A Tanzânia é aquele país que conhecemos um pouco sem nem saber que se trata dela. Terra das savanas africanas do famoso Parque Serengeti, o mais mostrado no Discovery, do hakuna matata de O Rei Leão, e de tantas outras belezas naturais e culturais.
É que a Tanzânia não tem seleção de futebol que chegue à Copa (a principal forma de nós brasileiros tomarmos conhecimento de países distantes), e seus laços históricos ou culturais conosco são modestos.
Porém, a Tanzânia é um país fabuloso, dos melhores de visitar na África, e eu aqui eu faço meu pacote de dicas após algumas semanas nestas terras.
(Eu já fiz um balanço geral com dicas específicas sobre safári na Tanzânia. Este post agora trata do país como um todo.)
- O que mais gostou. Da vida selvagem africana que se vê nos parques do norte do país, sobretudo o Serengeti e Ngorongoro.
- Visita obrigatória. O Serengeti e Zanzibar. São um pouco das duas Tanzânias que há, bastante diferentes. Sua visita estará incompleta sem ver os dois lados.
- O que não gostou. Dos preços altos de muita coisa referente a turismo nos parques, o que segue fazendo da África Oriental um destino ainda bastante exclusivo, quase de elite. Agora é que aos poucos as opções econômicas estão surgindo.
- Queria ter visto mas não viu. O centro e o sul da Tanzânia. Fiquei tentadíssimo a perder o meu voo de volta e tomar o trem Tazara, que sai de Dar es Salaam e corta o interior do país até a Zâmbia. Um dia.
- Comes & bebes a experimentar. Cerveja e vinho de banana, se você for visitar os Chagga ao pé do Monte Kilimanjaro. Comidas bem-temperadas e com leite de coco em Zanzibar. No continente, ugáli (uma polenta de milho branco), ugáli dagáa (quando acompanhado de pititinga no molho), quiabos e jilós temperados que são nativos daqui.
- Momento mais memorável da visita. O idílico africano que encontrei com os Maasai na Área de Conservação de Ngorongoro. Parecia que eu estava em Avatar ou alguma fábula ecológica.
- Alguma decepção. A frequência com que hoteis — aqui como nos países vizinhos — lhe empurrarão “comida internacional” (leia-se norte-americana ou britânica industrializada) embora estejamos na África, com todas as suas riquezas. Corra atrás, ou sairá com a falsa impressão de que africano não tem gastronomia própria.
- Maior surpresa. Que as ruas de Dar es Salaam, da Cidade de Pedra em Zanzibar e outras partes da Tanzânia sejam mais seguras que tantas cidades brasileiras, apesar de tudo de ruim que se imagina sobre as cidades africanas.
PRINCIPAIS DICAS
Visto & imigração. Eu fiz um post em que detalho todo o procedimento para obtenção do visto tanzaniano. Você pode obtê-lo na chegada, no aeroporto, mas é mais vantajoso solicitá-lo online de antemão, como eu explico lá. Qualquer das opções custa USD 50.
Viajantes com passaporte brasileiro ou vindo do Brasil também precisam apresentar o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela. Nestes tempos de pandemia, nem me pediram, mas oficialmente é requerido e podem pedir.
Quanto à Covid-19, as exigências vivem mudando. Verifique no site sua companhia aérea ou, se tiver dificuldade, me escreva abaixo nos comentários.
A imigração é relativamente tranquila, mas pelamordedeus não traga quaisquer sacolas plásticas — exceto, no máximo, aquelas ziplock que você pode convencer a alfândega de que guardará consigo toda a viagem. Sacolas plásticas são terminantemente proibidas na Tanzânia, como em outras partes do mundo. Use sacos de pano ou outras alternativas sustentáveis, reutilizáveis.

