Estamos chegando agora à “nata” do que há neste Parque Arqueológico de Angkor. Tudo é bonito, mas algumas coisas são mais, e eu sou do tipo que gosta de deixar o melhor para o final.
Aproximávamos-nos agora de Angkor Thom — literalmente a “Grande Cidade” — capital do rei Jayavarman VII (1122 – 1218 d.C.) no tempo dos Khmer.
Angkor Thom portanto não é um templo, mas todo um espaço dentro do parque arqueológico. É toda uma área que abriga muitos templos de uma mesma época.
Lembram-se de uma das fotos que compartilhei antes, com uma muralha e um portal de entrada? Vejam o lugar novamente abaixo. São as muralhas de Angkor Thom, de mais de 800 anos de história.

Eu comentei sobre as serpentes naga e sua simbologia guardiã na mitologia hindu-budista. Dizem que, quando demônios ameaçavam o Buda em meditação para perturbá-lo, uma dessas cobras de pescoço largo (é de onde vem o nosso nome “naja”) com múltiplas cabeças se interpôs por sobre o homem para protegê-lo.
Em quase todas as pontes aqui do parque, as laterais são longas fileiras de guardiães segurando essas imensas cobras. Angkor Thom era circundada por canais de água, como um fosso ao redor da muralha quadrada, para proteção.
Você percebeu um rosto esculpido na pedra por sobre a entrada? Se não viu ainda, o verá mais claramente nas fotos abaixo.
Trata-se de uma face bondosa, de olhos fechados e sorridente, do bodisatva Avalokitesvara. Como cheguei a explicar, o budismo cultua não somente Sidarta Gautama, o Buda histórico, mas também várias figuras mitológicas que são considerados “iluminados” (ou bodisatvas). Esses às vezes são vinculados a virtudes específicas, e Avalokitesvara é o associado à compaixão. Muito querido dos Khmer naquele tempo.
Todo esse estilo arquitetônico que você vê, datado dos idos de 1200, é o chamado estilo Bayon. Seu ápice é certamente o Templo Bayon, talvez o mais precioso dentro do perímetro de Angkor Thom — e a meu ver o mais belo de todo o parque.

Quando entramos nesta reta final de templos, estávamos por volta das 3 da tarde. O sol já se fazia presente como nas tardes brasileiras. Foi quando o motorista anunciou seu plano.
Notem que as culturas asiáticas não são exatamente notáveis pelo valor da transparência. As pessoas aqui podem ser muito amáveis, mas não há aquele costume de consultá-lo, participá-lo nas decisões. Foi neste momento que eu descobri que o motorista já tinha todo um plano na cabeça sobre onde veríamos o pôr-do-sol — só não tinha se dado ao trabalho de me dizer, muito menos perguntar o que eu achava.
Eu queria ver o pôr do sol do célebre Angkor Wat, o mais famoso dos templos deste parque, para fechar a visita com chave de ouro. O motorista pensava deixar isso pra lá e ir me levar para ver o pôr do sol do alto do Ta Keo, um dos outros templos daqui.
“Troca. Vamos primeiro no Ta Keo“, declarei solene. Eles tampouco lhe fazem oposição, mas se você não se manifestar, não terá voz nenhuma. De hábito, depois da coisa já feita é que eles então perguntam se você gostou.
Fomos então de imediato ao Ta Keo, que se mostrou um templo bonito (ainda que simples). Alto, certamente de bela vista, embora talvez seus degraus íngremes não sejam indicados para qualquer um à hora do apagar das luzes.


O Ta Keo data de antes do estilo Bayon. Estima-se que ele tenha sido completado nos idos do ano 1000 sob o reinado de Jayavarman V, em homenagem ao deus hindu Shiva.
O templo segue o estilo arquitetônico piramidal (destas pirâmides escalonadas como as do México), como um templo-montanha semelhante a alguns outros que vimos. O Pre Rup, que mostrei na parte 3, foi feito pelo pai deste rei algumas décadas antes.
Esse formato emula o mítico Monte Meru, centro do mundo e morada dos deuses na cosmologia hindu-budista. Um pouco como o Monte Olimpo dos gregos antigos.
Vamos agora subir esta “montanha”. Não é algo do outro mundo se você tiver pernas, mas o faça com cuidado. (Parte dos visitantes acaba subindo de quatro, com as mãos no chão para se apoiar.) Acho mais seguro de dia que de noite, mas fica a seu critério.

