Bem-vindos!
Este na foto de capa é o Monte Meru (4.566m), a terceira maior montanha da Tanzânia. Não, não é o famoso Monte Kilimanjaro — o maior da África e a mais alta montanha solitária do mundo.
O Kilimanjaro é este abaixo.


Por boas razões, eu quase tive um choque anafilático ao desembarcar neste fim de tarde inocente — pela primeira vez pondo os pés na África Oriental — e já me deparando assim com um pôr do sol clássico por sobre as típicas gramíneas amareladas.
O Monte Kilimanjaro ali me assaltou de surpresa. Quase soltei um palavrão em voz alta (e em bom português) no carro quando de repente o vi pelo pára-brisas. Com todos os trâmites do desembarque, eu havia me esquecido de que de fato deveria ter esperado vê-lo logo ali nos arredores, já que o aeroporto leva seu nome.

Eu havia chegado num voo da Ethiopian Airlines originalmente saído de Estocolmo e com conexão na capital etíope, Addis Ababa. A qualidade do voo e desse aeroporto de conexão eu comentei no post anterior.
Vir até aqui não foi fácil, como há de se imaginar nestes tempos.
Voando em tempos de Covid-19
A Tanzânia foi dos primeiros países africanos — e do mundo — a reabrir para o turismo após a onda inicial da pandemia. Eu, que vinha há tempos cozinhando a vontade de conhecê-la (como registrei no meu 30 lugares aonde quero ir até 2030), resolvi aproveitar que os safáris & cia certamente estariam bem mais tranquilos que o normal, com menos turistas embora estivéssemos em plena alta estação (julho a outubro).
Como rapadura é doce mas não é mole, as autoridades tanzanianas quase me “quebraram as pernas” introduzindo de última hora a exigência de um resultado negativo para Covid-19 a poucos dias do meu voo. Consegui fazer um teste rápido em Estocolmo — o que eu tinha tempo hábil de agendar e fazer — que me custou tal preço que eu não tenho coragem de dizer. Veio até certificado médico assinado.
Passam-se aqueles segundos de tensão enquanto a pessoa corre com os olhos o seu certificado médico.
Numa situação que por si só renderia uma longa história, não me deixaram embarcar. Requereram no check-in um resultado de teste PCR e nenhum outro, embora isso não estivesse especificado na exigência. Tive que voltar do aeroporto para casa, reprogramar tudo, e ainda me virar para obter um resultado negativo de teste PCR feito menos de 72h antes do novo voo.
Cheguei a achar que não fosse mais conseguir viajar. Somente agora é que as clínicas particulares estão entrando nessa de se preparar para fornecer tais certificados com rapidez, e em inglês, para propósito de viagem. E muitos aeroportos de conexão estão, finalmente, oferecendo serviços de testagem também.

Como a vida requer coragem e ousadia, corri atrás e consegui. Localizei a única clínica em Estocolmo emitindo o resultado na velocidade necessária. (Sejamos francos que certas coisas requerem dinheiro também, então lá tomava eu outra indizível facada pelo PCR.)
Ao aeroporto novamente dali a poucos dias, onde o destino quis que eu fosse parar no guichê mesma funcionária. “Já é a segunda vez que eu lhe vejo aqui em quatro dias“, comentou ela de leve, sorrindo enquanto buscava minha reserva no computador. Silencioso, pensei “e eu espero não ter que vê-la novamente tão cedo”, já que isso significaria outra falha. Mas fui mais cortês.
“Espero que desta vez tudo dê certo.” Passam-se aqueles segundos de tensão enquanto a pessoa corre com os olhos o seu certificado médico — a tensão atualmente superior àquela habitual espera enquanto o oficial de imigração olha seu passaporte.
Tudo deu certo. “Pé que não anda não toma topada”, já diziam os antigos na minha família.
Na base do atrevimento, aqui estamos. Bem-vindos à Tanzânia!

