Maragogi, Alagoas. Bem-vindos a uma das mais belas regiões de praia do Brasil. “Caribe brasileiro”, dizem alguns (em geral, aqueles que ainda não foram ao Caribe).
Hora de conferir de perto este lugar sobre o qual muito vem se falando nestes últimos anos. Cheguei como quem busca tirar um atraso — para definir, afinal, o que é todo esse bafafá sobre Maragogi. Ver o que é que a (praia) alagoana tem.
Saiba desde já que Maragogi é muito um destino da era do Instagram. Portanto, é repleta de photo-ops (oportunidades prontas para fotos) e marketing visual que muitas vezes passam meias verdades sobre o lugar. Mas eu já lhes adianto que Maragogi é, sim, um lugar belo.
Venhamos conhecê-la, ainda que sem dourar exageradamente a pílula. Primeiro, quando vir e como chegar — coisas básicas que todo mundo quer saber. Segundo, um pouco da atmosfera da cidadezinha e as opções de passeio às afamadas piscinas naturais. Por fim, algumas opções que explorei para visitar outras praias próximas.

Quando vir & Como chegar a Maragogi
Maragogi, como muito do litoral nordestino, chove mais entre os meses de abril e agosto. Para escapar da chuva, o melhor portanto é vir entre outubro e fevereiro.
Nada como dados concretos para mostrar o que estou dizendo.

Isso significa que a época mais seca coincide com os meses de férias do verão. É, portanto, uma alta estação com maiores preços e mais gente.
Não quer dizer que não chova nunca. Eu vim em janeiro e choveu um dia. Então vale sempre ficar de olho na previsão para os dias seguintes na hora de escolher quando ir às piscinas naturais, pois com chuva elas ficam turvas — e ninguém curte praia debaixo de chuva.
Você verá também algo hiper-comentado no léxico maragogiense sobre atentar para a tábua de marés, para saber quando a maré estará baixa o bastante para se verem os recifes nas piscinas naturais. Mais sobre isso daqui a pouco.

Maragogi não possui aeroporto. Para vir de outro estado, é preciso chegar primeiro a Maceió ou Recife. De lá, os hotéis costumam dizer que não há transporte público para Maragogi (em parte para vender traslados privativos aos clientes), mas o transporte público existe. Só é um pouco trabalhoso, aí você avalia seu custo-benefício.
Da capital alagoana, a empresa Real Alagoas oferece um ônibus num horário um tanto inconveniente de 19h, chegando a Maragogi após as 21h, já no escuro.
No mais, há vans-lotação saindo de Maceió e que dizem custar R$ 25. O site oficial da rodoviária nem sempre funciona, e o telefone ninguém atende, então minha recomendação se você chegar de ônibus é que já se informe sobre estas vans, para não ter que ir lá pessoalmente de novo só para perguntar isso. A viagem de van dura 3-4h embora sejam apenas 125 Km, pois ela vai parando.

O mais cômodo, sem dúvidas, é fechar um transporte privativo, que de Maceió sai em média por R$ 300 (o total pelo carro). Se forem várias pessoas, pode valer a pena.
Se você estiver sozinho, melhor opção é entrar num dos passeios de bate-e-volta que os hotéis organizam por R$ 80-90 por pessoa e simplesmente não voltar — ficar por Maragogi. Estes bate-e-volta em geral saem 5h da manhã de Maceió. Pode compensar, se você não se importar em madrugar.
Com o transporte privativo, você parar rapidamente em São Miguel dos Milagres, que fica no caminho e está bem cotada. Você passa em seguida por Porto de Pedras, onde paga R$ 15 pela balsa para o carro atravessar o rio, e pode parar também em Japaratinga, bonita ainda que menos povoada que Maragogi.
Todos esses lugares são bem menores que Maragogi, que afinal de contas é uma cidadezinha com praças, ruas, alguma vida local etc. Esses outros serão mesmo para quem quer chegar por conta, curtir a praia, e basicamente isso.


