Bem-vindos ao Sri Lanka, este fantástico país de milenares culturas (no plural) e que os portugueses chamaram de Ceilão quando o encontraram em 1505. O nome passou ao inglês como Ceylon e só recentemente voltou a ser oficialmente Sri Lanka.
O nome Sri Lanka significa algo como “ilha resplandecente”. Lanka é ilha, e Sri é o venerável título sânscrito comumente usado como respeito a alguém ou algo sagrado para denotar-lhe graça e luz — como os hindus fazem com Sri Ganesha (o deus com cabeça de elefante). Em inglês, acaba virando Lord, embora seja uma tradução inexata. Portanto, poderíamos até tomar a liberdade de traduzir o nome deste país como Senhora Ilha. Isto ela é, e como resplandece, como a foto não me deixa mentir!
Trata-se de um país soberano do Sul da Ásia, uma ilha no Oceano Índico logo a sul da Índia. Pense numa ilha em forma de gota com 500 Km de norte a sul e, em média, 200 Km de oeste a leste. Tem seu porte. Ali vivem 22 milhões de pessoas, numa área maior que a Paraíba, mas menor que o Estado de Santa Catarina ou que Portugal.

O Sri Lanka é um país predominantemente budista, o que o difere um pouco da vizinha Índia, ainda que as pessoas em muito se pareçam tanto física quanto culturalmente. Ao longo das postagens em detalhes aqui desta viagem, vocês conhecerão melhor este país.
Neste começo, eu gostaria de explicar como obtive o visto para brasileiros, todas as demais exigências, e a experiência prática da chegada pelo aeroporto de Bandaranaike (Colombo – CMB). Vamos nos acostumando aos nomes grandes!

Obtendo o visto para brasileiros ou portugueses (ou quase qualquer um)
O Sri Lanka tem uma política simples de emissão de visto. Quase qualquer estrangeiro — inclusos aí brasileiros, portugueses, e cidadãos de 90% dos países do mundo — obtem um visto na chegada no aeroporto.
Não é obrigatório, mas você economiza alguns dólares por pessoa — e bastante tempo — se solicitar antecipadamente online uma autorização eletrônica de viagem (ETA – Electronic Travel Authorization). A emissão dessa ETA é tão rápida que até assusta.
O único site oficial onde requerer tal autorização é este abaixo, que ponho por extenso para não haver dúvidas. Não faltam sites de agências privadas internet afora oferecendo-lhe o mesmo serviço, mas invariavelmente lhe cobrando mais caro, com suas taxas de administração para fazer o mesmo que você pode perfeitamente fazer por conta própria.

A ETA em 2022 estava custando USD 36 por pessoa para uma estadia turística de até 30 dias. O site ainda diz USD 35, mas já subiu. Se você não a solicitar online e deixar para fazer tudo no aeroporto, eles dizem custar USD 40 por pessoa, mas não se choque se chegar lá e já forem USD 42 ou 45. Paguei no site com cartão de crédito sem problema nenhum.
Note que, caso você esteja viajando acompanhado, deve “Adicionar visitante” (num lugar com o símbolo de + ao fim do formulário) e depois pagar todas de uma só vez. Não é para refazer tudo do começo ao fim para cada pessoa. Assim você também recebe todas as confirmações num mesmo endereço de e-mail.
De que documentação precisa?
(1) Scan da página principal do passaporte em formato JPG (se só tiver em PDF, há sites vários na internet que convertem o formato em um minuto. Este é um.).
(2) Passagens de avião ida-e-volta já compradas.
(3) Comprovante de vacinação com o ciclo vacinal completo, se estiver viajando ainda no fim da pandemia. Dose de reforço não é exigida.
Eles sabem que muita gente aproveita para visitar a Índia ou as Ilhas Maldivas (paradisíaco país independente não muito longe daqui) na mesma viagem, então por padrão os vistos de turista permitem até duas entradas (double entry) no Sri Lanka. É um direito que você tem; não está obrigado a usá-lo.

