Eu adoro quando descubro novas cidades que ainda não conhecia na Itália. Melhor ainda quando são daqueles de que nunca havia ouvido falar. A Itália é cheia dessas; parece um acervo interminável de lugares e lugarejos interessantes.
Lucca é uma cidade antiquíssima, fundada pelos etruscos antes mesmo da ascensão de Roma. Foi aqui, por exemplo, na Conferência de Lucca em 56 a.C. que Júlio César, Pompeu e Crasso concordaram formar o primeiro triumvirato para juntos governarem a república.
Para os que gostam de saber mais sobre geografia italiana, aqui estamos na Toscana, a mesma região também de Florença e Siena — dos Médici, dos bancos e do Renascimento.
Suas muralhas medievais seguem no lugar, hoje recobertas de verde e árvores. Altas torres de mais de meio milênio seguem se destacando na paisagem urbana, aquele mar de casario de tijolinhos, com ruas antigas e incríveis igrejas de pedra.
A meros 30 minutos de trem desde Pisa, eu por sinal a achei melhor para se hospedar que a cidade da torre. Haveria também outras surpresas aqui em Lucca.




Eu cheguei a Lucca vindo desde Livorno, ainda no mesmo dia em que vim de ferry da Córsega até aqui a Itália. Uma breve troca de trens em Pisa, aonde faria um bate-e-volta desde aqui no dia seguinte — o que mostrei no post anterior. Para quem está habituado às distâncias brasileiras, tudo na Itália é pertinho.
A estação de trens, como de hábito aqui na Itália, fica ligeiramente fora do centro histórico. Numa ampla praça diante dela, sentavam-se alguns idosos quando eu cheguei. Alguns senhores italianos mascarados em alguns bancos e, noutros, jovens homens africanos certamente oriundos dos barcos de refugiados que atravessam o Mediterrâneo.
Num canto aqui e outro ali, grupelhos de sul-asiáticos — esses com cara de indiano, mas que frequentemente são de Bangladesh ou do Paquistão. As diásporas que hoje se reúnem aqui na sempre cosmopolita Itália ainda não parecem se misturar muito.





As ruelas no centro de Lucca seguem típicas como noutros tempos, com seu casario alto, em cores que vão do amarelo ao pêssego. É claro que hoje não faltam lojas de marca nem sorveterias e outras amenidades modernas pelas ruas antigas. E, apesar da Covid, mascarados ou não as pessoas estavam novamente a circular.
Lucca foi quem primeiro me mostrou, nesta viagem à Itália pós-pandemia, que o país não estava tão vazio de turistas quanto fora a minha primeira impressão em Livorno. Talvez por aqui ser mais turístico que lá, não faltavam italianos vindos de outras partes do país, assim como muitos franceses, holandeses e belgas com que me deparei nas ruas e nas acomodações.

Meu cama & café (B&B) estava só cama. A simpática funcionária disse-me que, ainda pelas regras de distanciamento social, não se permitia servir o café da manhã na sala com todos juntos. Era um espaçoso apartamento, daqueles de época, que hoje em dia ninguém da minha idade tem mais condição de comprar.
Com franqueza, e o perdão adiantado dos ofendidos, a falta do café não me fez grande falta. Os cafés da manhã italianos, dotados de uma mera xicreta de café e um pedaço de bolo duro (crostata) ou biscoitos, me são quase insultuosos. A moça me devolveu um trocado da diária sugerindo que eu fosse adquirir exatamente isso numa padaria próxima, ao que agreguei mais uns euros e obtive coisa melhor.
Nada contra o café italiano, mas eu gosto na minha quantidade, e acompanhado de uma mesa mais substanciosa.

As refeições seguintes costumam compensar meu desprazer com o café da manhã. No mínimo, eu compenso me regozijando com sorvete depois.
Vamos conhecer melhor Lucca.
Ali mesmo, pertinho da pasticceria Mommus Cafe (que por sinal recomendo, pelas diversas opções de guloseimas) ficava um dos portões antigos remanescentes da cidade, que leva à Via Fillungo, a principal rua de Lucca. Ela corta uma ampla extensão do centro histórico, e margeia a medieval Piazza dell’Anfiteatro, feita onde ficava um anfiteatro romano do século II d.C.




