O Angkor Wat é mundialmente famoso, patrimônio mundial da humanidade reconhecido pela UNESCO. Nem sempre se diz, mas não se trata de uma atração sozinha que você visita numa tarde e pronto, já viu. Trata-se de todo um parque arqueológico — o Parque Arqueológico de Angkor — com dezenas de templos da época dos Khmer, dos séculos IX-XIII, no Camboja medieval.
São aquelas ruínas repletas de história e mistério, com árvores a crescer em meio às pedras e túneis escuros que levam a interiores subterrâneos. Coisa que inspirou muitos filmes e jogos na linha de Indiana Jones ou Tomb Raider.

Antes de relatar em detalhes a minha visita a vários desses templos — incluso o próprio Angkor Wat, o mais famoso deles —, quero explicar no geral como é esse sítio turístico, falar dos custos, opções, e dar algumas dicas.
Primeiro, a dimensão. Esta não é uma área pequena, nem mesmo um parque arqueológico amplo porém andável como é Petra na Jordânia. Não. Aqui são dezenas de Km de extensão. Você precisa negociar um tuk-tuk com motorista que passe o dia com você a levá-lo de um templo a outro. Você visita este, o motorista espera, você sai, ele o leva a outro, e assim vai.
Segundo, o custo. O Parque Arqueológico de Angkor é operado por uma empresa privada vietnamita — o que gera todo tipo de animosidades entre cambojanos nacionalistas. (O Vietnã mexe muito os pauzinhos aqui no Camboja desde que venceu a guerra contra os EUA em 1975.)
Como o governo cambojano queria também um naco da renda, os ingressos em 2017 duplicaram de preço. Atualmente são USD 37 (1 dia), USD 62 (3 dias), ou USD 72 (7 dias). Você precisa de um desses passes para entrar. Você paga em dólares em espécie, no cartão de crédito, ou em riéis cambojanos com uma cotação ruim.
Você não precisa e não deve comprar nada antecipadamente pela internet. Essas entradas são vendidas exclusivamente no APSARA ticket office, que fica na estrada que leva de Siem Reap ao parque (um trajeto de seus 20 min em tuk-tuk).
Você não precisa tampouco comprar antecipadamente em pessoa, pois os tickets não se esgotam (o parque é amplo). Eles tiram uma foto sua no ato (não precisa levar) e a imprimem num passe datado, como uma carteirinha de identidade válida para aquele(s) dia(s) e que você carrega consigo todo o tempo. Os guardas nos templos checam. Cada templo tem sua entrada com essa verificação.
Note que o passe de 1 dia não é um passe 24h, mas um passe para aquela data. O mais normal é portanto adquirir esse passe no próprio dia da visita, de manhã cedo.
O horário de abertura é do nascer ao pôr do sol, o que varia um pouquinho com a época do ano, mas no geral significa das 5:30h às 18h. Verifique com sua hospedagem na época em que vier.
Perceba que esse preço não inclui guia nem transporte — somente o ingresso. Abaixo eu falo das opções de visita, inclusive para ver o nascer ou o pôr do sol dos templos.


Terceiro, as opções de visita.
Sempre, seja qual for o lugar, há pessoas a dizer que “Você precisa de no mínimo...” um milhão de anos para ver direito. A minha observação é que, a menos que você seja um aficcionado por arqueologia ou esteja passando uma longa temporada no Camboja, o passe de 1 dia lhe será suficiente. Foi o que fiz e não me arrependi. Os templos são interessantes, mas depois do 6º templo você já começa a cansar um pouco.
Um tuk-tuk para passar o dia todo me custou USD 15 (total, não por pessoa), sem guia. Relativamente barato. Some + 5 USD se você quiser ficar para ver o pôr do sol. Há um debate se isso vale a pena, mas como o custo é mínimo… (Mais sobre isso mais abaixo.)
Dificilmente você conseguirá ver todos os templos, então será preciso seguir um roteiro informal e definir quais vai ver. Já dou minha opinião.
