“Mi Tequisquiapan querido”, teria cantado Carlos Gardel, tivesse sido ele daqui em vez de Buenos Aires.
Tequisquiapan que quer dizer lugar (apan) de água (atl) e salitre (tequixquitl), ao revés, pois que era assim na língua náhuatl, dos astecas. Estes nomes mexicanos são uma diversão. (Eles também não devem ficar por menos quando vão ao Brasil e encontram nossas Itaberaba, Araçatuba & cia.)
O curioso é descobrir que os astecas e demais indígenas mesoamericanos, desta região, usavam um sal rosa — que não é do Himalaia —proveniente dessa rocha daqui. Hoje, não se diria, visto que — como entre os indígenas brasileiros — você às vezes custa a achar sal em certas comidas; e, no que vi do México, pouco se tem o hábito de ter o saleiro à mesa para quem come. Melhor para a coração.
E, falando em coração, bem-vindos ao centro do México! Ou ao menos assim um presidente o decretou em 1916. Se há outros que reclamam para si tal localização, os tequisquiapanos alegam ser os únicos com um decreto presidencial em mãos. Trataram, claro, de erigir um monumento a esta honra.

Pueblo mágico do México
O México possui um programa governamental de valorização e conservação cultural super interessante chamado pueblos mágicos. (Pueblo em espanhol pode significar tanto “povo” quanto “povoado”, e aqui é neste segundo sentido.) Com aporte e apoio da Secretaria de Turismo, valorizam-se as tradições locais, suas artesanias, comidas típicas, patrimônio histórico arquitetônico, etc. Com ganas também a promover o desenvolvimento econômico local através do turismo. (Atenção, Brasil.)
São mais de 100 pueblos mágicos no México, e Tequisquiapan é um deles. Às vezes dá vontade de saí-los coletando feito figurinhas.
É por isso também que as cidadezinhas históricas no México estão bem conservadas. Não é só conscientização individual, é política pública também.


Você tem uma escolha a fazer quando está perto de um pueblo mágico: visitá-lo no meio ou num fim de semana. Os fins de semana agregam mais gente, mas também há mais movimento, mais diversão, e por vezes mais coisa acontecendo (música de rua, feirinhas, outros eventos de praça, etc.)
Eu vim a Tequisquiapan num sábado, e foi pura alegria. (Não troco o meu sábado de manhã aqui por nenhuma terça-feira.) Cheguei num tour vindo de Querétaro, sobre a qual versei no post anterior. Estamos ainda no estado de mesmo nome, centro do México.

Estando em cidades de médio ou grande porte aqui, nunca deixe de se informar na acomodação sobre possíveis passeios de bate-e-volta ou tours a pueblos mágicos próximos. Todo estado tem um ou mais. Costumam ser tours em espanhol, em geral com visitantes mexicanos de outros estados e guias bem divertidos.
(A propósito, há enorme diferença entre tais tours em inglês, voltados para gringos, e estes mais latinos em espanhol, muito mais calorosos e divertidos. Já fiz dos dois.)


Tudo era uma paz alegre — tão contrastante com as (más) notícias que se recebem do México na mídia.
Vou dizer-lhes de forma clara: a grande mídia não sabe nada sobre o México. Cartel de drogas existem, como existem no Brasil, mas isso é um espinho na ponta do galho do que é esta nação.
Suas ruas são vibrantes; suas praças, tranquilas; sua gente, alegre e viva. Os festejos, uma alegria, e suas cidadezinhas, lindas.
Um trenzinho infantil circulava pela praça sob o olhar dos pais ao que eu tomava um sol e saboreava o meu pan de muerto, e jovens e idosos a passar ou conversar sob a sombra.



Tequisquiapan, como se formou e o que há
Tequisquiapan, como tantos pueblos mexicanos, forma-se da presença colonizadora espanhola mesclando-se a povoados ou cidades indígenas pré-existentes.
Aqui em todo este Estado de Querétaro, no centro do México, os povos mais presentes têm sido os Otomis e os Chichimecas — que não desapareceram, preservam muitas de suas tradições vivas e estão mesclados na população regional, mas é claro que com os inputs ibéricos também.
Tequisquiapan, especificamente, data enquanto tal de 1551, quando um decreto real do rei de Espanha, Carlos V, a fez cidade. (Aliás, Tequisquiapan é feita de decretos.)
Foi desses povoamentos que não cresceram muito e seguem mimosos, como outrora. Há até hoje no seu centro a Paróquia de Santa Maria da Assunção, originalmente edificada como tal no século XVII e com uns retoques do século XIX.






