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Austria

Conhecendo Graz, segunda maior cidade da Áustria, e o Palácio Eggenberg

Graz é uma daquelas cidades austríacas que raramente aparecem nos roteiros turísticos. Ainda assim, é a segunda maior cidade da Áustria — e, quem diria, um lugar encantador.

Nem sempre cidades grandes são charmosas, mas Graz é as duas coisas. De quebra, o seu centro histórico e o Palácio Eggenberg que mostro aqui são tombados pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade. Não é pouca coisa.

Capital da região austríaca da Styria, no sul do país, ela fica a algumas horas de Viena e mais próxima da vizinha Eslovênia. São muitos, por sinal, os eslovenos aqui e você os escuta passar na rua.

Aviso-lhes, desde já, que há um bocado de lugares a ver aqui. Duas ou três noites são bem passadas, a depender do seu ritmo. De preferência, entre maio e outubro — é claramente uma cidade melhor no verão. Só tome cuidado com as bicicletas no centro.

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Graz é capital da província austríaca da Styria, e segunda maior cidade do país (após a capital Viena).

Quem é Graz?

Região administrativa aqui na Europa, quase sempre, indica também uma identidade regional distinta. Portanto não desconte a Styria como um mero nome burocrático — os austríacos se referem a ela como um lugar particular, e você não cansa de ver “Culinária tradicional Styriana” e afins em placas aqui na rua.

Os falantes de alemão chamam esta região de Steiermark, uma tradução do que seria o latino para “marca da Styria”. “Marca”, como já comentei em outros posts, refere-se às regiões fronteiriças do império. Foi um conceito empregado inicialmente pelo Império Romano, depois pelo Sacro-Império Romano Germânico, e utilizado até recentemente na História europeia. Punham-se ali, naturalmente, pessoas da mais alta confiança — capazes de defesa e que não fossem se bandear para o lado dos inimigos externos.

A Styria aqui fazia fronteira do Sacro-Império Romano Germânico com os húngaros, que invadiram a Europa no século IX, e mais tarde com os turcos otomanos, que fariam o mesmo a partir do século XIV — chegando a sitiar Viena por duas vezes, em 1529 e 1683.  

Mapa Regioes da Austria
Eis as regiões da Áustria. Note a Styria, grande, ali em rosa, com sua capital Graz no centro. Note as Alta e Baixa Áustria, assim como a província de Burgenland, que mostrei no post anterior em Eisenstadt. Eram regiões distintas no Império Áustro-Húngaro que no século XX se tornaram províncias austríacas.

Graz prosperou, portanto, como uma cidade barroca no bojo imperial dos Habsburgo. Você hoje vê isso, e é em grande medida por esta autenticidade — e beleza — arquitetônica que a UNESCO lhe conferiu o título de Patrimônio.

Uma mistura harmônica de estilos arquitetônicos e movimentos artísticos que se sucederam da Idade Média até o século XVIII, das muitas regiões adjacentes das Europas Central e Mediterrânea“, sugere o conselho da organização.

Bata o olho e veja se não é verdade, para então darmos umas voltas e ver em mais detalhes o que há ali.

Coloridos e vida no centro de Graz
Os recantos no centro histórico de Graz.
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A arquitetura. (Está percebendo esta brisa de mar chegando aqui desde o Adriático?)

Graz ficava no que era a estratégica rota comercial terrestre entre Veneza e Viena. Lugar bom de estar.

Claramente, vinham influências artísticas juntamente com os produtos.

Flores e venezianas no centro de Graz
As flores, e as janelas venezianas aparecendo aqui na Europa Central.
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Recantos, moça passeando com seu cachorro no centro, e ali adiante um prédio administrativo de Graz do século XVI. (Mostrarei ele melhor já já.)

Chegando a Graz

A comida tipicamente austríaca consiste em batatas ou massas fritas acompanhadas de carne, então se ofendam que eu tenha optado por um almoço indiano antes de sair da estação ferroviária de Viena. A estação central da cidade tem uma abundância de lugares onde comer barato, de umas cinco ou mais culinárias diferentes.

Chegando, à tarde, após algumas horinhas de trem, desembarquei em Graz no que é o prédio artisticamente sem-sal (ainda que bem funcional) da sua estação. Claramente, nasceu e cresceu após o zênite artístico dos Habsburgo — é uma construção moderna ordinária.

