Helsinki (ou Helsinque se você quiser aportuguesar, ou ainda Helsínquia como a chamam em Portugal) é uma séria candidata a ser a capital menos badalada de toda a União Europeia.
Qual outra seria? Digo União Europeia e não Europa porque, fora da UE, reza a lenda que nenhuma se compara (no mau sentido) a Podgorica, a capital de Montenegro. Eu já visitei Montenegro, a sua belíssima — e ainda pouco conhecida — cidade histórica costeira de Kotor, mas ainda preciso de mais falta do que fazer coragem para ir à capital.
Voltemos à Finlândia. Os finlandeses, eles próprios, não fazem alarde da própria capital. Aliás, fazem alarde sobre nada ou muito pouco — talvez até daí o seu famoso charme do sangue frio.
Vocês podem estar dizendo “Ah, mas eu quero ver agora com isso da OTAN e da Rússia“. Pareceram-me muito pouco preocupados, no sentido emocional da coisa. Eu perguntei, e me disseram que lhes ocorre que há riscos, mas que não estão preocupados demais.
A Finlândia, afinal, já foi parte do Império Russo, e esses vizinhos lhe são velhos conhecidos. Foram parte do Império Sueco também, os vizinhos do lado de cá. No fundo, os finlandeses fazem a sua própria coisa neste canto nórdico do mundo, com sua língua “alienígena que parece élfico” (nas palavras de um europeu amigo meu) e poucos vínculos históricos com o restante do mundo.
Venhamos conhecer, afinal, o que é que Helsinki tem — esta cidade que manterei aqui na escrita original por lealdade aos elfos.

Chegando a Helsinki
Helsinki é uma cidade europeia relativamente nova, fundada apenas em 1548. Os suecos, cristianizados após o tempo Viking, começaram a povoar de fato esta região nos idos de 1300 misturando-se com a gente local.
A gente local no caso finlandês é uma mistura de povo Sámi no norte e aqueles que viríamos a chamar de finlandeses no centro e sul, uma gente que fala uma língua parente do estoniano e do húngaro. Todos estes migraram em algum momento dos miolos de onde hoje é a Rússia, nos Montes Urais, para cá. Falam das chamadas línguas urálicas.


Aí você olha direito no mapa, e se lembra de que os Vikings estavam interessados era em terras agricultáveis mais calientes que as suas, e em pilhar as riquezas das civilizações mais a sul. Que raios iriam querer nesta paragem ainda mais ao norte e ainda mais gelada (no inverno)?
Ponho o “no inverno” porque temos a má concepção de que sempre faz frio aqui nestas partes do mundo. Sim, não são os trópicos, mas tampouco é gelo o ano inteiro. As fotos vos mostram como as primaveras e verões aqui podem ser belos.


Você, que reparou na moça, achará curioso saber que a Finlândia é o país com o maior número per capita de loiros no mundo inteiro. Inclusive, se vê muito por aqui aquilo que eu apelido de “loiro Targaryen”, com o cabelo beeem claro, quase prateado — e assim chamado pelos personagens da série As Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones).
Há mais deles aqui que nos países escandinavos — e, a propósito, não chame a Finlândia de Escandinávia. Escandinávia são Noruega, Dinamarca, Suécia e talvez Islândia, frutos daquela cultura Viking e muito assemelhados na língua etc. Os finlandeses se identificam como nórdicos, mas no mais são uma república, enquanto que a maioria daqueles são monarquias parlamentaristas, e têm a sua própria linhagem distinta.
E que curiosos são mesmo estes finlandeses a meu ver, que me parecem um tanto mais excêntricos que os seus vizinhos suecos. É mais fácil aqui você ver alguém com cabelo pintado de verde, ou cor de rosa, ou usando cinco anéis nos dedos. Ou simplesmente com coques e amarrações nos cabelos que lhes fazem mesmo parecer elfos modernos.