Clima, quando vir & melhor época. A Tanzânia tem uma temperatura semelhante à do Nordeste do Brasil, especialmente a costa.
Porém, levem em conta que Arusha e muito dos parques naturais ficam em regiões elevadas e, por isso, têm um frio de altitude. Não os subestime no inverno, quando as noites são mais frias que 10ºC (e sem calefação).
Como a Tanzânia está no hemisfério sul como o Brasil, junho a setembro são os meses mais frescos. As chuvas vêm no verão, com o calor, fazem a vegetação crescer e fica menos propício a ver os animais. Além disso, pode haver bons dilúvios em Zanzibar e as estradas dos parques viram um lamaçal.
A alta estação e melhor época para vir à Tanzânia, portanto, é de junho a outubro, período seco e normalmente sem chuvas. É a época mais cotada, então reserve tudo o que puder com vários meses de antecedência.
Se for nesse meado do ano à região dos parques, traga uma jaqueta e um hidratante de mãos, pois ela consegue ser extremamente seca.
(No meu post sobre dicas de safári há mais detalhes específicos sobre o que encontrar a depender da época do ano.)


Segurança. Insegurança é algo que sempre preocupa as pessoas que vêm à África. Eu diria que a situação aqui é semelhante à do Brasil, com algumas diferenças.
O principal risco aqui, na minha avaliação, são as estradas. Recomendo cautela a quem cogitar alugar carro. Não faltam policiais corruptos nem acidentes na pista, já que as pessoas dirigem adoidadamente.
Crime de rua há, mas são mais trombadinhas e conversadores tentando uma esmola ou levá-lo à loja do amigo do que, propriamente, assaltos à mão armada como no Brasil. Aqui, as pessoas têm bem menos acesso a armas que em Pindorama.
O que há mais aqui, sobretudo se você não for negro, é a sensação de exposição e o chamamento nas ruas. Não será todo mundo, mas vários lhe dirigirão a palavra tentando chamar a alguma loja, saudando, perguntando se quer táxi, e ocasionalmente iniciando alguma treta do tipo “Lembra?” (Remember?), e fingindo ser alguém que viu você em tal lugar, etc. e tal. Ignore. É mais eficaz ignorar e dispensar do que entrar em conversa com esses.
Aja, em grande medida, como se estivesse num centro de cidade no Brasil. Evite portar ou mostrar objetos de valor. Não fique com cara de perdido no meio da rua. Opte por consultar seus aplicativos dentro de algum lugar fechado. E, dentro do carro, portas travadas durante engarrafamento ou sinal vermelho, pois há quem afane celular e saia correndo.
Por fim, certifique-se de não deixar dinheiro vivo nas bagagens no quarto do hotel. A crença nos cofres fica por sua conta. Eu, em geral, acho mais seguro levá-lo em porta-dólares sob a roupa, já que as chances de furto — na rua ou no hotel — são bem maiores que as de assalto.

