Bergen é uma cidade pitoresca como poucas nas Escandinávia e talvez nenhuma outra na Noruega. Ela é séria candidata a ser a cidadezinha mais singela de todos os países nórdicos.
Na costa, ela é a segunda maior cidade da Noruega (após a capital Oslo), mas não parece. São 200 mil habitantes, mas em certas partes parece que são apenas 20 mil.
Eu já a havia mostrado aqui quando visitei a Noruega no inverno. Agora, após fazer o Norway in a Nutshell durante o verão, era hora de também revê-la.
Chegamos às 21h de trem no percurso desde Oslo para encontrar uma noitinha ainda iluminada pelo sol. Coisas do verão nórdico, em que os dias duram até as 22 ou 23 horas. Se as noites no outono-inverno são longas, a primavera e o verão são o reverso.
Instalamos-nos bem no centro, onde é bom ficar se você puder. Em Bergen tudo se faz a pé, mas é gostoso estar perto do bafafá. Do seu Mercado de Peixe (Fish Market), o mais asseado que já vi na vida; das casinhas avermelhadas ao porto, com arquitetura do fim da Idade Média em madeira; do porto propriamente dito; e das ruas mais bonitinhas do centro da cidade.
No verão, Bergen fica parecendo um presépio ou cenário de faz-de-conta, toda movimentada.



Como eu cheguei a detalhar no meu post anterior na cidade, Bergen foi parte da famosa Liga Hanseática. Tratou-se de uma liga de cidades portuárias do norte da Europa que viviam do comércio nos fins da Idade Média.
A cidade fundada pelos Vikings noruegueses como Bjørgvin em 1070 passava então a ser não mais tanto um abrigo de guerreiros que pilhavam outras terras, mas de comerciantes.
A liga foi formalmente fundada em 1358 na cidade de Lübeck, hoje norte da Alemanha. Porém, vale lembrar que não havia estados-nação naquele tempo, mas sim reinos e cidades independentes. Isso significa que um mercador de Lübeck provavelmente se sentia mais próximo de um mercador coligado aqui de Bergen que de alguém do atual sul da Alemanha, e por aí vai.
Esse casario vermelho da foto de abertura da postagem é aqui chamada de Bryggen (“docas” em norueguês) ou ainda Tyskebryggen (as “docas alemãs”), em referência à origem de muitos dos mercadores que levantaram e operaram esses prédios comerciais a partir do século XIII.
A cidade fundada pelos Vikings noruegueses como Bjørgvin em 1070 passava então a ser não mais tanto um abrigo de guerreiros que pilhavam outras terras, mas de comerciantes.
Embora as construções originais tenham pegado fogo e tido que ser reconstruídas diversas vezes, ainda há partes antigas nesse porto de Bergen. Ele é a parte mais tradicional da cidade.


Da vez passada, eu havia apenas admirado esse casario de longe. Mas desta vez descobri que, se você se aproximar, pode adentrar uns becos por entre as casas e ver pedaços mais antigos destas docas.



O cheiro de mar é onipresente, com essa madeira de aspecto de que está frequentemente molhada. É um ambiente de marujo; não é necessariamente aquele com que eu mais me identifico, mas tem seu aroma e charme.
Seja qual for o seu nível de achego para com o mar, circule pelo Mercado de Peixe ao porto e detenha-se ali para comer — são alimentos mais frescos, e sai mais em conta que noutras partes.
É certamente o mercado de peixe mais limpo e asseado que já vi. Parece menos com um feirão e mais com uma praça de alimentação. É um bom lugar onde almoçar; um prato básico de peixe do dia com acompanhamentos sai por uns 20 euros, o que é barato para Bergen e a Noruega em geral.
A sopa de peixe de Bergen (Bergensk fiskesuppe) é praticamente um emblema da cidade e merece ser experimentada. Aparência simples, porém deliciosa. Eu nunca tentei fazê-la, mas sei que ela leva creme de leite, cebolinha, aipo, salsa, maizena, e algum peixe de água fria, aos cozinheiros de plantão. Fica uma delícia!




Do lado de fora também há um mercado, embora mais muvucado (para os padrões noruegueses, isto é). São basicamente barracas cobertas de lona e vendendo frutos, frutas, peixe fresco, etc.


Como você pode ver pela foto, choveu. Esse é o proverbial “tempo de Bergen” (Bergen weather) no verão, no sentido climático da coisa. Chove e para, chove e para, chove e para. Com exagero e tudo, dava quase para acertar o relógio pelo ciclo de chuvas que vinham a cada 40 minutos. (Se no inverno a Escandinávia é fria e escura, no verão vêm as chuvas frequentes a partir de julho. Eita climão.)
Essa inconstância criou um desafio para eu saber qual a melhor hora de subir no Monte Floyen com o funicular, para ter uma vista do porto e da cidade. Vale a pena. É, em verdade, a segunda atração mais popular de Bergen (após sua área portuária).
Se você quiser, pode adquirir ingressos para o funicular antecipadamente pela internet (no site oficial onde você pode também consultar os preços atuais), mas também pode comprar na hora sem problemas.
Normalmente, o ideal é ir antes das 10h da manhã ou após as 17h, pois no miolo do dia há grupos de turistas que chegam em cruzeiro e às vezes produzem longas filas e tempo de espera. O funicular funciona até as 23h durante os meses de verão.




Voltou a chuva, é claro, e antes que eu pudesse retornar ao hotel. Tomei uns salpicos, faz parte da dinâmica de visitar Bergen nesta época do meio do ano.

A cidade não é extensa. Ela é muito esse miolo singelo, com algumas ruas coloridamente belas e quietas para lá ou para cá. Com duas noites aqui você vê tudo a contento.
Há, além do casario, belas igrejas de época como a de Santa Maria e a de São João Batista. A primeira delas é notável sobretudo pela longevidade. De 1183, ela pré-data a arquitetura gótica. Em estilo dito romanesco, é a edificação mais antiga que permanece de pé em toda a cidade.
Já a Igreja de São João, em estilo neogótico, data dos fins do século XIX. Ela fica num promontório da cidade e é uma boa caminhada ao alto.





E assim eu havia dado minhas voltas e entrevoltas, entre sol e chuva, pelas pitorescas ruelas e ruas de Bergen. Revê-la foi um prazer, agora nesta outra estação.





Não sei qual estação eu prefiro; estou tentado a revê-la no outono ou na primavera da próxima vez para experimentar.
Quando eu vim da vez passada no inverno, Bergen foi o mais longe aonde fui aqui na Noruega, mas não desta vez. Era hora de retornar a Oslo e, de lá, rumar ao norte, em direção à lendária Trondheim. Muitas paisagens aguardavam-nos pelo caminho.

Adorei a reportagem e as fotos!!! ADOREII
Muito obrigado, Maria Carmen!
Muito interessante, parabéns !!!