Como você talvez saiba, muitas edificações da Antiguidade foram soterradas ao longo dos séculos. Neste caso, as ruínas do anfiteatro romano estão a 3m abaixo da calçada do que é hoje essa ampla praça.
Você não demora muito a avistar ou se deparar com as torres de Lucca. Datam da Idade Média, dos idos de 1300, quando famílias poderosas as construíam como sinal de status social. Não eram torres de guarda; eram símbolos de riqueza e poder.
Passados os primeiros séculos após a queda de Roma em 476 d.C., Lucca continuou a sofrer com as muitas invasões bárbaras e passar de mão em mão, entre marqueses, duques e famílias. A partir de 1160, no entanto, estabeleceu-se como uma república independente nas mesmas linhas de Veneza, Gênova e outras, condição que manteria por mais de meio milênio até as guerras napoleônicas em 1805.
A Torre Guinigi (pronuncia-se com a tônica no primeiro i, e como se o u tivesse trema, Güí-ni-dji), originalmente da família com esse nome, é lugar imperdível para quem tiver pernas para subir. São 232 degraus para subir os 45m da torre, até o jardim no topo. Ver a cidade lá do alto sob a sombra das azinheiras lá plantadas é mágico.






Acho que já não preciso dizer que os sobrenomes Lucchesi e Di Lucca se referem a famílias originárias daqui.
Foram muitas as famílias mercantes que formaram a primeira burguesia ainda medieval de Lucca, que na mesma esteira das demais cidades italianas patrocinariam as artes do Renascimento. Como comentei anteriormente, esta era uma Idade Média muito mais urbana e letrada que a do norte da Europa — ainda que camponeses italianos não faltassem.
É nessa época, idos de 1300-1400, que também surgem muitas das impressionantes igrejas daqui. Ou talvez eu deva dizer que elas são refeitas por sobre modestas igrejas mais antigas, que já existiam desde antes de a prosperidade comercial chegar a estas terras.
Quando eu esbarrei na São Miguel no Fórum — que recebe este nome por ter sido edificada sobre o que era um antigo fórum romano — tomei um susto. Com aquela ponta de indignação: “Como é que eu nunca soube dessas belezas aqui?“




Essa, porém, não é a catedral. Esta seria a Catedral de São Martinho (Cattedrale di San Martino). Se você pretender visitar várias dessas igrejas de Lucca, vale a pena adquirir em qualquer uma delas uma entrada conjunta, que inclui também a Igreja de São João e Santa Reparata (Chiesa di San Giovanni e Santa Reparata), pois sai mais barato.
A Catedral de São Martinho começou a ser construída em 1063, por ordem do mesmo Papa Alexandre II que ordenou a renovação de San Michelle in Foro. Ele havia sido bispo de Lucca antes de chegar ao papado, e — como fazem os políticos hoje de forma às vezes menos escancarada — puxou a brasa para a sua sardinha.
Você percebe as semelhanças na arquitetura da época.






O movimento de gente não estava pequeno. Embora poucos parecessem se interessar pela quinquilharia de segunda-mão (pratos, talheres, mobília…) oferecida nessas barracas, não faltavam outros transeuntes com seus cachorros, bebês, ou sorvetes a passear.




Eu falei em gente com sorvete, não foi? Claro que me juntei à onda.



Antes que eu vos perca para o estômago, queria informar que Lucca também acontece de ser a cidade natal do compositor Giacomo Puccini (1858-1924), um dos maiores autores de óperas italianas.
Seus clássicos incluem Tosca (favor ler Tósca, referente a alguém da Toscana, e não Tôsca) e Madame Butterfly, esta ilustrativa da curiosidade pelo Japão na Europa da virada do século. Há hoje um museu no que era a casa de Puccini, com muito figurino usado em encenações das sua obras.