Dinheiro & Câmbio. A moeda da Tanzânia é o xelim tanzaniano (Tanzanian shilling), usado corriqueiramente por todo o país.
Usam-se dólares (USD) para cotar preços de tudo o que é turístico: hotel, passeios, e sobretudo safáris. Os safáris, em geral, você terá que pagar parcial ou integralmente de antemão, via transferência bancária, como detalhei no meu post sobre eles.
É melhor trazer dólares que euros como moeda forte. No dia-dia, porém, não espere pagar nada em moeda do Tio Sam, exceto talvez numa negociação astuta com algum vendedor de souvenir. As pessoas aceitam dólares de turistas, mas não é o corriqueiro entre eles.
Restaurantes, coisas de rua, e até mesmo alguns passeios — se você os fizer com gente local e não com alguma grande empresa — quererão o pagamento em xelins. Em média, USD 1 equivale a cerca de 2.300 xelins (TSH). Verifique a cotação atualizada quando vier, mas essa é uma moeda que flutua pouco.
Trocar dinheiro é mais vantajoso que sacar xelins no caixa automático se você trouxer notas de USD 100. Como em alguns outros países, as casas de câmbio dão cotações diferentes a depender da cédula. A cotação que você vê exposta geralmente é para cédulas de 100 dólares (cerca de 2.300 xelins por dólar). Nas cédulas menores, em geral não dão mais que 2.200 xelins por dólar, e aí pode valer mais a pena sacar no caixa automático mesmo com as tarifas.
Muito importante: Certifique-se de que seus dólares sejam notas novas, sem rasgos, coisa escrita em cima, ou aspecto decrépito de nota velha. Casas de câmbio no Brasil às vezes gostam de empurrá-las aos clientes — não aceite, pois eles aqui não aceitarão.
Suas notas, via de regra, precisam ser de séries emitidas após de 2009. “Ah, como eu vou saber?“. O ano de série está escrito pequeno na frente da nota de dólar; pode ver. Na prática, eles às vezes aceitam notas mais antigas, mas o fundamental é que estejam em bom estado, sejam de quando forem.
Quando trocar aqui, as casas de câmbio quase certamente o encherão de notas de 10.000 xelins, o que equivale a uns USD 4 ou R$ 20, e que podem lhe dar trabalho de passar se você pretender comprar miudezas ou coisas na rua. Peça que lhe ponha umas notas de 5 mil pelo menos (USD 2 ou R$ 5). Eles aceitam de boa, mas você precisa pedir. Normalmente, não há comissão, mas confirme.
Não vi nenhum caixa automático no desembarque do Aeroporto Kilimanjaro (JRO), embora eles existam pelas ruas de Arusha, Zanzibar e Dar es Salaam. Em JRO o jeito é fazer câmbio; há uma casa já no saguão de desembarque e a cotação para dólares é boa, quase a da internet.
Em contraste, no Terminal 3 do aeroporto de Dar es Salaam vi cotações horríveis de TSH 2000 por dólar em nota de 5, 10 ou 20, quando o normal são 2.200 e uns quebrados. (Já a cotação por notas de USD 50 ou 100 a TSH 2.300 e uns quebrados é relativamente constante.) Se suas notas de dólares forem pequenas, melhor sacar num caixa automático.
Quando encontrar caixas automáticos, saque o máximo que puder de uma vez, em vez de sacar pouco várias vezes. Afora as tarifas do seu banco, o banco aqui lhe cobrará de TSH 8.000-15.000 de taxa — o que é bastante. Normalmente, o montante exato lhe será informado antes de você confirmar o saque. Frequentemente, há um limite de TSH 400.000 por saque.
Cartões de crédito são cada vez mais aceitos, mas estão longe de ser corriqueiros como no Brasil. Em Dar es Salaam, há restaurantes, museus e outros estabelecimentos onde já se paga normalmente com o cartão, mas muitos — especialmente agências de turismo e de safáris — ainda cobram uma sobretaxa de 3-5% do valor para pagamento com cartão. Olho atento.
Tenha um cartão consigo, mas o ideal na minha opinião é andar aqui com uma combinação de xelins e dólares. A depender, é claro, do seu programa. Se for ficar só no safári, dólares lhe bastarão. Se quiser perambular pelas ruas ou viajar com certa independência, xelins serão importantes.

Custos & Acomodações. Eu já fiz um relato detalhado sobre custos de safáris, opções econômicas vs. conforto, etc. Eles são — de muito longe — o que há de mais caro na Tanzânia. As demais coisas são todas relativamente em conta.
Charmosos hotéis 3 estrelas na Cidade de Pedra, em Zanzibar, ou em Dar es Salaam saem por USD 70-80/noite, com café da manhã incluso. Em pousadas econômicas você consegue quarto privativo por USD 25/noite, ou paga USD 10/noite em dormitórios de albergue. Claro que haverá também as opções luxo, onde aí o céu é o limite.
Alimentação varia muito de preço. Se você ficar fazendo refeições nos hoteis, pagará preços de Europa: USD 10-20 por refeição mais a bebida. Se for comer as maravilhas da África com os tanzanianos (como mostrei aqui e aqui), paga bobagem de USD 2-3 por refeições fartas e no capricho. São em geral lugares simples, populares, mas muitas vezes a comida é até melhor e mais diversificada que nos hoteis.