Cheguei, finalmente. Vindo de Estocolmo numa breve rota de avião — daquelas que, devido à diferença de fuso horário (+1), você pode chegar antes da hora que saiu se voar de Helsinki às 8:00 e chegar às 7:45. No sentido que eu fiz, é uma hora a mais. Já o meu retorno à Suécia seria por outras maneiras. Quem viver verão.
O Aeroporto de Helsinki (Vantaa) é algo acabado, verdade seja dita. Não que seja feio, mas cheira a décadas atrás e talvez precise de um recalque. É exatamente o mesmo que eu vi quando estive aqui em princípios de 2013 para visitar Rovaniemi, só que uma década depois. Daqui, a vantagem é que se toma fácil um trem por €4,10 à cidade. (Sim, a Finlândia usa o euro, e faz parte da Zona Schengen de fronteiras abertas na União Europeia.)
Trinta minutos de jornada e você logo chega à modernista estação ferroviária central de Helsinki, com a cara do tempo da Revolução Russa.
A saber, filmavam-se aqui muitas das cenas supostamente na Rússia dos filmes antigos de James Bond, do tempo da Guerra Fria. Quem sabe voltarão a fazê-lo.


Investigando a cidade e seus lugares
À recepção do meu albergue estava uma das típicas moças finlandesas, com suas maçãs do rosto pronunciadas e por vezes um rostinho meio quadrado. Acho-as bonitas, para que não achem que estou falando mal. (E aquele olhar silencioso que frequentemente têm — uma coisa introspectiva quase zen — me interessa sobremaneira.)
Naquele janeiro em que estive aqui, a cidade era um deserto frio e escuro de ruas molhadas onde o sol quase não nascia. Parecia que eu estava preso em alguma música do Nightwish. (Sleeping Sun, para ser preciso). Na primavera, as coisas acordam, e circula alguma vida por entre as ruas de concreto e os edifícios quadrados de Helsinki.
Ciganos põem-se a tocar publicamente nas ruas, e africanos a bater tambores à frente da estação ferroviária. Como me sugeriu uma amiga húngara que aqui veio, Helsinki nesta época vira uma versão ligeiramente bruxelizada de Estocolmo — e menor. Sim, com aquele vai-lá-vem-cá de certo movimento e imigrantes na rua que há na capital belga.
O primeiro lugar que conferi, portanto, foi o próprio pequeno centro de Helsinki com suas praças arborizadas e múltiplos calçadões.




Não faltam restaurantes nem bares neste centro de Helsinki, nem certa vida noturna às calçadas — ao menos nesta época do ano.
Nos meses frios, creio que se recolha aos ambientes internos. Você também tem muitos shoppings e galerias cobertas adequadas a este clima. Se os brasileiros gostam de shopping em parte para se refugiar do calor, aqui é para se abrigar das intempéries quase árticas.
Suomenlinna
Eu começarei a parte turística lhes mostrando a atração mais bem-quista de toda Helsinki, e que traz também um quê de História consigo: o Forte de Suomenlinna (Suomenlinna Sea Fortress se você for procurar). Trata-se de um sítio histórico tombado pela UNESCO pelo seu valor e autenticidade.
É uma das atrações mais antigas daqui também, dos idos do século XVIII. Estas terras então faziam parte do Reino da Suécia, que ordenou construir o forte numa ilha próxima de Helsinki para se proteger dos russos.
Suomenlinna, entretanto, é toda uma ilha ampla onde também havia vilarejos e as pessoas viviam. Não era um lugar puramente militar como outros fortes por aí. Muito segue preservado, com a cara do século XVIII quando os suecos a fizeram — ou do século XIX, quando os russos tomaram o lugar e vieram morar aqui.

Suomenlinna é como se fosse uma área pública da cidade, então não se paga nada para entrar. Basta adquirir um bilhete do transporte público marítimo na máquina por 8 euros ida e volta na máquina.
Os ferries partem a cada 20 minutos do porto no centro da cidade.





Em Suomenlinna, você encontra um misto destes prédios de época e fortificações propriamente ditas — portões de pedra de muralhas de rocha.
Pode-se circular à vontade, e há cafés agradáveis também por onde costumava ser o vilarejo. Há um quê de parque temático aqui, só que de verdade. Você só paga se quiser adentrar os pequeninos museus que há aqui e ali. (Não vi grande necessidade.)
Cheguei, e por entre estes edifícios do tempo barroco da Europa eu passei até chegar a uma praça com uma igreja e uma rua de chão — à là Velho Oeste — com elevadas casas de madeira pintadas, alpendres à entrada e degraus para se subir à casa. A porta de madeira rangia ao que eu entrava para o que se transformou numa cafeteria.




