A Polônia é o maior país do leste europeu atualmente dentro da União Europeia, mas não os chame de “leste”: eles aqui se veem como Europa Central, uma matriz cultural muito mais longeva que a divisão leste-oeste imposta pela Guerra Fria. Venha e verá.
Eu já vim à Polônia diversas vezes, vi bastante e ainda há mais a conhecer. Abaixo, faço um balanço geral da minha experiência até aqui e forneço algumas dicas a quem gostaria de vir.
- O que mais gostou. Das belas cidades históricas, ainda subestimadas ou desconhecidas da maioria dos turistas estrangeiros, e com preços bem econômicos (a Polônia está fora da zona do euro).
- Visita obrigatória. Cracóvia, a bela e histórica antiga capital da Polônia.
- O que não gostou. Dos trens, que são uma zona. Os ônibus aqui funcionam melhor.
- Queria ter visto mas não viu. As cidades de Lodz e Szczecin ficaram para outra viagem.
- Comes & bebes a experimentar. Pierogis, uns pasteizinhos gordinhos e fervidos, com recheios variados e bem conhecidos da comunidade de ascendência polonesa no Brasil. Encontre-os e esbanje-se neles aqui.
- Momento mais memorável da visita. Vou ser franco, o mais memorável não foi o mais agradável, mas foi um dever histórico e visita solene: ao campo de concentração de Auschwitz, que fica aqui na Polônia.
- Alguma decepção. Que a Polônia esteja se tornando tão fundamentalista no seu nacional-populismo, a ponto de misturar religião com governo e confundir catolicismo com patriotismo.
- Maior surpresa. Descobrir como cidades pelas quais “eu não dava nada”, ou de que nem havia ouvido falar, se repente se revelaram belíssimas.
PRINCIPAIS DICAS
Visto & imigração. A Polônia faz parte da União Europeia e da Zona Schengen de fronteiras abertas, portanto nenhum visto é necessário aos brasileiros.
Todavia, você provavelmente voará a outra parte da Europa em vez de direto à Polônia. Há excelentes voos baratos de empresas de baixo custo como a WizzAir para Gdansk ou Varsóvia. Há também boas conexões de trem a partir da Alemanha (que você compra no site oficial alemão bahn.com).
Clima, quando vir & melhor época. A Polônia, como muito da Europa, tem estações bem pronunciadas. Os outonos são molhados e esfriam cedo (desde setembro você já pode precisar de um agasalho); os invernos são rigorosos e com neve; as primaveras são lindas; e os verões são quentes, com temperaturas facilmente acima dos 30 graus e muito sol. Escolha conforme o tempo que mais lhe apetece.
No verão há bem mais turistas, desnecessário dizer. Os trens e ônibus ficam mais cheios, as acomodações também, e reservas antecipadas se fazem mais necessárias. Relativamente pouca gente aparece aqui entre outubro e março, meses mais cinzentos, mas também mais tranquilos. Há feirinhas de Natal — como reza a tradição centro-europeia — dezembro em quase todas as principais cidades.
Segurança. A Polônia é um país bastante seguro, se a compararmos ao Brasil. Varsóvia tem seus bairros pouco seguros, mas se informe na acomodação e tudo será tranquilo. Olho habitual nos pertences, mas via de regra nada mais que isso.

Câmbio, Custos & Dinheiro. A Polônia não faz parte da zona do euro e continua a utilizar sua moeda própria, o zloty (PLN). Um euro já há muito tempo equivale a 4 zlotys e alguma coisa (recentemente tem oscilado entre 4,20 – 4,40).
Você faz câmbio com facilidade nas cidades. Em lugares de rua, na informalidade, pode até ter quem aceite pagamento em euros, mas não faça disso um hábito pois a cotação tenderá a ser em favor do vendedor.
Um dos resultados de não ter adotado o euro, e de não ser um país de alta renda, é que os custos aqui na Polônia são relativamente baixos. Eu os compararia a Portugal, Hungria e Romênia. É mais barata que o Brasil em muitas coisas.
Refeição, se você quiser economizar, deve fazer nos “bares de leite” (milk bars), como são chamadas as cantinas populares onde você come pratos poloneses do dia-dia por 3-5 euros.
Acomodações há de todo preço, começando por menos de EUR 10 por uma cama em dormitório de albergue (menos da metade do que o mesmo custaria na vizinha Alemanha ou na Holanda).
Todas as principais cidades também têm oferta de tours gratuitos a pé (free walking tours) que funcionam à base de gorjeta, uma forma econômica de visitar e conhecer os pormenores de cada lugar.