Chegando a Maragogi: Um pouco do ambiente da cidadezinha
Maragogi é um lugar pequeno, mas aconchegante à sua medida. Você pode se hospedar num hotel-resort afastado (onde vai basicamente curtir o mar e ficar ali) ou pegar algo mais central, opções que tendem a ser algo menos luxuosas.
Como eu não sou lagarto de praia, preferi algo que me permitisse sentir um pouco daquele dia-dia e ver o que há naquele pequenino ambiente urbano.
Fiquei na pousada de Seu Siqueira, um sujeito naturalmente conversador. “Dicas, praias, passeios. Pode perguntar“, ia ele declarando às paredes enquanto eu às vezes estava sentado com um livro. “Nós temos as melhores praias do Brasil“, seguia ele imparável. Tive a impressão de tê-lo ouvido uma vez dizer “do mundo”, mas pode ter sido minha imaginação.
Há quase que apenas uma rua comprida em Maragogi, passando à beira-mar (ainda que com grande extensão de areia antes da água). Mais adentro, segue-se outra em paralelo com carros no sentido oposto.
Naquela extensão de pouco mais de 1 Km de orla, dá-se a vida turística urbana onde à noite se veem as pessoas procurando jantar, banquinhas vendendo artesanato, e muitos vendedores — a cada 10m — oferecendo passeios para a manhã seguinte.



Você pode alterar entre os elementos regionais e os de turismo de massa aqui em Maragogi. Sem dúvidas, haverá o seu típico restaurante-pizzaria lotado de visitantes de fora assistindo ao futebol na televisão. Por outro lado, vai ter também — se souber localizar com atenção — os elementos mais alagoanos deste cadinho de chão.
Por exemplo, você pode sentar praça como alguns moradores locais à tardinha e ir comer um mungunzá caseiro (o que as pessoas do Sul/Sudeste do Brasil chamam de canjica) na rua. Ou experimentar um belo cuscuz com banana-da-terra frita e queijo assado.



O Centro de Artesanato pode lhe distrair um tempo. À noite, abrem-se mais banquinhas num terreno. Ou você pode simplesmente ficar sentado ali na vasta faixa de areia de Maragogi após uma refeição, vendo a vida passar e sendo abordado por pessoas — adultos ou crianças — coletando dinheiro para alguma causa.
Às vezes, também, tem o pitoresco. “Veneno! Veneno! Olha, veneno!”, passou ao lado da minha mesa de almoço o vendedor, um homem branco com aquele rosto vermelho cansado de andar no sol sob os óculos escuros, e mercar suas garrafas brancas de veneno que mal-julguei serem leite de coco. Era para rato, barata, formigas e, quem sabe, gente.
Maragogi não é sua típica cidadezinha idílica onde ficar uns dias num pequenino paraíso. É, ao contrário disso, uma cidadezinha típica do interior do Brasil, com todos os seus prós e contras, independentemente de acontecer de estar à beira-mar. Sua função principal, realmente, é servir como estadia para se fazer os passeios litorâneos aqui. Vamos a eles.



Indo às piscinas naturais
As piscinas naturais são o grande chamariz de Maragogi, fotografadas hoje e vistas nas telas de vários tamanhos. Acho que delas veio a ideia (marqueteira) de se chamar este lugar de o “Caribe brasileiro”.
Vamos aos fatos.
O preço para se fazer uma visita breve a uma das piscinas naturais de manhã era, em média, R$ 200 por pessoa. Não faltam agências competindo, mas quase todas cobrando preços similares. Vale pesquisar, se você quiser economizar uns R$ 10-20, ou principalmente para saber o horário de partida e quantas pessoas vão na embarcação.
As piscinas naturais são todas bonitas, mas sua experiência depende muito da quantidade de gente ali tirando foto e de o quanto a maré está baixa ou não. Eis a tábua de marés entrando na sua vida.