A estação de Graz fica algo afastada do seu centro histórico, uns 20 minutos de caminhada que você faz numa vibe completamente distinta da que vos mostrei acima.

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Graz Hauptbahnhof, a estação ferroviária central da cidade. Prédio pouco digno de nota.
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Para não dizer que não mostrei a minha comida indiana, eis aqui o saboroso palak panir do dia. (Molho de espinafre bem condimentado com cubos de queijo branco indiano, acompanhado de arroz.)
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Rua da estação de Graz para o centro. Você até nota o esforço em empregar as mesmas cores em tons pasteis da arquitetura barroca centro-europeia nestes prédios do século XX, mas falta brio.

Eu, em verdade, fui lembrado das ondas de refugiados islâmicos vindos pelos Bálcãs ao caminhar por aqui. Vendas turcas de frutas em caixotes davam o tom nas calçadas, afora as lanchonetes de kebab (aquela carne girando) e o comércio visivelmente voltados para imigrantes (ex. transferência de dinheiro para país X ou Y). Homens morenos como eu, embora mais velhos, conversavam entre si em línguas que eu nem sempre identificava qual era.

Senhoras e moças, pálidas e vestidas em ares modestos, passavam também ao meu lado falando o que me pareceu ser esloveno. Em 10 minutos ali, eu acho que ouviu umas cinco línguas, o alemão aí incluso. Misturavam-se as pessoas louras eslavas ou germânicas e as mulheres de véu na cabeça e sandália árabe no pé.

Eu, passarinho, cheguei ao meu hotel enquanto eles todos passavam. Lá, fui atendido naquela tarde quente de verão por um recepcionista que claramente não havia tomado banho naquele dia — um branco senhor gordo de camisa desabotoada até o peito e, no linguajar da minha avó, cara de beberrão. Era simpático, todavia. Arranjou-me, e eu fui dar com as pernas pela cidade.

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Graz tem o seu lado humilde, e eu o respeito, mas a cidade gradualmente fica mais agradável aos olhos conforme você se encaminha para o centro histórico — de um tempo de mais dinheiro.
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A caminho do centro histórico de Graz. (Cuidado com as bicicletas.)

Passa um rio aqui em Graz, um que você talvez desconheça: o rio Mur, que mais adiante faz a fronteira da Áustria com a Eslovênia e, a seguir, da Croácia com a Hungria. Lá, naquelas belas terras de conflituosas pessoas onde o Danúbio é a fronteira da Croácia com a Sérvia, as águas do Mur se juntam às demais a formar o que esse povo tem em comum.

O Mur é relativamente pequeno — sobretudo para os nossos padrões brasileiros — mas não deixa de embelezar a vista. Você logo avista a alta Torre do Relógio, símbolo de Graz da Idade Média, na colina. O centro histórico propriamente dito fica à outra margem do rio.

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Passei pela Kunsthaus Graz, um museu de arte contemporânea cá ainda na margem menos histórica do rio.
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A faixa de pedestres colorida para atravessar. Não que o arco-íris tenha sido apropriado, mas aqui claramente é para simbolizar a diversidade de orientações sexuais e aceitação do amor em múltiplas formas.
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E, falando em amor, não faltam dos típicos cadeados na ponte aqui, postos pelos enamorados em juras de amor eterno. (Conheço quem, nestes tempos de modernidade líquida, veja esses cadeados com pavor, e ache a ideia perturbadora. “E se não der certo?“, indagou-me certa vez uma amizade.)

Você chegou a ver a Torre do Relógio lá no alto? E se subirmos até lá?

Neste dia, eu me lembrei da amiga que ano passado disse que eu ficaria com pernas de estourar melancia entre as coxas, de tanto subir escadas. Depois de um tempo parado, estou novamente em vias de. São algumas centenas de degraus até o alto da colina de Graz, mas vale a pena — sobretudo ao fim da tarde. (A quem não quiser ou não puder, há não um mas dois funiculares para você escolher.) 

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Andiamo lá para cima pelas escadas. Não é tão alto assim.
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Pernas, pra que te quero.

