Esses ossos humanos são de verdade, para começo de conversa.
Estamos diante de um dos lugares mais notáveis do mundo, uma capela medieval tcheca decorada com os ossos de cerca de 60.000 pessoas que aqui padeceram. Cruzes! Não foram vítimas recentes de guerra, mas da Peste Negra durante a Idade Média e de conflitos entre católicos e protestantes nos idos da Reforma. Estes ossos portanto estão aqui há meio milênio. Contemple-os.

Estamos em Kutná Hora, uma cidadezinha tcheca a pouco mais de 1h de trem de Praga — ideal para um bate-e-volta desde a capital. Seu nome quer dizer “Montanha da Mineração”, pois desde os idos de 1260 há extração de prata nesta região, uma atividade que constituiu a sua economia na Idade Média.
Já os alemães, aqui vizinhos e que por tempos governaram esta região, a chamam historicamente de Kuttenberg, ou “Montanha do Hábito”, hábito sendo o nome daquele traje dos monges cristãos com o capuz, tipo os franciscanos. Antes mesmo de haver mineração, aqui havia mosteiros e monges desde 1100, ainda nos princípios do cristianismo nesta região da Europa.
Venham, acompanhem-me. Vamos conhecê-la, e ver também que Kutná Hora todavia não é só a Capela de Ossos. Esse ossuário é certamente a atração mais estranha, mas não a mais importante da cidade. Comecemos por ela, até porque foi o que eu primeiro vi na cidade.


Cheguei sozinho a Kutná Hora após 1h de trem desde Praga. Os trens são bons, embora a estrutura destas estações de trem do interior do que era o Leste Europeu ainda lembre outras eras.
Há duas estações de trem em Kutná Hora, fazei atenção: Kutná Hora hlavní nádraží (“estação principal” em tcheco, abreviado hl.n.) fica a 3Km ou 40min de caminhada do centro, mas é próxima ao Ossuário. Vale a pena começar por aqui e depois caminhar ao centro, ou tomar uma van turística baratinha que leva as pessoas. A outra estação, Kutná Horá město (“cidade” em tcheco) é pequena, fica perto do centro histórico como o nome sugere, mas é distante do Ossuário. Eu recomendo chegar por uma e sair por outra.
Eu quis ver logo o Ossuário, e deixar o deleite da beleza do centro histórico para depois.

Fazia um sol fresquinho naquele fim de setembro. Vários outros grupelhos vieram de Praga no mesmo trem que eu — pequenas famílias, casais, e viajantes independentes todos interessados no mesmo. O Centro de Informação Turística ficou logo picado de gente à estação, pessoas pegando mapas e outros formando fila para se informar. Eu não quis saber daquilo — não tive paciência.
Você não se desorienta em Kutná Hora, sobretudo hoje em dia com os aplicativos (além dos sinais desenhados no chão).






O nome da catedral soa algo ambíguo, mas é que são duas homenagens, não que São João Batista tenha tido assunção (até onde me consta).
Essa catedral foi erigida para ser a igreja aqui em Sedlec, que à época era um povoado distinto de Kutná Hora (hoje é um bairro, pois a cidade cresceu). Logo perto está a Abadia de Sedlec, fundada aqui em 1142 como o primeiro mosteiro cisterciano da Boêmia. A ordem beneditina de Cister surgira na França no século anterior, e vinha aqui espalhar o Cristianismo leste europeu adentro — um movimento importante na difusão dessa religião durante a Idade Média e de que poucos de nós do Brasil nos damos conta. (O movimento ainda continuaria até se concluir com a conversão da Lituânia em 1387.)
Essa abadia é onde está o famoso Ossuário de Sedlec. Como disse antes, dezenas de milhares morreram aqui durante a Peste Negra no século XIV, que eliminou quase metade da população da Europa à época. Manchas negras surgiam na pele, daí seu nome.
Em 1870 a nobre família local Schwarzenberg contratou o carpinteiro tcheco František Rint para pôr os ossos em ordem. O resultado ficou algo macabro.
Dizem que em 1278, o abade deste mosteiro foi à Terra Santa por ordem do rei da Boêmia e trouxe terra do Gólgota, que espalhou aqui pelo cemitério de Sedlec. De repente o lugar virou um lugar augurioso onde repousar os restos mortais.
Essa ossada toda seria desenterrada nos idos de 1500 quando se construiu uma igreja nova no cemitério. Dizem que um monge ruim das vistas ficou responsável por arrumar os ossos, que ficaram empilhados por séculos, até em 1870 a nobre família local Schwarzenberg contratou o carpinteiro tcheco František Rint para pôr os ossos em ordem. O resultado ficou algo macabro, e você o vê hoje em visita aqui.









