Giverny, França. Aqui, neste vilarejo a 70 Km de Paris, viveu por 40 anos Claude Monet, o primeiro — e para muitos o maior — dos pintores impressionistas. Você talvez reconheça algumas de suas obras mesmo que não saiba serem dele. Várias são paisagens desta região, quando não do próprio jardim da propriedade onde ele morou, e que segue preservada.
A viagem até aqui, uma vinda curta que vos explicarei como fazer desde Paris, é uma delícia não apenas aos fãs desse pintor, mas a qualquer amante da natureza. De jardins bucólicos bem-cuidados e que parecem transportá-lo a um outro plano de existência.
Sendo outono cá na França, os jardins ganharam cores ainda mais especiais. Em verdade, todo o pequeno vilarejo de Giverny é pitoresco. Não chega tanto a ser propriamente rural como era na época em que Monet aqui viveu, há um século atrás, mas segue sendo pequenino e quieto.
Vamos embarcar. Tomem seus assentos, e vamos conhecer esta pequena joia às fronteiras da região de Paris com a Normandia.

Visitando Giverny desde Paris
Giverny é um excelente bate-e-volta desde Paris que pode ser feito em qualquer dia entre maio e outubro. O vilarejo realmente gira em torno da antiga propriedade do pintor, o qual legou tudo a uma fundação que leva seu nome. Nos meses de inverno (novembro-abril), as coisas estão fechadas, mas elas reabrem em maio — na primavera — e seguem abertas com o mudar das estações, passando pelo verão e ao começo do outono, até o fim de outubro. Cada período, naturalmente, tem seu próprio tom.
As entradas você obtém antecipadamente pela internet no site oficial da Fundação Monet, pelo preço de €12 (bem investidos) em 2021. Se não os quiser comprar antecipadamente pela internet, pode sempre fazê-lo à bilheteria na entrada, mas se vier em época de pico — como julho — pode valer a pena se garantir. O preço é o mesmo.
Da estação ferroviária Paris St. Lazare, você toma um trem até Vernon-Giverny, estação localizada na cidadezinha de Vernon. São trens regionais que dispensam reserva antecipada, e que levam 51 min de viagem. (Você pode pesquisar os horários exatos de partida no site oficial da cia ferroviária francesa, a SNCF, e comprá-los já aqui ou nas máquinas à estação.)
De lá, à porta da estação, é só seguir os sinais — pois eles sabem que quase todo mundo que desce aqui está interessado em ir aos jardins de Monet. Haverá tanto um trenzinho turístico (€4) quanto um ônibus (€5) sincronizados com os horários de chegada dos trens para levar então as pessoas até Giverny.



Giverny, Claude Monet (1840-1926) e o Impressionismo
O Impressionismo foi um movimento artístico surgido na França, mais precisamente em Paris, nos fins do século XIX e começo do XX. Estourou na década de 1870, precisamente com uma obra de Monet chamada Impression, soleil levant (sol nascente), que você vê abaixo.
A tônica de Monet, como dos outros que o seguiriam, era a de gerar na pintura a sensação que uma vista dava aos olhos. Havia certo compromisso com as cores, as luzes, e certo foco no quadro enquanto retrato de uma experiência visual. Marcaram o estilo também as pinceladas características dos impressionistas.

Os impressionistas receberiam críticas ferozes do establishment artístico francês da época, mais habituados às normas convencionais neoclássicas ou renascentistas. O nome, “impressionismo”, inclusive foi cunhado por um desses críticos que, querendo taxar o movimento de forma depreciativa, acabaria sem saber batizando o novo estilo.
Breve, outros grandes nomes da arte francesa hoje (desconhecidos à época) se juntariam a Monet como expoentes desta arte, como Pierre-Auguste Renoir, Edgar Degas, Édouard Manet, Paul Cézanne, e tantos outros. Embora centrado na França, o movimento se espalharia Europa e mundo afora, e inspiraria também pós-impressionistas como Vincent Van Gogh. (O pós-impressionismo seria marcado por menor fidelidade ao natural e maior abstração, ainda que com traços semelhantes.)