A Torre do Relógio e a Colina do Castelo (Schlossberg) de Graz

O castelo, eu preciso dizer-lhes desde já, não é mais. Ponham esta na conta de Napoleão. 

Quando o conquistador francês invadiu o império dos Habsburgo, no tratado de rendição (o Tratado de Schönbrunn de 1809), exigiu a demolição destas estruturas de defesa do que era uma fortaleza na colina aqui da cidade de Graz. A população clamou que, pelo menos, poupasse a sua Torre do Relógio, histórico símbolo da cidade originalmente do século XIII. Napoleão aquiesceu — mediante um pagamento que os moradores de Graz organizaram-se para fazer ao francês.

A torre foi poupada. Hoje, a colina é um agradável parque público, onde você ainda encontra resquícios e um museu sobre a fortaleza que aqui havia, mas um lugar onde as pessoas vêm sobretudo passear em meio ao verde e com belas vistas para a cidade de Graz.

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A vista que se vai ganhando de Graz conforme se sobe a colina Schlossberg.
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Lá no alto, a Torre do Relógio (a Uhrturm). Inicialmente instalada pelo menos no século XIII (se não antes), ela foi ganhando aos poucos aquelas estruturas adicionais em cima.
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A ampla fortaleza que se construiu aqui no século XVI, mas que não é mais. Ela não foi conquistada, mas Napoleão derrotou a Áustria e mandou demolirem.
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Restaram pedaços e estruturas que hoje constituem um museu cá no alto — mas o melhor do lugar mesmo são o parque verde e suas vistas.
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Vista para Graz lá embaixo.

Eu circulei por ali, bebi água nas fontes gratuitas de água potável que há, e e por um momento me senti no Sul do Brasil.

A estrutura de madeira da Torre do Relógio me lembrava Gramado, embora devesse ser o contrário: as emulações mais jovens de Gramado é que deveriam me lembrar das originais aqui da Áustria.

Um homem louro com vestes simples e aspecto interiorano tocava um acordeon que me fazia lembrar Gaúcho da Fronteira ou algo lá do interior da Região Sul. Era curioso.

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Com a a Torre do Relógio (a Uhrturm) aqui de Graz, na Áustria, tomando um sol da tarde lá em cima.

Arquitetura e armorial — e sorvete — no centro histórico de Graz

Sim. Sorvete, senhoras e senhores. Sorvete é vida.

Foi descendo da colina que eu encontrei a Eisperle, a sorveteria que é paixão em Graz. Acontece de ser vegana. Melhor sorvete de framboesa que já tomei na vida, talvez.

Eles têm desses sabores que, na minha experiência, você só encontra na Áustria, como semente de abóbora torrada (é uma delícia! Você não deve deixar de experimentar). Há várias filiais da Eisperle espalhadas pelo centro da cidade.

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Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, este meu sorvete de framboesa. Abaixo, verde, é o sorvete de semente de abóbora torrada. Só experimentando — não há muito como explicar. Morda um caroço de abóbora, e imagine aquele óleo vegetal um pouco torradinho. É gostoso! Quintessecialmente austríaco. (A propósito, você encontra óleo de semente de abóbora às garrafas em qualquer supermercado austríaco, se lhe interessar adquirir.)
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Olha que simpatia. A sorveteria ali, com as pessoas a fazer fila do lado de fora, ainda pela Covid.

Foi ali que eu aprendi que, na Áustria, a casquinha de biscoito (Waffel em alemão) é em vez disso chamado de tüte. Olha que fofo? (Mais fofo que isso só a sorveteira pronunciando… )

Mas eu falei que trataria de arquitetura e armas (históricas) aqui no centro de Graz.

No centro histórico de Graz, cada esquina é um flash. A bela arquitetura barroca reconhecida pela UNESCO está por toda parte.

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Ótimos lugares onde se sentar para tomar algo no centro.
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A ampla via pedestrianizada Herrengasse, artéria no centro de Graz.
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A Herrengasse.

Neste prédio aqui, à vossa esquerda na foto acima, temos um grande complexo que alberga o maior armorial histórico do mundo assim como grandes floreios de arquitetura.

Os floreios arquitetônicos você encontra por uma passagem que o leva a um pátio interno do prédio onde funciona hoje em dia algo do governo da Styria.

