Eu tenho lhes mostrado muita da cultura srilanquesa nos posts anteriores, mas é atrás de ver também os elefantes no Sri Lanka que muita gente vem aqui.
O elefante é um animal nativo tanto da Ásia quanto da África. São espécies distintas — os africanos costumam ser maiores, e mais frequentemente têm daquelas presas de marfim.
Se você é louco por elefantes e essa é a sua missão principal, eu francamente sugiro a África como um lugar de preferência: visite o post da minha viagem pelo Parque Tarangire na Tanzânia e verá. Já se a sua vontade é fazer uma viagem mais cultural, de descoberta, e de quebra ver destes animais sensacionais, tanto a Tailândia quanto aqui o Sri Lanka oferecem oportunidades.
Só tenha em mente que, na Ásia, você costuma ver mais santuários (quanto não animais em cativeiro) que parques com animais realmente selvagens. É preciso ser seletivo se você se importa com o bem-estar animal. Aqui eu compartilho da minha breve experiência procurando onde ver — e vendo — elefantes no Sri Lanka.

Elefantes: selvagens ou domesticados?
Os elefantes são animais bastante sociáveis (entre eles), e por vezes formam laços também com humanos. Vivem mais de 60 anos, têm fabulosa memória, e se comunicam por meio de sons (alguns inaudíveis aos humanos) e padrões de movimento com as orelhas. Estamos apenas começando a compreender a sua complexidade.
Eles, na natureza, se organizam em grupos matriarcais. Eu costumo brincar que eles lembram um pouco as famílias latino-americanas. Os machos se afastam depois da adolescência, andam às vezes com outros machos, podem reaparecer na família de origem de quando em vez, e quando estão ouriçados, procriam. Porém, não tomam conta de suas crias, algo que fica sob responsabilidade da mãe e do seu entorno de fêmeas — avós, tias, primas e outras. É um tanto como a “paternidade facultativa” de alguns latino-americanos.
Então quando você encontra grupos de elefantes, eles costumam ser 100% femininos exceto pelos ocasionais filhotes machos. Os elefantes machos adultos são solitários, e geralmente maior em tamanho. Você nota a diferença.
No Sri Lanka, há em geral três formas de você ver elefantes:
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- Indo a um parque ecológico, como num safári.
- Indo a algum santuário ou orfanato de elefantes, onde eles são mantidos por humanos.
- Encontrando-os por acaso nas ruas e estradas, pois eles aqui nunca estão muito longe.
“Como assim encontrar elefante pela rua??” É que o interior do Sri Lanka segue relativamente selvagem. As vilas e cidades são próximas, quando não adjacentes ou no meio de áreas naturais. Os elefantes, portanto, aparecem sem aviso.


Duas curiosidades antes de eu prosseguir.
A primeira é que na espécie africana machos e fêmeas têm daquelas presas ósseas, já nos elefantes asiáticos só os machos, e às vezes. O comércio de marfim dos últimos 200 anos — para fazer bens essenciais como pentes, bibelôs e bolas de bilhar — extirpou muitas das populações de elefantes com presas. É uma questão de genética.
Os elefantes sem presas acabaram se tornaram a maioria aqui na Ásia, enquanto que na África ainda é mais balanceado. A coisa está aos poucos melhorando, a proibição do comércio de marfim (incluso pela China) faz desta uma daquelas “razões para acreditar”, mas ainda há um caminho a percorrer.
A segunda curiosidade é que eu perguntei aos srilanqueses o que eles acham de ter elefantes assim rondando. “We love elephants, sir“, disse-me em tom de confissão um motorista que vive na zona rural, onde você verá cercas elétricas para que eles não saiam dos parques ou adentrem os quintais (meio Parque dos Dinossauros).
“Mas aldeões às vezes descontentes; elefante animal muito inteligente“, completou-me ele num inglês impreciso, “pega tora de madeira com a tromba e joga para quebrar a cerca e passar. Outra vez entrou lá no quintal de casa e arrancou uma bananeira.” Tem dessas. São questões longevas aqui no Sul da Ásia.

Onde ver elefantes no Sri Lanka
Vamos ao que interessa (ao turista). Já tratei acima dos “encontros imediatos de terceiro grau” que você talvez terá aqui (não deixe passar muito disso, pois elefantes selvagens podem ser agressivos com estranhos). Para vê-los com mais consistência ou previsibilidade, é preciso fazer uma visita a um parque ou santuário.
Os santuários de elefantes aqui no Sri Lanka dividem opiniões. É preciso ser seletivo, pois há uma diferença tênue — e nem sempre clara à primeira vista — entre santuários que fazem um bom trabalho de resgate & conservação e empreendimentos comerciais, disfarçados de caridade animal, para atrair turistas estrangeiros com shows e promessas de interação com elefantes.
Elefantes em cativeiro podem ser muito bons para fotos e muito ruins para o elefante. O maior e mais controverso desses lugares no Sri Lanka é Pinnawala, um orfanato de elefantes onde fazem reprodução em cativeiro e resgate de elefantes domesticados abandonados. Não gostei de algumas fotos que vi, nem de relatos que li de elefantes acorrentados e servindo em cativeiro para conteúdo de Instagram em troca de gorjetas aos funcionários (aqui por exemplo, em inglês).
Melhor é ver os elefantes no seu habitat natural, em parques ecológicos. Estes animais são sociáveis demais para terem uma vida plena em cativeiro. Cuidar de animais resgatados, tudo bem — precisam ser acolhidos em algum lugar. Já “indústria” de animais selvagens em cativeiro vira outra história.
Os mais indicados são o Parque Nacional Minneriya ou o Hurulu Eco-Park, ao qual eu fui e cuja visita eu relato mais abaixo.