Se você gosta da arte impressionista, não pode deixar por nada de visitar o Musée d’Orsay em Paris. É lá, e não no Museu do Louvre, que você encontrará o maior acervo francês desse estilo. Encontrará múltiplas obras de Monet pintadas aqui em Giverny, onde ele viveu por nada menos que 40 anos, até a sua morte em 1926.

Claude Monet, este simpático senhor de chapéu e barba da foto ao lado, nasceu em Paris. Perdeu a mãe aos 16 anos, e o pai — que reprovava suas inclinações artísticas, e preferia que ele seguisse uma carreira em negócios — o enviou para viver com uma tia viúva.
Ele se casaria com Camille Doncieux, com quem teve o filho Jean Monet, e entre 1870-1871 todos se exilaram na Inglaterra e na Holanda durante a Guerra Franco-Prussiana.
Sua situação financeira era precária, sua arte, rejeitada, e foi só após os quarenta anos — nos idos de 1880 — que adquiriu estabilidade. Instalaram-se aqui nesta casa em Giverny, sua grande inspiração, onde viveria pelas próximas décadas.
Monet teve um segundo filho com Camille, mas ela viria a falecer (em 1879) ainda antes de eles se mudarem para cá. Claude Monet se casaria de novo, chegou a perder o filho mais velho, Jean, que ele tristemente viu falecer antes dele, mas ele seguiria aqui, encantado nestes jardins encantados, até se tornar luz aos 86 anos de idade em 1926.
Seu ambiente de vida é o que a gente encontra aqui.


Giverny, a cidadezinha
Você desembarca em Giverny num estacionamento rodeado de verde. O lugar é deveras quietos, e o único ruído parece ser aquele trazidos pelos turistas. Águas correm plácidas em riachos estreitos; gramíneas altas — maiores que eu — se misturam às flores; e, sendo outono, fazia um friozinho gostoso às vezes abalado pelos raios de sol ocasionais.
Há todo um ar idílico em Giverny.
Você caminha pelas ruelas, acompanhado quase que exclusivamente dos outros visitantes, e vai vendo as folhas já coloridas pelo outono. Certas janelas, completamente rodeadas de vermelho, pareciam mais coisa mesmo da arte que da vida real — mas estavam ali diante de mim.





Como sempre é preciso, detive-me para um café antes de propriamente ver a Casa de Monet. As coisas aqui em Giverny são um tanto caras, preço de turista, mas c’est la vie.
Foi aqui que eu tomei conhecimento da torta normanda e do calvado, uma espécie de destilado de maçã típico aqui da Normandia. Não que eu seja dado a beber pela manhã, mas é que uma dose acompanha a torta para você derramar por cima (!).
O calvado é uma espécie de conhaque, mas aqui na França o nome cognac é reservado para a bebida oriunda da região que leva esse nome, na Aquitânia (a mesma região de Bordeaux). Há uma designação de origem protegida.
Já a torta normanda é feita com maçãs, mas por sobre uma massa fofa de ovos que lembra pudim. Com o álcool por cima, ela ganha uma certa picância. (Não é assim a torta mais gostosa da vida, mas serve para experimentar.)

Visitando a Casa e os Jardins de Monet
A casa e os jardins de Monet são o que há de realmente mágico aqui. São o epicentro daquele lugar quieto, de ruas paradas, onde o vento nas folhas avermelhadas pareciam ter maior presença que a das pessoas.
A casa com os jardins são uma grande propriedade com duas partes. De um lado, a entrada — onde você dá de cara já logo com a lojinha, ou melhor dizendo, um lojão repleto de utensílios tematizados com pinturas de Monet, sabonetes perfumados, e toda esta gama de produtos típicos da França. É simpático o lugar, que pode tomar um bom tempo dos mais entusiasmados por lembrancinhas.
Nesta primeira parte, você atravessa a lojinha e chega nos jardins de flores onde fica também a antiga casa do pintor. É uma casa ampla com dois andares, ainda decorada como nos seus tempos, de 100 anos atrás. Um colorido, um mobiliado, pisos e decorações que até me lembram certas modas do século XX também no Brasil. Lembrou-me em algumas coisas a casa da minha avó quando eu era criança.