Tirando o visto para a Tanzânia
Para visitar a Tanzânia, você com passaporte brasileiro ou europeu pode tanto obter o visto de turista na chegada à Tanzânia quanto de antemão online. A recomendação hoje em dia é fazê-lo online para poupar tempo no aeroporto.
Quase todo turista ainda apela para a conveniência de tirá-lo na chegada, sem se dar conta de que todo mundo pensou igual e de que haverá uma longa fila, onde dizem que você pode esperar 1h ou mais.
Para solicitar o visto online, é necessário já ter reservado as passagens aéreas, pois você precisa anexar um PDF da sua reserva do voo de saída. (Não está claro o que fazer se sua pretensão for sair por terra para um dos países vizinhos. Talvez se seu voo de volta sair de um país vizinho, eles entendam que você irá até lá, ex. Quênia, por terra.)
Além disso, será preciso indicar as datas da sua viagem. O visto sempre terá uma validade mínima de 30 dias a contar a partir da data em que você disse que chegaria. Sendo assim, não há problema se por qualquer razão você chegar depois do previsto, mas não antes.
Tenha também consigo uma foto digitalizada tipo passaporte (rosto neutro, fundo claro, etc.) e uma imagem da página de identificação do seu passaporte. Note que eles exigem formato jpeg (e não jpg), mas aos menos versados em informática vale lembrar que você pode simplesmente alterar manualmente a extensão do nome do arquivo e voilà. Senão não faz o upload.
Você pode começar a preencher o formulário e continuar depois. Eles dão uma chave de identificação num breve cadastrinho com seu e-mail. Paga-se ao final USD 50 para o visto de entrada única no país, ou USD 100 por um de múltiplas entradas. Você paga com Visa ou MasterCard.

Para voar, provavelmente o melhor será a Ethiopian Airlines. Verifique diretamente o site da companhia, pois às vezes os agregadores de voos (e.g. Google voos) não mostram.
Por favor, cuide para utilizar o site correto na hora de solicitar o visto tanzaniano. O site oficial é este https://eservices.immigration.go.tz/visa/. Não faltam empresas querendo tirar seu talo se passando por alguém que emite o visto e cobrando um adicional pelo serviço, sendo que são meros intermediários, que cobram a mais por isso. Completamente desnecessário.
Meu visto eletrônico (e-visa) para a Tanzânia ficou pronto em menos de uma semana. Solicitei-o numa sexta-feira, e na quinta seguinte recebi o e-mail com o PDF da aprovação em anexo para eu imprimir e apresentar aos oficiais de imigração no aeroporto. (Imprima. Não fique nessa de mostrar no telefone.) Poupa tempo das filas que dizem ter passado a ficar imensas desde agosto de 2019, por alguma mudança procedimental que desconheço. Recomendações mais antigas talvez não levem isso em conta.
Por fim, a pessoas vindo do Brasil ou com passaporte brasileiro vindos de qualquer lugar, eles podem exigir o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela. Tenha-o consigo. Não é sempre que eles pedem, mas podem pedir.

A Experiência
O voo de chegada
Todos estávamos mascarados todo o tempo. Ou ao menos deveríamos estar. Bastante gente, senão a maioria, puxava a máscara para o queixo para poder conversar melhor. (Senhor!)
Vieram dois coroas italianos ao meu lado no voo desde Addis Ababa até a Tanzânia. Com as mudanças constantes e maravilhosas que as companhias aéreas estão fazendo durante a pandemia, o que era para ser um voo direto ao Aeroporto Internacional Kilimanjaro se tornou um voo com escala em Zanzibar, na costa da Tanzânia. Ainda que geograficamente não fizesse sentido, às vezes é assim.
O bom é que assim recebi duas refeições.
Os italianos ao meu lado desceriam em Zanzibar. Seus sessentões, estavam a assistir videos picantes guardados no celular. Não era exatamente pornô, mas um mostrava uma mulher negra relativamente jovem, aparentando seus 25-30 anos, a se insinuar para a câmera com olhares e movimentos de língua. Pareceu ser “contato” de um dos sessentões, pelo que pude compreender deles conversando. Vinha todo um grupo de seus 20 italianos de meia-idade a bordo, estes dois aqui no cochicho ao meu lado.
Quando a refeição chegou, o italiano imediatamente do meu lado acidentalmente virou todo o frango ao molho nas calças. Ficou aquela meleira feia no meio da pernas. Um paranormal diria que fui eu quem derrubou.