Transportes. Algumas coisas a dizer sobre transportes na Tanzânia.
Primeiro, para chegar ao país, suas opções de aeroporto são: O Aeroporto Internacional Kilimanjaro (JRO), perto da cidade de Arusha, ideal para quem vai aos safáris. O Aeroporto de Zanzibar (ZNZ) a quem for conhecer esta parte insular da Tanzânia. E o Aeroporto Julius Nyerere em Dar es Salaam, maior cidade do país. Note que muitas empresas, como a Ethiopian Airlines, não necessariamente lhe cobram mais se você chegar por um aeroporto e partir por outro — que foi o que eu fiz. Pode ser conveniente a depender do seu roteiro.
Segundo, para voos domésticos, há muitas empresas de baixo custo e confiabilidade duvidosa operando na Tanzânia. Não é só questão de o avião cair — o que, convenhamos, não ocorre todo dia — mas também de cancelamento de voos, ressarcimento, etc. Minha opção após fazer algumas pesquisas foi a Precision Air, que ao menos utiliza aeronaves de porte. Usei e não tive problemas.

Terceiro, para andar por terra dentro do país, suas opções são limitadas. Só recomendo longas viagens de ônibus aos mais intrépidos mochileiros — e, mesmo assim, cuidado com os seus pertences.
Trens existem, mas são também muito básicos e incertos. É algo hiper povão e não necessariamente veloz nem confortável.
O trem que ocasionalmente atrai turistas é o Tazara, uma linha internacional entre Dar es Salaam e a Zâmbia, passando por várias cidades do interior da Tanzânia. Não espere pontualidade nem conforto, mas dizem que viajar nele é uma experiência em si.
Dentro da ilha de Zanzibar, ou entre cidades próximas numa mesma região, o transporte é todo mesmo em dala-dala — aquelas vans lotação. Não há linhas nem horários que você possa checar pela internet; a coisa é mesmo informal, e você precisa ver com sua acomodação no ato para conhecer suas opções.
Uma nota final sobre ferries. Para ir a Zanzibar, você pode tomar o avião ou, muito mais em conta, tomar um ferry entre Zanzibar City e Dar es Salaam. Neste post eu contei um pouco da minha experiência com o ferry, preços etc.
Até o presente momento, não há ferries oficiais saindo das cidades do norte da Tanzânia até Zanzibar — algo que os mochileiros sempre procuram. O que há são embarcações vagabundas informais e ligeiramente ilícitas que cotidianamente transportam pessoas desde Pangani. Conheço quem já tomou e achou que ia naufragar. A internet também está repleta de relatos advertindo contra, falando sobre excesso de pessoas a bordo, etc. Cuidado.


Aonde ir, e quantas noites em cada cidade? A região dos parques no norte da Tanzânia (o chamado Northern Circuit) e Zanzibar são, realmente, as grandes atrações da Tanzânia.
Dar es Salaam, a maior cidade do país (a capital hoje é Dodoma, um lugar administrativo no centro do país à là Brasília), é uma cidade de negócios mais que de turismo. Tem um bom Museu Nacional, uma vida urbana com algumas coisas, mas lembra uma versão mais precária de São Paulo ou Belo Horizonte — não é uma cidade turística por excelência. Umas 2 noites aqui são mais que suficientes, e mesmo assim de preferência combinadas com seu voo de chegada ou saída.
Zanzibar, ilha que já foi soberana hoje no litoral da Tanzânia, é um destino para quem gosta de História e/ou de mar. Há quem venha aqui atraído por suas especiarias, suas comidas, seu legado histórico e arquitetônico dos tempos do Sultanato de Zanzibar. E há quem venha cá querendo, essencialmente, fazer um chamado safari blue por seus encantadores mares, ou ficar na praia.

O hub principal onde ficar em Zanzibar é a Cidade de Pedra (Stone Town), centro histórico do que é hoje Zanzibar City (onde também fica o aeroporto internacional da ilha). Ali tudo se faz a pé, e você pode se perder um pouco nas suas ruas de medina que lembram uma versão menor e mais negra das cidades do Marrocos.

