(Este será um post longo.)
Bem-vindos a Valladolid, México. Digo, Morélia. Esta cidade por muito tempo se chamou Valladolid, de 1545 a 1828, quando mudou de nome para honrar o seu mais famoso filho, José Maria Morelos, um dos líderes da Independência do México (1821).
Estamos no estado mexicano de Michoacán, um dos meus favoritos — por razões de sentimento que não sei explicar completamente. Ele fica logo a sul de Jalisco (onde está a cidade de Guadalajara) e de Guanajuato, como você verá no mapa abaixo.
Michoacán anda nas notícias internacionais hoje em dia, e talvez você não saiba. É que quase todos os abacates que o México exporta a crescentes volumes para a Europa, Canadá e Estados Unidos vêm daqui.
Dizem ser uma máfia com M maiúsculo, de expansão desenfreada do cultivo, temperada a disputa entre cartéis pelo negócio. É um problema socioambiental de exaustão de água, desmatamento, e dinheiro ilícito que lembram o Brasil.

Porém, Michoacán não é exatamente uma República dos Abacates, ainda que esteja ameaçada de se tornar algo assim.
Ao chegar, logo percebi que este é um estado mais pobre que aqueles vizinhos que viemos visitando, mas ele tem as suas belezas — e como!
Foi vindo de Guadalajara que cheguei até Morélia, a capital estadual. Breves 4h de viagem em ônibus no conforto que já lhes mostrei antes. Seriam alguns dias nesta antiga Valladolid, antes de seguir também a conhecer algo pelo interior de Michoacán.
A paisagem úmida e ondulosa destas vizinhanças da Sierra Madre Ocidental contrastava bastante com as campinas secas e povoadas de agave do vizinho estado de Jalisco, de onde vínhamos.


Chegando a Morélia, Michoacán
Os dias desta estação seca (outubro a março) estavam lindos. Quando cheguei, era uma tardinha com o sol quase posto. Da simples rodoviária nos arredores da capital, tomei um táxi daqueles de cooperativa (que você paga num balcão antes de entrar no veículo) por meros 65 pesos (R$ 17). Cinco quilômetros até o centro desta capital estadual de quase 1 milhão de pessoas. (A volta costuma sair um tiquinho mais cara, 70-80 pesos.)
Os arrabaldes de Morélia onde a rodoviária se encontra revelavam-me ali de imediato a relativa pobreza deste estado, se comparado às áreas do México aonde os turistas geralmente vão.
Nas ruas dos bairros periféricos por onde passávamos, o lixo se espalhava com o vento como se estivesse ali há semanas sem coletar. Pixações havia por toda parte, na periferia ou no centro, algumas de protesto e outras nada a ver.
No centro histórico, porém, a riqueza de Morélia se exalta. Ele é realmente produto de uma outra época, outra cidade, de quando ela ia por outro nome.



Como me diria um motorista aqui, a violência em Michoacán existe, mas ela é mais entre os cartéis, e sobretudo no oeste do país.
“Si, se matan entre ellos, pero no molestan a la gente“, esclarecia-me o senhor com alguma firmeza.
Tenho certeza de que “molestam” em muitas circunstâncias, mas o que posso dizer é que não há o mesmo nível de criminalidade de rua do Brasil — aquela coisa ordinária de “dois homens numa moto” assaltando pobre para roubar celular.
Eu andaria aqui com muito mais sossego que na maioria das cidades brasileiras. O centro tem suas áreas movimentadas onde bem podem afanar algo de um desatento, mas essa não é a tônica geral. Este histórico centro de Morélia, pelo contrário, onde arquitetura de outrora e atividades da atualidade se misturam, se provaria muito rico de beleza.


Vê-se aqui a cidade que o então Vice-Reinado de Nova Espanha erigiu a partir de 1541 para que as famílias espanholas pudessem viver no requinte e na arte — e separada dos índios, estes pelo campo e no interior, a cargo dos franciscanos ou de Deus.
Encontrei aqui simpáticas praças e imensa riqueza arquitetônica, que faz com que o centro de Morélia seja reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.