Visitando um parque ecológico no Sri Lanka & o Hurulu Eco Park
Há uma dúzia de parques ecológicos visitáveis no Sri Lanka, e sua escolha dependerá de (1) onde no país você estará e (2) que época do ano é.
Os mais famosos para ver elefantes são Minneriya, Uduwalawe, e Hurulu Eco Park. Udulawawe é bastante pequeno, e fica perto de Galle e Mirissa Beach no sul do país, então espere certa concentração de elefantes mas também de turistas — há quem diga que é muito apertado.
Minneriya é o parque nacional mais visitado para se ver elefantes no Sri Lanka. É ideal entre abril e outubro, a estação seca naquela região do país. Já se você vier fora desse período, como foi o meu caso, a área fica alagada pelas chuvas e cheias, então aí a recomendação — pra quem visita entre novembro e março — é o Hurulu Eco Park. Foi aonde eu fui.
Os preços aqui não são altos. Em verdade, são ordens de magnitude mais acessíveis que os dos safáris africanos — ainda que estes lá no continente negro sejam superiores em qualidade. Se você já foi à África, não espere nada tão indomável aqui.

Os custos para fazer um safári aqui no Sri Lanka têm várias partes, e é bom ficar atento a todas elas.
A entrada no Hurulu Eco Park custa USD 18 por pessoa, e esse é um valor relativamente padrão para outros parques. Paga-se sempre na moeda local. O valor em dólares é apenas uma referência, pois a rúpia srilanquesa se desvaloriza com facilidade.
A visita ao parque — ou seja, o safári em si, que você paga a quem organiza e o leva — sai bem mais em conta, e você negocia o preço. Qualquer acomodação em Sigiriya ou vizinhanças faz isso. Os passeios costumam durar algumas horas. Eu paguei 6.500 rúpias (à época, o equivalente a USD 32) pelo carro fechado num jipe particular. Até 3-4 pessoas, a depender.
Certifique-se de que esse preço já inclui tudo, pois há custos (1) da entrada do motorista e quem mais o acompanhar e (2) para o veículo. Quem me levou quis pegar um dinheiro a mais nessa hora, querendo que eu pagasse a entrada do jipe por fora, e rolou toda aquela discussão habitual de “pode ligar aí pro seu patrão que o que eu acertei com ele foi preço total com tudo incluído.” Melhor já ter tudo claro desde o começo.

Os meus guias eram dois molecotes de seus 18 anos, ainda com aquele ar de adolescente ao volante. Não que fossem imprudentes, mas se percebia aquele ar de “já sou homem, olhe eu dirigindo o carro”.
O que me irritou, na verdade, foi eles apontando elefante lá na PQP no meio do mato e gritando “Elefante! Olha ali! Tá vendo?” como se eu fosse algum retardado — ou criança que nunca viu elefante na vida — e fosse me contentar com aquilo. (A gente vai ficando mais experiente e, se mais flexível com certas coisas, mais exigente com outras.)


Há uma hora em que você desce do carro para subir uma grande formação rochosa, de onde tem uma vista, e aí tem diante de si toda a imensidade.




A verdade é que vi bem poucos elefantes neste safári — e os que vi, vi de longe. Veria-os melhor na estrada de volta para Sigiriya, curiosamente.
Mas não foi necessariamente uma visita representativa. Vários me disseram e já relataram ter visto bastantes elefantes aqui na mesma época do ano, então há sempre um elemento de sorte.
Abaixo vão algumas fotos de outros visitantes aqui que as publicaram no portal TripAdvisor. Mostram das possibilidades — mas venha sabendo que as suas chances variam. O ideal é visitar pela manhã ou pelo fim da tarde.





O Sri Lanka portanto é uma opção bem mais em conta que a África se a sua pretensão é ver elefantes, ainda que a experiência africana seja de bem mais vastidão.
Ficam com vocês estas minhas considerações e opções que avaliei nesta simpática ilha do Sul da Ásia. A viagem continua.



Para quem gosta destes vídeos simples feitos com o celular, meio câmera de veículo e sem narração, eis este entardecer no Sri Lanka.