O Vulcão Masaya na Nicarágua é um dos raros lugares do mundo onde se pode ver lava incandescente, numa cratera vulcânica, sem se precisar caminhar horas a fio nem ter equipamento ou permissões especiais.
Pertinho da capital Manágua e a um pulo da cidade histórica de Granada, o vulcão ali está soberbamente ominoso, ameaçando irromper a qualquer instante. Erupção vulcânica não se prevê muito bem; no máximo se notam os primeiros sinais — gases, tremores, e aumentos de temperatura detectados por satélite — a tempo de evacuar às pressas a população.
A última vez que lava fluiu daqui vulcão abaixo foi em 1772, mas nunca se sabe a próxima. O vulcão segue ativo. Recentemente, em 2008, houve erupção de cinzas e fumaça tóxica repleta de dióxido de enxofre (SO2).
Vamos lá.

Caso você esteja a se perguntar, qualquer agência de turismo ou acomodação em Granada oferece o passeio até o Vulcão Masaya, que fica a meros 30 Km da cidade.
O passeio costuma sempre ser no fim do dia, pois durante o dia o sol não permite ver bem a lava incandescente lá na caldeira.
Não pense que é uma coisa exótica de gente doida: haverá vans e mais vans lotadas de turistas fazendo fila para entrar no Parque Nacional Volcán Masaya e ver o espetáculo à noitinha. (A interpretação alternativa, é claro, é a de que há bastante gente doida no mundo. Hoje em dia, soa até razoável.)


Normalmente, se sai de Granada às 16:30 – 17:00, e o parque só abre às 18h. Como há várias dezenas de pessoas e, na prática, uma fila para ir de grupo em grupo até a beira da caldeira, é melhor estar entre os primeiros. Nós fomos a segunda van a aceder.
Depois que se passa da bilheteria, ainda é preciso dirigir mais um tanto (uns 45 min) até o alto do vulcão propriamente dito. O cair do sol e entrar da noite se dá relativamente rápido aqui.



Você desce da van lá já perto da boca da cratera, uma área rochosa, com uma lanterna para não tropeçar no chão. Só são permitidos 15 minutos a cada grupo. Não é somente para “a fila andar”, mas também para não expor ninguém demais à fumaça tóxica.
Sim, a fumaça tóxica rica em dióxido de enxofre (SO2). Tem um cheiro ligeiramente acre de queimado.
Se você for do tipo intrépido como eu, de começo nem dará muita bola — sente aquela fumaça de fogueira no rosto e ignora, como quem diz “não é essa coisa assim também não“. Ah, a auto-confiança do macho latino-americano…
Dali a 10 minutos você já está com a garganta “puxando”, uma tosse em meio ao aroma esquisito, e os olhos a arder.

Se você for alto o bastante, pode encurvar-se e enxergar até a lava a olho nu lá embaixo. É primevamente fascinante ver aquele líquido grosso mover-se como um rio incandescente com temperatura que alcança os 1250°C. Só sobra a alma, e olhe lá.

Quando você expõe o rosto, sente também o calor emanando lá debaixo. Para descer mais perto, só com roupa especial de proteção térmica.
No século XVI, os primeiros conquistadores espanhóis julgaram que este vulcão se tratava de uma boca do inferno, e puseram aqui uma cruz. De acordo com o cronista Gonzalo Fernández de Oviedo (1478-1557), os índios consultavam a uma bruxa que vivia no vulcão, o que Oviedo supôs que era o próprio diabo. (Suponho que provavelmente fosse mais um “escutar o espírito do vulcão” do que alguma velha que morasse aqui.)
O frei Francisco de Bobadilla fincou então aqui uma cruz “para exorcizar o demônio” — embora isso não tenha prevenido erupções que viriam em 1670 e 1772, esta última uma que quase destruiu tudo em volta.
Como os espanhóis da época eram movidos tanto por missionarismo religioso, herdado do tempo das Cruzadas, quanto por ouro e interesses materiais, houve um outro frei, Blas de Castillo, que em 1538 desceu na caldeira certo de que a lava na verdade era ouro derretido. Não sei que fim ele teve.
Caso passe pela sua cabeça aproximar-se um pouco mais e imaginar o que aconteceria, hoje só é permitido com uma vestimenta térmica e máscara de gás — além de autorização.
Precisa ser daquelas máscaras de filme e uma roupa que faz você parecer um astronauta. Essas que andam vendendo para se proteger do coronavírus não resolvem aqui.
A National Geographic chegou a fazer um documentário com alguém descendo lá, e que você pode assistir aqui em inglês. (Você pode adiantar para o minuto 8:00 se quiser pular a conversa do apresentador e somente ver o lugar.)

Tempo acabado. Acaba assim mesmo, meio sem avisar.
Você vê as pessoas tirando selfie com medo de tremer a mão e derrubar o celular na caldeira. Muitos se movimentando entre a fumaça e o vento, que decidia para onde soprá-la. A coisa toda é uma experiência.
Os 15 minutos acabam sendo o suficiente. É mais um momento de espanto, um “Uau” e uma contemplação do que um lugar onde permanecer muito tempo.
Se você acha esta vinda extrema, extremos são esses da família Wallenda nos vídeos abaixo: a mulher a fazer acrobacias sobre a caldeira e o homem a atravessar andando na corda-bamba. Assistam se tiverem fígado — dá uma apreensão imensa vê-los ali.
Eles são de uma família que há gerações fazem isso, com muito know-how. Em geral, o fazem em lugares arriscados (como o alto de prédios) mesmo sem a corda de segurança. Entretanto, aqui nesta potente manifestação da natureza, nem eles se atreveram a deixar o cabo de emergência de lado. Assistam; há imagens aéreas sensacionais mostrando o tamanho da cratera e a lava lá embaixo.
Quanto a mim, era hora de eu voltar, e também hora de encerrar a curta estadia aqui na Nicarágua. Começava minha odisseia de volta a El Salvador, de onde sairia o meu voo de retorno, mas eu ainda veria algo no caminho.Volto com vocês na jornada para El Salvador.
Uuuuuuu, Nossa… Que perigo.. Eletrizante mas deveras perigoso. Muito bonito. Muito corajosos; o senhor por ir e os artistas por se exporem nos videos.
Assisti mas fiquei tensa. Que loucura.
Impressionante!…