Copenhague é aquela pessoa bonita porém reservada. Não fala muito de si; você tem que ir ali descobri-la. E quando descobre, fala à pessoa até meio indignado: “E você não diz nada? Fica aí assim?“
Levando em conta que a marca de chocolates Kopenhagen nada tem a ver com a cidade — deriva de uma família de origem alemã que fundou a rede de lojas no Brasil —, a grande maioria dos brasileiros nada sabe sobre Copenhague, a capital da Dinamarca.
Eu já a apresentei a vocês em duas ocasiões anteriores: no outono e no inverno. Agora o faço no verão, a estação da luz solar, das ruas movimentadas na capital e, em se tratando de agosto na Europa, é também é em geral o mês do orgulho LGBT, então não se surpreenda se vir as bandeirinhas arco-íris em ônibus e noutras partes.

A região metropolitana de Copenhague abarca 2.4 milhões de pessoas, quase metade da população da Dinamarca. É uma cidade com certo porte, ainda que quase tudo no centro se faça a pé. Não é miúda, mas se você for dos que se dispõem a passar o dia caminhando para lá e para cá, pode ver tudo com a força das pernas.
Eu tive a fortuna de encontrá-la num dia de sol, vendo este reluzir nos diversos tons de louro, assim como nos muitos imigrantes que aqui habitam.

Logo defronte à estação estão os Jardins de Tivoli (Tivoli Gardens), um parque fechado — e pago — pelo qual eu desta vez apenas passaria. (Aguardem-no na primavera.) O nosso rumo por hoje era o miolo do centro, passando inicialmente pela portentosa prefeitura da cidade.



Após Amsterdã na Holanda, Copenhague é provavelmente a capital do ciclismo. Você vê bicicletas por toda parte. Como tem seus canais, esta capital dinamarquesa até parece a holandesa em certos aspectos.







Caso você tenha curiosidade, a Igreja da Dinamarca segue o rito luterano. Quando Henrique VIII famosamente separou a Inglaterra da Igreja Católica porque o papa não quis permitir que ele se casasse novamente, fundou-se a Igreja Anglicana na Inglaterra, independente ainda que com estética muito parecida à católica. Menos se sabe sobre isso, mas os países escandinavos pouco depois fizeram o mesmo.
Assim há a Igreja da Dinamarca, a Igreja da Suécia, e a Igreja da Noruega, todas hoje luteranas e cada uma independente. As pessoas nesses países, porém, hoje em sua maioria não são muito religiosas.



Você de qualquer maneira nota essa característica arquitetura de tijolinhos, típica desta região do Mar do Norte, onde nunca houve muitas pedreiras. Ou seja, não havia rochas para usar em construções como no centro-sul da Europa. As edificações se fizeram com tijolos cozidos nessa cor de telha, aqui como na Holanda e no norte da Alemanha ou da Polônia.




Eu segui caminhando, por entre essas praças e prédios de época, até o pitoresco porto Nyhavn, talvez o ponto mais emblemático de toda Copenhague. Ele fica bem no centro, dos tempos do século XVII, quando mercadores faziam fortuna na cidade.
Eu cheguei a mostrá-lo quando vim a Copenhague no inverno, e agora o mostro no verão.


Aí viveu o escritor Hans Christian Andersen (1805-1875), autor de muitas históricas infantis mundialmente conhecidas, como O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, ou A Pequena Sereia (esta depois convertida em filme da Disney em 1989).
É curioso porque, nessa época, já no século XIX, a proeminência de Nyhavn como lugar próspero havia caído. Os mercadores foram embora daqui após as Guerras Napoleônicas do início daquele século, e o porto se converteu em antro de marujos, prostitutas… e artistas. Um pouco talvez como uma versão marinhesca de Monmartre em Paris.
Depois, se converteria ao turismo, como ocorreu a tantas outras partes — inclusive o Pelourinho, em Salvador, que já foi famoso por outras coisas entre o fim da escravatura e sua redescoberta turística.

Escondi-me numa loja de souvenirs quando a chuva chegou. Chegou e passou com certa celeridade, embora o restante do dia fosse ficar nublado. O verão mesmo assim garantia temperaturas amenas de seus vinte e poucos graus.
O tempo assim a pedir um abrigo, fomos conhecer a impressionate Coleção de David (David’s Collection, ou Davids Samling em dinamarquês), um museu gratuito com a coleção de peças e tesouros artísticos do finado empresário dinamarquês Christian Ludvig David (1878-1960), que morreu legando tudo à exibição pública, sem deixar herdeiros.


O Sr. David, apesar do nome “Christian”, era ligado mesmo em arte islâmica, cujas obras são o que mais faz famosa esta coleção. Exceto pelo Museu do Louvre em Paris ou pelo Museu Britânico em Londres, não sei se já vi tão impressionante coleção deste tema na Europa.




Bem pertinho daqui está o Castelo Rosenborg, um dos muitos da família real dinamarquesa. A Dinamarca é uma monarquia parlamentarista, como o Reino Unido, a Espanha, a Holanda, a Suécia, dentre outros. Como nesses demais países, os monarcas aqui têm um papel mais figurativo que executivo.
Rosenborg data de 1606 e fica envolto pelos Jardins Reais, hoje livres ao público e floridos durante o verão. Ele faz o estilo maneirista de renascimento holandês do século XVII como tantas outras peças na cidade.



Eis um pouco de Copenhague no verão, cidade que eu ia descobrindo a cada estação.