Schönbrunn, que em alemão quer dizer “bela fonte”, é dos principais palácios imperiais da Europa. Talvez atrás apenas de Versailles em estirpe, esta foi a morada dos Habsburgo — principal família imperial austríaca, e das mais poderosas da Europa — por séculos.
Ele não é um palácio antigo: como o próprio termo sugere, já não estávamos mais no tempo dos castelos fortificados, mas de palácios que não necessitavam mais de muralhas nem torres. A pedras fortes e bastiões deram lugar em vez disso ao luxo e à pompa.
Isso ocorre pela formação dos estados. Já não havia mais corriqueiramente a possibilidade de guerra entre uma cidade e outra, entre um senhor e outro da mesma região. Se houvesse combate, seria com o reino ou império vizinho — e esse certamente não se daria às entradas do palácio, mas nos campos mais distantes com artilharia e pelotões de infantaria.
Schönbrunn, como está hoje, é fruto sobretudo dos séculos XVIII (da imperatriz Maria Theresa) e XIX (com o imperador Francisco José). (Sim. Se os mexicanos são hoje famosos por seus nomes dobrados — Luís Fernando, Dulce Maria, e assim vai — é porque herdaram esta tradição católica de muitos nomes. Os austríacos já o faziam muito antes, e nas famílias mais abastadas, ainda fazem.)
Do que era uma mera mansão de caça para os dias e noites de verão do rei, aqueles imperadores fizeram um palácio rococó mui enfeitado, e que hoje serve como uma das principais atrações turísticas de Viena.

O Palácio Schönbrunn
O Palácio Schönbrunn hoje fica nos arredores de Viena — praticamente dentro da cidade, embora não no centro — mas este não era o caso.
Ele era, como sugeri, um retiro dos monarcas, um refúgio no bosque que contrastava com as moradas que tinham no centro da capital Viena. Você ainda hoje vê vários desses palácios mais urbanos, como o Hofburg e o Belvedere (detalhes na minha postagem sobre Viena).
Schönbrunn, em contraste, era o alojamento para as caçadas esportivas reais. Dizem que, em 1619, o arquiduque da Áustria e sacro-imperador romano germânico Matias de Habsburgo teria exclamado: “Que bela fonte!“, e o nome pegou.
O rei mandava espalhar cervos, javalis, faisões e outros animais pelos bosques nos arredores para se entreter depois caçando-os — sem o risco de voltar de mãos vazias. Era habitual entre toda a alta classe europeia da época.
Naquele século XVII, o lugar ainda serviu de residência à italiana imperatriz Leonor Gonzaga, até que no século XVIII — a partir de 1743 para ser mais preciso — Maria Theresa faria daqui sua residência principal. É muito do que se vê hoje.




Toda esta área externa merece uma boa batida de perna, sobretudo se o tempo estiver bom.
Seu cume é o chamado gloriette, uma edificação no alto de uma leve colina verde, e que hoje abriga uma cafeteria simpática — com mesas do lado de fora nos meses quentes do ano.
Construído em 1775, ele servia de salão de jantar assim como de café da manhã para o cedeiro imperador Francisco José (1830-1916). Assim foi até o fim da monarquia no começo do século XX.


Visitando o interior do palácio
Eu já havia vindo duas vezes antes a Schönbrunn, mas nunca antes visitado o seu interior. Vale a pena.
Não é complicado, mas é recomendável reservar sua entrada antecipadamente pela internet. É a tendência que estão seguindo todas as grandes atrações turísticas da Europa, diante das filas homéricas que começaram a haver há alguns anos atrás — onde às vezes se gastavam horas à espera.
No site oficial do palácio há as várias opções de visita. Eu recomendo um tour guiado a todos os que entendem bem inglês ou alemão (são as únicas línguas disponíveis).
Recomendo também que faça logo o Grand Tour, um pouquinho mais caro (mas já que você veio até aqui…), pois a parte mais bela — os salões e aposentos do tempo de Maria Teresa, do século XVIII — não estão incluídos no Imperial Tour, mais curto e mais barato.

Embora em tese o Grand Tour dure 70 minutos (1h10), o nosso levou 100 (1h40), graças às longas explicações da guia. Fomos apenas quatro pessoas (eu e uma grega família de uma senhora e duas moças), embora muitos outros houvesse com audioguia. Como prefiro ouvir a um humano que a uma gravação, recomendo o tour com guia.
Eu passarei aqui a vocês algumas das observações principais.
Lamento dizer que não é permitido fotografar na maioria das salas, então vocês terão de ir com os meus relatos e algumas imagens que pude obter.

Maria Theresa (1717-1780)
Maria Theresa foi talvez a mais poderosa mulher da Europa, e seus apartamentos em Schönbrunn são — a meu ver — a parte mais bela e interessante que há no interior do palácio.