Transporte. A melhor forma de se deslocar dentro da Polônia é de ônibus. FlixBus será o seu melhor amigo. As passagens são uma pechincha, há boa disponibilidade de horários, e você viaja confortavelmente e com wi-fi.
Eu amo viajar de trem, é o meu meio de transporte favorito em qualquer lugar do mundo, mas ele aqui na Polônia fica muito aquém dos ônibus.
Há um trem polonês de alta velocidade entre Varsóvia e Cracóvia, que você deve reservar online com antecedência no site oficial. No mais, é muitas vezes um pega-pra-capar de trens lotados sem assento reservado, funcionários de guichê que não falam inglês, linhas pouco práticas que às vezes levam o dobro do tempo do ônibus para chegar ao destino, e pouca informação que pode — especialmente em Varsóvia — deixar você até a última hora sem saber de qual plataforma seu trem vai sair.
Viaje na Polônia de trem se quiser a experiência e gostar de aventura (eles não são desconfortáveis), mas em questão de conveniência o FlixBus é muito melhor.
Aonde ir, cidades a conhecer, e quanto tempo em cada lugar. A Polônia é repleta de cidades bonitas, embora pouco famosas no estrangeiro.
Varsóvia é a capital, uma cidade que foi arrasada na Segunda Guerra mas que teve o seu centro histórico notavelmente reconstruído. Fora dali, ela ainda tem um ar meio de Guerra Fria, com seu urbanismo comunista e prédio-ícone do Centro de Cultura. Você verá hoje em dia várias igrejas e referências a personagens poloneses como Frédéric Chopin e Marie Curie. Há alguns museus interessantes, especialmente sobre a Segunda Guerra. Eu diria que 2-3 noites na cidade são o suficiente.

Cracóvia, a segunda maior cidade do país, é provavelmente a mais notavelmente bonita delas. Não foi bombardeada, e preserva o seu centro histórico bem conservado, rodeado não mais por uma muralha mas por um cinturão verde. Afora o centro medieval, você aqui também encontra o Bairro Judeu, antigo gueto, onde está a histórica Fábrica de Oskar Schindler (o da famosa lista), hoje um museu.
Se você gosta das coisas da Segunda Guerra Mundial, não pode deixar de fazer uma sóbria visita ao antigo campo de concentração e extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau. É um dia quase inteiro para visitar. Ele fica perto de Cracóvia e você pode ir num ônibus comum a Oswiecim (que é o mesmo nome de Auschwitz em polonês), a cerca de 1h. Lá o próprio lugar oferece tours excelentes em diferentes línguas, e que duram cerca de 3h. É uma visita pesada, mas de valor histórico. Aloque um dia só pra isso.
(Esta é uma tabela de horários dos ônibus entre Cracóvia e Auschwitz. Cuidados com os horários de retorno, mais esparsos, para não ficar em Auschwitz.)

Eu diria que Cracóvia merece pelo menos 3 noites (+1 se você quiser um dia para visitar Auschwitz). Num dia inteiro você pode bordejar pelo miolo medieval do centro, e no outro ir conferir o Bairro Judeu, fábrica de Schindler, etc. Se quiser emendar, neste segundo dia pode ir conhecer o bairro eminentemente comunista de de Nowa Huta, concebido para ser “uma cidade sem Deus” nos anos 1950. Segue sendo um exemplo clássico daquele urbanismo, uma viagem no tempo.
Essas duas (Varsóvia e Cracóvia) são de longe as mais visitadas pelos turistas brasileiros, mas estão longe de ser as únicas cidades interessantes da Polônia.
Gdansk, na costa do Mar Báltico, está recomendadíssima. Não pense em praia, pois é uma cidade portuária, mas há muita coisa histórica, um centro belo, e referências também aos movimentos civis e políticos que trouxeram a democracia de volta após o autoritarismo comunista, como o Solidariedade de Lech Walesa, que começou aqui. Gdansk está na origem da expressão “Corredor Polonês”, que tanta gente usa sem nem saber de onde veio. Eu recomendaria pelo menos 3 noites na cidade.

O interior também tem suas outras preciosidades, como Torun, a pequenina e pitoresca cidadezinha onde nasceu Nicolau Copérnico (1-2 noites); Poznan, a cidade onde a Polônia surgiu durante a Idade Média, com belo centro histórico (2 noites); e Wroclaw (ou Breslávia), uma cidade de grande quilate cultural, que já pertenceu a 5 reinos diferentes da Europa Central e ainda guarda marcas de vários deles (3 noites).

Se você olhá-las no mapa, pode identificar a sequência que mais faz sentido no seu roteiro. Frequentemente são 2-4h de viagem entre uma e outra, o que lhe permite tomar café da manhã num lugar e já almoçar no outro. Com uma semana, eu recomendo se focar em Cracóvia e Varsóvia; já com uma segunda semana, você pode tranquilamente conhecer também essas outras e emendar com Praga ou Berlim, que ficam próximas.
Idioma. Uma nota final sobre idioma. Não espere graaaande fluência em inglês por aqui. Funcionários de acomodação, especialmente em Varsóvia ou Cracóvia, e particularmente a gente jovem, normalmente falam inglês suficientemente bem. No entanto, motoristas de ônibus, funcionários menos jovens em cantinas, e atendentes de estação de trem raramente entendem inglês. Prepare-se para às vezes ter que gesticular. Nada do outro mundo; faz parte da experiência de vir a estes países menos visitados.

Venha conhecer a Polônia.
Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.
Lindas cidades. Belo país. Fiquei encantada. Parece que você entra num conte de fadas ou nas histórias infantis. Muito bonitas as postagens, de muito bom gosto e bem informativas. Adorei. Pretendo conhecer essas cidades. Obrigada, jovem viajante. Valeu.
Ótimos comentários. Despertou meu lado viajante. Belos locais. Comecei a ler pelo interesse em safáris e terminei encantada pela Polônia. Muito obrigada!
Fico feliz, Susana! Muito bem-vinda!