Se você está um pouco confuso com esta coisa de suecos e russos por aqui, nada tema.
Helsinki foi fundada pelos suecos em 1548, como lhes disse, mas ela já era um vilarejo por alguns séculos antes disso. É que Helsinki era uma cidade desimportante, e só depois é que ganharia proeminência.
Os suecos a chamaram Helsingfors, como ainda fazem. Helsing significava “pescoço” ou estreito, num sentido geográfico genérico, e fors são corredeiras. Referem-se às corredeiras do rio Vantaa aqui próximo. Daí o nome seria finlandizado como Helsinki.
Os suecos dominaram estas terras adjacentes ao seu reino — e muito do Mar Báltico entre elas — dos idos de 1300 até 1800, constituindo aí meio milênio de integração e mistura entre finlandeses e suecos. O sueco segue sendo língua oficial na Finlândia, junto com o finlandês, e não faltam finlandeses vivendo há gerações na Suécia, nem suecos aqui. Eles se dão bem.


Eu depois vou contar mais sobre o medievo aqui na Finlândia, quando visitar cidades históricas mais antigas Helsinki.
Por ora, vale dizer que no século XVIII o Reino da Suécia perdeu guerras e começou a ver sua influência diminuir. Nascia também uma nova potência na Europa, a Rússia imperial, que se veria particularmente poderosa após derrotar Napoleão em 1812.
Sveaborg, como os suecos haviam chamado este forte, cairia em mãos russas em 1808 e se tornaria uma fortaleza do czar no seu novo território, a Finlândia.


Você pode passar a tarde (ou até o dia) circulando aqui se quiser se deter em cada museuzinho ou café, mas o percurso básico dura cerca de 2h pela rota até o chamado Portão do Rei.



Uma curiosidade é que, se você acha que os russos suprimiram a identidade finlandesa mais que os suecos, equivocou-se. Sob os suecos, que já estavam assentados aqui desde 1300, havia uma forte política de homogeneização — imposição da língua sueca, da igreja sueca, etc.
Os russos, que tinham um império multicultural expandindo-se até a Ásia, alternaram-se entre períodos de russificação e períodos de maior tolerância na sua História. Aqui, foi um tempo de abertura no século XIX, em que a cultura, língua e literatura finlandesas puderam florescer sem o jugo sueco.


Lugares de Helsinki propriamente dita
A Finlândia de hoje se assemelha em muitos elementos tanto à Suécia quanto à Rússia, e a gastronomia é um deles.
Retornado de Suomenlinna, detive-se no Antigo Mercado (Old Market), uma espécie tradicional de mercado coberto muito comum nesta parte do mundo. Costumam ter ênfase muito grande em peixe fresco e venda de pratos com peixe, como sopas típicas.
Saiba que, hoje em dia, este Antigo Mercado está algo gourmetizado e turístico — nenhum grande problema, pois a comida é autêntica, só não espere preços populares. Se vier, não deixe de tomar uma sopa tradicional de salmão, que em muito me lembrou a sopa uha que eles fazem lá na Rússia. Ambas com bastante endro dentro. Afinal de contas, a Rússia está logo aqui ao lado, a meros 150Km de Helsinki.




Foi curioso ouvir muitos retirantes russos aqui pelas ruas de Helsinki. Se vieram agora ou antes, não sei, mas mais de 300 mil deixaram a Rússia depois da invasão à Ucrânia. Alguns estimam que os números reais são muito maiores, e você de fato escuta muitos deles aqui na Finlândia.
A ponto de, não sei sob o interesse de quem, por ora suspenderam o trem Allegro — que tomei e narrei, e de que alegremente me lembro — numa ida a São Petersburgo, a poucas horas a leste daqui. A saber se para sempre ou apenas temporariamente.
Embora muitos russos declaradamente gostem da “zoeira” da Rússia, e já tenham me dito que acham a Europa enfadonha porque tudo é previsível (numa versão eslava do que teria dito também Tom Jobim após viver no estrangeiro, que “Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom“), mas a gosto ou contragosto vieram para cá.
Helsinki, afinal, é uma paz. Eu prosseguia e via criança de seus 8 anos andando sozinha em segurança no centro da cidade. Dali a pouco, eu via o imigrante negro servindo de trabalho barato na uberização de hoje em dia, entregando comida pra europeu com as mochiletas coloridas nas costas à bicicleta.

