Finalmente! Depois de uma jornada desde Estocolmo, passando por Östersund, Umeå e Luleå, eu chegava ao afamado Hotel de Gelo no norte da Suécia. Sim, o hotel é realmente feito de gelo.
Você pode chegar aqui de forma mais fácil se voar a Kiruna, com seu aeroporto a 30 min do vilarejo de Jukkasjärvi, onde fica o hotel. Ou pode fazer como eu, que veio por terra — em trens e ônibus — para apreciar a paisagem e voltaria de avião.



Aqui nós estamos dentro do círculo polar ártico (que corre a 66ºN de latitude e demarca a zona mais fria do norte da Terra). Dentro dessa zona, no princípio do inverno o sol nem sequer nasce.
Estando em janeiro, o sol já nascia um pouco, mas os dias eram bastante curtos, mais ou menos das 10-14h. A neve cobria tudo. Os pinheiros nevados estavam especialmente elegantes, e havia toda uma quietude de inverno no ar (a -15ºC).






Eu estava procurando o inverno, e o encontrei.
Ali já estou eu com o crachá do Hotel de Gelo. Este IceHotel, o original que vários outros pelo mundo a esta altura copiaram, foi aberto ao público em 1991. Inicialmente, era algo sazonal, pois no verão as temperaturas ficam positivas e o gelo todo derretia. Eles então fabricaram uma mistura de gelo com neve, com bolhinhas de ar dentro, e que pelo visto sustenta o hotel o ano inteiro.
A edificação em si é nessa substância misturada, e o acabamento do interior é em puro gelo.



A sensação de estar em lugar tão remota tem seu quê emocionante, e meus olhos se fascinavam com as vistas e o quieto da neve. Quem não gostavam eram aos mãos, ardendo vermelhas e duras cada vez que eu tirava as luvas para fotografar.
Este extremo norte da Suécia é historicamente habitado pelo povo Sami, parentes dos finlandeses. Eles já vivem há milênios neste ambiente, tendo domesticado renas e vivido basicamente dos produtos delas, da caça e da pesca, já que aqui não se faz agricultura.
O Reino da Suécia sempre teve dificuldade em absorver esse povo, que ainda hoje conserva a sua própria língua e tem a sua bandeira, embora já haja um bom grau de miscigenação. Atualmente, muitos suecos de outras partes vêm para cá abrir negócios ou trabalhar por alguns meses. Como no Hotel de Gelo.
O hotel funciona da seguinte forma. Não é exatamente um palacete saído de Frozen, mas uma área aberta — como num hotel campal, destes onde há espaços naturais entre as construções — como num mini-vilarejo. Recepção aqui, restaurante naquela outra cabana, etc.
Nem tudo é feito de gelo. A recepção, o restaurante, a lojinha e alguns outros espaços são “normais”. Há os chamados “quartos quentes”, que são cabanas comuns, com aquecimento, cama normal, banheiro etc. E há os emblemáticos “quartos frios”, com cama esculpida em gelo, onde você passa a noite num saco de dormir sobre pele de rena.











