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Itália Puglia

Locorotondo, Puglia: Das vilas mais belas da Itália

Imagine aí as ruelas brancas e os bequinhos fotogênicos, com plantas e portas ornamentadas. O chão liso de pedra quase sempre acomoda apenas pedestres. O todo da cidade é pequeno, um ajuntamento do tempo medieval e todo redondo, antigamente envolto numa muralha.

Bem-vindos a Locorotondo, uma das vilas mais cênicas e fotogênicas da Puglia — e da Itália inteira. Ela, inclusive, é titular da chamada Bandeira Laranja (Bandiera Arancione), um reconhecimento concedido na Itália às suas vilas históricas mais atraentes e acolhedoras. É um certificado de excelência. 

Essa foto de capa, tirada durante o Natal, é de divulgação na internet, mas foi ela quem me “provocou” a vir conhecer Locorotondo de perto. A cidade é pequenina, e pode ser combinada no mesmo dia da visita a Alberobello, na Puglia. Meros 10 minutos em trem regional separam uma da outra.

Eu recomendo vir para almoçar, que foi o que fiz, pois a cidade, embora pequena, tem grande ofertas de restaurantes onde fazer das refeições mais pitorescas de sua vida.

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Meu almoço em Locorotondo, Puglia, acompanhado de um vinho local nas vias brancas da cidadezinha.

Locum rotundum, cidade do ano 1000

Locorotondo sem dúvida começará a lhe chamar a atenção já pelo nome. Vem mesmo de “lugar redondo”, Locum rotundum ou Loco rotondo, por ser uma cidade — ou melhor, vila — em formato arredondado. 

A cidadezinha data do ano 1000, inicialmente como uma aldeia vinculada ao mosteiro beneditino de Santo Estêvão aqui perto. Com o tempo, foi se desenvolvendo, inclusive com traços de arquitetura do norte da Europa quando da invasão dos normandos.

(Os normandos, do norte francês, funcionaram como mercenários a serviço de senhores feudais cristãos que queriam expulsar os mouros do sul italiano durante a Idade Média. Você lê mais a esse respeito na postagem de Palermo, Sicília, onde eles fariam história e grandes obras.)

Ao longo dos séculos, a vila preservou um jeitoso centro todo caiado de branco, com ruelas onde não passam carros. Já não há a muralha, mas é como se houvesse, pois ao redor da cidadezinha branca elevada se vê logo o campo de frutas mediterrânicas e olivas.

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Locorotondo fotografada do alto.
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Locorotondo no elevado, com os cultivos nos arredores por onde eu passei.
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Os caminhos neste interior do sul italiano, com Locorotondo lá adiante e também um trullo, as casinhas redondas típicas desta parte da Puglia que lhes mostrei antes em Alberobello.

Chegando a Locorotondo

Eu já expliquei no post anterior como um trem (ou ônibus da Trenitalia) o traz facilmente, várias vezes ao dia, desde Bari (a capital regional da Puglia) até tanto Alberobello quanto a Locorotondo. Meros 10 minutos em trem regional separam uma da outra. Não é necessário carro para visitar estas cidades, a menos que você faça questão.

Consultei o site oficial da Trenitalia, e à hora certa eu estava lá, à pequenina estação ferroviária de Alberobello para zarpar a Locorotondo. Os trens regionais aqui não são muito frequentes, daí a importância de descobrir antes os horários. Não há qualquer necessidade de reservar o bilhete antecipadamente pela internet — basta chegar à estação com um tiquinho de tempo e comprá-lo na máquina. Não é possível nem necessário reservar assento nos trens regionais italianos.

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Trem regional da Trenitalia aqui na Puglia, no meu trajeto entre Alberobello e Locorotondo.
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A modesta estação ferroviária de Locorotondo.

A estação ferroviária de Locorotondo fica fora do seu centro histórico medieval — ninguém deverá ficar surpreso em saber.

Cheguei e percorri ainda 600m desde a estação ferroviária até a Piazza Aldo Moro, ainda externa ao centrinho histórico, e onde fica a prefeitura da cidade. Há ali vias tranquilas, ruas onde carros passavam ao lado de calçadas arborizadas com oliveiras. Viam-se poucas pessoas à rua sob aquele calor do meio-dia.

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As ruas da parte moderna de Locorotondo, pelas quais passa quando desembarca de trem.
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Oliveiras bem crescidas arborizando as ruas tranquilas da Locorotondo moderna.
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A Piazza Aldo Moro, em homenagem a ele que foi primeiro-ministro italiano nas décadas de 1960 e 1970. Aquela é a prefeitura.
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Um sorvete que me atrevi logo a pegar ainda antes de almoçar. (Crianças, não façam isso.)

O centro histórico, aqui vizinho, fica numa parte elevada da cidade, e já daqui se tem uma bela vista dos campos ao redor. Há uma singela pracinha arborizada onde senhores italianos bem-vestidos liam o jornal e turistas tiravam fotos. Tudo exalava tranquilidade.

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Esta é a chamada Villa Comunale, um jardim público bem diante da entrada para o centrinho histórico de Locorotondo.
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O Belvedere di Locorotondo, de onde se pode ver os campos e o interior ao redor.
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Senhores a ler jornal e prosear.