Ali você tem duas grandes opções: ou permanece instalado na Cidade de Pedra e faz passeios diários para ver outros lugares e voltar, ou se desloca para os vilarejos de praia e lá fica.
Essa última opção eu sugiro a quem gosta de relaxar à beira-mar. Quem não tiver muita paciência para isso talvez ache enfadonho, já que são lugares onde não há nada outro. Nungwi e Kendwa são os destinos mais populares na costa norte de Zanzibar, Paje e Jambiani na costa sul.
A Cidade de Pedra em si merece umas 3 noites. Há o mercado de especiarias; museus interessantes sobre a História do sultanato e do tráfico de marfim e escravos aqui (ainda que alguns deles sejam precários, a história vale a pena); toda a orla com seu forte, mar e coqueiros; as comidas típicas; as sorveterias; e toda a vibe deste lugar tradicional.
Daqui você pode ainda:
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- Organizar um passeio de poucas horas à Prison Island, onde ficavam detidos escravos trazidos do interior da África — e onde hoje estão aprisionadas tartarugas gigantes como num zoológico.
- Ir passar algumas horas no banco de areia de Nakupenda, onde não há nada mas é basicamente para tomar sol e banho de mar.
- Fazer um safari blue, que inclui visita a algum banco de areia mais distante da cidade, snorkel e mais.
- Tomar um tour de especiarias (spice tour) na zona rural para conhecer de mais perto estas plantas que ganharam o mundo e fizeram a economia de Zanzibar e dos descobrimentos.
- Fazer um bate-e-volta à Jozani Forest no interior da ilha, onde pode caminhar em meio à natureza e avistar pequenos macacos nas árvores.

Sobre safáris — a razão principal pelo qual turistas vêm à Tanzânia — eu comentei em detalhes no meu post de dicas específicas sobre isso.
A cidade de Arusha, no norte da Tanzânia e ao lado do Aeroporto Internacional Kilimanjaro, é o grande trampolim de onde partir nos safáris. Arusha em si é de interesse limitado; o que há de mais interessante são os mercados de artesanato. Um dia na cidade é mais que o suficiente para vê-la.
A duração da estadia dependerá dos seus programas. De Arusha você pode fazer trekking para subir o Monte Kilimanjaro (maior montanha da África), o que toma cerca de uma semana e custa um rim, e pode fazer programas mais curtos como ir à Cachoeira de Materuni — combinada com um coffee tour com o povo Chagga — ou a algumas termas nas vizinhanças de Moshi, uma cidade próxima. Pode dormir em Moshi se preferir fazer tudo com mais calma. Só vale a pena passar mais de 2 noites em Arusha se você fizer algum desses passeios.
Por fim, a Tanzânia possui parques menos famosos no centro-sul do país, como o Ruaha National Park. Eles são bem menos povoados de turistas, mas — até onde sei — oferecem da mesma vida selvagem. Só têm paisagens menos dramáticas que Serengeti ou Ngorongoro no circuito norte. São por vezes mais caros por serem mais remotos, e costumam requerer um voo doméstico para se chegar até eles.


Comes & Bebes. Eu já dei um pitaco sobre este tema no início do post. Aqui desenvolvo um pouco mais para os interessados.
Os tanzanianos, por efeito da colonização britânica (1918-1964), bebem cotidianamente chá preto em vez de café. O café aqui é, em geral, café solúvel. Não é sequer Nescafé, mas marcas locais mais simples, como a Africafe. Quebra o galho, mas não espere aquele “Wow!”.
Há umas marcas de cerveja aqui, mas o que há de mais exótico em termos de álcool é sem dúvida o que fazem os Chagga lá em Kilimanjaro: cerveja e vinho de banana. Experimente na região de Arusha ou com eles num passeio à Cachoeira de Materuni.
No mais, você acha sucos excelentes (embora a diversidade seja menor que no Brasil). Batem vitaminas de banana ou abacate, são viciados em suco de maracujá, e se encontra também manga, abacaxi, smoothies com sorvete de baunilha… estas coisas.

A culinária tanzaniana varia de acordo com a região. Na costa, comem-se pratos temperados com especiarias e leite de coco — em parte, influência indiana e de todo o histórico comércio de temperos. Há muito peixe, frutos do mar e arroz.
Já no interior do país há menos temperos, e a base é o ugáli, uma massa de milho de bastante sustança. Come-se ela com carnes ou legumes muito bem temperados (mas não apimentados). Usam quiabo e jiló, que são nativos aqui da África, e sabem temperar as coisas muito bem. Mesmo já tendo viajado bastante eu fiquei impressionado (talvez por nunca ter visto quase nada nas culinárias africanas).
Se você se interessa pelo aspecto gastronômico quando viaja, peça ao seu guia de safári ou na sua acomodação por opções locais, típicas. Caso contrário, eles sempre partem do infeliz princípio de que todo turista ocidental se interessa por comidas industriais norte-americanas ou britânicas quando viaja (manteiga de amendoim com pão de forma, geleias artificiais, feijão no molho de tomate, etc.)

