Wroclaw, Polônia. A inconfundível voz de Frank Sinatra entoava as clássicas canções de Natal americanas no alto-falante. Num frio modesto de -3 graus, poloneses jovens ou mais velhos circulavam lá e cá entre as cabanas de madeira vendendo coisas ou guloseimas de Natal na Breslávia (ou Wroclaw), cidade histórica da Polônia.
No seu centro, a ampla praça medieval do mercado, hoje tomada por aquelas cabanas e por decorações. No centro do centro, no meio da praça, a emblemática prefeitura gótica da cidade, do século XIII. Era onde eu me encontrava, depois de começar a sentir o Natal polonês em Gdansk.

Wrocław é um nome difícil de pronunciar. Lê-se vró-tsuÁV. Esse pitoresco L cortado polonês tem som de U. Vai ver foi por isso que a cidade logo ganhou nomes diferentes nas outras línguas.
Esta era Vratislava em latim na Idade Média. No século XV, os vizinhos germânicos — em cujos reinos Wroclaw por muitos séculos esteve — a chamam de Breslau. Nas línguas neolatinas, ela virou Breslavia, talvez para evitar confusão com Bratislava, a capital da Eslováquia.
Não se trata de um lugar remoto. Wroclaw tem mais de 1 milhão de pessoas na sua área metropolitana, e é a quarta maior cidade da Polônia — depois da capital Varsóvia, Cracóvia, e Łódź, uma cidade mais impronunciável ainda (mas que se lê wudj).
Wroclaw é uma cidade histórica no sudoeste polonês, na região da Silésia, que já pertenceu a cinco reinos distintos nesta Europa Central: Boêmia(Tchéquia), Hungria, Áustria, Prússia (Alemanha), e Polônia. Guarda coisas de todos eles. É das cidades mais ecléticas que há na Europa.

Wroclaw (ou Breslávia), a cidade dos cinco reinos
Um resumo da confluência histórica nesta encruzilhada da Europa Central. é que os romanos antigos já identificavam um povoamento aqui (Budorigum), mas é somente com a migração e chegada dos eslavos aqui no século VI que a região começa a aparecer mais nos registros históricos.
Os tchecos a fundaram, legando seu nome Vratislavia pelo Duque da Boêmia (a região da Tchéquia onde fica Praga) Vratislav I. No ano 985, o vizinho duque polonês Mieszko I a conquistaria, chamando-a Wroclaw. A partir daí, a cidade trocaria de mãos entre ambos até ser atacada pelos mongóis no século XIII.
Os séculos seguintes veriam-na ser tomada pelos húngaros no século XV, mais tarde ser anexada à Áustria no século XVI, e passar aos alemães prussianos em 1741, até que em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial e as perdas territoriais alemãs, a cidade retorna aos poloneses.
Se você deseja saber mais sobre a História desta cidade, eu recomendo a postagem anterior Wroclaw (ou Breslávia), Polônia: A cidade de cinco reinos na Europa Central. As marcas deles estão realmente por toda parte em Wroclaw.



Wroclaw no Natal: Segunda parte do périplo natalino na Polônia
Quando se ouve falar em Polônia hoje em dia, quase nunca se realçam as coisas boas. É só sobre o governo conservador-autoritário, refugiados na fronteira com Belarus, disputas com a União Europeia… Ou, na maior parte do tempo, não se ouve nem lê nada sobre ela.
A Polônia, no entanto, é um dos países mais interessantes — e subestimados — da Europa. (É também dos mais baratos por onde viajar.) Nesta minha quarta vinda ao país, descobri ainda mais lugares a conhecer, e me dispus a rever algumas cidades na época do Natal.
A Polônia é uma ótima pedida para este período, com suas emblemáticas feirinhas natalinas, comidas típicas pela rua, e decorações que fazem uma atmosfera e tanto. Depois de rever Gdansk no Natal, chegou a hora de rever Wroclaw — ou Breslávia, se lhe for mais fácil.

Wroclaw no Natal é uma mescla curiosa de animação e quietude.
Na sua maior parte, a cidade se revelou relativamente calma. Ao que eu cheguei pela estação ferroviária, vi ruas quase vazias, frias e cinzentas neste começo de inverno. Nem sinal dos vários turistas estrangeiros comumente encontrados nas áreas históricas de Varsóvia ou Cracóvia (mesmo durante este período pandêmico). Eu me via quase que exclusivamente entre poloneses.
Por outro lado, basta se aproximar da praça central e ali se tem uma ilha de calor humano. Você ali encontra toda a decoração natalina, músicas de Natal clássicas a tocar, e as dezenas de cabanas de madeira a vender comidas típicas, artesanias e outros produtos das 10h da manhã às 10h da noite.