Conturbadas origens
Um pouco de pano-de-fundo sempre ajuda a contextualizar onde estamos.
Michoacán é um nome de origem asteca que, na sua língua náhuatl, quer dizer “lugar dos pescadores”. Faz referência aos lagos que aqui há e, em especial, aos indígenas Purépecha, que aqui tinham o segundo maior império mesoamericano à época da chegada dos espanhóis. Eles eram vizinhos ao norte — e rivais — dos astecas.
Os espanhóis chegam a estas bandas do atual México nos idos dos anos 1520-1530, depois de conquistar Tenochtitlán (a atual Cidade do México). Os Purépecha já sabiam do triste fim de Montezuma e dos astecas, então decidiram render-se aos espanhóis sem guerra.
O líder Zuanga teria morrido de varíola ainda antes, contaminado provavelmente por astecas que vieram pedir socorro. (Os europeus trouxeram a moléstia até então inexistente nas Américas. A grande maioria da população ameríndia padeceria com essas pestes.) Tanganxoan II, o novo imperador Purépecha, recebeu os espanhóis e rendeu-se após algumas querelas iniciais com a promessa espanhola de que ele poderia continuar a governar. Como eu, vocês já sabem que isso não acabou bem.

Nuño de Guzmán, o chefe de expedição que veio por estas bandas do noroeste do México, passou a exigir tesouros dos índios. Não obtendo tudo o que desejava, mandou prender Tanganxoan II, que acabou sendo morto em 1530.
A perfídia dos colonizadores europeus nas Américas é bem documentada.

Já a partir de 1530, os franciscanos começam a chegar, estabelecer colégios (como fariam depois também os jesuítas no Brasil e nas Filipinas), e tentar acalmar a situação. Nuño de Guzmán, de quem eu já havia tratado em Guadalajara, foi preso e condenado pela própria Coroa, e levado acorrentado de volta à Espanha. Sua Majestade, afinal, queria frutos aqui e não dor de cabeça.
A majestade à época era a famosa rainha Joana, a Louca (1479-1555), que então em 1537 determinou que se criasse uma cidade levando o nome de Valladolid nestas paragens. (A saber, há controvérsias sobre a loucura de Joana. Fala-se em paixão arrebatadora pelo marido, shows de ciúme, e explosões de raiva que lhe renderam acusações de desequilíbrio mental. Consta que Joana era de escorpião, nascida a 6 de novembro em Toledo, e talvez, no fim das contas, nem fosse realmente louca.)
Eis que então surgem as duas figuras mais centrais do início da colonização espanhola deste lugar: os desafetos Antonio de Mendoza y Pacheco, o primeiro vice-rei de Nova Espanha, e Vasco de Quiroga, ancestral do ministro da saúde Marcelo Queiroga. Brincadeira, sua eminência Dom Vasco de Quiroga foi o primeiro bispo de Michoacán, e defendia os índios.

Dom Vasco queria que a capital desta província ficasse na cidade indígena de Pátzcuaro, aqui perto, e que ele portanto renomeou Ciudad de Michoacán.
Já o vice-rei — que ao final prevaleceria — teve o desplante de fundar uma outra cidade com esse mesmo nome, Ciudad de Michoacán, com a temeridade de desobedecer a cédula real da rainha Joana. (Depois acusavam-na de loucura quando ela ficava p**** com estas coisas…).
Às 8h da manhã de 18 de maio de 1541, uma quarta-feira, se fundava esta futura cidade de Morélia.
Como já havia a Ciudad de Michoacán mais antiga, que Dom Vasco insistia em manter e que era então a capital da província, o vice-rei aceitou finalmente dar-lhe o nome de Valladolid.
Quando o bispo Dom Vasco morreu, em 1565, não demorou à capital ser transferida para cá.
Curiosamente, nem uma nem outra haveria de reter o nome de Ciudad de Michoacán.