Compras. Há muito artesanato à venda aqui na Tanzânia. Muito é semelhante ao que você encontra noutras partes da África: tecidos coloridos, peças de madeira, colares de contas. Nem tudo é autêntico, então verifique as coisas com atenção e não acredite em tudo o que o vendedor diz.
Neste post pelos mercados de Arusha, onde há um vasto Maasai Craft Market, eu contei como se vende tudo o que é artesanato de madeira escura como se fosse ébano.
Atenção também com as enrolações de “Tanzanita! tanzanita!“. É a pedra nacional da Tanzânia, uma pedra preciosa violeta, mas só recomendo adquirir na rua se você for bom conhecedor de rochas, ou pode comprar gato por lebre. (As lojas vendem-na com certificado, mas custa uma nota.)
Barganhar é sempre preciso. Como na Índia, em outras partes da Ásia e no mundo árabe, tudo é na base da negociação. Raramente há preços fixos — quase que exclusivamente na grandes lojas turísticas.
Algo comum é eles darem o preço só o número e deixarem para você interpretar a moeda. “Essa é 85.” São 85 mil xelins, o que dá uns USD 40. Fica por sua conta se você entender que eram dólares, pechinchar para USD 60, e ainda achar que se deu bem. Fique esperto.
Tendo esses cuidados, delicie-se com os objetos de sementes, a arte manual, as belas pinturas, e as rendas vívidas de padrões e cores africanas.


Idioma & trato com as pessoas. Dá para se virar com inglês? Sim. Até os matutos de rua falam melhor inglês que alguns amigos meus no Brasil que passaram anos tomando aula em cursinho. (Captain George, que eu encontrei perambulando nas ruas de Zanzibar, daria 7 x 1.)
Aquele sotaque africano delicioso em que remember vira “rememba” inundará seus ouvidos, enquanto eles gesticulam ao explicar as coisas. Gostam de conversar, embora menos que os tagarelas africanos ocidentais (Gana, Nigéria…). Eles aqui são relativamente recatados, menos expansivos que os brasileiros, mas são sociáveis.
Por vezes, há aquela situação fomentada pelos turistas anglófonos em que para tudo se criou a expectativa de recebimento de gorjeta, mas se não for do seu feitio você pode contornar isso e ainda assim manter a sociabilidade com eles.
Dá para se virar sem inglês? Até certo ponto, sim, mas sua vida será bem mais limitada. Nos safáris não há problema: no post de dicas de safári comentei como é possível arranjar guia fluente em espanhol, e eles em geral falam a língua de Cervantes muito bem, pela similaridade fonética com as línguas Bantu africanas. Já nas cidades você aí precisará usar aplicativos ou mímica se não souber absolutamente nada de inglês.
Como comentei acima na parte sobre segurança, não há a mesma criminalidade do Brasil, mas há mais matutos de rua. Olhe quem puxa conversa com você. À entrada de cada lugar turístico você será abordado com alguém se oferecendo para acompanhá-lo. De praxe não é obrigatório, embora às vezes façam-lhe crer o contrário.
Eles aqui não tem lá muitos recursos, são pessoas em geral de pouco escolamento, e quase todo mundo se presta a fazer as vezes de guia. Você sem dúvida encontra indivíduos que sabem muita coisa, guias bons, que o são porque estudaram para ser guia ou simplesmente são daqueles indivíduos que aprendem com a vida. Porém, há uma quantidade enorme de fulanos que fazem guias meia-boca, falam o óbvio, dão uma enrolada, às vezes passam informações erradas, e fazem aquela rapidinha que é mais conversê que informação, só para tirarem uma gorjeta fácil. Você aí avalia. Seja seletivo.
Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.