Você verá uma conversa sobre Grande Circuito (Big Circuit) e Pequeno Circuito (Little Circuit), mas lembre que isto aqui é o Camboja, não a Suíça. Na prática, você faz o que quiser e conseguir acertar com o motorista.
Se você contratar passeios fechados com agências locais, eles certamente serão mais rígidos nesse sentido, mas se você estiver com seu tuk-tuk particular, faz o que quiser.
A opção é sua se você quer guia ou não. Haverá ofertas mesmo que você vá sem agência — embora eu não garanta pela qualidade do inglês ou espanhol deles. Há quem goste, e há quem não tenha paciência. (Eu vario entre os dois extremos.) Claro que se você for com guia, aprofunda-se nos detalhes de onde for, mas vê menos templos pois se detém mais em cada um.

Eu optei por ir sem guia e ver por conta própria uma diversidade maior que templos que me deter em alguns. Eu buscava mais a atmosfera e contemplar esteticamente a beleza. Não me arrependi, mas vai aí do gosto e também do pique de cada um, até porque ver vários templos num mesmo dia requer “perna”, energia. Se você preferir uma coisa mais despacito, pegue um passe de 3 dias.
A quem gosta dos detalhes mas curte uma alternativa escrita, e que sirva como souvenir, você vê meninos vendendo cópias do livro Ancient Angkor por USD 10 (se você pechinchar). Vale a pena caso você queira os detalhes. Nas livrarias ele custa o triplo. Há vendedores com infinitas cópias dele nas entradas de quase todos os templos.
Quais são afinal os templos principais? São dezenas de templos ao todo, e você dificilmente visitará a maioria, mas os imperdíveis são o próprio Angkor Wat, o templo Bayon nas ruínas da cidade antiga de Angkor Tohm, e o Ta Prohm com suas árvores enraizadas nas ruínas. Nos próximos posts detalharei minha visita a cada um deles. Não deixe de visitar nenhum destes três.
Não há um consenso exato acerca do que está incluso no pequeno circuito ou no grande. A única exatidão é que o templo Badeay Srei, um dos mais populares afora aqueles outros três, fica longe uns 50 Km do restante, então este você realmente só vê se ficar alguns dias.
Eu não fiz roteiro, até porque não conhecia de antemão os templos. Eu basicamente disse ao motorista que queria ver tudo o que pudesse num longo dia das 6 às 18h, inclusos aí os principais. Ele aceitou e assim foi. Vimos tudo o que normalmente é considerado parte do pequeno circuito e mais outros, como relatarei nos próximos posts. Você então poderá ver os que acha mais belos e que quer marcar para visitar.
Nascer do sol & Pôr do sol. Se você comprar seu passe após as 17h, ele será válido (também) para o dia seguinte. É como se vê o nascer do sol, antes de a bilheteria abrir. (Cuidado pois ela fecha às 17:30, então para isso há uma breve janela de oportunidade de meia-hora entre 17:00 – 17:30.) Acomodações ou agências compram para você ou arrumam de levá-lo até lá na hora certa.
Ver o sol nascer ao Angkor Wat é uma experiência incrível ou uma decepção, a depender da nebulosidade. É um risco, pois iniciando às 4h da madrugada você talvez não tenha energia para visitar muito durante o dia. Talvez faça mais sentido para quem tiver um passe de 3 ou 7 dias.
As fotos (selecionadas) do Google mostram belas auroras, mas a maioria dos que conheci pessoalmente relataram um amanhecer nublado e me pareceram duvidar se valeu a pena. Depende de a quem você perguntar.

Já o pôr do sol é mais simples de ver, pois como o parque fecha logo após o escurecer, basta decidir como e onde encerrará o dia da sua visita. Assistir a ele diante do Angkor Wat é uma opção comum, embora haja sugestões também do topo de alguns templos — seu guia ou motorista saberá recomendar. Eu assisti do Angkor Wat, como vou relatar depois.