A herança de época em Morélia: Lugares a visitar
O esplendor de Morélia data sobretudo dos séculos XVII e XVIII, após seu estabelecimento como capital da província (e hoje estado) de Michoacán.
Como diz a UNESCO acerca do Centro Histórico de Morélia, Patrimônio Mundial da Humanidade,
Morélia ofrece um exemplo excepcional de planificação urbanística na qual se fundem os conceitos do Renascimento espanhol com a experiência mesoamericana. Suas ruas, perfeitamente adaptadas às ladeiras da colina, conservam seu traçado primogênito. A história arquitetônica da cidade pode ser lida em seus mais de duzentos edifícios históricos. Construídos com a pedra cor de rosa característica da região, estes monumentos manifestam a magistral e ecléctica fusão do espírito medieval com elementos renascentistas, barrocos e neoclássicos.
De fato, o centro de Morélia conta com belas ruas extensas. Por vezes, ela me fez pensar em cidades fantasiosas que vi em quadros imaginadas pelos pintores europeus da Renascença.
A Plaza de Armas
Eu me pus na Plaza de Armas, também chamada de Plaza de los Mártires, no coração da cidade, e ao olhar em redor me vi circundado por construções grandiosas em pedra, de nobre arquitetura.





Estas calçadas cobertas, com portas no interior e arcadas para a rua, são típicas do Renascimento. Quem viu minha postagem recente sobre a “cidade ideal” renascentista de Zamosc, na Polônia, pode reconhecer o padrão encontrado também nas cidades italianas. Ei-lo aqui, aplicado à Mesoamérica.
Quando cheguei a esta Plaza de Armas pela manhã, nela fiquei um tempo, a circular e ver as suas várias partes. Soprava um vento fresco de manhã de outono/inverno mexicano — seus 24 graus — que amainava o sol.
Daqui, se chega com facilidade a pé aos vários lugares que vos mostrarei a seguir; não é necessário nenhum outro transporte.
Antes, porém, detive-me para fazer uma boquinha no belo Café Michelena numa das esquinas da praça, lugar que recomendo.



O Centro Cultural Clavijero & o Jardim das Rosas
São muitos os lugares de interesse no centro histórico de Morélia. Vou destacar os principais, e os outros você pode esbarrar neles ao sabor do acaso.
O Centro Cultural Clavijero fica a duas quadras da praça central. Gratuito e aberto de quarta a domingo, ele é um centro público de exposições num antigo mosteiro e colégio jesuíta dos tempos do vice-reinado.

Seu nome vem do padre jesuíta Francisco Xavier Clavijero (1731-1787), um dos grandes do indigenismo mexicano.
Com a expulsão dos jesuítas dos domínios da Coroa Espanhola em 1767, seguindo-se àquela feita por Portugal em 1759, Clavijero foi morar em exílio na Europa, nos estados papais da Itália. Lá, teve contato com toda a sorte de ignomínias racistas que os “grandes” pensadores europeus da época escreviam e publicavam acerca dos indígenas.
Dizia-se na corte prussiana, por exemplo, que os nativos não passavam de animais em forma de homem, e que sua “cor de trigo” já era sinal de degeneração moral.
A réplica de Clavijero veio na forma da História Antiga do México, uma grande publicação feita a partir de 1780 em Bolonha, na qual o jesuíta desmonta os estereótipos e conta sobre a grandeza das civilizações ancestrais mesoamericanas em detalhes até 1521.




Não faltam estudantes universitários a circular pelas ruas do centro de Morélia. Eu os via por toda parte durante o dia, a andar juntos conversando ou sentados namorando aqui e ali.
Nesta área do centro, calçadões históricos onde plantas se misturam aos edifícios de época o levam até o Jardim das Rosas, outra das paragens simpáticas de Morélia.
As bougainvílleas roxas em flor eram enormes e belas — talvez das maiores que já vi — nesta textura de cidade colonial.