Monet trabalhava aqui com até sete jardineiros sob sua batuta, organizando o jardim quando não estava pintando.
Nesta primeira parte, você encontra ainda muitas flores — dezenas de tipos, cujos nomes eu nem sempre sabia. Passeiam abelhas junto com as pessoas, e você se sente num ambiente bem natural.


Você trafega por meandros estreitos nestes jardins, até que pode acessar a segunda parte da propriedade — um terreno do outro lado da pista, que Monet adquiriu depois que suas condições financeiras melhoraram. Você, hoje, passa por um túnel dentro da propriedade para chegar ao outro lado.
Lá, parece que você chegou ao Jardim do Éden.
Monet para ali trouxe vários espécimes dos chamados lírios-d’água (water lilies), daquelas plantas aquáticas de superfície, a maior parte deles oriundos do Brasil. Essas plantas viraram uma paixão de Monet nas décadas finais da sua vida, e daqui vêm muitas das suas últimas obras em Giverny.


Eu caminhava ali por entre bambus, flores e árvores frondosas no que era o começo de uma tarde fresquinha de outono. O lugar é de uma elevação inspiradora. Eu parecia estar em cenário de filme ou novela espírita retratando os planos superiores.



Você talvez se lembre também de ter visto nas pinturas de Monet uma ponte. Como outros franceses se sua época, Monet também era gamado nas estéticas chinesa e japonesa. Estes, por vezes, são chamados de jardins japoneses nesta segunda área da propriedade.
A “ponte japonesa” que você identifica em algumas de suas pinturas é dos pontos mais fotografados destes jardins.



Em verdade, as plantas cresceram um tanto dos tempos de Monet para cá. Tampouco estou triste, como seguiria a canção; pelo contrário, você sai elevado da visita aqui, sentindo-se harmonioso, e com vontade que haja mais espaços naturais assim — ainda que cada qual seja único.

Saímos dali neste silencioso outono a procurar onde almoçar. Aqui na França, boa parte dos lugares fecham às 14h, então não bobeiem ou lhes restarão só as padarias. Aqui, eram poucas, e parte dos estabelecimentos pareciam abrir exclusivamente no verão. Alguns já notavam um “até o ano que vem”.
Restou-nos apenas o Nymphaea, logo diante da entrada principal para a Casa de Monet. Aquele parece funcionar o dia inteiro. Acabamos por escutar um quarteto brasileiro a conversar, neste lugar cujo nome é referência às plantas aquáticas (família Nymphaeaceae) trazidas do Brasil para o jardim de Monet. Curiosidades.
A tarde cairia naquele lugar tranquilo, até retornarmos a Paris.
Uuuuuuuuu meu amigo, o que é que é isso!… chegamos ao Paraíso? o senhor encontrou e adentrou os jardins dos Céus? Uaaauuu. Nossa!… Sem palavras para definir tamanha beleza e exprimir as emoções que assaltam essa vossa amiga aqui, diante de tanta beleza. Parecem os jardins dos Céus!… Que maravilha!… Quantas flores!… Que coloridos!… Quanto verde!… uauu!…Que belos tons, que ambiente de energia elevada, leve, suave e gostosa, que encanta e absorve os sentidos, como se quiséssemos parar o tempo e ali permanecer indefinidamente. Extasiante a sensação de encantamento que traz esse recanto divino.
Que alma linda deveria ter ele. Que sensibilidade para se cercar de tanta beleza, de tanta natureza. Impressionante. A própria figura dele, a expressão do olhar revelam muito da sua alma elevada. Magníficos, o pintor, sua obra, seu ambiente.
Amo o Impressionismo e seus representantes na pintura, sobretudo Monet e Renoir. Gosto também muito de Cézanne, e da fase alegre de Van Gogh.
Giverny é mesmo um recanto divino. Amei. Feliz de Monet que o descobriu e/ou o construiu. Felizes de nós que através dessas vossas viagens fantásticas somos brindados com esses locais belos. Que bom viajar com o senhor, meu caro viajante brasileiro. Valeu.
Salve a arte que revela as belezas e eleva o ser humano, viva a Natureza e seus encantos.
Obrigada, jovem viajante. Que bom viajar assim.