Há tours fechados ou passeios informais focados só na hora do nascer do sol ou do pôr do sol se você quiser — de passar algumas horinhas, ver o evento celeste, e voltar. Mas para mim o que funcionou melhor foi ir bem cedo, passar o dia inteiro no parque e fechar com o pôr do sol.
A turistada começa a chegar em peso às 9h. Se puder, comece antes. Eu saí às 6h e antes das 7h já estava lá. Vi bastante coisa e com muitos templos ainda bem pacatos e tranquilos.
Abaixo vão algumas outras informações e alertas gerais.
Vestimenta. Em certas partes do Angkor Wat há restrição a estar com os ombros expostos. É preciso cobri-los, e jogar um xale por cima não é aceito. Faz calor, mas venha pelo menos de ombros cobertos.
Temperatura, chuva, e melhor época do ano para visitar. Aqui faz calor tropical o ano todo, mas nada do outro mundo. Seus 20-22ºC ao amanhecer ou anoitecer e 30-33ºC no miolo do dia. Fevereiro a julho é quando o calor aumenta, e a média aumenta para 26ºC à noite e 36ºC ao dia.
Isso é seguido pela época de chuva que vai de maio a outubro, sobrepondo-se um pouco com o calorão em junho-julho. Portanto, a alta estação de visitas aqui vai de novembro a janeiro.
Verifique com o seu guia ou motorista também a hora de visitar cada templo. O Bayon, por exemplo, fica muito mais bonito com a luz do sol em cima dele, antes das 16h. Há alguns outros que cerram visita às 15h. Qualquer motorista de tuk-tuk sabe isso de cor e salteado, então pergunte. E lembre que naquele horário inglório de maior calor das 12-14h você talvez esteja pouco disposto a subir escadas de pedra sob o sol.
Alimentação & água. Muita disponibilidade. Há barracas de toda sorte nos arredores dos templos e pequenos restaurantes pelo parque, concentrados em certos pontos. Você pode pedir ao motorista ou ir filar uma bóia num deles por conta própria quando bem entender e estiver perto.
Não chega a ser um absurdo de vendedores, mas haverá opções. Você pode trazer sua própria água se quiser economizar uns trocados, mas ficar sem água ou sem ter o que merendar você não vai. Não espere nada refinado — são frutas, doces de mercearia, picolé, refrigerante, água, e nos restaurantes pratos com arroz ou macarrão frito. Coisas populares.
Faço dois alertas aqui sobre isso:
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- Os motoristas daqui não têm uma noção muito respeitosa de “hora de almoço”. Eu sou um tanto tradicional nesse sentido. Não se surpreenda se der 14h e o motorista estiver sorridente a falar, “Vamos só ver mais um templo e depois paramos para almoçar“. Alguns dentre vocês aí talvez sejam flexíveis com isso; eu não sou; começo a ficar nervoso quando estou com fome. Portanto tome as rédeas da situação e determine com clareza quando irá almoçar.
- Como em qualquer lugar do Sudeste Asiático (e eu já passei por isso em diversos países daqui), há a expectativa implícita de que você pagará o almoço do motorista, ainda que a pessoa que lhe vender o passeio diga que não. Você não será obrigado, fica a seu critério, mas esteja preparado para o motorista gracejosamente se insinuando neste sentido.
Vamos agora à visita e aos detalhes de cada lugar.
Se você ficou com alguma dúvida ou tem alguma outra pergunta, é só pôr aí abaixo nos comentários e eu respondo.
Eu por aqui já gostei desse aperitivo e adorei aquele nascer do sol nas belas pedras e ruínas escuras. Sao impressionantes. E amei o ambiente. Gosto desse ambiente bucólico, cheio de natureza. Fiquei impressionada com a Arquitetura e as estruturas. Magnificas;
Habilidoso o senhor. Vê-se que esta habituado a lidar com diversas situações e figuras.
Com certeza vou gostar. Ansiosa pela próxima postagem. Eita Ásia bonita, sôr.
Obrigado pelo detalhamento, hoje estou indo para Siem Reap