Fascinante, hein? Você dormiria num quarto de gelo?
Eu admito que não, a menos que me pagassem a estadia. Os quartos de gelo são lindos, artísticos, mas são mais bonitos e interessantes que aconchegantes. Achei-os mais curiosos de visitar do que atrativos para dormir ali.
Além disso, eles são bastante caros. Enquanto um quarto duplo normal, numa das cabanas daqui, sai pelo equivalente a 250 euros/noite, os quartos frios custam de 550 euros para cima por noite (!). Num dos artísticos, vai a 700-1000 euros/noite ou mais (é mais caro se houver banheiro próprio). Eu confesso que cheguei a cogitar, mas achei esse gelo um tanto salgado — e para pouco benefício.
Durante o dia, há tours inclusos organizados pelo hotel para explicar sua história, o processo de construção, e os quartos ficam todos abertos à visitação. Se você tiver reservado a noite num desses quartos frios, só terá acesso a ele às 18h, após o fim do período de visitas. E às 7:30 da manhã será posto para fora despertado pelos funcionários. Eles acordam todo mundo com a gentileza matinal de um copo de suco quente de lingonberry (uma frutinha vermelha daqui) para liberar os quartos.
Eu li sobre isso no site, em relatos de experiências, e achei melhor reservar um “quarto quente”. Após ver os quartos frios pessoalmente, fiquei muito feliz de não ter pago a bagatela para dormir num deles. A -5ºC e quase sem nada, teriam sido 700 euros pela excêntrica sofrência de uma noite curta na câmara gelada a acabar às 7:30h com um copo de suco. (Minha conta bancária ainda não chegou a esse nível de conforto, nem o inverno congelou meus neurônios.)
É tudo pitoresco, mas eles aqui exploram um pouco. Tipo cobrar 100 euros por pessoa numa refeição normal, só para ela vir servida sobre uma barra de gelo em vez de no prato. A lavagem cerebral para me fazer gastar isso só por estilo, pra pôr no Instagram ou para dizer que tive a experiência, não chega a tanto.

O Hotel de Gelo é portanto muito bonito, mas — a menos que você seja muito abonado — cuidado para não gastar demais aqui desnecessariamente.
E vale a pena vir até aí e não dormir num quarto de gelo?
Vale. Eu recomendo a vinda a Jukkasjärvi, e inclusive hospedar-se no Hotel de Gelo para ver de perto esses espaços. Só não acho que o custo-benefício de uma noite curta no quarto frio compense. Ainda assim, há muita gente que combina uma noite num quarto frio e outra num quarto quente.
Como teria dito Caetano Veloso, fosse ele daqui: A paisagem aqui é linda, as árvores, a arte no gelo é linda, a cultura sami é linda… e você pode vir conhecer todas essas coisas pessoalmente sem ter que dormir no freezer.


Há um centro cultural Sami que recomendo a 15 min a pé do Hotel de Gelo, se você quiser explorar um pouco de Jukkasjärvi (o Nutti Sámi Siida, na língua deles). Eles, inclusive, oferecem atividades mais em conta e são uma melhor opção onde comer que o restaurante do hotel (ou que o outro restaurante que a recepção menciona, o Old HomeStead, que não parece mas também pertence ao IceHotel).








Esta não é uma visita demorada. É mais para ter estas sensações, conhecer a região com os próprios globos oculares, que para varar dias e dias aqui. Depois de duas noites em Jukkasjärvi, eu estava pronto para partir.



Para reservar uma estadia no Hotel de Gelo, é mais barato e conveniente fazê-lo direto no site oficial. Há uma página em inglês, com os detalhes e preços dos muitos sub-tipos de quartos. Alguns funcionam o ano inteiro, outros só no inverno, quando aumenta muito a procura e — sobretudo nos fins de semana — você precisa reservar com semanas ou mesmo alguns meses de antecedência.
Se você ficou com alguma dúvida ou quer algum toque, não hesite em me escrever abaixo nos comentários.
Nossa, que espetacular essa experiencia e que postagem especial e diferente. Muito interessante esse hotel. Nao é que existe mesmo …Nunca antes tinha ouvido falar em hotel de gelo e com essa infra estrutura tao interessante e diversa. Achei maravilhosa. Natureza e obras são espetaculares. E que criatividade. Adorei. Nao imaginava tamanho e tao original hotel e com tudo de gelo. Belíssimo. Um charme. A natureza é um prodígio. Linda. E a singularidade da produção é magnifica. So um viajante nota mil para fazer uma descoberta dessas, ir la e contar como foi. hahaha Que beleza. Gostei muito. Mas nao me aventuraria a dormir na parte mais gelada. Tambem achei bastante oneroso. Só para alguns e para conhecer.
Lindo o centrinho social e a igrejinha. Muito bonita a postagem, e a viagem foi mesmo bastante interessante.
Obrigada viajante brasileiro. Bom passear com o senhor. Valeu. Adorei.
Soberba a natureza. Pujante nas suas incríveis manifestações e que criatividade dos seres humanos. Um primor.