Não se choque se o site oficial de solicitação da ETA travar no meio do preenchimento das informações (ocorreu comigo uma vez). Você pode tentar novamente dali a um tempo. Uma vez paga a tarifa e enviado o formulário, em menos de 1h chegou a confirmação no meu e-mail.
Note que não vem nada em anexo para você imprimir. Eles lá no aeroporto terão já tudo no sistema vinculado ao seu número de passaporte — você não precisa apresentar mais nada. Se quiser, pode tomar nota do número de autorização da sua ETA, mas aí é só por precaução. Comigo, nem precisei.
Esta autorização pode ser usada nos 6 meses seguintes à data de emissão. Os 30 dias padrão começam a contar, naturalmente, a partir da sua data de entrada no país.
Documentos de saúde
Febre Amarela. Como é de praxe em outros países tropicais, se você viaja com passaporte brasileiro, não importa se há mil anos não pisa no Brasil, é exigido o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela. Você não precisará dele para solicitar o visto, mas no aeroporto no Sri Lanka ele lhe será cobrado.
Teste negativo? Quarentena? A esta altura de 2022, você já não precisa fazer PCR para visitar o Sri Lanka se estiver completamente vacinado contra a Covid-19. A exigência caiu em 27/02/22. Tampouco há quarentena. Você pode acompanhar as atualizações nas exigências aqui. Acredito que, com o tempo, todas as exigências relacionadas à pandemia desaparecerão.
Declaração de saúde do viajante. Só o que realmente precisa, por ora, é preencher online uma declaração de saúde e subir o seu certificado de vacinação junto com as informações pessoais. A página então produzirá um QR code que você pode ter consigo no celular (ou impresso) para acelerar os trâmites no aeroporto de Colombo.
Seguro? Você talvez veja internet afora algo sobre seguro de saúde obrigatório contra a Covid-19, mas não vi nenhuma exigência sobre isso na prática. Não tive, não precisei, e ninguém me pediu que eu tivesse. Na pior das hipóteses, esse tipo de coisa pode ser adquirida no ato, no aeroporto, se vier a ser exigido.


Se você estiver a se perguntar sobre a minha avaliação da Sri Lankan Airlines, eu diria que ela é boa, embora não ótima. Boa alimentação (abundante e saborosa), mas esse sistema individual de entretenimento às vezes encrenca. A vantagem, realmente, é o preço e poder voar direto da Europa, sem as conexões habituais em Doha, Dubai ou Abu Dhabi. Sugiro que você a cogite e compare os custos.
A experiência da chegada no aeroporto
Eu fazia um voo noturno desde Paris direto para Colombo, 10h de viagem, ligeiramente menos que viajar da França para o Brasil. Chegaríamos de madrugada, com a vantagem de ter o dia inteiro pela frente. Outra vantagem desse horário é que, eu pelo menos, fico sem pressa nos trâmites de chegada, já que há ainda o dia todo pelo caminho. E, de fato, desta fez eu precisaria de paciência.
O Aeroporto Internacional Bandaranaike, de código CMB mas às vezes apelidado de BIA (Bandaranaike International Airport), é melhor do que você talvez imagine. Ele não deixa a desejar em termos de estrutura física, ainda que o Sri Lanka seja um país humilde.


