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Vietnã

Viajando pelo Vietnã: Visto para brasileiros, alertas, o que fazer e outras dicas

Viajar pelo Vietnã é aquela coisa “povão”. Não há como vir aqui e ficar insulado, sem contato com a gente. Nem valeria a pena — o país tem lindas paisagens naturais, mas a principal atração é mesmo o(a) vietnamita e sua História, sua cultura, suas tradições religiosas e todo o mais que resiste e continuamente se reergue apesar das guerras.

São várias cidades, sítios naturais e históricos neste país relativamente extenso de norte a sul. Conheço muitos que se seduzem e permanecem aqui anos. Como conheço outros, mesmo viajantes experientes, que acharam o Vietnã “pressão demais”, muita muvuca, ou excesso de tretas de vendedores.

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Pelas ruas de Hanoi, a capital do Vietnã.

Nem tanto ao mar nem tanto à terra, eu diria. Eu não moraria no Vietnã, mas o achei um país fabuloso de visitar. Passei cerca de 10 dias e julguei o suficiente (embora uns dias extras facilitem sua vida se você gostar de um passo um pouco mais lento).

As pessoas aqui são muito mais tranquilas que os indianos ou árabes quando se trata de vendas, encheção, etc. Encontrei também muita gente doce e afável. Só não os espere inocentes como os cambojanos e outros.

O número de turistas por ano mais que dobrou de 2015 pra cá, mas brasileiros e portugueses ainda visitam muito pouco o Vietnã. Não estão nem dentre as 30 nacionalidades mais presentes. Holandeses, suecos e italianos o fazem muito mais, para nem falar dos visitantes asiáticos. Então o Vietnã ainda é um destino por descobrir para muita gente — um culturalmente rico e dos mais baratos que já visitei na vida. O voo custa, mas a estadia sai uma pechincha.

Primeiro um balanço geral, e abaixo algumas dicas (incluso sobre o visto) para quem planeja vir aqui. Havendo ainda dúvidas, é só me perguntar abaixo na caixa de comentários.


    • O que mais gostou. Da pitoresca cidade histórica de Hoi An, com seus templos, ruas antigas e coisas típicas.
    • Visita obrigatória. Hanoi, a capital com suas loucas motos e muita História. É parada obrigatória para ver quem foi e quem é o Vietnã ontem e hoje.
    • O que não gostou. Dos trens, um tanto precários. A comida também não me encantou muito.
    • Queria ter visto mas não viu. Os túneis Chu Chi, cavados pelos Viet Congs durante a guerra, próximos da Cidade Ho Chi Minh.
    • Comes & bebes a experimentar. Pho, uma sopa de macarrão ao estilo vietnamita, e os rolinhos primavera não-fritos, mas com uma massa meio translúcida de arroz. Dentre os bebes, café com leite condensado. 
    • Momento mais memorável da visita. Por bem ou por mal, as visitas à Cidadela Imperial e às Tumbas dos Imperadores Vietnamitas sob chuva em Hue foram provavelmente o mais memorável. Fica pitoresco, mas talvez seja um tanto também de trauma pela molhação.
    • Alguma decepção. Não ver o sol durante minha visita à Baía de Ha Long. Depois eu descobri que quase ninguém pega sol lá, mas o Google engana. As fotos promocionais dão a (falsa) impressão de que você a encontrará linda e ensolarada. Prepare-se para encontrá-la muito provavelmente sob nuvens.
    • Maior surpresa. Que a Cidade Ho Chi Minh (antiga Saigon) seja tamanha metrópole, de mais de 10 milhões de pessoas, e tão ocidentalizada, com Starbucks, Hard Rock Cafe, etc.

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O Visto. Desde 2017 o Vietnã opera um sistema de visto eletrônico (e-visa) para a maioria das nacionalidades, brasileiros e portugueses aí inclusos.

Basta acessar o site oficial do governo vietnamita, preencher online suas informações (não se espante ao encontrar Religião como campo obrigatório, mas o restante não é nada do outro mundo), fornecer uma foto de perfil digitalizada e a sua página de informações do passaporte também digitalizada. Tanto PDF quanto JPG são aceitos. Por fim, paga-se uma tarifa de USD 25 após confirmar a solicitação (não feche o navegador antes dessa parte!)

