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Bahia Brasil

Gruta Azul e Poço do Diabo na Chapada Diamantina (BA)

É fácil se perder com os nomes e nos nomes dos lugares da Chapada Diamantina (BA). Gruta azul, poço azul, poço do diabo… garanto que a natureza nada tem de culpa por essas denominações humanas.

Ela tem, sim, de mérito pelas muitas belezas que aqui se encontram. A partir da cidade de Lençóis, principal base para passeios na chapada, um mais comuns passeios que você pode fazer é por um roteiro que inclui: Poço do Diabo e Rio Mucugezinho, Gruta Lapa Doce, e Rio Pratinha com a Gruta Azul. Ele costuma incluir também o afamado Morro do Pai Inácio, que já mostrei anteriormente e que os guias geralmente incluem bem no início ou bem no final do passeio — a depender do tempo.

É um passeio gostoso e relativamente leve, tendo de puxado basicamente a subida de 20 minutos ao Pai Inácio. No mais, há uns poucos sobes e desces, mas no geral são caminhadas fáceis e um pot-pourri de coisas diferentes da Chapada Diamantina: rio, água, cascatas, cavernas e paisagens.

Acompanhem-me neste percurso para conhecerem melhor as atrações.

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No caminho, pela região com as suas águas e matas.

O Poço do Diabo (glup)

Eu preciso dizer que, tendo andado os 12 Km de sobes e desces da trilha da Cachoeira da Fumaça no dia anterior, eu e minha amiga turca Filiz estávamos quebrados hoje. De quebra, eu ainda encharquei completamente meu calçado, o que uma noite de trovoada de verão na Chapada não ajudou a secar. Eu vim, portanto, atrevidamente de havaianas para o Poço do Diabo e alhures. (Não façam isso.)

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Calçado para trilhar. (Não é o fim do mundo, mas digamos que havaianas não são exatamente o calçado com mais firmeza e aderência para os sobes e desces nas pedras. Por outro lado, você pode deliciosamente molhar os pés com bastante facilidade.)

O Poço do Diabo é bonito, e não recebe este nome nem por aspecto abismal nem por que feda a enxofre. (Fosse esse o critério, Rotorua inteira mereceria a alcunha.)

Dizem que, nos velhos tempos do coronelismo e da escravidão neste interior do Brasil, os escravos é que faziam o trabalho árduo do garimpo de diamantes nesta assim chamada Chapada Diamantina. Uma das principais preocupações dos poderosos era assegurar que os negros não escondessem para si as pedras encontradas, e para isso punham seus capangas ou jagunços a vigiá-los.

Certa feita, conta-se que alguns escravos começaram a esconder diamantes encontrados para com eles tentarem comprar sua alforria. Os capangas descobriram, e houve uma matança de negros aqui. Seu sangue vermelho corria pelas águas límpidas, e dizem que por muito tempo se viam assombrações das almas penadas.

Nada tema. Não me foi lugar que desse calafrios — pelo contrário, acho que o lugar já merece nome mais adequado à natureza, menos pejorativo, e provavelmente já o teria se a referência ao tinhoso não criasse certo frisson mercadológico para atrair turistas hoje.

Você para seu veículo — seu próprio ou de alguma agência com guia de Lençóis — à margem da BR-242, a 22 Km da cidade, e adentra a breve trilha margeando o bonito Rio Mucugezinho até chegar ao (mal)afamado poço.

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Trilha pelo Rio Mucugezinho. A água ganha esta cor pela matéria orgânica, mas quando você dela pega, é límpida e cristalina.
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O caminho é por vezes assim, sobre as pedras, mas nada muito complicado.
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Caminhando ao lado das corredeiras.
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Avistam-se cascatinhas assim entre as pedras que me parecem recantos ou pequenos santuários indígenas do coração do Brasil.
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A água por vezes tem esta impressionante coloração de bile — talvez mais escura que o próprio Rio Negro. É pela matéria orgânica.
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Algumas vistas que se têm de lá do alto.
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Até que se avista a cascata de 20m que leva ao dito poço.