Já o armorial da Styria (Landeszeughaus) é um pequeno museu que preserva mais de 30.000 itens acumulados pelos nobres daqui nesta região fronteiriça. Lembram que eu falei que a Styria ficava à fronteira com o Império Turco Otomano?

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Naquela rua, você entra por um beco e chega a este pátio interno do prédio ricamente elaborado…
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… o chamado Landhaushof, que abriga o Parlamento Regional da Styria em Graz.

Já o armorial é para quem tem uma quedinha por armamento “medieval”. Entre aspas porque, na real, são armaduras e armas do início da modernidade, dos séculos XV ao XVIII. Coisas que associamos à Idade Média, mas que seguiu sendo usadas em variações mais novas.

Era preciso poder armar rapidamente os homens em caso de ameaça dos turcos. Foi essa a tônica desta zona fronteiriça entre cristãos e muçulmanos, centro-europeus e turcos, por bem meio milênio — desde os idos de 1400, com a conquista otomana dos Bálcãs, até a Primeira Guerra Mundial.  

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Armaduras de aspecto medieval, mas que a esta altura já eram testadas na sua capacidade de resistir a bala de arcabuz.
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Alabardas, escudos, e toda sorte de armamento antigo — que no Brasil as pessoas conhecem mais pelos jogos de RPG que pela vida real. São 32 mil itens aqui conservados, no que é o maior armorial histórico do planeta.
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Espie. Há, de quebra, ótimas vistas para o prédio do parlamento regional da Styria pelas janelas dos andare mais altos do armorial.

A cidade, é claro, muito mudou após esse esplendor barroco cujo apogeu foi o século XVIII.

No século XIX, houve uma sobrevida — aqui que o gosto amargo das derrotas para Napoleão estivessem aí, e tivesse reduzido os domínios dos Habsburgo. Napoleão, contudo, foi vencido, e o problema principal aos austríacos foi assistir à ascensão da Prússia (Berlim) como potência centro-europeia preponderante.

Viriam as guerras mundiais, a dissolução do Império Austro-Húngaro com a sua derrota já na Primeira Guerra, e aquele ambiente de começo do século XX que conhecemos através dos filmes e imagens.

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Fotografia de Graz na primeira metade do século XX, não sei exatamente de que ano.
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A mesma rua hoje com as luzes no século XXI. (Note, dentre outros, que os carros velhos deram lugar às bicicletas.)

Ali ao fim da rua, o edifício belo que você vê é nada menos que a Prefeitura de Graz — outro belo exemplar da sua arquitetura.

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A praça principal de Graz com sua prefeitura ao fundo e, aqui à frente, um conjunto de estátuas homenageando o Arquiduque João Batista José Fabiano Sebastião da Áustria — ou Johann Baptist Joseph Fabian Sebastian von Österreich, um Habsburgo regente imperial no século XIX. (Os múltiplos nomes são mais uma característica católica que exclusivamente ibérica, a saber.)

O Palácio Eggenberg

Eu não posso ainda fechar a postagem sem antes tratar do Palácio Eggenberg, que fica a 3 Km do centro — o que à época ficava fora da cidade, e que hoje é num bairro dos seus arredores, uma lépida caminhada de seus 30-40 minutos.

Ele pertenceu à família dos Eggenberg, e — além de fazer uma bela visita — reserva a história interessante de uma família burguesa rica que resolveu que queria ter um palácio.

Eu comentei antes que Graz floresceu como entreposto comercial na rota entre Veneza e Viena. Uma dessas famílias de mercadores foram os Eggenberg, que ficaram ricos a ponto mesmo de “emprestar” dinheiro ao imperador (entre aspas porque ele nem sempre devolvia).

Os Habsburgo, sempre cheios de pompa e envolvidos em guerras, gastavam mais do que tinham e precisavam de auxílio da emergente burguesia.

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Chegando à propriedade.

O que os Habsburgo podiam oferecer ao seu bel-prazer em retorno aos auxílios financeiros eram títulos de nobreza, e assim foi.

Balthasar Eggenberger (†1493), chefe da família no século XV, ganhou estas terras, construiu uma primeira morada aristocrata aqui, e chegou mesmo a virar mestre imperial das finanças — uma espécie de ministro.

