Salzburgo é um encanto. No verão, então, ganha um oxigênio alegre que não possui no inverno. Ei-la aqui portentosa com seus monumentos — ou igrejas, torres e fortalezas que, de tão grandes e monumentais diante de ruelas do centro antigo, viram monumentos.
Embora Salzburgo seja apenas a quarta maior cidade austríaca (atrás de Viena, Graz e Linz), está entre as primeiras em matéria de interesse turístico. Aqui nasceu Mozart, sobre quem eu já tratei em detalhes na minha visita anterior até aqui no inverno.
Hora de retornar no verão. Esta era já a minha terceira vez em Salzburgo, quando eu finalmente subiria à Fortaleza Hohensalzburg na colina.
Mais de dez anos depois de vir aqui pela primeira vez (num longínquo verão do meu primeiro mochilão na Europa) e ter ficado na vontade, eu finalmente realizaria meu desejo. Não desapontou.

Salzburgo, o sal, e o arcebispo
Não sei se isso algum dia lhe passou pela cabeça, mas o nome “Salzburgo” vem mesmo da palavra sal. Salis Burgium se dizia em latim, o burgo do sal, por onde passava muito do precioso sal rio abaixo.
Os romanos antigos já tinham um municipium aqui desde 45 d.C. Como vocês sabem, o sal era essencial à preservação de alimentos, e portanto um produto muito quisto. A palavra “salário” também vem de sal, pois se podia receber pagamentos no precioso material branco em vez de em metal.
Na Idade Média, em 1077, faria-se aqui a Fortaleza Hohensalzburg como residência do arcebispo, manda-chuva da região.
Isso porque o Arcebispado de Salzburgo era uma entidade também política dentro do Sacro-Império Romano Germânico. Como ocorria em outras partes do império, aqui o eclesiástico também era o poder temporal.

Chegando a Salzburgo
Vir a Salzburgo costuma ser melhor de trem. Seja chegando de avião a Munique ou a Viena, você em poucas horinhas está aqui.
No meu caso, eu já estava na Áustria, em Linz, e o caminho era curto.
Meu problema foi dormir demais no hotel, e quase cometer aquele pecado capital de perder a hora do café da manhã. Cheguei às pressas antes que acabasse.
Fui experimentar meu alemão para dizer qual era o meu quarto e, talvez ainda com sono, devo ter falado 140 em lugar de 114. A animada moça com a prancheta franziu o cenho e fez aquela cara de “não há quarto 140”. Eu apontei no papel, ela sorridente identificou e pronunciou alto. Guten appetit!

Fazia um dia de calor considerável quando cheguei a Salzburgo. As Olimpíadas de Tóquio estavam no ar, mas a minha impressão foi a de que pouca gente fazia muito caso. Nada comparado ao Brasil, onde por vezes esses eventos esportivos esvaziam as ruas, e ficam todos religiosamente acompanhando.
Achei que havia desembarcado em Istambul, na Turquia, por engano. Casas de kebab (com aquela carne que gira), assim como gentes turcas e árabes, estavam por toda parte. Com o calor e o jeito, digamos, menos pitoresco da parte moderna de Salzburgo, achei que pudesse estar em outro lugar. Afinal, os prédios modernos de hoje não trazem identidade. Acabei me recordando mais de Erdogan que de Mozart na minha primeira hora.
Como eu aqui reencontraria amigos de longa data, alugamos um apartamento nesta parte nova em vez de ficar num hotel dentro do centro histórico. Esteja ciente de que a atmosfera das várias vizinhanças variam bastante; não ache que Salzburgo inteira é o que você vê no centro histórico.

Uma diferença muito grande com Istambul, porém, é o domingo — denunciando que estamos mesmo na Áustria.
Aqui, os supermercados geral sequer abrem aos domingos. Exceto em pontos excepcionais, como as estações ferroviárias, não espere encontrar quase nada aqui aberto. (Diferença imensa com os domingos hiper-movimentados na Turquia.) Fica aí o aviso ao pessoal que vier pra ficar em AirBnB, ou querendo economizar, e precisar comprar pão ou o que seja no fim de semana.
Eu achava que era por conservadorismo austríaco, de guardar o domingo, mas que nada: é pela força dos sindicatos, para que não se trabalhe aos domingos nem à noite. Para os funcionários, talvez seja bom. Para os visitantes, esteja alerta que — além do comércio fechado aos domingos — as lojas quase todas fecham às 18h.
No centro histórico, claro, a coisa é um pouco distinta… Bem-vindos!

Pelo centro histórico de Salzburgo
Ruelinhas apertadas e extensas fazem o charme do centrinho histórico de Salzburgo. Não é muito extenso, mas é agradável.
Há duas grandes ruas paralelas, com essas edificações bastante verticais, e cheias de passagens simpáticas escondidas entre uma e outra. Por ali, de repente, você encontra lojinhas agradáveis ou mesmo pracetas com mesas de restaurantes.
No meu caso, estando na parte mais nova da cidade, meu caminho até lá incluiu uma bela caminhada pela margem direita do rio Salz. A vista vai ficando cada vez melhor, com as igrejas e a fortaleza no horizonte.