A tábua de marés é compilada pela Marinha do Brasil neste site oficial, disponibilizada publicamente e distribuída por qualquer agência de viagem ou mesmo hotéis. Basta buscar na internet e você achará rápido para o ano, mês, e localidade em questão.
A maré muda a cada 6h, o que significa dizer que há duas marés altas e duas marés baixas por dia. A intensidade da altura depende da fase da lua. Luas crescentes e minguantes resultam em marés baixas mais baixas — o que o interessa para ver melhor as piscinas naturais.
A tábua de marés existe para você não ter que ficar quebrando a cuca com o calendário lunar. Dê preferência às datas em que a maré baixa está o mais próximo possível de 0.0m, e também num horário digno, já que este vai mudando. Por exemplo, maré baixa de 0.1 no meio da noite não resolve.
Dizem que de 0.3 ou 0.4 para baixo começa a vale a pena, mas isso é, claro, uma avaliação subjetiva. Esta minha vinda foi com a maré a 0.3, e você verá as fotos. Desnecessário dizer que a recomendação é planejar a sua viagem para as datas de maré a mais baixa possível. A tábua é disponibilizada anualmente, com os detalhes até dezembro.

Dá para levar o celular ou câmera que não seja à prova d’água?
Dá, contanto que você tenha o cuidado para segurá-los fora d’água, ou que tenha uma daquelas capas plásticas para celular.
Atenção com a previsão do tempo, além da maré. Sol é vida.
Afora a altura (ou baixeza) da maré, verifique também o sol. Se estiver nublado, mesmo que sem chuva, as piscinas não terão nem de longe a beleza que se vê na internet.
Faça você a sua pesquisa de antemão, pois os vendedores vão lhe vender passeios em véspera de dia nublado — ou com previsão de chuva — sem o menor escrúpulo.
Se eu tivesse deixado, quase me vendiam um para uma manhã de chuva alegando que “nããão, nesta época não chove, não.” Chove mais entre abril e agosto, mas chuvas de verão existem. O melhor é permanecer pelo menos alguns dias aqui, e guardar a sua ida às piscinas naturais para quando houver previsão de uma manhã de sol.


Às 8:15, eu estava lá como marcado com Laerte, o meu vendedor. Às 8:30, Artur chegou à lancha onde o aguardávamos. Perguntei se sairíamos umas 9:00, ele disse 9:00, 9:10… Umas 8:50, me despacharia para um rapaz de blusa amarela. Você vai passando assim de mão e mão, e requer certa espera, mas faz parte. (Em Zanzibar, na Tanzânia, eu esperei muito mais.)
“Bom dia, pessoal, meu nome é Weverton.” Ou talvez tenha sido Uéverton ou mesmo O Éverton — não sei. Era o fotógrafo. O lancheiro depois veio. Fomos juntando o pessoal, e umas 9:10 zarpamos mesmo. Antes das 9:20 já estávamos lá. As piscinas naturais, em realidade, ficam bem pertinho da praia. Só 10 min de lancha.
Há três piscinas principais, e você não escolhe muito aonde vai. Eles fazem um rodízio por razões ecológicas, e você ouvirá os vendedores dizendo “amanhã a gente vai na X”.
Taocas, pelo que falam, é a piscina mais bonita. As outras são Galés e Barra Grande. Embora chamem tudo genericamente de as “Galés de Maragogi”, estas três são só as mais profundas e distantes. O senso comum diz que são todas iguais, mas encontrei duas pessoas de Maragogi que ambas me revelaram achar Taocas a mais bonita. Aconteceu de ser aquela aonde eu fui e que você verá abaixo. Não cheguei a conhecer as outras duas.





A maré a 0.3 não chegou a expor os recifes. Dizem que só quando está 0.1 ou 0.0. Nestas águas claras (quando o sol bate), havia peixe-zebra e gudião. Não é exatamente o Caribe, mas funciona como uma boa introdução ao mundo marinho.
Maragogi não deixa de ser “perto de casa” para a maioria dos brasileiros. Aos que quiserem mais, podem seguir com viagens a Galápagos, Zanzibar, Melanésia ou Filipinas, onde a beleza marinha chega a um nível ainda maior


Eles, por padrão, dizem que é 1h30 de permanência aqui nas piscinas, mas após 1h já estavam chamando para ir embora. As catamarãs, por sorte, foram a outra parte desovar os seus 52 turistas cada uma. Elas costumam chegar algo mais tarde, mas já era possível vê-las se aproximando.