Balthasar, porém, roubava descaradamente. Misturando cobre às moedas de prata para que sua confecção lhe saísse mais barato. (Fosse português, o viralatismo brasileiro já estaria a dizer que só podia ser coisa latina.) As pessoas acabaram por descobrir, a rejeitar suas moedas, o que levou Eggenberger a fugir para Veneza com grande quantidade de dinheiro.

Foi apreendido, mas depois acertou-se com o imperador e lhe permitiram voltar. Ele depois se meteria em outras enrascadas, e sua propriedade estava consolidada. No século XVII, o seu bisneto — agora já com o charmoso nome de — Hans Ulrich von Eggenberg ordenaria a construção do palácio barroco que visitamos hoje.

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O Palácio Eggenberg segue autêntico do modo como foi erigido no século XVII. Não há, por exemplo, até hoje eletricidade — o que significa dizer que, como tampouco há calefação, o Palácio só está aberto a visitas nos meses quentes do ano (de abril e outubro).
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O barroco Palácio Eggenberg, hoje um museu.

Este museu inclui várias alas distintas. Há uma coleção numismática (de moedas) dos Eggenberg, a chamada Velha Galeria (Alte Galerie) com obras de arte da Idade Média, da Renascença, e do período barroco acumulados pela família, e — o principal — os chamados Salões de Estado (state rooms) onde estes burgueses convertidos em nobres recebiam os seus convidados.

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Pátio interno do Palácio Eggenberg em Graz.

Os Salões de Estado são, de longe, o que de mais belo há no palácio. Infelizmente, fotos não são permitidas no grosso do seu interior. Posso dizer-lhes que é uma riqueza de lustres, pinturas, e acabamento barroco ou, em algumas partes, rococó. 

Há uma câmara só com sedas pintadas mostrando a Osaka do século XVI — o que o guia disse atrair muitos turistas japoneses aqui — e coleções de porcelanas, que aprendemos que vinham da Ásia sem quebrar porque eram mergulhadas na manteiga. Nunca me havia ocorrido isso. (Você agora já sabe como proteger os seus itens frágeis durante viagens longas.)

Tudo isso era para impressionar as visitas. Havia mesinhas onde as damas bebiam chocolate — a bebida da vez à época, ainda antes do café tomar espaço. O costume de beber café já havia chegado à Europa, mas não eram todos que o apreciavam. Ele ainda não estava ultra-disseminado, como viria a ficar nos tempos da Viena de Freud, na virada do século XIX para o XX. Bebia-se chocolate quente com água, porém. Agregar leite seria ideia dos suíços mais tarde.

Como Luís XIV, na França (referência das realezas de toda a Europa), instituíra o ritual público de receber alguns convidados de renome direto da sua cama (le cérimonial du lever du roi), os Eggenberg fizeram o mesmo. Não queriam ser vistos como antiquados, que não se adaptam aos bons costumes — mas tampouco queriam receber gente da cama. Então arrumaram uma cama de fachada onde ninguém dormia, mas de onde (sentados ao lado do leito) recebiam certos convidados mais distintos.

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Uma palhinha da riqueza que é o interior das salas de estado do Palácio Eggenberg.

Você há de imaginar o tanto que se gastava com velas para iluminar todo este lugar à noite. Não havia eletricidade e, como lhes disse, segue não havendo.

Segundo o guia, gastava-se frequentemente 25% das despesas da casa com vela (!). Isso é porque as velas comuns da época eram feitas com banha de porco — barato, mas dura pouco, fede a gordura queimada, e empretece tudo com a fumaça.

Os Eggenberg não se prestariam a isso. Pagavam para ter velas de cera de abelha — que contudo são amareladas, e a aristocracia europeia da época gostava de tudo branco. Gastavam, portanto, para branquear a cera com arsênico (o que depois se descobriria fazê-las tóxicas, mas isso não se sabia à época).

Tá achando que a vida é fácil? Se a sua estiver fácil, é possível alugar este espaço aqui para casamentos. (Não me perguntem quanto custa.)

Para algo mais ordinário, você pode fazer como eu e visitar aqui o Palácio como turista (somente de abril a outubro). Pagam-se 2 euros para entrar na bela área dos jardins, e depois outros 14 para o tour guiado — única forma de visitar os salões do palácio. O site oficial dá os horários gerais dos tours, mas sem especificar o idioma. Os em inglês são às 11h e 15h. No mais, é em alemão. (Não há português nem espanhol.)

