O último pôr do sol do ano foi esplendoroso em Roma. O céu limpo, só o laranja a pintar o azul, enquanto cá na terra 5 graus deixavam algo fria a calorosa capital italiana.
31 de dezembro é dia do tradicional Te Deum do papa no Vaticano. O nome vem da canção Te Deum laudamos, usada para agradecer as graças do ano que passou — apesar dos pesares — e preparar-se para o ano seguinte. Não é propriamente uma missa, mas uma celebração das chamadas vésperas, que antecedem novos inícios.
Neste caso, é uma ocasião de gratidão e preparo. Acompanha o belíssimo canto em latim, historicamente atribuído a Santo Ambrósio e Santo Agostinho no século IV.
Não eram poucas as pessoas aos poucos — ou aos muitos — rumando para a Basílica de São Pedro, na Santa Sé. As próprias atividades de música e festa da cidade de Roma normalmente não se iniciam antes que primeiro se dê o Te Deum no Vaticano às 17h.


Eu já havia visitado o Vaticano anteriormente, como relatei num outro post. Vira inclusive o próprio Papa Francisco passando perto no seu carrinho entre a multidão. Desta vez eu o veria vir a pé, apesar dos seus 83 anos e condição frágil de saúde, cada vez mais visível.
Havia todo um esquema de segurança, como se há de imaginar. Maior que o habitual, já que o papa viria cá fora da basílica, mas até então eu não havia me dado conta disso. Ele viria até o presépio montado junto com uma bela árvore de Natal no centro da praça.


Telões foram instalados para aqueles que não puderam entrar na igreja — como eu. (Há males que vêm para bem.) Você pode reservar antecipadamente um lugar na celebração, ou ainda entrar de última hora e ficar aos fundos ouvindo a missa como fez bastante gente, mas não dá para se aproximar muito.
Cá fora ecoavam os cantos — isso era o mais impressionante. De repente, vendo aquela portentosa arquitetura junto dos imponentes timbres, dei-me conta ali nos sentidos, não só nas ideias, de o quanto o cristianismo institucionalizado abraçou mais da pompa do Império Romano que da humildade de Jesus, que fez questão de entrar em Jerusalém montado num burro. Hoje, teriam-no feito num cavalo alazão enfeitado de ouro.
Alguém do século II, ou mesmo um dos apóstolos, que saísse de uma máquina do tempo e parasse aqui seria perdoado por achar que os soldados de elmo vermelho e percussão ritmada militar eram as hostes imperiais. Nunca imaginaria o nosso viajante que aqueles agora eram os cristãos.


As pessoas esvaziavam a basílica; a transmissão nos telões encerrava-se, tendo terminado com os cumprimentos gentis entre o Papa Francisco e Virginia Raggi, a jovial prefeita de Roma.
Percebi o quanto os olhos do papa se iluminavam no trato com as pessoas. Pareceu-me deveras cansado durante a cerimônia, como que o peso das tarefas e disputas internas e atividades a lhe cobrarem os anos no ofício. A minha impressão foi a de um olhar longíquo, certamente em profundos pensamentos, quando das orações.
Lá se via ele depois; algo cambaleante, mas de propósito firme. Vinha cá para fora ter com os presentes. Entre as posturas rígidas da guarda suíça a postos nos coloridos trajes e seguranças modernos que rodopiavam de terno, como que tentando orientar-se, avistava-se ao fundo a figura idosa de branco a vir.
Não vou negar que me eletrizei. Acho o Papa Francisco uma figura fascinante e necessária nestes tempos — seja pelo reforço à causa ambiental, pelas críticas contundentes que não teme fazer, ou pela simplicidade que evoca junto com seu carisma pessoal.

As pessoas, que antes estavam algo frustradas por não terem conseguido entrar (presenciei alguns fazendo chamada de vídeo e dizendo isso enquanto desejavam Feliz Ano Novo a alguém querido longe), de repente entravam em polvorosa.
O vídeo abaixo, muito curto, dá um flash.


Um coro de garotas que me pareceram argentinas entoavam músicas em espanhol. Alguém alto gritou “Papa, eu te amooo!!“. De repente, parecia que eu estava num show do Bon Jovi.
Ele se deteve, orou ao presépio posto no centro da Praça de São Pedro, e seguiu cumprimentando as pessoas, fazendo um círculo inteiro até retornar.

Não sei mais quantos anos a saúde do Papa Francisco lhe permitirá no ofício, mas espero que muitos. Depois, só pela habitualmente sensacionalista mídia é que eu soube que uma visitante o agarrou e tomou uma palmada para soltar a mão. (O baratismo da mídia em sintetizar a ocasião com esse caça-clique é ilustrativa do que os norteia hoje em dia.) Achei próprio que ele se desculpasse depois, mas não acho que ninguém deva dar puxão em idosos.

A visão estava linda, fechando o ano. No céu, uma bela lua tornando-se crescente completava a cena naquela noite final. As pessoas agora se dispersavam por Roma. Vinham aí um novo ano e uma nova década. Daqui a 1 ano ou 10, veremos o que teremos feito deles.
Maravilha…Espetacular essa postagem…. Que bom rever o Vaticano com sua bela arquitetura sobretudo em um momento tao especial de virada de ano e de década. E que impressionante essa carismática e bela figura do Papa Francisco, na sua simplicidade , alegre contente e com vigor, apesar da idade, em meio ao povo que se espremia para ve=lo ou quem sabe tocá=lo. Lindo. E como estava bela a Praça famosa e histórica de São Pedro. Maravilhosa… Bela Roma ao sol poente, belissimo Vaticano nesses derradeiros momentos do ano. linda decoração, bela iluminação,, maravilhosas imagens. Emocionante. Que Deus dê a este Papa muita força e muitos anos de vida. Parabens meu jovem por essa emocionante e significativa publicação. Que vengha um ótimo ano e uma década abençoada para todos nós.