Se no post anterior visitamos o barroco Palácio Drottningholm, dos mesmos tempos de Luís XIV e morada atual do rei da Suécia, agora é hora de voltar no tempo. Voltaremos a 1537, quando o rei Gustavo I decidiu erigir o Castelo Gripsholm por sobre uma fortaleza medieval ainda mais antiga.
À época, a Suécia acabava de sair do movimento da Reforma Protestante, e dela saiu reformada, abraçando o luteranismo como religião oficial de estado. Isso significava que nenhuma outra religião era aceita no país. Todos os mosteiros católicos foram desmontados — figurativa e às vezes também fisicamente.
Numa pequena península à margem do Lago Mälaren, 50 Km a oeste da capital Estocolmo, já havia desde o século XV uma abadia da católica Ordem dos Cartuxos (assim com x mesmo), uma ordem monástica semi-eremítica fundada no século XI e voltada à contemplação.
O Rei Gustavo I tomou as terras da Igreja e dispersou o mosteiro. Construiu ali então, entre 1537-1545, o Castelo Gripsholm, a se tornar uma das principais moradas reais da Suécia.
Se vocês já viram o post anterior com Drottningholm, notarão como este aqui (mais antigo) tem um ar bem mais medievalesco.



Grip em sueco quer dizer grifo, o animal mitológico cuja metade frontal do corpo é uma águia e cuja parte posterior é de um leão. Esse era o símbolo da família de Bo Jonsson, o nobre do século XIV que tinha uma fortaleza aqui. Como o castelo fica numa ilhota (holm em sueco), Gripsholm.




Adentremos o castelo.
Como já não estávamos mais na Idade Média, mas na dita Era dos Descobrimentos no século XVI, vocês hão de notar como os interiores são bem mais decorados que no medievo.




Nos meados do século XVI, neste castelo morou Gustavo Vasa, rei sueco cujo navio que afundou na viagem de inauguração está hoje exposto no Museu Vasa em Estocolmo.
Ele é o mesmo a quem chamei de Gustavo I no início do post, pois ele foi o primeiro de seu nome na Dinastia Vasa.
Apesar do naufrágio trágico, esse foi um período de glória para o Reino da Suécia, a sua dita “Era de Ouro”, quando dominaram quase todas as margens do Mar Báltico: toda a Finlândia, partes da Polônia, assim como a Estônia e a Letônia.
Gripsholm viria mais tarde a ser muito usado também pela rainha Hedvig Eleonora (1636-1715), que mencionei bastante no post passado. O palácio passou por reformas e ampliações ao longo dos séculos seguintes, e chegou até mesmo a ganhar um teatro — seguindo uma moda francesa — no fim do século XVIII.




Eu não sei se vocês já perceberam, mas há bastantes retratos pintados no castelo. Em verdade, aqui fica a maior coleção de retratos da Suécia, e uma das maiores do mundo. Você tranquilamente perde a conta.
O que começou com a coleção pessoal de Gustavo Vasa no século XVI tornou-se hoje a Galeria Nacional de Retratos da Suécia, com mais de 4000 obras.
Perceba que, fisicamente, a galeria não é outro espaço: ela é uma instituição aqui neste castelo. Daí os muitos retratos que você vê expostos nos seus muitos andares.
O que começa com os monarcas de antigamente passa a incluir figuras recentes, como a atriz Greta Garbo, o diretor de cinema Ingmar Bergman, dentre outros suecos de renome. (Não, Greta Thunberg ainda não consta. Quem sabe um dia.)




Falando em século XX, chegaram a fazer pelo menos dois filmes que têm este castelo aqui como cenário: um em 1963 e outro em 2000. Ambos se baseiam no romance Castelo Gripsholm: Uma história de verão (1931), do jornalista alemão Kurt Tucholsky.
Já ouviram falar em A Menina que Roubava Livros? Esta história se passa na Alemanha Nazista, e a tal menina roubava livros que eram considerados “inalemães” (ou seja, impatrióticos) e queimados em pilhas, de onde ela então os surrupiava antes das chamas.