Sui generis, eu diria. Nunca vi algo parecido no mundo.
Passam-se 30 minutos ou nada muito mais que isso na capela de ossos, pois ela é pequena. (A maior parte do gasto de tempo das pessoas lá dentro é tirando fotos.)
Hora de ver o que mais Kutná Hora oferece.


Era um belo dia de sol, os horários da van são meio intermitentes, e eu não quis ficar esperando. Esticar as pernas para ver Kutná Hora me atraiu. Hora de caminhar por entre os vivos e ver mais da cidade.
Eu confesso que o trajeto do ossuário até o centro histórico é “normal”, digno de pouca nota. Tratam-se de longas ruas comuns com residências ou muros modernos.
Havia, no entanto, uma lanchonete no meio do caminho, com aspecto de cantina escolar. Pus-me num dos seus compridos bancos de madeira para comer bramboráky, das poucas coisas que me atraem na culinária tcheca. São fritadas de batata com um quê de alho e manjerona. (Não desmereça a manjerona. Certa vez hospedei uma amiga tcheca que se recusou a fazer bramboráky até encontrarmos o diacho da manjerona num supermercado.)

Dali em breve eu alcançaria o centro histórico de Kutná Hora, um arranjo de ruas estreitas e casario colorido em tons pastéis — a cara típica das cidadezinhas Europa Central afora. Não havia muita gente.









A Catedral de Santa Bárbara em Kutná Hora é de uma imponência muito grande — ainda que bem menos cantada que a capela de ossos. Seus arquitetos provinham da mesma família dos que erigiram São Vito, em Praga. Sua construção se iniciou em 1388.
Santa Bárbara é a padroeira dos mineiros (o ofício, não o gentílico de quem é de Minas Gerais), e a mineração é desde foi no medievo a principal atividade econômica deste lugar, então a ela foi dedicada a imensa edificação gótica. Dizem que o projeto era para algo ainda maior. Ela só foi completada em 1905 (você leu certo), mais de meio milênio depois (e as pessoas se queixam que a Sagrada Família de Barcelona demora de ficar pronta…)











Era o cair do dia, e eu precisava tomar o trem. De Kutná Horá město, onde aguardei um pouco, tomaria meu trem de volta a Praga. Sugiro ver os horários com antecipação, pois ele pode demorar.
Era hora de eu rumar a outras bandas.
Uuuuuu. Arremaria…que horror… Desculpe=me meu jovem amigo viajante mas gosto muito pouco de ossos e restos humanos, muito menos como objeto de decoraçáo. Horriveis.
Por outro lado amei as igrejas e seus interiores e estilos. Linda aquela igreja neoclassica e linda tambem essa de Santa Bárbara. Lindas. Amei as linhas , os vitais, os belos interiores, as artisticas naves com seus arcos elegantes, os decorados altarem suas pinturas e murais ,,lindas . Tudo de uma arte e bom gosto impares. Amei tambem os casarios lindinhos e tipicos da Europa central, com seus belos estilos e seus gostosos tonsa e claro suas ruelinhas tortas e lindas. Amei.
Belissima arquitetura. Lindos jardins.
Lindos recantos floridos.
Gostei muito tambem desse interior renovado da Catedral com o a pintura amarelo limao do interior. Deu um toque de claridade. Belos palacetes e mansóes. Amei esse palacete verde claro. lindinhos ersses lugarejos.
Visitaria a cidade com prazer menos o tal ossuario ou cemiterio . Deus me livre.