Meu desembarque foi sossegado, meu voo aterrissou no horário, só que no aeroporto tive breves contratempos que me requereram paciência — se foram excepcionais por conta ainda da Covid, não sei.
Health check & Imigração
Ao que você chega com passaporte brasileiro, não se esqueça por nada neste mundo de, antes de entrar na fila da imigração, passar no Health Check desk. Fica quase que logo atrás do Buda grande meio amarelado que há no centro do saguão.
Como o aviso dizia que seria necessário para passageiros embarcados da América do Sul ou da África e o nosso voo veio da Europa, tomei ao pé da letra a normativa e achei que não seria necessário. Ledo engano: o oficial, cortês, me solicitou que primeiro fosse lá, pois “com passaporte brasileiro, a gente precisa pedir”. Referia-se ao certificado de vacinação contra a febre amarela.
Não tomei como bom sinal quando ele indicou que eu aguardasse sentado.
Até aí havia sido audácia e otimismo meus. Tudo estaria bem se não fosse a ausência de qualquer pessoa lá no tal balcão de saúde. O guardinha ao lado pegou o telefone e ligou para alguém, falou algo numa língua que não entendi (provavelmente cingalês), e me disse que esperasse.
Não tomei como bom sinal quando ele indicou que eu aguardasse sentado. O ar era daquele bem Terceiro Mundo — presente em certos lugares também no Brasil, tipo consultório médico — onde não dão a mínima para sua perda de tempo com a demora ao bel-sabor da pessoa aguardada. Não deu outra, levaria quase 1h até aparecer alguém. Por sorte, o tiozinho da imigração saiu de lá a ver por que eu não tinha voltado e tomou o problema para si.
“Eu pensei que você já tinha passado“, abordou-me ele com breve surpresa, um oficial moreno mais ou menos da minha idade todo de branco. Chamou a responsabilidade, e ele próprio ligou.
Seriam ali 45-50min de espera sentado à madrugada até aparecer o guarda com outro uniforme, o tio da vigilância sanitária — com direito a quepe e tudo — informando, num ar de autoridade sociável, que demorou porque estava sozinho lá na frente. Acolheu-me numa salinha, pediu para ver o certificado de vacinação contra a febre amarela, e escreveu coisas num caderno. Daí, finalmente carimbou o seu cartão de desembarque (arrival card) que eu havia preenchido durante o voo.
Ele já tinha todas as minhas informações de visto. Só se assegure de que o oficial de fato ponha no seu passaporte um adesivinho indicando a sua permissão de até 30 dias.
O meu chapa de branco, vendo-me finalmente livre, avisou que eu tomasse posição pois ele abriria um novo guichê, para que eu já me dirigisse para lá antes dos novos passageiros recém-desembarcados que formariam fila.
Ele já tinha todas as minhas informações de visto. Só se assegure de que o oficial de fato ponha no seu passaporte um adesivinho indicando a sua permissão de até 30 dias (o padrão, caso você não tenha solicitado mais) com sua data de entrada, para que tudo corra sem contratempos quando você for sair.
A retirada das bagagens & a alfândega
Passada a imigração, cheguei finalmente ao saguão com as esteiras de entrega de bagagens. Com toda esta demora, supostamente que as minhas há muito já estavam entregues — e eu esperava que ainda estivessem ali.
Perguntei por elas a um “fiscal de esteira de bagagens”, cidadão de colete oficial que só ficava ali de olho para ninguém fazer nenhuma merd@. (Eu adorei a ocupação, que ele fazia com afinco, mirando esfíngico as bagagens que vinham, até eu o interpelar e interromper sua mirada).
“Paris…”, refletiu ele com ar de mistério — e seguiu, pedindo-me que o acompanhasse. Demos uma boa volta, ao que eu acharia minhas bagagens sob a custódia ocular de dois oficiais dali, que contudo me deram as bagagens de bom grado, sem nem ver nada, nem etiqueta nem o que fosse. Tive depois a impressão de que fiscal que me acompanhou queria uma gorjeta, mas passei batido.
O duty free, que antecede a alfândega, foi algo pitoresco. Esta foi a primeira vez na vida que vi ênfase não em perfumes, bebidas e cigarros, mas em eletrodomésticos, panelas, e toda a chamada “linha branca” de peças de cozinha. Geladeira, panela de pressão, monitor LG, e tudo o mais que você geralmente associa com Black Friday nas Casas Bahia ou Ricardo Eletro.