À noite, tudo isso ganha ainda mais vida. Não é preciso esperar muito: como escurece cedo aqui neste tempo do ano, às 15h já está escuro e as luzes já estão acesas.



Eu por ali circularia bastante, a provar disto e daquilo da culinária polonesa e dos quitutes de época, mas antes fui dar uma volta pelas ruas quietas da cidade e ver sua catedral neste Natal.
A Catedral de Wroclaw no Natal
A Catedral de São João Batista, de 1272, fica numa ilhota fluvial (Ostrów Tumski) nas adjacências do centro histórico da cidade, mas fora dele. Eu cheguei a falar mais sobre ela e mostrá-la em detalhes na minha postagem anterior aqui em Wroclaw.
Neste frio cinzento de dezembro, seu interior estava ainda mais escuro que o habitual — mas isto tinha seu lado aconchegante neste período.



Se a maioria das igrejas polonesas são até bem iluminadas, com seus janelões altos, esta catedral é de um sombrio aconchegante. Neste Natal, árvores acompanhavam a decoração interna, criando uma espécie de religioso refúgio mágico.



Os gnomos de Wroclaw
Um lado menos austero e mais divertido da cidade são os gnomos de rua que você hoje encontra por toda parte. O que começou como uma forma de protesto irônico contra o governo comunista nos anos 80 acabou abraçado pelos breslavianos como uma marca cultural da cidade.
A partir de 1985, os gnomos passaram a ser pintados secretamente pela cidade com dizeres anti-governo. Os autores eram do movimento Alternativa Laranja, um dos muitos que emergiram no antigo Leste Europeu comunista, e relacionado aos sindicalistas do Solidariedade, de Lech Walesa, em Gdansk.
Você hoje encontra mais de 100 destas figurinhas de bronze espalhadas pelas ruas nos mais variados ofícios. Há quem se divirta procurando-os todos Wroclaw afora, mas já lhes aviso que são muitos.
Os poloneses lhes deram nomes (cuja lista você encontra aqui), e se você vier muito disposto, pode até baixar o aplicativo que criaram com a localização de todos eles num mapa da cidade.




Alguns comes e bebes deste Natal
A gente sabe que Natal é, antes de tudo, fraternidade, mas já há algum tempo que ele se tornou também sinal de comes e bebes fartos. Afinal, se comemos panetone, nozes, doces e outras gordices neste tempo, isto é porque se guardavam as coisas mais preciosas para serem comidas no tempo mais precioso do ano.

É quando os europeus de renda menos que rica podiam se dar ao luxo de comer açúcar, especiarias, além das frutas secas, conservas e calóricas nozes boas para dar energia no inverno, e que nós contraditoriamente comemos no verão. Enfim, a tradição aí fala mais alto.
Eu já mostrei alguns comes e bebes poloneses na parte anterior deste Natal na Polônia, em Gdansk, e aqui em Wroclaw descobri mais uns. Alguns deles são tipicamente poloneses, já outros você encontra Europa Central afora. Em geral, as feirinhas de Natal aqui também trazem coisas de países vizinhos como Hungria e Lituânia.
Antes de ir dar minhas voltas pela feirinha a descobrir as coisas, reporto-lhes meu almoço.


Você entra num lugar para almoçar nesta época do ano aqui pela Polônia e, quando pensa que não, já escureceu do lado de fora. Às 15h, o sol já está se pondo, as luzes lá fora se acendem, e era hora de — uma vez feita a digestão — ir sondar a “floresta de conto de fadas” (Bajkowy Lasek), como eles aqui chamaram uma parte da feirinha de Natal.





São muitas as guloseimas típicas pela rua, algumas mais apetitosas que outras.


E assim, entre as cabaninhas de madeira simpáticas na noite fria, dão-se as vésperas de Natal na rua. Elas acalentam tanto com a simpatia — o “gostoso” de estar ali — quanto com os aromas e a fumaça.



Se você estiver me lendo na época, um Feliz Natal!
Obrigada pelas dicas.
Passarei o Natal em Breslavia, cerca de 2 a 3 dias.
Gostaria de saber se na cidade há alguma pista pequena para skiar.
Grata.
Renata.
Olá Renata, bem-vinda! Contente que as dicas tenham sido úteis.
Breslávia tem, sim, uma pequena pista interna de ski, chamada Ski Arena Wroclaw. Já se der vontade de algo maior, perto de Breslávia há ski em Zieleniec e Szklarska Poręba. Como eu não esquio, não são lugares que eu conheça pessoalmente, mas são referências que se têm nos arredores da cidade. Espero que ajude! Uma ótima viagem pra você.