A Bélgica é um dos membros fundadores da União Europeia — e chamada pela The Economist de “o país mais estranho da Europa”.
Eles o dizem por razões político-administrativas em que não vamos entrar aqui (você talvez as experimente pessoalmente), mas também pelo caldeirão cultural que isto é. Longe de ser uma nação, aqui há duas: um mundo francófono e um mundo flamengo, da região de Flandres no norte do país onde se fala um holandês com sotaque diferente.

Usa-se o euro, as fronteiras normalmente estão abertas, e come-se bem. Nesta parte, os belgas se unem e têm consenso. As cervejas, chocolates, batatas-fritas e frutos do mar são do gosto geral aqui e, junto com o futebol, formam o que há de mais próximo de uma paixão nacional.
Ah! Junto com os quadrinhos também. Pois, como tenho lembrado nos meus posts pelo país, os belgas são os criadores dos Smurfs, de As Aventuras de Tintin e de tantos outros personagens que não nos chegam no Brasil. Eles têm um humor sui generis — irreverente, às vezes meio autodepreciativo — que contrasta com o jeito mais presunçoso dos seus vizinhos franceses, holandeses ou alemães.
Enquadrei aqui 8 cidades belgas que eu conheci pessoalmente e recomendo para turismo. Sem ordem de preferência. Afinal, elas são diferentes, embora guardem certas características comuns que você começa a reconhecer após um tempo.

1. Bruxelas
Bruxelas é a capital da Bélgica e da Europa — impossível visitar o país sem vê-la. É onde experimentar chocolates, cervejas, guloseimas outras; mas cuidado, seja seletivo sobre onde os compra. No meu post sobre a cidade eu dou os detalhes.
Eu sugiro uns 2 dias inteiros para dar umas voltas boas aqui: ver em detalhes a sua Grand Place, o Museu da Cidade de Bruxelas, o belo Parc du Cinquintenaire, e outros.
Hospede-se perto da estação Brussel Centraal / Bruxelles Centrale, nas vizinhanças do centro histórico, e poderá ver quase tudo a pé. Vale a pena estar bem localizado. (Os hotéis próximos à estação sul, ou Midi, são melhores para quem viaja aqui a negócios.)
Alguns escolhem permanecer mais tempo em Bruxelas, e a partir daqui fazer bate-e-volta às outras cidades belgas. Tudo bem, mas — aqui entre nós — eu recomendo você pernoitar nelas outras também. Você verá por que.

2. Antuérpia
Antuérpia é a segunda maior cidade do país. Ao contrário da francófona Bruxelas, Antuérpia pertence a Flandres — a metade norte da Bélgica onde se fala uma variante do holandês, o que eles aqui chamam de língua flamenga. (O bairro e o time no Rio de Janeiro advêm de navegantes flamengos que aportavam por lá.)
É uma cidade reconhecidamente menos turística que Bruxelas, mas ela tem suas belezas: casario de época dois séculos XVI-XVII, lugares gostosos onde se sentar para tomar algo no centro histórico (venha de preferência entre maio e setembro!), o belo museu com a casa e obras do pintor renascentista Pieter Paul Rubens (1577-1640), e também uma arrojada arquitetura contemporânea nesta cidade que tem o segundo porto mais movimentado de toda a Europa.
PS: Demore-se um pouco em Antwerpen Centraal para apreciar também aquela que é tida como uma das mais lindas estações ferroviárias do continente. Detalhes no meu post na cidade.

3. Bruges
Esta é famosa, e provavelmente dispensa grandes apresentações. Só veja — com obviedade aqui — o porquê de pernoitar em vez de fazer Bruges como um bate-e-volta a partir de Bruxelas. (A cidade fica bem mais pacata e aconchegante depois que vai embora o pessoal que vem só passar o dia.)
Bruges é das raras cidades europeias que desafiam Paris e Veneza como destino romântico na Europa. Ela é diferente daquelas mais famosas: mais quieta, mais reservada, mais aconchegante talvez. Sobretudo à noite, quando o grosso dos turistas vão embora e a cidade fica pacata mesmo num esplendor de junho, pleno fim de primavera e começo de verão aqui.
Sobre Bruges você lê (e a vê) em detalhes na minha postagem lá. Imperdível. A cidade toda é linda, e vale a pena se perder nela. Faça um passeio de barco pelos canais, e se você gosta de arte de época não deixe de ver o espetacular Groenigemuseum com pinturas da Renascença flamenga.
(Mínimo de 1 noite aqui, eu diria. Mas se você quiser um ritmo mais leve, passe duas.)

4. Gante
Gante — ou Gent [rhent], que é seu nome original e como os belgas flamengos a chamam — é a irmã que costuma vir junto com Bruges no roteiro.
São ambas de uma mesma época, do período medieval de apogeu econômico destas terras nos idos de 1200-1500. Elas têm uma textura parecida, e são ambas encantadoras.
Porém, Gante é bem maior que Bruges. Tipo o dobro do tamanho e o quádruplo da população. Você verá.
Isso significa que Gante tem mais atrações e merece também mais tempo. Eu recomendaria, francamente, umas 2 noites aqui (ou até 3 se você quiser ir devagar). Para visitar o Gravensteen (medieval castelo dos antigos Condes de Flandres), passear pelos canais, visitar as igrejas, e ver seu impressionante campanário. São também muitas as praças adoráveis de Gante. Vale a pena.
É provavelmente a minha cidade preferida na Bélgica. Detalhes na postagem de lá.