Você basicamente desce pelo lado, numa trilha sobre as pedras, até chegar ao corpo do Poço do Diabo. São até 6m de profundidade de uma água escura como aquela mostrada acima, numa margem rochosa. 

As pessoas são livres para se banhar, e há uma tirolesa lá de cima, de onde você pode descer até cair na água. Só se prepare para sua gélida temperatura, dado que estamos no interior da Bahia e muitos talvez esperem calores maiores. 

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O Poço do Diabo com suas águas negras e a tirolesa, num dia nublado.
Poço do Diabo
O lugar, com as pessoas lá em cima aglomeradas para descer.
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O splash com a tirolesa no Poço do Diabo, aqui na Chapada Diamantina (BA).

Saídos do Poço do Diabo, era hora de irmos para lugares mais escuros. Em verdade, primeiro passamos no Morro do Pai Inácio e, em seguida, fomos almoçar. A coisa obedece um pouco a geografia e as condições climáticas. Conseguimos subir no morro, o que nem sempre é possível quando chove ou faz muita neblina, rendendo as vistas que mostrei no post anterior.

Era hora de rumarmos à Gruta Lapa Doce, uma simpática caverna no seio da chapada.

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O lugar aonde desceremos.

Gruta Lapa Doce

Quando se vem visitar a Gruta Lapa Doce, é de hábito que os turistas almocem num restaurante rodeado de vendinhas e com um simpático e vetusto umbuzeiro — um xodó do lugar. O restaurante é um buffet muito bom, onde vi o pequeno guia de um dos outros grupos fazer um prato maior que ele. 

Foi também aqui que fizeram todo mundo pôr calçados fechados, por obrigação para adentrar a caverna. É curioso porque, embora tenhamos pago a nobre quantia de R$ 5 da primeira vez que vim (certamente já aumentou), o negócio é uma esculhambação, na base da tentativa e erro. “Vê um aí que caiba no seu pé.” Parece um brechó de sapatos velhos usados.

Nem sempre se acha um número bom. Eu achei um mais ou menos — umas botas de vaqueiro que ficaram lindas com as minhas canelas de fora, eu que havia ido de bermudas neste dia.

Minha amiga turca, sendo ariana e turca, quase deu um revertério querendo argumentar que sua sandália arejada, mas firme no pé, era mais segura que um sapato qualquer fechado que ficasse folgado. Só não rodou a baiana porque não falava português. O baiano aqui é que teve que assossegar, e dizer que na América Latina a gente vai relevando certas coisas pra não se estressar.

(Realmente, quem é da América Latina e não costuma viajar pra outros continentes não se dá conta, mas somos dos povos mais socialmente tranquilos que há. Não é pra descontar a brutal violência endêmica, mas no socializar-se eu vi poucos lugares onde a coisa se dê de modo tão arejado e amistoso. Noutros lugares é discussão por qualquer coisa.)

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Com os meus nobres sapatos emprestados debaixo do umbuzeiro vetusto na Chapada Diamantina.
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Vamos descendo.
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Por aqui vamos adentrando.
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Ainda na entrada da caverna.
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Depois fica assim. Você no breu, e lá ao longe se via um outro grupo na entrada. (Eles fornecem lanternas boas a todo mundo para você se guiar no escuro.)
Gruta Lapa Doce
O guia ia mostrando as formações rochosas no interior da Gruta Lapa Doce.
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Um parada meio Arquivo X com as formações rochosas e a luz — ou parecendo que eu fui bem amadoramente photoshopado ali.

Você passa uns bons 20 minutos ou mais caminhando dentro da caverna, e sai pelo outro lado, não por onde entrou — então não deixe sua mãe nem nem sua sogra que não quis entrar esperando na entrada.

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Do outro lado. Vim do céu anunciar que chegou a hora de voltarmos à superfície.
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Ô glória!
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Se forçar a imaginação, lembra até o Ta Prohm, aquele templo do Camboja que inspirou os cenários de Tomb Raider.

Gruta Azul e Rio Pratinha

Depois de termos passado pelo Poço do Diabo e pela Gruta Lapa Doce, era de deixar de caminhar e de simplesmente relaxar.