O que mais gosto no centro de Salzburgo, em verdade, são as amplas praças que dão para igrejas monumentais e outros prédios barrocos.
Você se vê naquela amplidão, que no inverno está plena de neve, e que no verão fica repleta de ciclistas e transeuntes. Nunca enche demais, de tão amplos que são estes espaços.


Nós não entramos na catedral, pois estava tendo missa. (Você pode ver seu interior na postagem da minha vinda a Salzburgo no inverno.)
Aqui era fim de uma manhã de domingo, e era curioso observar os austríacos — sobretudo os mais velhos — saírem da igreja aos casais, em vestes tradicionais de tons verdes e marrons, de ar um tanto alpino. Mesmo minha amiga italiana, aqui da vizinhança, ficou surpresa de observar o tradicionalismo.
Iríamos, em vez disso, à Fortaleza Hohensalzburg lá no alto. À antiga morada do arcebispo que governava a região.
A Fortaleza Hohensalzburg
Subir a Fortaleza Hohensalzburg é tarefa simples — um funicular o leva e traz — mas lá no alto é preciso ter pernas para as escadarias do maior castelo integralmente preservado de toda a Europa Central.
O custo depende de o quanto você quer acessar. Se pagar um pouco mais, ganha acesso a mais áreas, como os antigos aposentos do arcebispo. Eu acho que vale a pena o all-inclusive, com acesso a tudo (16,60 euros em 2021, contra 13,30 do ingresso básico. Você pode ver os preços sempre atualizados e demais detalhes na página oficial.)
Lá no alto há onde comer, e almoçar com a vista lá de cima não é má ideia. Reserve pelo menos umas 3h para o passeio completo, eu diria.

Como eu disse no começo desta postagem, a Fortaleza Hohensalzburg era de onde governavam os arcebispos de Salzburgo. Inicialmente, por muito da Idade Média estas terras estiveram sujeitas à coroa da Baviera. A partir do século XIV, porém, ganharam autonomia e viraram uma unidade política própria dentro do Sacro-Império Romano Germânico. Os arcebispos daqui tinham, portanto, autoridade política e religiosa — o que foi comum nesse império.
É, portanto, um castelo medieval. Mas, em vez de ser de um rei, era do arcebispo. Isso duraria até 1803, com as guerras napoleônicas.
A riqueza aqui vinha do sal, que era tido como um ouro branco. Em 1191, o príncipe-arcebispo Adalberto III deu ordens de abrirem uma nova mina que estava quieta desde o tempo pré-romano dos celtas, e viria um período de grande prosperidade para Salzburgo.




Você lá no alto percorre aquele espaço ao exterior das muralhas, até chegar a um pátio interno de onde tem acesso a muitas áreas. Há uma capela na fortaleza (claro), assim como uma fortificação interna onde ficava o arcebispo, e onde se poderia ter um segundo nível de defesa caso as muralhas externas fossem trespassadas. (Isso de haver uma fortificação dentro da fortificação era habitual na Idade Média, e algo que se vê também em filmes.)





O interior da fortaleza em si é aquela miríade de corredores de pedra, escadas apertadas em espiral, e vistas. As vistas, em realidade, são o que de melhor há. Afinal, não é um palácio de luxuosos interiores (exceto pelos aposentos do arcebispo), então a sensação principal é estar naquela estrutura medieval lá no alto.



Para acessar os apartamentos do arcebispo, somente com o ingresso mais caro. Acho que vale a pena, para você fazer logo barba, cabelo e bigode.





Visitamos, circulamos, e passamos um bom tempo entre as exposições e aposentos. Há bastante coisa.
Antes de descer, resolvemos almoçar por ali mesmo pela fortaleza, o que foi uma feliz decisão. Mesmo que um pouquinho mais caro, não é tão mais caro assim que no centro de Salzburgo, e você é congratulado com esta maravilhosa vista.




Deixo vocês com algumas fotos do centro histórico de Salzburgo à noite, o que veríamos ao fim do dia com uma gloriosa lua cheia em esplendor.





Meu Deus, que bela que está Salzburgo!… Como ela fica bonita no verão!… E o rio também está muito bonito
As imagens e sobretudo as paisagens são de encher os olhos. Lindas colinas e montanhas. Belo cinturão verde e espetacular conjunto arquitetônico antigo.
O Centro histórico é lindo. Assim como seus monumentos e templos.
Bela, essa fortaleza!… Impressionante. E a paisagem, então, soberba.
Vi São Jorge na Capelinha. Salve Jorge. Ele é muito celebrado aqui no Brasil.
Gostei dessas feirinhas à margem do rio. Muito bonitinhas.
Essas fotos à noite com a lua cheia e a fortaleza iluminada estão divinas. Parecem pinturas. Espetaculares.
Bela postagem.