Tequisquiapan é famosa por suas artesanias. Há mercados de artesanato imensos — e as pessoas que gostam de compras podem gastar manhãs inteiras aqui só nisso.
Há cestos de palha, produtos de madeira, etc. Muita coisa feita com materiais naturais. Como eu vim num tour partindo de Querétaro e, portanto, com tempo limitado para estar aqui nesta cidade, não me dediquei tanto às compras, mas se você quiser ficar livre nos mercados pode optar por vir de ônibus a Tequisquiapan por conta própria.
Aqui você também encontra dos famosos alebrijes mexicanos, que eu cheguei a mostrar quando fui ao estado de Oaxaca, e que pelo visto estão presentes também aqui. Trata-se de figuras animais em madeira pintadas das mais variadas formas.
O curioso é que não são simplesmente animais comuns. Há animais reais, mas há também animais fantásticos — ou híbridos entre os dois —, pois nesta tradição mexicana pré-hispânica os alebrijes são figuras que saem dos sonhos ou pesadelos e ganham a realidade física.


E, afinal, Tequisquiapan é mesmo o centro do México ou não?
Eles dizem que é, e têm um monumento aqui para marcar a honra — além do decreto presidencial de 1916.
Na prática, estas discussões sobre o centro geográfico de algum lugar raramente são consensuais. Depende de como se calcula. Incluem-se as ilhas? Só o continente? Na própria Europa, onde já se tem esta discussão há mais tempo, você esbarrará nuns 3 a 5 lugares reclamando serem o centro geográfico da Europa. Não sei qual tem razão.
Aqui no México, que estamos na região central do país não resta dúvidas. Se é o exato centro, não importa — há quem diga que este fica mais ao norte, no estado de Guanajuato ou no de Zacatecas. O fato é que, oficialmente, o coração do México é aqui.


Esta região fica na chamada Rota dos Queijos e Vinhos do México, de onde sai a (modesta porém presente) produção desses alimentos aqui no país mesoamericano. Com suas peculiaridades, é claro.
Em seguida, eu abordo como foi esta minha experiência por essa rota aqui em Querétaro. As andanças pelo México central prosseguem.

Lindinha essa fofura de cidadezinha. Estou surpresa!. Já conhecia a cidade do México e suas belezas , mas não sabia ser o interior/norte desse lindo país tão interessante, colorido e alegre como parece ser. Pensei que era mais deserto como o sul dos Eua.
Lindas as cidadezinhas, bem cuidadas, limpas, cheias de gente alegre, sem violência, tranquilas , cheias de Arte, de Cultura, História, bem arborizadas e sobremaneira interessantes.
Linda pracinha, fofas e alegres ruelinhas, parece com os São Joões do NE do Brasil de anos atrás.
Os templos, os casarios, os monumentos são lindos. Uma graça. E que histórias interessantes. Povo audaz e guerreiro.Vê-se que o povo tem muito sangue índio. As moças são muito bonitas com suas peles morenas. Notei belos e sedosos cabelos.
E que exemplo e políticas públicas de valorização do Patrimônio histórico. Parabéns aos governos mexicanos. Um exemplo para o Brasil onde pouco ou nada se faz para valorizar a riqueza cultural que tem.
Nada a ver com o que se ouve falar do México onde se dá destaque à violência e aos conflitos com quadrilhas de drogas. Ainda hoje os jornais falaram de violência por lá. Com certeza o México é muito mais que esses episódios, comuns a muitos outros países.
Essas vossas viagens revelam um México maravilhoso, com um legado pré-colombiano fabuloso, um país lindo, adorável , cultural, musical, histórico, rico em vários aspectos, precisando ser redescoberto sobretudo pelos latino-americanos. Lindo.
Curiosos esses bichinhos e interessante essa mistura onírica hahah.
Esse pan de Muertos parece saboroso hahah.
Amei a decoração das pracinhas, inclusive o corte das árvores. Aqui no NE algumas cidadezinhas há uns anos atrás tinham esse bom gosto de decorar a praça com certos cortes nas árvores. Ficam lindas.
Belíssimas as arcadas. Que cidadezinha organizada e bem cuidada. E que curiosa e bela essa rocha rosa. Fica muito bem nas construções e nesses estilos charmosos.
As barraquinhas parecem as quermesses das festas populares do NE brasileiro dos anos passados. As festas religiosas da padroeira eram assim. Uma delicia. Estou me sentindo em tempos passados. Muita coisa dos costumes do NE do Brasil. Linda.
Um charme essa foto do senhor com o Marco do Centro do México. Muito significativo. Uma riqueza essa cidadezinha.
Estou amando conhecer esse interessante pais através dessas postagens. maravilhosas. Muitos aspectos interessantes e inusitados. Um justo resgate de um importante país.
Valeu.