Os livros de Kurt Tucholsky, crítico social do período Weimar (1918-1933) — o breve interregno de república que a Alemanha teve entre as duas guerras — fizeram parte dessas pilhas na vida real.
O romance de 1931 é uma história fictícia de Kurt (o próprio escritor, numa semi-autobiografia romanceada) levando sua namorada e um casal de amigos para passar um verão de rala-e-rola e dramas de juventude na Suécia — justamente aqui em Gripsholm. (Se você vê aqui paineis de informações também em alemão, já sabe por que.)
Na história do romance de 1931, esse se revelava o último verão com liberdade antes da tomada de poder pelos nazistas na Alemanha. É portanto um água-com-açúcar com crítica político-social ao fundo.
Kurt se suicidou em 1932 antes de ver que 1933 ocorreria precisamente o que seu livro de ficção previra: Hitler chega ao poder e tudo muda. Fim das liberdades, e Nazismo no poder.
Às vezes a arte imita a vida, outras vezes a vida é que segue a arte.
Eu vim ver Gripsholm com um casal de amigos, muito depois de Gustavo Vasa e já quase um século após Kurt Tucholsky.
Não, eu não vim para um verão inteiro, nem foi para rala-e-rola, mas era um fim de verão — e eu espero que não o último com liberdade política.
Para o meu encantamento e a alegria dos patos, as macieiras que abundam aqui na Suécia já cobriam o chão de maçãs. Algumas flores ainda se sustentavam apesar do frio que anunciava o outono. Via-se a luz da tarde irradiar no lago em cuja margem está Gripsholm.




Demos umas voltas por lá antes de retornar a Estocolmo. Há pitorescas casas coloridas escandinavas dos séculos XIX e XX, e uma portentosa igreja (luterana) do século XVII.




Após um passeio breve, era hora de voltar para casa.
Lindo Castelo. Apreciei bastante o estilo. Vê-se ser mais antigo que o anterior pelo estilo.
Amei essa arquitetura medieval, com ponte levadiça, torres, paredões etc e tal. Lindo esse tom rosa goiaba, e as pedrinhas coloridas da parede. Gostei também da pintura vermelha e do contraste com o verde da vegetação.
Muito bonito o interior. Bem decorado, belos lustres, lindo mobiliário, belíssimas tapeçarias e essa galeria de fotos muito interessantes dos diversos soberanos e suas famílias. Destaque para aquela da “galinhagem” hahaha, com a face das penosas ilustres hahaha. Olhe, meu jovem amigo, tive que rir, e muito, inclusive com o comentário do senhor acerca do rebu que seria hoje tal quadro hahaha com a face de figuras conhecidas ou não hahaha. Curioso e original.
De toda forma um belo palácio/castelo. O cenário, tanto interno externo é é filme. Amei também as redondezas do castelo, assim como a bela cidadezinha com fofas casas de madeira pintada, Lindo cenário,
O diretor e a atriz citados eram populares e muito queridos há uns anos atrás. Um dos filmes mais famosos do citado diretor, foi “Gritos e sussurros”. Ele trabalhava com maestria os sentimentos humanos, ditos ou não, mas sentidos, em toda a sua intensidade. Ela, bela e excelente atriz, protagonizou filmes famosos , muitos da década de 1940 e 1950 entre eles “Casablanca” e” Por quem os sinos dobram”. Dos mais recentes foi muito apreciado o ” Assassinato no Expresso Oriente”, o qual sua amiga aqui assistiu, assim como “Gritos e Sussurros”. Bergman era um gênio para trabalhar sentimentos humanos. Muito bons ambos.
Adorei a ambientação. Lindas árvores, belo vede. Parece um parque. Obrigada pelo belo passeio. Cidade charmosa essa.
By the way, adorei a torta. Essa parte gastronômica das postagens não podem faltar hahahaha