A Reitoria de Santo Agostinho
Se você tomar o caminho oposto àquele do Centro Cultural Clavijero e do Jardim das Rosas a partir da praça central, você chega à Praça Santo Agostinho e à “reitoria” de mesmo nome — alcunha dada no século XVI à sede do que foi um dos primeiros conventos de Michoacán.
Você tem a impressão de estar em alguma parte da Espanha, talvez Zaragoza.
Vale fazer o caminho deve ser pela chamada Cerrada de San Agustín, uma breve e ornamentada calçada que você viu na foto de abertura. Ali, nas noites de fim de semana, um mercado tem lugar na praça e gente se põe a cantar em público na cerrada.





Quando eu estive aqui à noite, quase não vi turistas. Vi um ou outro transeunte com cara de gente local, mas o que havia mesmo eram as vendedoras e suas crianças ao celular, ou rapazes adolescentes, quietos por detrás das barracas que expunham rochas e panos pelos quais poucos pareciam se interessar.
Você não demora a notar que o povo aqui de Michoacán tem um certo ar sofrido, e que não deve ser sem razão. Apesar disso, não se furtam a festejar a vida (e a morte) e, como é notório da América Latina, transformar suas dores em musicalidade.
Mais abaixo, você pode escutar e ver uma palhinha da música de rua que presenciei aqui em Morélia, nesta Cerrada de San Agustín à noite. (Não deixe de aguardar o falsete, que é para você aprender e fazer em casa.)

A Catedral da Transfiguração do Senhor
Todos sabem que muito do dinheiro colonial de Portugal e Espanha acabaram nas igrejas, daí elas terem tanto destaque no patrimônio histórico de Morélia.
A catedral desta antiga Valladolid mexicana não deixa por menos. É uma gigante descomunal diante da Plaza de Armas, rica em beleza barroca da época do vice-reinado.
Como os mexicanos são talvez os melhores herdeiros da paixão ibérica dos espanhóis, os nomes são sempre fortes. Esta é a Catedral de la Transfiguración del Señor, referente ao episódio bíblico em que Jesus, no fim, se transforma em luz no alto de uma montanha.




Indo ao Museu do Doce
Eu saí da catedral para encontrar um começo de tarde ensolarado e já meio quente no centro de Morélia. Após um café com lanche algo tardio lá no Café Michelana e umas voltas matinais pelos pontos que vos mostrei acima, eu ainda não havia almoçado.
Diante de mim, a larga Avenida Madero — a artéria mais larga e bela de Morélia. Descendo-a à direita, eu tinha um caminho de cerca de 1 Km até a Fonte das Tarascas, com o Beco do Romance e outras atrações daquelas bandas que já vos mostrarei.
Recomendo a todos fazer esse caminho, e foi o que fiz após almoçar num chinês vagabundo destes de esquina, de funcionárias uniformizadas com o cabelo preso e a televisão ligada passando filme norte-americano velho — tal qual em tantos começos de tarde no Brasil.
Dali foi que eu encontrei o Museu do Doce, além de outras coisas pela avenida.




O Museu do Doce (Museo del Dulce) é uma doceria com aspecto de botica antiga, uma loja original do século XIX que busca conservar as tradições dos doces típicos de Michoacán — aqui amplamente à venda.
As funcionárias se vestem como na virada do século XIX para o XX, quando o México era sobremaneira influenciado pelos modos franceses da belle-époque. (É de onde vem, inclusive, a figura da Caveira Catrina que tanto marca a celebração de Dia dos Mortos aqui no México — uma caricatura jocosa daquelas damas.)
Se você tiver tempo, elas oferecem um tour de 45 minutos pelos interiores desta fábrica artesanal, contando das várias receitas herdadas dos antigos conventos de Michoacán.