Coisas do século XIX e do século XXII na Finlândia
Você leu corretamente — não foi erro de digitação. Há coisas aqui que me parecem mais saídas de algum século XXII imaginado que do presente, como que vindas do futuro.
Refiro-me a algumas obras arquitetônicas, verdadeiros monumentos que se tornaram atração em Helsinki. Curiosamente, várias são igrejas um tanto peculiares — com uma pegada meio ecumênica — e que se contrastam muito com as outras obras dignas de nota aqui na cidade, como as grandes igrejas do século XIX que lhe chamarão a atenção no centro.





Se a madeira não é tanto assim o seu elemento zen, você pode buscar a Igreja de Pedra, chamada em finlandês de Temppeliaukio Kirkko, na vizinhança de Töölö. (Ao fim desta postagem, teria convencido vocês do exotismo finlandês.)
Esta é a única que cobra bilhete de entrada, €5, o que eu achei um despropósito, mas paguei mesmo assim por devoção a estes relatos.





Num dado momento em que eu estava distraído aí dentro, ouvi um ruído profundo, e achei que já eram os caças russos no céu, mas era o rapaz movendo o piano pesado com suas rodas no chão. Tomei mais um sol, e fui embora.
Quem quiser me acompanhar de volta ao século XIX, talvez o ache mais familiar que esse século XXII finlandês.

Não se choque por ver a estátua de um imperador russo aqui. É preciso conhecer a história. Alexandre II foi o czar que, em 1863, permitiu aos finlandeses ter o seu próprio parlamento e obter um nível inédito de autonomia, que não tinham sob os suecos, e que em tempo levaria ao nacionalismo finlandês.
Em 1899, o Império Russo adotou uma política de russificação, e essa estátua de Alexandre virou um símbolo de resistência. Já se quis removê-la quando a Finlândia ficou soberana em 1918, mas estes foram voto vencido. Não acho que ocorrerá; os finlandeses são sóbrios demais para esses arroubos, acho eu.





Logo depois, entre 1862-1868, os russos ordenariam a construção também de uma catedral ortodoxa, já que seguem essa outra vertente do cristianismo. Ganharia lugar a Catedral Uspenski, completamente noutro estilo — e a meu ver mais bonita no interior.


Já se você prefere algo mais laico, também há. Do século XX, vê-se o Parlamento da Finlândia (sua sede de governo), e recomendo a visita ao Museu Nacional, num prédio de arquitetura romântica nacionalista dos idos de 1910, com o interior em Art Nouveau.





Muita gente se esquece, mas muito do medievo aqui já foi durante o cristianismo. Então você aqui também encontra muitíssimas obras de arte e objetos sacros deste último milênio.


Um ou dois dias são bem passados aqui em Helsinki, se você quiser conferir de perto estas coisas.
No fim das contas, ela pode ser mesmo a menos turística das capitais na União Europeia, mas tem lá as suas coisas para se ver. Eu sigo afora Finlândia adentro. As descobertas por esta curiosa terra continuam.
Bonita, a cidade. Belas praças, largas avenidas, muito verde, bela arquitetura, museus , recantos simpáticos, monumentos e muita História, pelo visto.
Destaque para os templos, prédios públicos, praças e belos jardins.
Gostei muito da Igreja ortodoxa. Belo estilo e imponente interior.
gosto pouco desses futurismos.
Apreciei o museu, suas peças, seus vitrais. Bela a arquitetura Romântica.
A catedral ortodoxa é um espetáculo. a Igreja luterana é muito bonita. Destaque para o seu lindo órgão.
Gostei muito do Antigo Mercado, em particular da sopa de peixe. Adoro.
Lindas árvores. Belo céu azul.
Ja tinha passado por Helsinki mas ligeiramente e não percebi muita coisa. Na Primavera parece mais bonita.
Bela natureza.
Lindo passeio.