Já esta parte de Locorotondo me passava uma beleza simples e autêntica, mais autêntica que a cidadezinha vizinha — muito mais turística — de Alberobello.

A pitoresca área histórica de Locorotondo

É então que se adentra a cidadezeta redonda, quase inteira apenas a pedestres. Há turistas, mas não são muitos — quase todos eles europeus de outros países. As ruelas são quietas, e dá vontade de percorrê-las todas, vendo os seus segredos e conhecendo cada cantinho.

Por vezes, veem-se rendas redondas de crochê dependuradas sobre as ruelas, como que a mostrar das artes tradicionais da cidade.

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Entrando no centro histórico de Locorotondo, Itália.
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A Piazza Vittorio Emanuele à entrada da cidade histórica.
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Alguns turistas, mas não muitos.
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Rua redonda contornando a cidade.

Eu, inicialmente, ao ver fotos daqui, julguei que a cidade histórica fosse apenas esta longa rua curva. Ledo engano, pois não faltam ruelas pitorescas centro histórico adentro — e nem todas elas são curvas.

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Recantos de Locorotondo, Puglia. Note as rendas dependuradas.
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Aqui com uma linda renda em destaque. Trata-se de uma tradição local.
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As vias de casas brancas e as flores coloridas.
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Buongiorno.
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Passeando pelo que parece até cidade cenográfica, mas é histórica, real, e com as casas habitadas por gente daqui. Delícia de autenticidade e esmero em Locorotondo.

Foi então que procurei onde almoçaria. Não havia definido ainda o restaurante, eles que agora pelas 12-13h começavam a abrir. Se você demorar muito, outras pessoas pegarão as melhores mesas.

Você verá muitas mesas de restaurantes espalhadas pelos bequinhos brancos, como que perdidas ali, mas vinculadas ao restaurante mais próximos. Rapazes bem-apessoados com aquele ar capa-de-revista dos italianos faziam as vezes de garçons. 

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Os restaurantes aqui são recantos assim pelos becos brancos da cidade.
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Olhem as mesas. Aquela edificação comprida é arquitetura normanda, de quando essa gente do norte da Europa veio cá — chamados pelos senhores locais para lutar contra os mouros no sul da Itália — e edificou do modo como sabiam.
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Locorotondo à hora do almoço fica assim.
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Sentando-me para tomar um vinho com a entrada.

Aquele italiano me trouxe o pão dentro do saco de papel e a garrafa de água, que eles aqui na Europa costumam consumir no almoço. Vinho aqui da Puglia, e uns pães com tomate e ervas. 

As comidas aqui não variam tanto; a minha sugestão é que você veja os cardápios e se sente onde achar agradável. Foi o que eu fiz, antes de rumar à Igreja de São Jorge Mártir e ver de fora um casamento. Parecia que todo dia à hora do almoço, aonde eu fosse, havia casamento ocorrendo aqui na Puglia nestes meses mais quentes do meado do ano.

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Caminhos de Locorotondo.
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Bem-vindos à Igreja Matriz de São Jorge Mártir (Chiesa Madre San Giorgio Martire). Love is in the air em Locorotondo.
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Casamento em andamento.
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Arroz para jogar nos noivos em Locorotondo.

Até me ocorreu dar uma de penetra bom de bico e participar da festa de casamento após, mas eu é que não iria arriscar criar caso com algum Don Corleone, ainda mais cá no sul da Itália. O casamento, pleno de seguranças, parecia ser de gente rica. Segui o meu caminho.

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Caminhos em Locorotondo.
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Vale a pena se perder aqui.
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As rendas por toda parte. Você acha dela para comprar nas lojas por um preço considerável.
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Renda no feno.
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Portais com imagens religiosas.
Ruas de Locorotondo
Caminhos e descaminhos.

Caminhar por Locorotondo é um sonho de uma tarde de verão. Você fica ali a circular o tempo que quiser, mas eu tinha de seguir caminho, pois queria ver — ainda hoje — a cidade de Martina Franca, outra das históricas nesta região da Puglia.

Foi curioso, pois vi na internet que seria possível caminhar desde Locorotondo até lá, e que era até um caminho interessante pela campania italiana — os seus campos.

Quando levantei a ideia com o meu anfitrião em Bari, ele me olhou como se aquilo fosse uma loucura. Disse-me que só de carro se faria isso. Sabe de nada, inocente. É nessas horas que eu percebo que, às vezes, as pessoas do próprio lugar nem sempre sabem das manhas que os visitantes descobrem. 

Fui-me a pé, embora para Martina Franca, passeando pelas figueiras, e vendo Locorotondo ao longe.

Locorotondo vista de fora.
Deixando Locorotondo para trás.
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Descendo a escada antiga “atrás” da cidade, rumo ao campo.
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Locorotondo já ao longe. O sol na testa para pegar um bronze, e o caminho adiante.
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O campo, os cultivos, algumas figueiras à frente, e Martina Franca me esperava lá adiante. A pé. Bella ciao.
Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Locorotondo, Puglia: Das vilas mais belas da Itália

  1. Maravilha, Mairon! Deu vontade de conhecer. Aliás, faz tempo que não viajo… a pandemia coincidiu com o nascimento de minha filha. Abraço!

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