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A Velha Galeria (Alte Galerie), museu de arte com as obras da família numa outra seção do Palácio Eggenberg. (O ingresso inclui acesso a tudo.)
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Uma das muitas obras de época na galeria, esta aqui do século XIV. Autoria desconhecida.

Guarde o seu ingresso se vier cá ao Palácio Eggenberg, pois ele vale por 24h para vários outros museus regionais da Styria, incluso aí o armorial que mostrei antes.

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Assim eu encerrava minha visita a esta bela cidade austríaca que desconhecia.

Graz se mostrou uma linda cidade barroca com seu centro histórico de casario colorido e enfeitado, típico do século XVIII. Muito pitoresca e também animada no fim do dia. Se você quer sair à noite, melhor se hospedar bem no centro — do outro lado do rio ou perto dele. (A área entre o rio e a estação ferroviária é meio decaída.) Novamente, é uma cidade melhor de visitar no verão, quando Eggenberg também está acessível.

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Arquitetura barroca no centro de Graz.
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As vias da cidade…
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Transporte público elétrico de qualidade e pedestres. Cidade no século XXI.
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Graz, Áustria.
Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

3 thoughts on “Conhecendo Graz, segunda maior cidade da Áustria, e o Palácio Eggenberg

  1. ihhh!… Que fofura essa cidadezinha. Parece cinematográfica ou de brinquedo. Parece feira de madeirinha pintada, saída de algum joguinho medieval. Lindinha. Apaixonante.
    Belissimo esse casario, de lindos tons, delicioso estilo, elegante, artisticamente decorado, com belíssimos motivos, recortes, floreios, pinturas, janelas, balcões, lindos arcos compondo charmosas avenidas. Um encanto. Seus belos tons enchem os olhos. Que belo estilo. Uma graça o complexo histórico.
    Adorei os belos recantos e ruelinhas, lindas, as mesinhas do lado de fora que tanta graça trazem, as pracinhas com seus floridos canteiros. Tudo parece saído do pincel de um pintor divino.
    Lindo seu relógio. Magnificos seus prédios públicos, imponente e belo palácio/museu, espetacular sua prefeitura. Que maravilha. Estilo pujante de grande beleza e arte. Um espetáculo de cultura, arte e história que deixa o visitante enlevado. Linda. Parece uma pintura de tão bela. Muito bem cuidada, toda arrumadinha, uma gracinha.
    Amei conhecer Graz, Uma GRAZÇA. hahaha. Que linda que a Austria é.
    Sua amiga aqui só conhece a capital e Innsbruck, no Tyrol.
    Obrigada , jovem amigo viajante, pela viagem virtual. Amei.

  2. História interessante.
    Esse Palácio é um esplendor.
    A arquitetura tem semelhanças com aquela de Innsbruck capital do Tyrol.
    Lindas venezianas, belíssimos pátios, mimosas flores, lindo piso das ruelas. Uma gracinha o Centro Histórico.
    Famosa essa marca Singer. Na casa dos meus pais havia uma bela máquina de costura com essa marca. Muito boa e bonita. Tinha um lindo gabinete de madeira decorada, com tampa. Pés de uma liga de metais e maquinário também. Era de pedalar. Era da minha tia e madrinha. Apareceu no Brasil no pós guerra.
    Gostei muito da faixa de pedestres colorida, como também da região do Museu de arte Contemporânea.
    Os seres humanos e seus deslizes, aqui, ali e alhures.
    Esse sorvete está tremendamente bonito e com cara de saboroso, assim como aquele belo prato indiano. Amo comida indiana.
    Que horror essa forma de iluminação com branqueamento com arsênico. Jesus.
    Que mau gosto essa moda de atender visita na cama hahaha com cara de sono hahaha Jesus e com trajes menores. Olhe que esses ricos tem cada mania. Como diz uma amiga, “só Jesus na causa “, hahah Gostei da pseudo cama hahah
    Belíssimo esse céu da Áustria. Parece o do NE do Brasil em belos dias de Primavera ou de Verão.
    Linda visita, deliciosa postagem, fofa a cidadezinha. Valeu

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