No Aeroporto Internacional Kilimanjaro: Verificação de teste negativo para Covid-19 e a imigração
O aeroporto se mostraria pequeno, mas arrumadinho e suficientemente funcional. Ao lado na pista, um repórter animado falava para a câmera e gesticulava para as pessoas chegando.
Tratei de apressar o passo para, dentro do possível, passar à frente do maior número de passageiros. Eu sabia dos trâmites que nos aguardavam.
Lá dentro, num espaço relativamente pequeno, ficamos feito peões num jogo de ludo esperando a vez para “avançar uma casa”, dado o distanciamento social. Entregamos os nossos exames de Covid-19 — que o funcionário no balcão reteve, para a minha surpresa, mas o que eu ia dizer — e ninguém nem quis saber de febre amarela.
Como eu já tinha o visto eletrônico impresso, fui dali direto à imigração enquanto que praticamente todo o restante do avião foi fazer fila para solicitar o visto “na chegada”.
Resultado: consegui completar tudo e deixar o aeroporto num total 30 minutos após sair da aeronave. Do outro lado da imigração, as bagagens já nos esperavam.
A alfândega: Nada de sacolas plásticas

Uma peculiaridade aqui da África Oriental é que sacolas plásticas são terminantemente proibidas. Fala-se que antes aqui era uma sujeira imensa de lixo plástico como em tantas partes do Brasil.
Acharam mais eficaz coibir proibindo-as por lei que aquela coisa de longo prazo, bonita no texto mas pouco imediata de se “educar a população”. Daqui que o conseguissem, o ambiente já era.
Ainda depois da imigração, na alfândega à checagem das bagagens, um oficial me abordou perguntando qual seria o meu roteiro, quanto tempo eu iria passar no país, e aonde iria. Expliquei-lhe, o que ele pareceu achar insuspeito e não viu razão para me pedir para abrir a bagagem. “Welcome to Tanzania”, disse-me devolvendo meu passaporte e já olhando para o próximo passageiro a abordar.
(Eu vi outras pessoas com a bagagem aberta lá nas “mesas de cirurgia”, então olho vivo. Se eles virem alguma sacola plástica, você terá que jogar fora. Dizem que aquelas sacolas zip-lock reutilizáveis são as únicas plásticas que você pode trazer. No mais, use sacola de pano ou fibra vegetal.)

Saindo do aeroporto & abraçando a África
Eu esperava ter encontrado caixas automáticos para sacar da moeda local (xelins tanzanianos) antes de deixar o aeroporto, mas não vi nenhum. Havia apenas um par de casas de câmbio, com cotações até dignas para dólar americano — definitivamente a melhor moeda forte para trazer.
Lá fora, esperava-me alguém da empresa que eu havia contratado para fazer safári. Aconteceu já de ser meu próprio guia & motorista, dois em um.
Achei que fosse encontrar uma muvuca de marca maior aqui à saída do aeroporto na Tanzânia, mas longe disso. Nada mais havia que um arco de seus 20 ou 30 tranquilos homens negros, alguns ao lado e outros à frente, quase que invariavelmente todos com plaquinhas a esperar alguém. Nada do agito inseguro que frequentemente se vê em outros lugares em saídas de aeroportos.
Pelo contrário, pareceu-me o fim tranquilo de uma tarde ensolarada e fresquinha n’alguma cidade do interior. O sol preparava-se para se pôr dali em breve, alguns pássaros cantavam e o vento batia nas árvores — aquela tranquilidade interiorana que às vezes se vê no Brasil.