O Aqueduto, a Fonte das Tarascas, e o Beco do Romance
Continuei a descer pela Av. Madero até chegar à ampla praça do aqueduto colonial de Morélia, onde também ficam a Fonte das Tarascas e o Beco do Romance. São outros dos pontos famosos desta cidade.
Morélia conta com um aqueduto para abastecer a cidade desde 1549, mas o atual que você vê aqui hoje data de 1730, quando foi reconstruído maior após o desmoronamento do primeiro. É uma obra e tanto, com mais de 200 arcos atravessados por estes arredores do centro da cidade.
Aqui diante dele, a Fonte das Tarascas, que é mais nova, mas de maior simbologia. A obra da década de 1930 mostra três figuras femininas nuas da cintura para cima, um retrato físico das índias tarascas (como eram e são também chamadas as Purépecha, etnia principal desta região) a lavar seus panos no curso de água e sustentar sobre a cabeça um cesto de coisas da terra.


Esta é uma área bem mais quieta. Tão poucos eram os turistas que um senhor me viu tirando fotos e, na boa sociabilidade mexicana, interpelou-me sem cerimônias, “Saca desde allí, del otro lado“, com aquela amabilidade casual latino-americana e me indicar onde haveria bom ângulo.
Quem circulava por ali pareciam famílias locais; crianças a brincar ao redor da fonte; um e outro a passar.
O Beco do Romance (Callejón del Romance) fica logo ali atrás. Eu cheguei crente que se tratava de uma espécie de “jardim dos namorados”, ou até beco de rala-e-rola, mas que nada. A tônica é outra.

O romance aqui é com a própria cidade. VenAMORelia, você aí no coração acima.
Trata-se dos versos Romance de mi Ciudad, obra do finado poeta local Lucas Ortiz, cujas partes estão escritas pelo beco.
O poema é bastante comprido, mas aqui vai uma parte. Fez-me lembrar de um coroa conhecido meu lá de Feira de Santana, que declara amores roxos à rua onde crescemos. (Jamais me esquecei dele dizendo que, se tivesse que ser assaltado, que fosse ali naquela rua.)
¡Ay, ciudad de mis recuerdos!
¡Oh, capital michoacana!
¡Si se murieran las rosas,
otras rosas te quedaran;
las rosas de tus mujeres
de belleza no igualada,
que rezan a San Antonio
y besan en las ventanas!

O Santuário Guadalupe
Toda esta minha vespertina caminhada teria como destino final (antes de voltar) o Santuario de Nuestra Señora de Guadalupe de San Diego, uma obra-prima do barroco do século XVIII, e talvez a mais bela igreja de Morélia. Se você gosta de arte ou religião, vale a pena vir até aqui.
O caminho desde a Fonte das Tarascas até cá é uma delícia, por sob um sombroso arvoredo da chamada Calçada Frei Antonio de San Miguel.
Era como uma volta à tardinha por uma cidade do interior.


Do outro lado dela, desemboca-se de frente para a Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, uma obra de 1716. Por fora, você nem dá muito; já por dentro, é um esplendor de encher os olhos. (Você percebe aonde vinha o ouro na antiga Valladolid.)




Epílogo: Uma orden de corundas
Dão-se voltas longas em Morélia, como você pode perceber. O meu retorno ao hotel, lá no miolo do centro, foi por ruas meio residenciais de cidade do interior onde o sol já se punha; com ele, os vendedores de rua apareciam, e as crianças sabe-se-lá-de-onde punham-se a brincar pelas praças.
Numa porta aberta que só se abria em determinadas horas, comprei um tamal na folha de bananeira — uma espécie de pamonha salgada típica aqui do México, com recheios variados e pimenta.
Mais logo, no entanto, eu ia fazer freguesia numa senhora que conheci e cujo nome eu nunca aprendi. Fazia das pimentas mais apimentadas de todas — ouvi relatos de quem se queixasse de até taquicardia aqui —, e era onde eu encerrava as minhas noites.
Nada glamuroso; só uma bodega dessas de rua, onde a vendedora, visivelmente cansada, se senta enquanto não vem cliente e levanta-se fazendo aquela força. Você oferece dinheiro e ela responde “deixe que no final você me paga“. Foi onde comprei a minha “ordem de corundas”.

