Há uma cidade na Alemanha que por muito tempo foi mais conhecida pelo seu nome em latim que no próprio alemão.

Ratisbona, na Baviera, foi uma cidade imperial livre durante a maior parte da Idade Média. Isso significava responder somente e apenas ao imperador — a mais nenhum outro nobre abaixo dele , só diretamente ao líder supremo do Sacro-Império Romano Germânico, fundado por Carlos Magno sob a bênção do papa no ano 800.
A partir de 1663, Ratisbona se tornaria a Perpétua Dieta Imperial. Nada que ver com alimentação: a palavra “dieta” originalmente significa um regime de leis ou corpo parlamentar que as cria.
A dieta imperial aqui era uma espécie de congresso do Sacro-Império, um conselho multinacional de nobres diplomatas dessa entidade que abarcava muitos reinos. A dieta era tipo um Parlamento Europeu, só que não eleito pelo povo.

O pensador Voltaire, às vésperas da Revolução Francesa, gostava jocosamente de dizer que o Sacro-Império Romano Germânico não era “de maneira alguma sacro, nem romano, nem um império.”
De fato, essa era uma entidade sobretudo germânica mas que abarcava muitos povos (tchecos, eslovacos, bávaros, lombardos…) e funcionava com a bênção papal de Roma. Quando Hitler quis chamar o seu governo nazista de Terceiro Reich, o primeiro na contagem havia sido este, o Sacro-Império. (O segundo foi o de Frederico da Prússia, após a Unificação Alemã em 1871 e até a Primeira Guerra.) Quando o nazista pretendeu “um reich de mil anos”, foi também almejando imitar a durabilidade desse predecessor.
Ratisbona, esta régia cidade da dieta imperial, passaria depois a ficar mais conhecida pelo seu nome em alemão: Regensburg.
Após 1806 com a dissolução do Sacro-Império por Napoleão (que devia pensar como Voltaire e não via sentido naquilo), a cidade passou à coroa da Baviera (ou Bavária), essa monarquia outrora independente mas que é há 150 anos um estado da Alemanha — ainda com muita identidade histórica e cultural própria.

Regensburg fica próxima a Munique, caso alguém esteja se perguntando. Hoje, ela é uma cidade algo modesta de 150 mil pessoas, com seu centro histórico preservado, repleto de igrejas vetustas e uma ponte de pedra.
Eu vim cá pouco depois de visitar Praga, com o outono já instalado na Europa Central. Chuvas, nuvens cinza, e a temperatura a esfriar. Eu pouco veria do sol na cidade.
A caminho, parei na cidadezinha de Neumarkt in der Oberpfalz, já na Baviera, para almoçar algo típico da região com a minha bávara amiga Daniela. Se seu estereótipo entrou em ação para imaginá-la, substitua-o por uma simpática moça alourada de seus 1,70m, óculos, doutorado em física, toca piano como poucas, e gagueja. Adoro como a realidade é sempre mais diversa do que imaginamos.


Almoçamos e demos um pulo rápido nas ruínas do Castelo de Wolfstein aqui perto, dos tempos do Sacro-Império. (Esse lugar inspirou a série de jogos de computador Wolfenstein, sobre a Segunda Guerra Mundial.)



Parti de Neumarkt num outro trem para encontrar a pequena cidade moderna que é a Regensburg atual. Instalei-me lá num albergue chinfrim, como são frequentemente os hostels da Alemanha. Além de pouco baratos (€20+ a noite num dormitório coletivo…), aqui ainda há a tradição de cobrar adicional pela roupa de cama.
O pitoresco legado histórico de Regensburg, entretanto, faria valer a visita. Minhas refeições durante a minha estadia beneficiar-se-iam da globalização e seriam quase todas em restaurantes asiáticos, bem temperados. Mas o visual a se apreciado era alemão de raiz.

Regensburg é uma cidade antiga. Os romanos de outras eras vieram aqui e fizeram uma fortificação no século II d.C., da qual resta uma das quatro entradas, essa acima: a Porta Praetoria.







Esse rio, meus queridos, não é outro que não o Danúbio. Sim, ele nasce nos Alpes aqui na Alemanha, passa por esta Baviera, entra na Áustria, cruza a Hungria, a Sérvia, e vai desembocar na costa romena do Mar Negro.




Onde viveu e morreu o astrônomo alemão Johannes Kepler? Aqui em Regensburg.
Kepler, matemático e astrônomo, foi um dos grandes nomes da revolução científica do século XVII, ao lado de Galileu Galilei, Isaac Newton e outros. Ele chegou a ser assistente de Tycho Brahe em Praga, antes de se tornar o “matemático imperial” no Sacro-Império.
A casa onde ele morreu é hoje um memorial aqui em Regensburg, que você pode visitar.

Esse período dos séculos XVII e XVIII foram de grande proeminência de Regensburg, a Ratisbona imperial. As suas ruas têm até hoje uma aura que lembra Innsbruck, Salzburgo ou outros domínios austríacos aqui perto.







O que você não pode deixar de visitar aqui é o mais antigo santuário católico da Baviera — seja lá qual for a sua religião, se alguma. Trata-se de um dos melhores exemplos do estilo rococó em toda a Europa.
Estamos falando da Basílica da Natividade de Nossa Senhora, popularmente apelidada de Velha Capela (Alte Kapelle), fundada originalmente em 1002 pelo então sacro-imperador Henrique II. No século XVIII, ela receberia maestral decoração rococó. (Se você gosta desse estilo, visite também aqui em Regensburg a Basílica de São Emerano, que eu acabei não vendo.)




Desta cidade da antiga dieta imperial, deixo-vos as minhas saudações.
Ihhhhh que cidadezinha fofa. Lindinha. Adoro essas cidades cheias de portões medievais,, pórticos, casarios antigos, pontes, ruelinhas lindas, ruínas de castelos antigos. Uma graça.
Amo estes estilos arquitetônicos, com esses tons pasteis lindos. Belo Centro Histórico. Lindisssimos casarões.
E que beleza essa magnifico, histórico e poético Danúbio, cantado em prosa e verso por tantos poetas e musicistas!… e imortalizado nas belas valsas de Strauss. Lindo. Impressionante e belo na foto de outono que o viajante apresenta nessa bela postagem. Merece um belo poster. Torna mais encantador o cenário e com ele o ja famoso rio. Belíssima imagem. Amei.
Lindo pórtico, com bela paisagem e linda vegetação. Uma riqueza.
E que curiosa essa tal de oferenda bem no meio da nave, assim como esse monumento com alguém ajoelhado diante da cruz. Ambos inusitados. Curioso também o uso das lindas ruínas para fotografia de eventos.
Muito interessante saber que foi a cidade onde o grande Kepler viveu e onde está sepultado. Grande figura. Ser iluminado.
Mas o que mais chama a atenção e traz um grande encantamento sao as igrejas: a magnifica Catedral, de São Pedro, com seu belo e elegante estilo gótico, seus belíssimos vitrais coloridos, seu exterior portentoso, sua linda nave decorada, seus arcos magníficos e o seu belo, radioso e amplo interior Belíssima. Encantadora também a Basílica da Natividade de NSa. com seu interior ricamente decorado em estilo rococó. Com belíssimo teto também decorado. Um primor. Lindíssima.
Linda cidadezinha. Maravilhosa postagem. Parabéns, jovem amigo viajante. Amei.