Nuvens cinzentas. Uma umidade que parece penetrar até as pedras. Construções molhadas, como as botas das pessoas na rua.
Copenhague não é exatamente uma cidade luminosa no inverno — exceto pelas luzes natalinas. Embora as coisas hoje estejam se alterando com a mudança climática global, geralmente tampouco neva nestas partes baixas da Escandinávia até os idos de janeiro ou fevereiro. O que temos é uma paisagem urbana um tanto silenciosamente escura, se quebrada aqui ou ali neste dezembro pelo espírito do Natal.
Eu havia vindo aqui no outono, tempo de folhas laranjas crepitando sob os sapatos e formando paisagens que me lembraram Forrest Gump. Agora, os mesmos lugares estavam um tanto mudados.




O que traz a luz a estes dias sombrios na Escandinávia é o Natal. (Como já descrevi em outro post, a época escolhida pela Igreja para celebrar o nascimento de Jesus se deve precisamente às celebrações pré-cristãs neste período escuro do ano.)








Eu retornei a Copenhague para uma passagem rápida desta vez, basicamente a ver suas decorações de Natal e sentir o clima da cidade. Aproveitei, claro, também o que há de típico em termos de comida. Embora a culinária dinamarquesa hoje seja mais conhecida entre círculos de gastrônomos (o apelidado de New Nordic cuisine) que entre o público em geral, há também as tradições populares típicas de Natal, como o gløgg.
Agora, eu me dou conta de que falar em gløgg como “tradição popular” sem especificar o que é pode dar margens a interpretações tão amplas quanto as que havia sobre “o que é Sagatiba?” (sim, desenterrei).
Gløgg (ou glögg na grafia sueca) não é uma dança de Natal, nem uma posição sexual de época, mas a versão escandinava do famoso vinho quente, ou quentão, que há por boa parte da Europa — e no Brasil. Só que o gløgg não é idêntico ao glühwein alemão; ele é muito mais doce, e com passas dentro em vez de rodelas de laranja, cravo e canela. Não vá com muita sede ao pote.
(Na polarização que há atualmente no Brasil, entre amigos e inimigos das passas, eu sou partidário do “soca uva-passa em tudo” no Natal. Menos no meu glühwein, onde achei que a coisa não encaixa muito bem. Achei também o gløgg doce demais.)


Embora os dinamarqueses não tenham exatamente fama de calorosos, mas de tão frios quanto as ruas de Copenhague nesta época, eu noto certa joie de vivre — alegria de viver — aqui à moda escandinava. Quietos, mas não por isso menos dispostos. Reservados, sim, mas não menos atentos às tribulações do espírito humano ou seus gozos.






Talvez muita gente no Brasil nem faça ideia, mas os maiores consumidores per capita da bebida negra são todos países nórdicos. A Finlândia é a campeã, e a Dinamarca vem em quarto lugar. Não se engane achando que isso é medido em volume d’água, mas em peso de grãos de café mesmo. (A Itália é 13ª e o Brasil, 15º, a título de curiosidade.) É que na Escandinávia há esta necessidade gritante de aquecer-se e estimular-se diante da depressiva escuridão.
Entre vinhos quentes, cafés e boas companhias a gente se aquece. E com as fotos desta escura mas elegante paragem eu vou deixando o meu Feliz Natal a vocês.




FELIZ NATAL!
Bela cidade , época especial, luzes maravilhosas,e essas barraquinhas de Natal com os vinhos quentes, parecem mesmo aquecer o corações. Charmosas construções, belas e elegantes avenidas e calcadões, povo parece simpático e muita história para contar com seu vetusto e histórico porto. É belíssima a arquitetura assim como seus parques arborizados e seus belos canais. Mas Natal é mesmo diferente. Mais alegre mais animado apesar do tempo por vezes fechado. Percebe-se que a cidade se redescobre e se agita nessa bela festividade. Muito bonita. Linda postagem. Em relação aos tons da natureza achei o outono mais bonito. Mas natal é incomparável. Soberbo . Obrigada, jovem viajante, por esse belo passeio pelas plagas do Norte. Valeu.