Essa senhora não conversava muito; era daquelas que olham você, sorriem, perguntam uma coisa, e se contentam com aquilo. Estava curiosa para saber de onde eu vinha.
A ordem de corundas, a você que não compreendeu, é esse prato com quatro daquelas pamonhas salgadas — massa de milho cozida enrolada na palha, só que com sal e manteiga em vez de açúcar e leite de coco. Aqui, servem delas acompanhadas de conchadas demolho de pimenta e, para rebater, um creme de leite de por cima. É uma delícia; potente feito uma valsa enquanto desce.


Certa noite, ela me perguntou aonde eu ia depois daqui. Expliquei que já era o final da minha volta pelo país, e que só faltavam algumas paragens aqui do interior de Michoacán.
“Vuelves a México?“, perguntou ela não querendo saber se eu retornaria ao país, mas se daqui iria de volta à capital. Respondi que sim.
“Y después tomas el camión para Brasil?“. Os mexicanos chamam ônibus de camión informalmente. Ela me olhava com aquela bondade das pessoas pobres enquanto eu processava a ideia de voltar de ônibus desde aqui até o Brasil.
“El avión“, indiquei eu. “Toma muchas horas.“
Ela fez que sim com a cabeça sem se mover muito, o mesmo sorriso cansado ali congelado.
“Dios te bendiga“, me desejou por fim.
Eu deixo com fotos à noite desta perigosíssima capital de Michoacán.




Belíssima!… fofa, essa cidadezinha. Que graça. Cheia de lugarezinhos agradáveis, de belos recantos com banquinhos, debaixo de belas árvores, entre as magnificas edificações coloniais com suas lindissimas pedras rosadas.
A cidade é encantadora e de uma beleza arquitetônica impar. Que riqueza!… Com certeza merece o tombamento histórico.
Os templos são ora pujantes ora singelos mas todos ricamente ornamentados ã modas da época. Seus interiores são magníficos. Haja ouro.
Suas pracinhas, casario, arcos, balcões, ruelas, becos e até grandes avenidas enchem os olhos de tanta beleza e bom gosto.
Quanta coisa bonita: musica, poesia, becos floridos e romãnticos, gente alegre e sorridente… É a gloria hahaha diria uma amiga minha haha
Um achado histórico rico em arte e beleza.
Impressionantes os arcos do aqueduto, e que bela e larga avenida.
Amei ouvir La Malagueña e seus gostosos sonidos…
E que povo alegre e que aprecia estar nos espaços públicos!.. alegria e participação, que o povo brasileiro perdeu.
Saudades do México, um dos destinos turísticos de que mais gosto.
Amo o tamal. Essas corcundas não conhecia, meu amigo. Imagino a pimenta hahaha. Eita lê lê.
E que saudade das paletas. Aqui no Brasil nao encontrei mais.
Curiosa essa casa com picolés do Brasil.
Muito interessante essa casa de doces. Parece que se entra na máquina do tempo de volta ao início do século passado.
O “clima”, os tons, as luzes da cidade, o seu burburinho, suas atrações são um espetáculo ã parte. Uma festa para os olhos e para os corações.
Exuberante a cidade. Quanta beleza cultural artística e histórica.
E que história interessante. Coitados dos índios e dos seus defensores. Eita colonizadores dantescos. Se Dante os conhecesse certamente os teria dado o destino certo hahahah
Mais uma belissima postagem.
Estou encantada com essa vossa bela viagem, mi joven amigo viajeiro.
Que belo que está o México.
Valeu, meu jovem amigo.
Que venham mais belezas.