A saber:

    • Você precisará já informar o endereço onde estará alojado. Ponha o da sua primeira acomodação na cidade de chegada.
    • O visto normalmente fica pronto em 3 dias úteis. Você recebe a carta de confirmação por e-mail e a leva consigo impressa. 
    • Esse visto de turismo vale por até 30 dias, entrada única por pontos de fronteira selecionados (os principais aeroportos e travessias terrestres). No site há uma lista de pontos de entrada onde o e-visa é aceito — verifique. Lá há também outras informações caso você deseje uma estadia mais longa ou múltiplas entradas.
    • NÃO EXISTE visto na chegada (visa on arrival) no Vietnã. Isso é pura treta de agências online querendo lhe extrair uma taxa administrativa adicional. Todo e qualquer viajante não-diplomático precisa obter carta de autorização antes de chegar ao Vietnã. O que essas agências fazem — e muitas Google afora se disfarçam de site governamental com nomes tipo vietnamgov.com — é cobrar-lhe para fazer a solicitação online por você.
    • O único site oficial é este (https://evisa.xuatnhapcanh.gov.vn/web/guest/trang-chu-ttdt) como você pode notar pelo domínio gov.vn. O nome esquisito, perdoem, é porque os oficiais vietnamitas usam sua própria língua em vez de algo sedutoramente em inglês para pegar turista. 
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A cara do site oficial do governo vietnamita onde solicitação seu visto eletrônico (e-visa) para turismo. (Aquele notice ali é um aviso sobre restrições temporárias a pessoas vindo de áreas afetadas pelo Coronavírus. Daqui a umas semanas some.)

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Segurança. Não me senti inseguro em momento algum durante minha estadia no Vietnã. Só tenha em conta que este é um país ainda com muita pobreza, como o Brasil. E, como no Brasil, há por vezes uma situação sanitária duvidosa, além de motoristas aloprados. (Aqui eles são mais aloprados que no Brasil, mas são melhores de freio. As taxas de acidente de trânsito são parecidas nos dois países, vale saber.)

Enfim, esqueça medo de assalto, e olho no trânsito. 

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Aqui os motoristas (especialmente os motociclistas) dirigem feito na Corrida Maluca. Leva um tempinho, no começo você acha que é impossível atravessar a rua, mas aí se acostuma.
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Dali a um tempo você já está de boa, só assistindo ao movimento.

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Clima & Melhor época. Quando vir? O Vietnã é um país comprido, com 1500 Km de norte a sul. Isso significa climas diferentes. Todo ele é úmido, mas o norte é mais friozinho, e o sul é bem mais quente e tropical.

As recomendações na internet sobre a melhor época para visitar uma Vietnã são portanto uma loucura, basicamente sugerindo uma época diferente para cada região do país. Ninguém vai cruzar o mundo pra ver só um pedacinho, então as observações cruciais a meu ver são as seguintes:

    • Junho a novembro é a época de tufões, que às vezes arrasam a costa do país — e o Vietnã inteiro fica perto da costa, esguio do jeito que é. Eu recomendo evitar este período.
    • Qualquer que seja a época do ano, choverá em alguma parte do Vietnã. Não quer dizer chuva o tempo todo, mas pode haver pancadas. Venha preparado(a)  seja qual for a época. No mais, as temperaturas e níveis de umidade são parecidos com o Brasil.
    • Os meses de dezembro a abril oferecem o melhor clima para viajar. O inverno aqui (dezembro-março) foi quando eu vim, peguei uns chuviscos e uns dias de sol, friozinho no norte, calorzinho no sul, nada do outro mundo. Dizem que abril e começo de maio é boa época primaveril, sendo que em meado de maio começa a chover.

Alerta: Evite as datas próximas ao Ano Novo Lunar (chinês), geralmente entre janeiro e fevereiro, pois ele é celebrado também aqui e muitas coisas fecham por dias a fio.

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A Baía de Halong no inverno. É quase impossível vê-la com sol, mas ela é pitoresca em qualquer época.

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Custos, acomodações & transporte.

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O dong (VND), a moeda do Vietnã. 1 USD = 23.000 VND.