O passeio se completa com uma visita à Fazenda Pratinha, que é um espaço particular onde há quase que um complexo de restaurante, ponto de venda de açaí, lojinhas, a entrada para a Gruta Azul, e o acesso ao Rio Pratinha com espaço para banho. O guia em geral dá um tempo de suas 1h30 a 2h, e deixa os turistas livres para fazerem o que quiserem após mostrar-lhes a Gruta Azul.

(A entrada por conta própria na fazenda em março de 2021 estava R$ 60 por pessoa — até aumentarem, o que fazem com relativa frequência. Você pode consultar o preço atual na página da Fazenda Pratinha. Nos passeios com agências, confirme se esse ingresso já está incluso no preço.)

A Gruta Azul é uma das várias formações aqui da Chapada Diamantina onde a água tem colorações azuladas, sobretudo quando incide a luz do sol. (Há tanto lugar assim — Gruta Azul, Poço Azul, Poço Encantado — que eu não sei como eles tomam pé para não repetir os nomes.)

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Com cara de bobo e a descida para a Gruta Azul.
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Os tons da água dentro da Gruta Azul. (Não é permitido entrar.)
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A luz solar e os tons de azul. A água ganha esta cor pelas suas características físico-químicas, que em cada lugar são um tanto diferentes a depender de minerais, etc. A mesma razão pela qual diferentes mares têm diferentes tons de azul ou verde (não é porque reflete o céu).

Não fique desapontado demais que não se possa entrar na Gruta Azul. Logo aqui ao lado, há uma outra — a Gruta da Pratinha — onde é permitido entrar na água.

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O acesso à Gruta da Pratinha lá embaixo.
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A gruta onde as águas do Rio Pratinha adentram as belas formações rochosas. Notem também os tons de azul aqui. (Isto foi antes da pandemia, viu gente.)
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Flagrado deitado ali no Hotel Pestana.

Verdade seja dita, nós estávamos já tão podres do dia anterior na Cachoeira da Fumaça, e tendo aqui já feito o Pai Inácio e estes outros sobes e desces mostrados, que estávamos mais do que contentes em simplesmente relaxar — e tomar um açaí. 

A Fazenda Pratinha, que não é boba, passou a restringir o acesso à água na gruta, e oferece por um preço adicional a possibilidade de você fazer uma flutuação com snorkel ali. Quando fui pela vez mais recente, havia um tio fiscalizando.  

Gruta da Pratinha
A Gruta da Pratinha, onde se pode fazer flutuação. Segue bela.
Rio Pratinha
O Rio Pratinha, ali fora, onde você pode se banhar, andar de caiaque, e há também uma tirolesa.

Ali relaxamos, até que chegou a hora de retornarmos a Lençóis. Outras atrações estavam por vir.

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Um esplendoroso entardecer em Lençóis, principal cidade da Chapada Diamantina, que mostrei melhor aqui.
Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “Gruta Azul e Poço do Diabo na Chapada Diamantina (BA)

  1. ihhhhh…Que maravilha essa região!… Belíssimas as paisagens!… Lindas as águas que correm entre as pedras, nas grutas ou a céu aberto, com suas diferentes e belas tonalidades e formando belas e reluzentes cascatinhas de águas cristalinas, por vezes coloridas, até aquela maior que vai dar no tal poço do não nomeado.
    Essa região, é muito bela. A natureza, prodigiosa e exuberante é quem dá o tom.
    A minha restrição se deve ao longo percurso a pé, às condições das trilhas, dos acessos aos diversos lugares, a algumas denominações e à presença de cavernas. Como sou do ar, não me sinto bem em buracos hahaha. Afora esses detalhes, gostei muito. Muito bonita a região.
    Amei o rio Pratinha e uma daquelas grutas de água azul. Gosto muito de águas claras e coloridas. Essas azuis são divinas. Para mim as mais apaixonantes são as águas de azul cobalto, que banham o sul da Grécia, suas ilhas e o sul da Itália. Magnificas.
    E lençóis é um espetáculo arquitetônico e histórico. Belíssimo o céu nessas fotos, sobretudo no ocaso.
    Cansativa porém excitante aventura.
    Valeu viajante. Gostei de conhecer esses meandros da Chapada.

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