Eis um antigo mosteiro budista na floresta, do século II a.C. Ritigala é uma montanha no Sri Lanka que deu nome a este lugar onde viviam monges budistas mais ascéticos que o habitual.
Por mais de mil anos, centenas deles conhecidos como Pansukulika (ou os “esfarrapados”, pois usavam apenas robes feitos de roupas abandonadas) viveram aqui em comunidade e união com a natureza. É impressionante encontrar tantos vestígios tão antigos ainda nestas ruínas.
Os Pansukulika eram meio Jedi (ou seria o contrário?), não no sentido de que movessem coisas com as mãos nem que tivessem sabres de luz, mas renegavam até mesmo o ouro e as estupas suntuosas que às vezes adornam os templos budistas. Aqui, em meio à floresta, davam-se direito apenas a água fresca e templos com biblioteca neste seu retiro em Ritigala.
Venhamos percorrer e conhecer um pouco deste lugar que poucos hoje visitam, ainda que tenha grande antiguidade e significação para os srilanqueses.

Chegando a Ritigala: Onde estamos, afinal?
Estamos no centro-norte do Sri Lanka, entre Sigiriya e Anuradhapura. É uma região bem “pouco desenvolvida” do país, no sentido convencional do termo. Isto é, na prática é lugar repleto de muita natureza.
A melhor forma de chegar até aqui é de carro num trajeto entre Sigiriya e Anuradhapura. (Ritigala fica mais perto da primeira que da segunda). Certifique-se de incluir esta parada no seu caminho — você leva cerca de 2h em visita aqui. Há um ingresso, mas de valor modesto de alguns poucos dólares (1.000 rúpias), e daí vale a pena contratar um dos guias locais que ficam à entrada e pagar-lhe umas 2.000 rúpias (USD 5-10). Esse preço pode ser acertado.
As pessoas aqui, afinal, não vivem mais como os “esfarrapados” de outrora: têm famílias para sustentar e poucos recursos de que viver. Que tenham ruínas milenares perto de si é um bem e tanto, e você pode lhes ajudar a viver melhor da conservação e da valorização deste lugar.
Ele é tão pouco conhecido entre os turistas que eu praticamente visitei Ritigala sozinho — somente eu e o guia percorrendo a floresta e as ruínas.

A vida dos Pansukulika aqui
Ritigala exige um mínimo de forma física, pois a sua visita consiste em percorrer — da base até o topo — o caminho que aqueles monges budistas faziam diariamente.
Eles não plantavam nem colhiam: como de hábito entre monges budistas até hoje, viviam de donativos. Seu voto monástico inclui a pobreza como no caso que alguns monges cristãos, que aprenderam com os budistas e entraram na onda.
Todos os dias, estes monges desciam por longos caminhos de pedra e escadarias até os vilarejos à base da colina, onde recebiam arroz e frutas. Sua recíproca era abençoar a população e fazer dessas tarefas sacerdotais.
Com aquele alimento básico, subiam tudo outra vez — o que vamos fazer agora.



Fazia aquele calor básico dos trópicos, aquele calor de lugar com vegetação. Conforme você sobe algumas centenas de metros ao longo de 1h até o fim do mosteiro, chega a notar a temperatura diminuir um pouco. É como se a floresta e o ambiente lhe dessem um leve refresco.
O guia seguia à minha frente conversando, contando-me sobre como os monges desciam e subiam por este trajeto todos os dias. Detinham-se em pausas em três círculos que você hoje verá cheios de terra, mas que à época eram fontes de água onde podiam se sentar um pouco para descansar e molhar as pernas.






A água de fonte desce ali fria, e os budistas faziam bom uso dela. Afora o consumo, usavam-na também para refrescar as suas edificações e também em redor de alcovas onde podiam meditar sem o risco de serem interrompidos por animais.
Eles aqui tinham uma espécie de centro de tratamento também, onde aplicavam vapores e ervas em quem precisava.
Milênios se passaram, mas você ainda encontra aqui alguns daqueles instrumentos — e ruínas das estruturas — talhados na rocha.





No topo do mosteiro ficava a biblioteca, pois já desde o primeiro século a.C. os budistas começaram a escrever seus ensinamentos. Até então, tudo havia sido transmitido oralmente, como cheguei a contar em detalhes na visita às Cavernas de Dambulla.
Hoje, nada mais se encontra de escritos nem do prédio. Há apenas o alicerce de pedra do que ele um dia foi, no alto da colina, rodeada por verde de todos os lados.




Ao que eu aos poucos retornava, ouvia suado o som dos ventos nas folhas das árvores — algumas delas imensas. Mangueiras selvagens e outras coisas nativas aqui desta Ásia tropical que conhecemos tão pouco. Das áreas mais interessantes do mundo, onde há milênios a natureza encontra o místico.
Era hora de retornar. Por onde os monges iam todas as manhãs rumo ao vilarejo, eu descia em direção ao carro. Era hora do almoço, e as comidas srilanquesas me esperavam. Eu rumava agora a Anuradhapura, a que foi a primeira capital do Sri Lanka, na Antiguidade.