A vantagem deste parque ser tão grande é que os muitos turistas se dispersam. As multidões ficam concentradas nos templos principais, e quando você vem a estes outros menos conhecidos, às vezes vê mais cambojanos ali “de boa” ou vendendo algo que visitantes.
Desci do Ta Keo a tempo de ver duas cambojanas numa moto que trazia ao lado toda uma barraca equipada com uma roda. Vocês ficam aí achando que só brasileiro é criativo… Criativo é todo e qualquer um que na vida tem que se virar, e isso nos países em desenvolvimento é o que mais se vê.





Caminhar era preciso. Agora finalmente adentraríamos as muralhas de Angkor Thom, pelo chamado Portão da Vitória.

O rei Jayavarman VII ordenou a construção desta nova capital nos idos de 1200 como um registro da prosperidade que os khmer então experimentavam. Seu palácio real de pedra aproveitou o já existente templo Baphuon e o expandiu.
Como nos casos de algumas outras civilizações antigas (os mayas, os egípcios), você não vê ruínas das casas das pessoas, pois estas eram feitas de materiais perecíveis como madeira, palha e adobe. Rochas, sim, estas duram, mas eram usadas apenas nas obras de estado.




Essa edificação, contudo, não era o centro de Angkor Thom. O coração da cidade era o Templo Bayon, que comecei a mostrar no início do post, a obra-máxima do reinado de Jayavarman VII.
Seu nome original era Jayagiri, ou Montanha da Vitória. Esta vitória a que a obra e também o portão da cidade se referem é aquela contra os vizinhos Cham, na guerra em que Jayavarman VII consolidou sua liderança para se tornar o monarca mais poderoso da História Khmer.
O Bayon é uma edificação massiva e imponente que, no entanto, se destaca pela serenidade das 216 faces búdicas que a adornam. São rostos do bodisatva da compaixão, Avalokitesvara, que ficam especialmente notáveis sob o sol do entardecer.





O Bayon é um verdadeiro labirinto. Não achem que o verão em 20 minutos. Você ali por dentro tem meandros, câmaras e escadarias que o fazem se perder por entre as faces sorridentes.
Junto com você, muitos turistas e por vezes também macacos passeando lá e cá, como não é raro em templos hindus ou budistas aqui na Ásia.






É fascinante. Dos complexos mais impressionantes que já visitei na vida. Incrível como permanecem de pé por mais de 800 anos estas ruínas de templo tão majestosamente construído no tempo dos Khmer.

Era preciso seguir. Restava ainda um templo por ver neste dia, o mais famoso de todos: o Angkor Wat. Vem a seguir para concluirmos nossa visita.

Uaauu. Estou no ar!… sem palavras para descrever a sensação que causa a visão desse complexo arquitetônico. Fabuloso. Que portal!… que conjunto!… uaauuu. Parece que você entrou em uma selva de pedra harmonicamente construída que inspira serenidade e bondade emoldurada pelo verde das arvores. A natureza como que se harmoniza com a cultura, a religiosidade e o misticismo. As belíssimas esculturas talhadas na pedra ganham vida e expressão, a dar as boas vindas aos que ai chegam. São parte da natureza. Como se sempre estivessem ali. Impressionante.
Cada área visitada é mais bonita que a outra e não se sabe escolher. Cada postagem aparece um conjunto tão, ou mais, bonito. Mas o jovem viajante tem razão. Este conjunto com aquela entrada magnifica é dos mais belos e majestosos. De ”babar” haha. Maravilhoso e rico esse parque. Imperdível.
Imaginemos a vida correndo solta ha tempos atrás. Deveria ser um quadro soberbo.
Esta ultima foto com o monge de habito laranja, nos dá uma belíssima amostra do que seria nos tempos de outrora.
Belas e significativas manifestações culturais, Expressivos entalhes na rocha capazes de criar emoções e sentimentos. Incríveis.
O parque respira paz e reverencia. Os raios dourados do sol criam mais beleza ainda.
Parece que os atores de priscas eras se encontram presentes a acompanhar os visitantes.
Impressionantes cenários.
Excelentes postagens. Surpreendentes sítios. Valeu viajante.
A Ásia cada vez me encanta mais. É bela e misteriosa.