Foi ela a responsável por fazer desta residência retirada um verdadeiro palácio imperial, o mais vistoso que os Habsburgo fariam para si.
Maria Theresa sobe ao trono com muita resistência. Afinal, não era de hábito que uma mulher assumisse o comando de uma monarquia europeia no século XVIII. Sim, os ingleses já haviam tido sua Elizabeth I (1533-1603), mas os católicos seguiam mais fielmente a chamada lei sálica — com origens na Alta Idade Média — que limitava os direitos femininos a herança e seu acesso ao trono.
Maria Theresa não quis saber disso. Seu pai, o imperador Carlos VI, a havia preparado para governar e promulgou (de modo casuístico) um édito em 1713 para que sua filha pudesse fazê-lo legalmente.
Deu em guerra, a chamada Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748) pois os vizinhos prussianos se aproveitaram para atacar, mas Maria Theresa teria um reinado firme de 40 anos. Casaria-se com Francisco I, que se tornaria co-imperador, mas todos sabiam que quem mandava era ela.

O quadro é patognomônico. Até os cachorros estão voltados à direção certa — eles que estão empalhados (taxidermizados para ser mais preciso) no Museu de História Natural de Viena, caso queira vê-los.
Você não a vê ainda neste quadro de 1754 porque ela só nasceria em 1755, mas dentre as filhas de Maria Theresa esteve Maria Antonieta, a última rainha da França cuja cabeça rolaria com a Revolução Francesa dali a algumas décadas. Mais sobre ela — que cresceu aqui neste palácio — quando eu for a Versailles, onde ela viveu.
Os aposentos de Maria Theresa são algo soturno, mas repleto de beleza. É aquela beleza barroca, escura, de tons sombrios em fortes cores de vermelho e azul ou dourado.

Quem você encontra — algo que inesperadamente, para mim que não o sabia — aqui em Schönbrunn é Napoleão II.

Ele, filho de Napoleão Bonaparte com sua austríaca esposa Maria Luísa, teve vida curta. Com a derrota de Bonaparte, ele viria a ser criado aqui em Schönbrunn com a família de sua mão e num certo isolamento. Temia-se que ele tentasse reaver o império do pai.Há
Morreu aos 21 anos, e não podia ter amigos. Seu único amigo era um passarinho, que dizem ter morrido poucas horas depois de Napoleão II.
Seu leito de morte segue aqui numa câmara do palácio, embora eu não tivesse podido fotografá-lo. Já os seus restos mortais foram restituídos à França posteriormente, por Adolf Hitler (!).
Há depois imagens dele já adolescente. Pareceu-me, no mínimo, um jovem homem triste.

Francisco José I (1830-1916)

Metade do que você vê no tour pelo interior do Palácio Schönbrunn são os aposentos reformados no tempo de Francisco José I, outro dos longevos imperadores austríacos. Foi o que por mais tempo reinou na história do país, por 67 anos.
Seus aposentos já são uma coisa mais moderna, com seus aspectos luxuosos, mas talvez por isso menos interessantes aos meus olhos que os de Maria Theresa. Quase toda a decoração é num branco-e-dourado relativamente discreto se comparada aos enfeites barrocos de outrora.
Você também vê um pouco de onde Francisco José dormia e trabalhava. Ele era notoriamente matutino: diz-se que dormia às 20h e despertava às quatro da manhã. Às 5h, já estava à escrivaninha. Era um desafio para seus serventes.


Uma curiosidade é que carregamos conosco até hoje uma marca dos Habsburgo no Brasil. O amarelo na bandeira, que aprendemos na escola que significa o ouro do país, deve-se ao casamento da austríaca imperatriz Maria Leopoldina com Pedro I. Carregamos até hoje o verde dos Bragança e o amarelo dos Habsburgo dizendo às crianças que se tratou se homenagear as matas (que desaparecem) e o ouro (que já sumiu). Sei.
Para terminar de ilustrar os laços, o último Kaiser austríaco foi exilado na Ilha da Madeira, em Portugal.
Carlos I da Áustria assumiu o trono em 1916, em meio à Primeira Guerra Mundial, após o falecimento de Francisco José já idoso. Este havia assinado a declaração de guerra da sua casa de veraneio em Bad Ischl, como lhes mostrei lá, e não viveu para ver o fim do conflito.
Com a derrota dos poderes centrais (Alemanha e Áustria) em 1918, a monarquia dos Habsburgo se desfez. O último Habsburgo a ter uma coroa na cabeça morreria lá em Madeira ainda na tenra idade de 34 anos em 1922. A família ainda existe, mas sem conservar qualquer poder oficial na atual República da Áustria.
Já o Palácio Schönbrunn segue aqui, recebendo visitas.



Uauuu… Nuestra Madre de Dios, quanta beleza!… Estou boquiaberta com esse esplendor todo. Espetacular!… Estupefacta!…Quanto luxo, riqueza, beleza e bom gosto. Uau. Que maravilha esses interiores. Meu amigo, coisa de contos de fadas. Quanta luz, quanto brilho que incríveis manifestações artísticas. Que simbologias interessantes, e que grandes artistas os pintores que retrataram esses personagens e seus domínios. Um primor.
Belíssimos esses interiores, assim como o charme do exterior com seus jardins, bosques , monumentos cheios de graça e beleza.
Um espetáculo para os olhos cheios de tanta beleza. Incrível essa realidade e um espetáculo essa conservação.
Maravilhosa visita, belíssima postagem.
Haja beleza, dinheiro, bom gosto e poder. Uau. Coisa de cinema. Magnífico.
Valeu, meu jovem amigo viajante.
Precisará ser vista e revista a postagem.
Adorei. Obrigada, pela oportunidade de visitar tão belo palácio.