Aí você chega de volta à terra com aquele gosto de sol e sal e mar no verão brasileiro.


Passeio de buggy & Praias próximas
Se você estiver sentindo falta “daquelas fotos que o pessoal tira” aqui em Maragogi, grande parte delas não é em Maragogi propriamente dita, mas numa das (muitas) praias adjacentes.
Voltei das piscinas, recompus-me depois do sal, e depois do almoço saí a procurar um passeio de buggy que me levasse às afamadas praias do entorno de Maragogi. Vale a pena. Caso você não faça questão de ir para passar o dia (ou a tarde), o melhor é ir à tardinha, antes do cair do sol.

As praias se revelariam bastante cheias. Você nem de longe creia que encontrará o clima de “ilha deserta” que as fotos às vezes dão a sugerir. A foto acima me mostra praticamente sozinho (em grande parte porque já era fim do dia), mas daqui a pouco vem mais, e você poderá fazer uma avaliação realista do que aguardar.
As praias do norte são Burgalhau, Barra Grande, Antunes, e Xaréu (nesta ordem).
Xaréu e Burgalhau são básicas, com algumas barraquinhas de coquetel, uns raros lugares onde sentar, e uns paus armados onde põem gangorra e rede para o povo tirar foto (em Xaréu). Barra Grande e Antunes têm mais estrutura, mas também mais zunzunzum e algazarra, sobretudo no período da manhã.
Barra Grande é onde fica o famoso Caminho de Moisés — uma extensa faixa de areia mar adentro que lembra a bíblica abertura do Mar Vermelho. Ele, no entanto, só existe realmente quando a maré baixa está a 0.1 ou 0.0. Acima de 0.2, nem adianta.


O mar é lindo, mas é preciso uma certa checagem da realidade para não haver ilusões.
Apesar da imensidão que as fotos acima dão a sugerir, na real boa parte destas praias a norte de Maragogi têm faixas de areia bem curtas, sobretudo na maré cheia. Há também certo acúmulo indevido de lixo deixado pelas pessoas.




As águas são mornas, e o azul ciano — mais claro que o comum Brasil afora — chama a atenção. A beleza fica menos pela praia em si e mais pelas cores do mar.


Minha única crítica, afora o lixo, corre apenas pela gula com que foram construindo coisa já “em cima” do mar, por vezes bloqueando quase que totalmente o acesso. Por vezes, você verá que só se acessa a praia por um caminho aqui e outro ali — uma faixinha de areia antes já da próxima construção.
Nota-se que a ocupação anda sendo desregrada. Foram com muita gula em cima da praia e a desfiguraram um pouco, embora o mar e os coqueiros continuem lindos.





Maravilha, meu jovem!… Que beleza de região!… Que belas e verde-azuladas águas!.., Que coqueirais!… Uuuu. Eita lê lê.. Beleza pura!… “Verdes mares bravios “do magnifico litoral nordestino brasileiro, parodiando o grande Alencar na sua bela obra, Iracema. Lindíssimas praias. Belissima natureza, fantástica postagem. Amei. Esse ambiente marinho nordestino é incrivelmente belo.
Parabéns pela postagem. Encantadora.
E que pena a falta de consciência dos que jogam seus lixos nas praias. Gostaria de ver o dia em que as pessoas aprendam a respeitar e amar a natureza.
Até la esperemos que a educação consiga o milagre de mudar as pessoas.
Amei essas postagem. Viajei com vossa mercê . E me deslumbrei com tanta beleza. Um espetáculo. Linda.
Valeu, viajante brasileiro.
Que venham mais belezas.
Maragogi é um paraiso, quem não conhece precisa conhecer. Adorei o seu relato Mairon, muito legal ter colocado os meios de chegada a cidade, para quem vai visitar pela primeira vez toda informação é bem vinda. E para quem vai optar pela chegada de ônibus, ou o trajeto até a capital Alagoana, outra dica bem valiosa é dar uma olhada nesse site de vendas de passagem de ônibus: https://www.passagensbr.com/home, os preços são bem atrativos, e possuem também aplicativo para usuários de android. Bem rápido, prático e seguro!