5. Leuven
Leuven, outra cidade do medievo do flamengo norte da Bélgica, talvez seja mais conhecida nos países latinos por seu nome em francês — Louvain. (Não confundir com a cidade universitária Louvain-la-Neuve.)
A Leuven velha é uma cidade pacata, que costuma estar fora das rotas turísticas, mas repleta de belezas e peças históricas. Você tem essa espetacular prefeitura no estilo gótico brabantino — todo enfeitado, típico deste antigo Ducado de Brabant, que é como esta terra era conhecida durante a Idade Média. (Hoje, é nome de província.)
Há também um agradável beguinário (begijnhof) medieval, um pacato e tradicional bairro de mulheres religiosas solteiras. É algo semelhante ao que você encontra em Bruges, Haarlem ou Amsterdã, mas aqui bem maior.
Se ainda não terminei de convencer alguém, concluo dizendo que aqui fica a sede da cervejaria da Stella Artois, que é belga. Tours guiados nos sábados à tarde. Detalhes da cidade na postagem lá.
(Louvain você pode fazer tranquilamente num bate-e-volta desde Bruxelas sem remorso. É pequena.)

6. Tournai
É verdade que o grosso das cidades turísticas belgas estão no seu norte, na metade flamenga (Flandres), mas eis Tournai para dizer — alto lá! — que venham também à parte francófona.
A Valônia, como é conhecida a metade sul da Bélgica, que fala francês, compartilha da mesma cultura de cervejas e chocolates — mas com um toque gaulês que a assemelha da vizinha França. Parte destas terras já foi domínio dos “Luíses”, reis franceses na Idade Média, e você ainda vê as suas marcas.
É outra cidade que você pode fazer como um bate-e-volta (1h10min de trem) a partir de Bruxelas.
Prepare-se para muitas igrejas medievais góticas, esplendorosa arquitetura de época, e praças pitorescas onde se sentar um pouco.

7. Namur
A capital da Valônia, Namur, nos traz literalmente ao terreno das cidades belgas belamente banhadas pelo rio Mosa (la Meuse, como eles aqui o chamam). É o mesmo rio Maas, em holandês, que mais adiante vai cruzar — e dar nome — a holandesa Maastricht.
Na confluência de dois rios, Namur tem uma cidadela elevada de onde ter excelentes vistas. Há uma igreja jesuíta de impressionar qualquer cristão ou não-cristão, e um centrinho aconchegante onde comer algo no seu Marché aux Légumes — como é chamada a praça principal.
Aqui, eu diria, vale a pena se deter ao menos uma noite. Não deixe de ver o entardecer do alto da Cidadela de Namur. Detalhes na postagem lá.

8. Huy
Huy é outra das cidades belgas que eu visitei seguindo o curso do rio Mosa — ainda na Valônia, na parte francófona, que transfere o rio diretamente à Holanda sem passar pela metade norte da Bélgica.
Huy é pitoresca, fofinha, e pequena. Um meio dia aqui é suficiente para você buscar o que há hoje das suas quatro maravilhas, uma seleção de atrações da cidade feita ainda na Idade Média por pessoas da época.
Ela fica no exato meio do caminho entre as cidades maiores de Namur e Liège. Pode ser um bom bate-e-volta breve desde Namur se você se hospedar por lá.

Considerações Finais sobre a Bélgica
Aqui foram 8 cidades belgas a conhecer — as minhas favoritas até o momento. Não quer dizer que sejam as únicas; são lugares aonde eu fui pessoalmente para atestar e contar o que vi. Há ainda outros lugares que visitei, como Waterloo (o campo da última batalha de Napoleão), e outros que ainda preciso conhecer, como Dinant e Mons. Recomendações adicionais são bem-vindas!
Todas as cidades da Bélgica ficam a curta distância de trem uma da outra, e na Bélgica você não precisa adquirir passagens online antecipadamente. O preço não varia. Você pode adquirir todas as passagens direto nas máquinas na estação à hora da partida — e tampouco é necessário validá-las, basta ter os bilhetes no bolso. É tudo muito prático.
Quando puderem, estão recomendados a vir agradar os olhos e a língua por aqui.
Gostei de todas. Adorei conhecê-las. Só conheço um pouco Bruxelas. São todas lindas, fofas e deliciosamente encantadoras. Parecem saídas de filme de época. Obrigada pelo passeio. Amei. Pretendo visitá-las. Fiquei agradavelmente surpreendida pela Bélgica, suas belezas e história. Não a sabia tão interessante.
Eu moro em Huy faz 2 anos e sou apaixonada pela monha cidade “vila” fico feliz em vê la em um post assim com tanto destaque!!! Parabéns Belas fotos!!!