço fixo e os lugares não se esgotam. Como muitos turistas vêm a Brugge fazer apenas um bate-e-volta, vale a pena permanecer na cidade ao menos uma noite (ou mais!) para sentir também a sua aura quieta quando as multidões desaparecem no fim do dia. Se você tiver sorte, pega até um tempo bom — coisa nunca muito garantida aqui nesta região da Europa.
Brugge tem canais, charmosos como aqueles de Amsterdã, porém mais reclusos e aconchegantes. Tem a lindinha arquitetura que a Bélgica compartilha com a Holanda; tem o maravilhoso chocolate belga; e tem o belíssimo Groeningemuseum com arte renascentista flamenga para os fãs.



Quando entrei em Brugge, caminhando da estação de trem para o centro histórico, me senti como se estivesse em mais uma das cidades holandesas com seus calçadões comerciais, casario de tijolinhos e as redes de lojas de sempre. Se você não andou muito pela Holanda ou pela Bélgica, é possível que tenha um momento “Uau!”. Se já andou, é capaz que se pergunte — como eu — o que é que, afinal, Brugge tem? Entretanto é depois, aos poucos, que o charme de Brugge vai sendo absorvido.







Brugge não é necessariamente distinta das demais cidades da Holanda ou do norte da Bélgica; ela simplesmente é mais que a maioria das outras. É mais desse charme pitoresco de tijolinhos, das ruelas quietas, e dos canais românticos.
Como em Veneza, não se trata tanto de fazer um liga-pontos de atração em atração visitando monumentos, mas de curtir o ambiente. Dito isso, você precisa ver a simpática Burgplatz com sua gótica Basílica do Sangue Sagrado, a praça principal Grote Markt com o notável Campanário de Brugge, e eu recomendo nunca ficar tão longe da água, pois são os canais a sua maior beleza. Um passeio de barco estará na ordem do dia, e eu recomendo também o Groenigemuseum para quem gosta de arte, mas uma coisa de cada vez. Chegaremos lá.
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Primeiro, sobre chocolate aos apressados: compre e curta, mas cuidado para não comprar porcaria a preço de ouro achando que é algo especial só porque está na Bélgica. As casas de chocolate fazem na Bélgica o mesmo que o restaurantes de massa fazem na Itália: sabem da avidez dos turistas em consumir, da crença de que ali tudo é de qualidade, e vendem-se qualquer coisa por qualquer preço.
A receita? Leia o rótulo. Simples assim. Se o primeiro ingrediente for “açúcar” (suiker, caso esteja em flamengo/holandês), corra, pois se trata do mesmo chocolate vagabundo que se acha em qualquer lugar. Aqueles em formato de conchinha que você compra na caixa, então, são o típico pega-turista. Pura manteiga de cacau com açúcar. O chocolate em si passa longe.
O chocolate belga de mais qualidade acabará sendo mais caro em geral, mas vale a pena. Já que está aqui, aproveite o acesso e compre algo diferenciado. Abundam as casas muitas pela cidade, algumas com maîtres chocolatiers renomados. Não é preciso recomendar nenhuma em especial.


Chegamos eu e minha amiga turca Filiz a um hotel-boutique bem no centro. Dali era um pulo até o estonteante Campanário de Brugge com seus 83m de altura, à prefeitura e às demais edificações históricas tão bem rebuscadas dos flamengos. Mesmo sob o chuvisco impróprio de junho, a área é pitoresca.




Caso você esteja a notar certos tons de vermelho e negro, e caso esteja a se perguntar sobre a alcunha “flamengo” e o bairro do Rio de Janeiro, ou Clube de Regatas Flamengo, saiba que o clube recebe o nome por causa do bairro, e o bairro tem esse nome por um certo navegador holandês do século XVI chamado Olivier van Noort, que tentou dominar a Baía da Guanabara.
O lugar ficou conhecido como “Praia do Flamengo”, já que à época não existia Bélgica e flamengos e holandeses se misturavam no imaginário alheio. “Holanda” sempre foi e ainda é uma província dos Países Baixos, e à época Flandres também era. O país independente chamado Bélgica só surge em 1831.

Falando em navegador flamengo, uma coisa que você não deve deixar de fazer — “por nada nesse mundo”, como dizem algumas pessoas que eu conheço — é um passeio de barco pelos canais de Brugge. Aí é que você sentirá seu encanto. Venham comigo.







Brugge não é bela à toa; na altura do século XV ela era das mais prósperas cidades da Europa. A nobreza aqui tinha dinheiro e patrocinou o princípio do Renascimento no norte do continente. Seguindo a Itália, foi aqui em Flandres que as artes floresceriam em seguida.
Quem já foi à Holanda sabe das tradições artísticas da “Era de Ouro” de lá, com pintores como Rembrandt e outros. Aquilo se deu no século XVIII. Duzentos anos antes, era Flandres quem mais exibia exuberância artística aqui nestas bandas. Como era próprio da Renascença, a temática era quase sempre sacra, depois é que passou a adquirir motivos seculares.
Você pode ver bastante disso no excelente Groeningemuseum, com obras de artistas flamengos desde o século XV ao XIX.



Você vê mais do Renascimento nestes baixos países também na Igreja de Santa Maria. Não é todo dia que você se depara com uma obra original de Michelangelo, mas eis aqui uma: a escultura conhecida como a Madonna de Bruges. Ela, esculpida pouco após a Pietà que se encontra no Vaticano, foi a única escultura de Michelangelo a sair da Itália ainda durante a vida do pintor. Dizem que ela foi feita originalmente para a Catedral de Siena, na Toscana, mas dois irmãos mercadores a compraram e trouxeram a Bruges.


O dia seguinte abriu o sol. Fomos rodar pelo antigo beguinário (begijnhof) de Brugge, o lugar onde viviam mulheres solteiras retiradas à vida religiosa. As beguinas eram como as beatas ou as mercês, mas mais comuns aqui pelo norte da Europa, em especial na região da Bélgica e da Holanda.





Era uma estadia curta. Num par de dias você vê o que há em Brugge. Pode ficar mais, se quiser, apreciando a atmosfera, ou pode seguir a outros destinos da Bélgica, que uma hora dessas eu mostro.
Deixo vocês, por ora, com algumas fotos de Brugge à noite. (Como eu falei, nunca fiquem muito longe da água.)






Uuuuuuuuu parece que de repente entrei em uma das cidades de contos de fada infantis. Uma cidade de boneca com lindos canais, lindo casario e tudo do tamanho das crianças. Que lindinha…Um misto de Veneza e Amsterdam com um ar de sonho, de fantasia, de romantismo, que parece saltar aos olhos de quem chega. Ai tudo é lindo e embora se pareça com outros lugares tem vida própria e encantos impares. Amei tudo e pretendo conhece-la assim que possível. Que delicadeza as flores e suas floreiras, seus gostosos canais, suas casinhas lindas, suas janelinhas com cortinas clássicas, Que lindas praças e monumentos. Curiosa a Catedral. Encantadora a cidadezinha.. O conjunto é deslumbrante. Parece aquelas cidadezinhas dos livros infantis. Uma graça mesmo. E à noite, deslumbrante em sua iluminação. Adorei. Parece surreal.
E que histórica essa Madona de Michel’angelo. Gostaria muito de ve-la. La Pietà do Vaticano é Divina.
Obrigada, amigo viajante, pela bela postagem. Linda cidadezinha. Saída dos contos de fada. Valeu.