Os srilanqueses de retorno ao país os compravam sem cerimônia — e creio que também sem imposto. Carregavam os seus carrinhos com os produtos da linha branca e coisas para a casa agregados às malas.
Passamos sem problemas por uma alfândega praticamente vazia. Nenhum estresse, nem nenhuma exigência. Eu me perguntava quando, afinal, pediriam o meu certificado de vacinação e teste negativo para a Covid — se é que pediriam.
Trocar dinheiro antes de deixar o aeroporto
Já imigrado e passada a alfândega, você chega a um saguão de desembarque onde parece que tudo já acabou — só que ainda não.
Ali, várias casas de câmbio como quiosques, várias lado a lado, mostrando folhas de papel ofício impressas com os dizeres “No Commission” ou com os valores da cotação para a troca de dólares americanos (USD) por rúpias srilanquesas (LKR).
Vi uma “USD 203”, as pessoas gesticulando, retornando o meu olhar com chamados compulsivos para que eu fosse, me dizendo “same same!” como quem quer informar que todas as cotações eram mais ou menos iguais — e eram mesmo, mas com ligeiras variações que podem fazer uma diferencinha se você trocar valores altos. Ele me oferecia 203, eu consegui 205 com um dos vizinhos ali ao lado.
Foi a primeira vez na vida — mesmo nesta minha vida vadia de viajar por tantos lugares do mundo — que eu encontrei câmbio por uma taxa melhor que a oficial que você consulta na internet. O Google me dizia que por USD 1 eu obteria LKR 202. No aeroporto, estavam gritando 203, e eu consegui 205. Eu, hein.
Vale a pena. Diz a lenda que no centro de Colombo, em alguns lugares, se pode obter cotações melhores, mas nada que justifique o esforço extra para ir cambiar. Troque aqui tudo o que puder — e tenha em conta que o Sri Lanka é cheio de coisas interessantes, que muitos lugares não aceitam cartão, e que você provavelmente vai comprar mais do que imaginou.

Passos finais
Note-se que, até aqui, estamos em áreas restritas do aeroporto. Eu não havia ainda chegado à área pública onde deveria ter alguém do meu hotel me esperando. (Tê-lo é, inclusive, uma boa pedida, pois este aeroporto fica deveras longe da cidade, e só se chega lá com transporte particular.)
Munido agora de rúpias srilanquesas, eu peguei a fila derradeira para — finalmente — a última checagem, mais uma verificação de saúde, desta vez acerca da Covid-19. Imagino que esta etapa se desmanchará conforme a pandemia ficar para trás.
A coisa estava ligeiramente truncada porque diversos turistas ocidentais não haviam preenchido a declaração de saúde do viajante. Entravam na fila, e eram convidados a sair até preencher tudo manualmente no papel.
Tendo já meu QR code prontinho, tudo foi extremamente simples. Eu já havia submetido online meu teste negativo de PCR, a página de identificação do passaporte escaneada, e o certificado de vacinação.
Escaneei o QR code, e já não precisei de mais nada. Aí foi só achar o pobre do motorista do hotel que também havia ficado ali de molho devido ao atraso que sofri com a burocracia.
Eles ficam mais para fora. Você, antes, se verá margeado por vários balcões das principais redes de hotel do Sri Lanka, como a Cinnamon e outras. É gente a quem você pode recorrer caso tenha reserva num desses hoteis. Era o meu caso, então fui a um deles, que ligou para o motorista lá fora me identificar e ficar de prontidão.
Quando eu saí feito modelo pela passarela, com fulanos segurando plaquinhas (“pajeando”, como se diz aqui no Sri Lanka), identifiquei o motorista do meu hotel sem demoras naquele calor tropical úmido idêntico ao do Nordeste do Brasil. Senti-me em casa, de certa forma.
Chegávamos finalmente à rua, onde à calçada, diante da qual paravam os táxis e outros veículos, estavam as muitas pessoas — o povão srilanquês — com seus carrinhos repletos de malas e alguns eletrodomésticos ali comprados no duty free.
Nota-se um espaço bem mais inclusivo aqui que no apartheid brasileiro, onde você sabe onde encontrar preto, onde encontrar branco, e os espaços sociais são bem divididos. Aqui, éramos quase todos de algum tom de bege-marrom — cor de noz-moscada ou de canela.


Agora é só alegria, Sri Lanka. Cheguei. Chegamos.
Ôh que beleza verde esse pais. Bela foto de abertura. Maravilha essa paisagem.
A Ásia sempre majestosa. Tem semelhanças com a natureza brasileira.
Aeroporto bonito, amplo, bem dividido. Adorei o palavrão do nome do aero hahah. Acho que é o de Bangkok que também tem um palavrão no nome hahaha. Simpático, o aero. Simpático também o povo.
Curiosos os produtos do Duty free. De fato, inusitados.
E quanta burocracia!… Coitado do viajante. Mas só estar na Ásia ja faz esquecer os percalços.
Espero que venham belezas dessa gostosa parte do mundo.