Penang, Malásia. Talvez um dos lugares mais culturalmente interessantes deste país que, no Brasil, quase que só se conhece pelo GP de Fórmula 1.
Eu próprio, acho que poucas vezes havia me deparado com um malásio na vida e quase nada sabia do país até vir aqui alguns anos atrás. Era hora de voltar.
Muitos no Brasil temos uma relativa fixação por visitar as cidades principais (leia-se, as maiores), pois é o que se ouve falar de cada lugar, mas vale saber que Penang é um destino bem mais interessante que a capital Kuala Lumpur. “KL”, como às vezes a chamam os malásios, é mais uma cidade de prédios altos e shoppings — onde ficam as gêmeas Torres Petronas, famosas por terem sido os mais altos edifícios do mundo há um tempo atrás.
Já Penang é uma pororoca de culturas asiáticas. Em nenhum outro lugar da Ásia — quiçá do mundo — eu encontrei tamanho cosmopolitismo arraigado. Isto é, comunidades que se radicaram aqui ao longo dos séculos, neste pequeno espaço onde numa mesma rua você ouve o chamamento à oração dos muçulmanos, vê uma igreja, sente o cheiro dos incensos do templo chinês e os odores das comidas dos hindus ali perto.
Penang é uma joia. Como estamos no amoroso e cálido Sudeste Asiático, é uma joia suada, quente, e povoada. Tropical.


Histórico de Penang
Estes Estreitos de Malacca há séculos são frequentados — e habitados — por navegadores e comerciantes chineses, indianos, e muçulmanos.
Quando digo “muçulmanos”, não pense exclusivamente em árabes. Os árabes trouxeram o islã cá ao Sudeste Asiático na Idade Média, mas daí então aqueles a quem hoje chamamos de malásios, indonésios, e os filipinos de Mindanao abraçaram o islamismo e são hoje um contingente muçulmano mais populoso que o árabe.

Sultões muçulmanos acabariam por se tornar os típicos monarcas dominantes nestas bandas marítimas influenciadas pelas navegações árabes — ao contrário da Ásia continente adentro — desde antes da chegada dos portugueses por aqui no século XVI.
Porém, eram comunidades multi-étnicas e multiculturais, com muitos povos aqui vivendo misturados. Há séculos estão inclusos aqui os chamados chineses dos estreitos, gente do sul da China que veio comerciar e se instalar.
São uma diáspora que hoje se reconecta com sua civilização de origem (liderando muitos dos negócios malásios, da mesma forma como governam Singapura), mas que guardam uma cultura própria e idiomas chineses outros que não o mandarim (ex. Hakka, Hokkien, cantonês, etc.).
Antes que eu dê um nó na sua cabeça, vale dizer que foi quando os britânicos tomaram posse daqui em nome da Sua Majestade que Penang ascendeu como um entreposto comercial importante. Os britânicos, mui marítimos, apropriaram-se desta ilha em 1786 um pouco como fariam com Hong Kong meio século mais tarde.




Religiões se misturam
Foi um simpático chinês hakka daqui que, certa vez, na minha viagem anterior a estas bandas, apontou que “me desculpe dizer, mas só os cristãos e muçulmanos é que têm dificuldade de convivência.” Todos os demais se toleram, e aceitam a diversidade religiosa. (Depois o Ocidente se gaba do seu liberalismo…)
Penang é isso, esse encontro. Uma das coisas mais fascinantes daqui é precisamente sentir estas muitas fés distintas lado a lado. Você pode literalmente sair de um templo hindu, atravessar a rua, e se dar com uma mesquita.



(Capitão Keling era um indiano muçulmano, como muitos há, caso você não tenha assistido a Quem quer ser um milionário?— vencedor de 8 Oscar.)
Para não haver confusão: os malaios são o povo nativo daqui, que falam a língua malaia (praticamente idêntica à língua indonésia, dos seus parentes aqui vizinho).
Eles formam 70% da população da Malásia. Os demais são, predominantemente, chineses (23%) e indianos (7%). Todos os cidadãos do país, independentemente do grupo étnico, são malásios. Daí a breve e significativa diferença.
Voltemos a Penang.




Kek Lok Si: O maior templo budista da Malásia
Se você sentiu falta do budismo nesse pot-pourri de religiões aí acima, nada tema. Aqui em Penang fica o maior templo budista da Malásia, um esplendor de espaço nas colinas verdes dos arredores de George Town e aonde você pode ir de ônibus.
Kek Lok na língua chinesa hokkien significa “suprema alegria”. Ele é um imenso complexo com jardins, templos e pequenas lojas onde você é capaz de se perder. Como fica algo afastado da cidade, não é muito visitado — ou talvez seus visitantes simplesmente fiquem diluídos pelos amplos espaços.
São, para mim que cresci assistindo a animes japoneses, espaços que chegam a me lembrar Dragon Ball com seus jardins, templos curiosos em cores chamativas, e imagens orientais.


As nuvens ajudaram a amainar o que era um dia quente daqueles bem úmidos, de calor tropical, que quando você pega chuva e se molha, misturam-se água e suor no rosto.
Um ônibus desde o prédio Komtar — o mais alto e visível no centro de George Town — o traz até próximo daqui. O restante do caminho, uns 20 minutos por beira de pista, você precisa fazer a pé, e depois subir as escadarias até o templo no alto.

