Esta foto aí acima fica para além do Círculo Polar Ártico, senhoras e senhores. Estamos no extremo norte da Noruega. Não é ainda o fim do país, pois de avião se chega mais longe (à cidade de Tromsø ou às ilhas Svalbard, por exemplo), mas aqui é o fim de linha ferroviário. O trem só vem até aqui, aos 67ºN. Para se ter uma ideia, isso no hemisfério sul da Terra já corresponde à Antártida.
Eu deixava para trás a histórica cidade medieval de Trondheim para encarar mais de 10h de trem até Bodø — que eu vou aqui escrever simplesmente Bodo para não ter que ficar procurando o O cortado norueguês no teclado. O som é ligeiramente diferente, mas norueguês já soa diferente mesmo…
Essa ferrovia, chamada Nordlandsbanen, é a mais setentrional da Noruega e uma das mais impressionantes do país. Eu pessoalmente a achei mais bela que a (mais famosa) Ferrovia Rauma, que vos mostrei anteriormente.
Bodo, como você pode imaginar de uma cidade acima do Círculo Polar Ártico, é um lugar pequeno e sem muita coisa. O mais impressionante é chegar até aqui.

As pessoas tendem a achar que certas partes do globo são sempre frias. A Antártida e os pólos propriamente ditos, sim, mas não tudo na altura dos círculos polares. Quem já foi à Patagônia durante o verão sabe que, nessa época do ano, o ambiente fica verdejante, com dias longos, sob um tempo fresquinho.
Aqui na Noruega, também no verão, após deixar Trondheim umas 7h da manhã o que vi pelas primeiras horas foram paisagens ainda eminentemente rurais. Seria o dia todo no trem, e só dali a algumas horas cruzaríamos o círculo polar. Há uma cafeteria a bordo, mas a variedade é pequena, então é bom trazer o que comer e beber.





Se você estiver a se perguntar “quem é que mora nestas zonas remotas”, saiba que é habitual entre os nórdicos ter “casas de verão”, aonde vão uma(s) vez(es) ao ano passar uns dias retirados em contato mais próximo com a natureza. São como as casas de praia de muitos brasileiros. Mas há também quem resida aqui o ano inteiro.

Só aos poucos, conforme nos distanciamos mais ao norte, é que a presença humana vai se tornando mais rarefeita, embora não desapareça por completo.
As vistas começam a ficar mais de natureza que de transformação humana.
Se você imagina que, por estar na altura do círculo polar ártico, sua paisagem será ártica (o que seria compreensível), está enganadérrimo. Você verá vegetação exuberante, fiordes azuis, rios de águas verdes, e paisagens com o melhor da natureza.




Dá vontade às vezes de pedir para parar o trem e ir ali se banhar, espraiar-se naquela correnteza gentil, naquele ambiente idílico sem ninguém.
Agora você entende melhor por que tantos noruegueses têm casas aqui e vêm para cá no verão.
No trem, sente-se do lado esquerdo de quem vai pro norte e por vezes terá vistas que incluem o mar.


Gradualmente, a coisa vai ficando mais selvagem, com menos campos certinhos, mais bosques irregulares, algumas árvores diferentes, e cascatas ali por entre as rochas.



Esse ambiente é chamado de taiga (uma palavra de origem russa), com florestas de coníferas e um clima ainda sub-ártico.
Num dado momento, o mostrador de data e hora — e das próximas paradas — no interior do trem avisa que estamos prestes a cruzar o Círculo Polar Ártico.


Essa paisagem de tundra, com vegetação rasteira e sem árvores, já condiz mais com o que comumente imaginamos das zonas polares.
Porém, como o mar está aqui perto, eu seria logo surpreendido pelo retorno das árvores à minha vista, agora num contexto gradualmente mais montanhoso.




Até que, após o dia quase inteiro viajando, com refeições de sanduíches da loja de conveniências da estação de Trondheim e café com quitutes da cafeteria do trem, num dia de rei sendo confortável e aprazivelmente trasladado cá ao norte, nós chegamos.
Ecce, Bodo.


Já passava das 17:30, como o relógio da estação vos mostra, mas o sol seguia no céu — como seguiria até depois da meia-noite. Nesta época do ano, praticamente não anoitece aqui.
Era julho, o sol se escondia um pouco lá para a meia-noite e meia — deixando aquele céu meio azul-escuro, mas não preto — e reaparecia a todo fulgor antes das duas da manhã. (Quem sofrer de insônia, aqui provavelmente não vai dormir.)
Bodo se mostraria uma cidade pequena, porém moderna, com suas galerias comerciais com teto de vidro para garantir ambientação mesmo durante o pleno inverno.




Não há muito o que fazer em Bodo além de curtir seu ambiente. Há um portinho, com vistas para as montanhas além-mar. A água marinha aqui vem por fiordes sinuosos, então a geografia é mesmo a principal atração deste lugar.
No único dia que passei aqui (2 noites), satisfiz-me em circular para sentir este ambiente do extremo norte do mundo, sentir o forte vento que bate, e apreciar as lindas vistas. Se puder, dirija-se a algum terraço de último andar de hotel para ver melhor.





Como estamos num mundo globalizado, achei um belo restaurante indiano onde me saciei à là volonté, embora fosse deveras caro. Tudo na Noruega é caro, mas aqui no extremo norte parece ficar mais caro ainda.
A exceção à regra são os hoteis, que aqui são mais baratos. Você acha quarto em hotel cinco estrelas, como o Radisson Blu, por menos de 90 euros a noite.
Você pode também dar uma esticada se quiser às pitorescas Ilhas Lofoten, mas aí já são necessários mais alguns dias. É possível voar ou ir de ferry, mas este não vai e volta no mesmo dia. Deixei-as para uma outra oportunidade.

Depois de percorrer centenas de Km em trem por diversas partes deste país, era hora de eu encerrar a estadia na Noruega. Para ir embora, optei pelo avião, e Bodo foi a primeira vez na minha vida em que fui ao aeroporto caminhando. Ele fica no meio da cidade como uma rodoviária — é curioso.
Eu em seguida darei mais dicas a quem planeja vir pessoalmente à Noruega. Da minha parte, eu seguia a outras bandas.
Como assim da Colômbia para a Noruega!!??? Explique o que aconteceu!!!
Haha, desculpe a desorientação provocada, Jetro. Foram viagens distintas.
Eu atualmente moro e trabalho na Suécia. Entre uma viagem e outra, retorno ao lar — até para guardar dinheiro e poder viajar novamente. Esta viagem pela Noruega começou neste post em Oslo.