Ally, meu guia, era um chapa da minha idade. Mesma altura que eu, tez mulata escura e um breve cavanhaque algo comprido. Nas roupas de época, pareceria Baltazar, Melquior ou algum dos Reis Magos.
Apresentou-se com o nome, “como Muhammad Ali“, disse ele se referindo ao célebre pugilista. Só que — depois eu veria — o dele aqui escreve com dois Ls e Y, pois como no Brasil eles têm essa noção de que os nomes ficam mais chiques e respeitosos se derem uma estrangeirizada na grafia.
Ally ao longo dos próximos dias se revelaria mais profissional e reservado que o estereótipo dos africanos sugeriria. Depois vocês o verão em fotos. Era boa gente e muito tranquilo. Só não gostava de abacaxi (literalmente).
Tomamos a estrada rumo à cidade de Arusha, onde eu me hospedaria nesta primeira noite. Este trajeto rendeu as fotos que mostrei no início do post. Chegaríamos a Arusha com o céu já escuro. O Aeroporto Kilimanjaro fica a quase 1h de viagem, a depender do tráfego na entrada da cidade.
Era o meu primeiro contato com a vida urbana, antes da vida selvagem, aqui nestas terras d’África Oriental.

As ruas ficariam um breu antes de chegarmos. Quem já viajou pela África sabe que iluminação pública não é exatamente um forte daqui. Fica-se logo à mercê dos faróis dos carros.
Não importou. Logo estaríamos dentro da propriedade murada que seria meu hotel esta noite. À semelhança do Brasil, aqui há muito esse isolamento entre os turistas bem-quistos e a plebe no mundo lá fora.
Um rapaz uniformizado veio apanhar a minha mochila de viagem. Mas depois de trazê-la até aqui, é para mim quase um ponto de orgulho eu terminar o trajeto com ela nas minhas próprias costas — e ademais eu não gosto muito desse serviçalismo como se eu fosse a Rainha da Inglaterra.
“Nós estamos tão contentes que você tenha vindo“, disse-me a única recepcionista sob os olhares de todos os demais funcionários.
As pessoas deste hotel-pousada se mostrariam agradáveis, de sorrisos e uma cordialidade calorosa e sociável. Até o chefe de cozinha veio puxar conversa comigo depois que elogiei o jantar.
O jeito amistoso deles não escondia, contudo, a precariedade em que o setor turístico se encontrava — nem eles esconderam a situação.
“Nós estamos tão contentes que você tenha vindo“, disse-me a única recepcionista sob os olhares de todos os demais funcionários que ali estavam. “Ficamos arrasados quando soubemos que você teve um problema no aeroporto e que não vinha mais. Estamos sem hóspedes desde março.” Um mero casal europeu fazia-me companhia no amplo saguão com a recepção e um restaurante contíguo — vão visivelmente vazio, rarefeito.
“Aqui estou“, respondi eu com um sorriso sincero, acolhendo aquela boa-vinda. Estava mesmo feliz de finalmente estar aqui.
Era noite na África, e na manhã seguinte a aventura nesta terra teria início.

Uuuuuu que maravilha.. Que é que é isso meu camarada.. Desembarcou no céu? Entrou em alguma nave estelar, de Star War, ou aportou em alguma maravilhosa galáxia? Meus olhos ficaram vidrados, extasiados, com a magia desse cenário majestoso. Que maravilha!… Que espetáculo grandioso… Deslumbrante, a belíssima luz do sol atrás do venerável, portentoso, magnifico Kilimandjaro!… Uhhhh Um cenário dos deuses!… E que solão!… Belo. E a vastidão da planície… Linda.. Eita Africa maravilhosa. Sempre quis conhecer a África.
A foto do entardecer com o sua majestade o Kilimandjaro reinando na bela planície, é de uma suavidade divina. E que linda a savana. Que fotos maravilhosas. Surreais. Que natureza fantástica!… Tem razão, meu jovem amigo viajante. Quão formosa e tão pouco conhecida é a África. Majestosa e linda a natureza.
Que presente, meu jovem amigo viajante. magnifico.
Estou amando e creio que vou amar essa viagem do senhor por este instigante continente.
Hahahaha como comentei sem ler, tomei como o Kilimandjaro o belissimo monte Meru, hahah . Com certeza em nada desmerece o magnifico cenário. continua estasiante.
Nossa!… que epopeia …Uauu.. essa pandemia está mesmo um horror. Ainda bem que o senhor penou, mas conseguiu chegar.
Achei simples, bonito e arrumado o aero. Lindo esse cróton vermelho.
Muito interessante essa proibição de plásticos. Aqui no Brasil todos nós e a natureza, principalmente, sofremos com essa invasão das plásticos entre nós.
Parece um belo país.