O Vietnã é muito barato. Sua moeda é o dong (VND) que apesar dos valores altos se desvaloriza menos que o real. Um dólar (USD) equivale a cerca de 23.000 VND. Tem estado neste patamar há mais de um ano, mas verifique antes de viajar.

Acomodações frequentemente aceitam (ou mesmo cobram) pagamento em USD, então eles são melhores de trazer que euros. Tenha em mente, no entanto, que eles aqui em todo o Sudeste Asiático são fresquíssimos quanto ao bom-estado das cédulas. Notas sujas, semi-danificadas ou velhas não serão aceitas.

Alerta: Observe para que a pessoa da sua casa de câmbio não lhe empurre dólares velhos ou desgastados que você aqui terá dificuldade de trocar.

Acomodações aqui são incrivelmente baratas. Cama de albergue sai por menos de USD 10 /noite, e mesmo quartos duplos em hotéis-boutique (com café da manhã incluso) podem sair na faixa de USD 20-25/noite.  

Os passeios também são baratos. Fiz por exemplo um day tour, bate-e-volta, de Hanoi à Baía de Halong por meros USD 23 por pessoa com tudo incluso, arranjado no site Viator. Acesse e verifique, ou arranje pela sua acomodação. Todas as acomodações no Vietnã também fazem as vezes de agência de viagem e são uma verdadeira mão na roda.

Transportes, por fim, também são baratos. Eu falei mais especificamente sobre os trens no Vietnã e como reservá-los neste post. Não se viaja muito de ônibus entre as cidades por aqui. Voos domésticos são a outra opção corriqueira — verifique os preços com a Vietnam Airlines, que é uma boa companhia. Já voei por ela várias vezes.

Há também a Jetstar, a VietJet Air, e a Bamboo Airways, que são companhias aéreas de baixo custo. Pela Jetstar eu já voei e não tenho queixas — é um pouco como a EasyJet na Europa. Um voo de 2h da capital Hanoi até a Cidade Ho Chi Minh, por exemplo, sai pelo equivalente a meros USD 25 nas empresas de baixo custo ou USD 50 com a Vietnam Airlines. 

Refeições saem por USD 3-6 (menos ainda se for na rua), e um café sai a USD 1 ou menos. O orçamento total, como sempre, dependerá do nível de conforto que você busca, e do quanto você gastar com compras e lembranças. 

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Mercado coberto na Cidade Ho Chi Minh.

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Comidas. As comidas no Vietnã são uma mistura de pratos nativos, asiáticos, e influências francesas. A França colonizou o Vietnã por um século (1858-1954) e deixou aqui suas baguetes, ainda hoje típicas. (Não quer dizer que sejam de qualidade. Achei as coisas de padaria meio fracas, o que não me surpreendeu dado onde estamos.)  

O prato mais famoso do Vietnã é o pho, das muitas sopas de macarrão tomadas na tigela grande. É um macarrão feito de arroz (em vez de trigo) num caldo que em geral leva carnes desfiadas, legumes e muito coentro por cima. Às vezes, umas cebolas fritas. 

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A cara dos pratos mais típicos do Vietnã é assim. Mas dentro disso há grande variedade. (Saiba que de praxe sempre tem carne. Se você for vegetariano, peça pra não colocarem.)

Os cafés da manhã são uma curiosidade. Tendem a ser muito bons aqui no Vietnã, e eles têm por hábito lhe oferecer um cardápio de opções em vez de buffet self-service. Há desde coisas ocidentalizadas (como sanduíches, quitutes doces etc.) quanto cafés da manhã mais típicos asiáticos, que são uma refeição: macarrão com legumes, etc. Você escolhe.

O café propriamente dito, para os viciados de plantão, é digno. (O Vietnã é o segundo maior produtor mundial, após o Brasil.) Sou especialmente fã do café com leite condensado, como se encontra também na Tailândia.

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Flagrado tomando café da manhã na Cidade Ho Chi Minh.
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Uns bolinhos de massa de arroz fritos e caramelizados, bom de comer com café.

Não faltam quitutes doces e fritos no Vietnã. A culinária mais próxima da vietnamita é a chinesa, com suas muitas frituras, arroz, macarrão, legumes no caldo e carnes de tudo que é bicho.