Você aprende bastante coisa de suas óperas, mas advirto que os menos fissurados pelo tema (eu incluso) podem achar a visita um pouco monótona para os € 9 de entrada. O mais curioso, na verdade, é que a casa — em realidade um apartamento — continua num prédio residencial, e você precisa chamar pela campainha para entrar.
Há uma quantidade grande de outras pequeninas atrações assim em Lucca, como muitos interiores de casas de época.
Retornei disso tudo por ruas mais quietas, parando apenas numa patisseria cujas vitrines me detiveram. Avistei um doce de nome curioso, babà, e não resisti a entrar e provar. Trata-se de uma espécie de bolo afogado num licor, que aí pode ser um dentre vários (limoncello, rum, etc.). Vendem também nuns frascos de vidro como compota; cogitei levar um para casa, mas iria pesar na bagagem.
Segui meu caminho, por ruas de canais tranquilos e torneiras d’água potável onde pessoas — sobretudo indianos, embora também a gente local — formavam fila para encher garrafas plásticas.
Aquele portal de entrada que pela manhã estava vazio eu à noite reencontraria bem mais repleto.



Eu teria outro destino na manhã seguinte. Era hora de rumar a alguns outros recantos famosos da Itália que eu, todavia, ainda não conhecia.
Retornei ao meu quarto com o nostálgico nome de Zelda na pousada, reminiscente das tantas horas, dias e anos que passei com os jogos dessa série. Retornaria às muralhas verdes de Lucca na manhã seguinte, rumo à estação.


Nossa que fofa essa cidadezinha italiana. Não foge à regra de ser a Itália um museu a Céu aberto. Uma belezinha. Adoro cidade medieval e com muralha. Acho charmosíssimas.
Muito gostoso apreciar essas construções medievais, suas formações de praças e ruelas,suas vetustas muralhas, seus templos tao belos e monumentais, com estilos soberbos, seus tons característicos, seu toque de museu que encanta os olhos de quem as visita. É uma festa para os olhos e o coração visitar a Itália e suas cidades-museus. Belíssimas.
Lucca, pelo visto está à altura de toda essa graça italiana. E a região da Toscana tem encantos ímpares.
Amei as igrejas com seu lindo estilo, seus interiores bem decorados, suas cores e luzes. Muito bonitas. Belíssimos frontispícios, requintados e recortados. Destaque para a riqueza e a habilidade artística no uso do mármore. Um primor de detalhes, de tons e cores. Um banho de arte e cultura medievais.
Amei as árvores em cima da torre. Linda visão da cidade. Parece que você entra na maquina do tempo e sai no Medievo. Gostei também da área da muralha ”revitalizada” , cheia de verde e usada pelos pedestres. Muito interessante.Bela arborização.
Essas praças antigas são muito bonitinhas. Ótima transformação do antigo Anfiteatro. O casario de época também se destaca e embeleza o cenário. Linda cidadezinha.
Belíssimo o casario ao lado dos canais. É a Itália com seus históricos antigos e misteriosos espaços onde tanta vida e tantos fatos já rolaram. Dá para imaginar o que era essa cidade na época do seu apogeu.
Maravilhoso, Puccini. Não sabia que era de Lucca. Aprecio sua criatividade e habilidade musical. Conheço e gosto muito da Tosca e de La Bohème. Adoro ópera.
Estou de pleno acordo com que escreveu que não se pode fazer quase nada com fome.
Quanto ao desprezo pela máscara e o distanciamento social nessa pandemia, o Brasil aqui não ficam atrás. A imprudência campeia aqui também.
Linda a pracinha com os cantores/tocadores de rua. Gosto muito desse hábito.
Ora ora, adorei o nome do quarto haha. Grandes emoções nos jogos da série.
Lindo esse centro histórico. Belos arcos e portais. lindas ruelas e pracinhas.
A visão das colinas verdejantes, diante do belíssimo céu azul é uma pintura encantadora.
Belíssimos os portões da cidade. Um charme. Amei esse “clima” medieval.
Essa estação ferroviária tem um estilo belíssimo, é um monumento. Maravilhosa, com seu belo triângulo grego, suas elegantes colunas e arcos redondos. Uma graça.
Amei a cidade. Obrigada, jovem viajante. Que riqueza é a Itália para quem ama a Arte e a História. Valeu.
O vinho e o macarroni me fizeram ficar de água na boca. Saudades da Itália!…
Outra coisa: irrita-me sobremaneira esse café microscópico que, como dizem as pessoas aqui, ”nao dá para colocar no buraco do dente”. Gosto de café gostoso e muito. hahaha Essa titica é uma enganação. Deus me livre. Aqui no Brasil se toma café em caneca hahaha;