A umidade era como nas partes tropicais do Brasil. O odor das frutas se fazia presente desde o outro lado da rua. Era quase como se você pudesse dizer, pelo nariz, o que havia nas barracas.


Quando você chega ao Kek Lok Si, é uma paz. Se você acredita em energia no ambiente, tenha por certo que este é um lugar especial. Você tem vontade de ficar, sentar, respirar e passar o dia.



Aqui fiquei, circulei, parei, tomei algo leve na lojinha, adquiri souvenirs, e — sobretudo — curti o astral tranquilo do lugar.
Você vê essa Ásia muvucada, por vezes pobre aqui nestes trópicos, e pode (mal) julgar que sejam ambientes tensos. Não são. Há um quê povão, sem dúvida, e certas limitações materiais como a ausência de calçadas, mas são lugares tranquilos apesar do auê. As imagens não me deixam mentir.
Se você gosta de budismo, pode ver ainda os templos tailandês e birmanês que eu visitei aqui em Penang na minha vinda anterior à ilha.
Arte de rua: a Penang fotogênica
Penang quase toda é fotogênica, diga-se a verdade, mas digamos que há áreas feitas conscientemente para as fotos.
Dentre tantas outras coisas, as ruelas de casario histórico baixo de George Town são notáveis por seu graffiti nas paredes. A cada ano há ilustrações novas. Eu já havia feito uma postagem toda dedicada a isso antes, mostrando algumas das mais famosas aqui, e ao voltar desta vez encontrei outras novas que ainda não conhecia.




Penang tem um quê disso, esta mistura do asiático pop turístico com o tradicional colonial multicultural.

Os tradicionais Clan Jetties de Penang
Os chineses que se instalavam nos séculos passados vinham muitas vezes em família. Não foram homens aventureiros nem empresas reais como nos casos dos ibéricos ou ingleses, mas geralmente famílias comerciantes.
Essas famílias, por sua vez, organizavam-se em clãs com uma origem comum em certas províncias do sul da China. Eu cheguei a mostrar algo semelhante em Hoi An, no Vietnã. Esses imigrantes chineses construíram templos e centros comunitários que, em boa parte dos casos, seguem em uso pelos seus descendentes.
Aqui em Penang, eles estabeleceram também molhes junto ao mar. Se você não reconhece a palavra (eu também não conhecia), se tratam de estruturas tradicionalmente de madeira que se projetam mar adentro, com docas e às vezes também casas. Cada clã chinês aqui fez o seu. São chamados clan jetties em inglês.


Estes molhes dos clãs (clan jetties) são áreas algo pitorescas a visitar em Penang, mostrando um pouco do que era a estrutura de vida aqui séculos atrás.


Bem ao estilo da Ásia, você caminha aqui sentindo aquele cheiro de arroz cozido, vaporoso no úmido ar tropical.




Mansões de época
Se você prefere algo, digamos, mais estruturado que esses molhes dos clãs — algo de tijolo e não madeira sobre o mar — vale conferir o casario das ruas pitorescas e até algumas mansões-museus que há em Penang.
Umas voltas no centro de George Town já lhe garantem vistas do bem-conservado patrimônio arquitetônico da cidade.
São caminhadas gostosas, ademais. Sobretudo no fim da tarde, quando o calor diminui.




Se você busca algo ainda mais requintado, há várias mansões de famílias chinesas ricas e que hoje estão convertidas em museus. É cada uma mais espetacular que a outra.
Como ainda hoje por muito do Sudeste Asiático, muito da elite local comerciante nestes países já era de origem chinesa — e hoje, em grande medida, segue sendo. (Como me disse candidamente um chinês de meia-idade que conheci aqui: “A gente não se mete em política. Isso é com os malaios. A gente prefere negócios.”)



Eu cheguei a visitar Penang por mais dias, e com mais detalhes, na vinda anterior sobre a qual postei.
Desta vez, foi um reencontro.


Linda, Penang!… Autêntica, histórica, com rico legado artístico cultural, religioso, com uma bela e exemplar fusão de culturas e preservação de patrimônio histórico, apesar dos poucos recursos de que dispõe. Belos templos e monumentos, uma natureza pujante, belíssimos e ricos casarões, tudo isso em meio a dificuldades financeiras que se percebe. Um exemplo a ser seguido.
Esses templos são soberbos, magníficos. O casario é muito gracioso, e essa arte de rua, com murais populares e criativos, é um encanto. Enche de beleza os locais onde se encontram. Uma graça. Muito bonitos, alegres e coloridos.
Belíssima a arquitetura. Vistosa, elegante e bem preservada.
Espetaculares esses interiores das casas dos antigos ricos da região, assim como esses lindos templos. Uma riqueza.
Lindas essas palafitas transformadas em ruelinhas, alegres, cheias de verde, coloridas e com gente simpática. A cara dessa região. Fofinhas.
Esse templo com seu elegante Pagode é impressionante. E que natureza prodigiosa, quanto verde. Lindas paragens.
Belo templo hindu Tamil, assim como a imponente Mesquita.
Parece uma cidade cinematográfica. Lindinha.
Amei conhecer Penang