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Aonde ir? Quanto tempo em cada lugar?

O comprido Vietnã é comumente dividido em três grandes regiões: Vietnã do norte, Vietnã central, e Vietnã do sul — com letra minúscula porque não são entidades políticas, mas mera distinção geográfica. 

Hanoi (a capital do país) no norte, Da Nang no centro, e Ho Chi Minh (ex Saigon) no sul são seus principais hubs, as cidades maiores e aonde voar. 

Mapa das regiões do Vietnã
O Vietnã e suas regiões. (Este mapa distingue em verde ainda as chamadas highlands, ou áreas de maior elevação entre o centro e o sul.)

Hanoi, a capital, merece pelo menos uns dois dias de passeio para conhecer suas atrações históricas de culturais — legados dos tempos de império e colonização francesa, seu pitoresco lago, as ruelas do centro histórico, ver o teatro de marionetes na água, etc. Acrescente aí um terceiro dia se quiser fazer um bate-e-volta à famosa Baía de Ha Long (Halong Bay)

Da Nang, no centro, é mais um ponto de apoio (com bom aeroporto) que realmente uma cidade de interesse. Ali perto há as chamadas Montanhas de Mármore com seus santuários budistas nas cavernas, e principalmente as cidades históricas de Hue e Hoi An

Hue, que foi a última capital imperial do Vietnã, requer pelo menos dois dias inteiros: um para ver as atrações dentro da cidade, como a Cidadela Imperial, e outro para fazer um tour aos templos, pagodes, e sobretudo aos mausoléus dos imperadores do Vietnã nas vizinhanças da cidade. (Qualquer acomodação arranja esse passeio de véspera para você.) 

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Muralhas e entrada para a Cidadela Imperial do Vietnã em Hue.
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Mausoléus dos antigos imperadores do Vietnã, nos arredores de Hue.
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Guerreiros de pedra protetores das tumbas sob a chuva.

Hoi An, também aqui no Vietnã central, é a cidade mais pitoresca do país. Um lugarejo histórico onde tudo se faz a pé, com casario típico, templos, e muitos vendedores nas ruas. É um lugar onde passar também pelo menos dois dias inteiros. As acomodações costumam arranjar serviços de transfer (algumas poucas horas) entre Hoi An e Hue.

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Hoi An, cidade histórica no Vietnã central.

Por fim, a Cidade Ho Chi Minh (antiga Saigon) é um lugar mais comercial, empresarial e cosmopolita que turístico. É o coração econômico do país, com 13 milhões de habitantes, avenidas, e redes internacionais conhecidas — tanto de hoteis quanto de estabelecimentos como Starbucks, Hard Rock Cafe, entre outros.

A principal atração turística da cidade é o Museu dos Vestígios da Guerra, sobre a guerra contra os EUA entre 1955-1975. Vale muito a pena por seu caráter histórico e humanitário, para se saber as agruras que os vietnamitas passaram — e ainda passam — devido ao ataque norte-americano com armas químicas etc.

Aos interessados, há também os Túneis Chu Chi, cavados pelos guerrilheiros Viet Congs, que hoje são uma visita de bate-e-volta da cidade.

Duas noites na cidade me pareceram o bastante.

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Aparatos do exército dos EUA capturados pelo Vietnã e hoje expostos no pátio do Museu dos Vestígios da Guerra, na Cidade Ho Chi Minh (antiga Saigon).

3N em Hanoi + 3N em Hue + 3N em Hoi An + 2N em Ho Chi Minh e você tem aí um roteiro básico, com viagens de avião de Hanoi a Da Nang (ou trem noturno a Hue), e outro voo de Da Nang à Cidade Ho Chi Minh. 

Mais tempo, claro, lhe permite ver mais detalhes do Vietnã e seu interior, mas esse aí é um roteiro básico bastante completo, com os principais pontos das três regiões do país.  

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Em Hoi An, num templo com dragões.

Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “Viajando pelo Vietnã: Visto para brasileiros, alertas, o que fazer e outras dicas

  1. Adorei viajar com o senhor nessas postagens, meu jovem amigo viajante. Valeu. Amei conhecer esse pais, pelo qual torcemos na juventude. Parabéns
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