A gente quase nunca imagina o medievo à beira-mar — ao menos não muito na Itália.
Monopoli, cujo nome significa “única cidade”, foi o que sobrou de uma destruição dos bárbaros ostrogodos após a queda de Roma. É uma cidade antiquíssima, de antes mesmo de os romanos dominarem o sul da Itália, num promontório à beira-mar que já é habitado desde 500 a.C.
Esse castelo que você vê na foto de abertura é o Castelo de Carlos V, mais um dos muitos que esse imperador espanhol ordenou construírem aqui nos idos de 1500. Ele se deu sobre fortificações ainda mais antiga, feitas no tempo medieval para defender esta costa sul-italiana das constantes incursões árabes.
Hoje, Monopoli — que já está longe de ser a única cidade — é uma cidadezinha de 50 mil habitantes, com uma parte moderna e um núcleo medieval bem à beira-mar aqui na costa da Puglia. Há quem venha para tomar banho de mar (e você vai ver vários deles), eu vim para conhecer e sentir a atmosfera deste lugar. Vamos conhecê-lo.



Chegando a Monopoli
Monopoli fica a uma curta viagem de trem desde Bari, capital aqui da Puglia. Menos de 1h em trens regionais frequentes o levam entre uma e outra — com partidas frequentes e sem necessidade de reserva antecipada (detalhes sobre trens na Itália aqui.)
Eu, entretanto, vim no sentido contrário, desde Lecce mais a sul, retornando gradualmente até Bari. Conhecer a Puglia é preciso, então me detive aqui. De Lecce, é coisa de 1h de trem até aqui.
Era uma tarde fresca e calorosa em Monopoli, entretanto tranquila pois não há hordas de turistas estrangeiros aqui, apenas um ou outro. A maioria dos que visitam esta região me pareceram ser italianos de outras bandas vindo conhecer a Puglia.


Dali você ainda caminha 1 Km até propriamente o que é o centro antigo, passando por quadras pacatas de Monopoli. Segui naquela tarde com a sensação de estar numa versão algo mais quieta das tardes de domingo no Brasil. As praças, claro, estão melhor conservadas aqui na Itália.



A catedral dá as boas-vindas
A Catedral de Monopoli — formalmente a Basílica Concattedrale di Maria Santissima della Madia — é que dá as boas-vindas, ela que fica já à borda do centro histórico com as ruas da cidade moderna. Em alguns pontos dessa margem há portas de entrada, já noutras, não.
“Concattedrale” é porque Monopoli e a cidade vizinha de Conversano fundiram as duas dioceses em 1986, fazendo as suas duas igrejas principais ser “concatedrais”. (Eu nunca antes havia ouvido falar nisso.)
Ao visitante, mais importante é a beleza rococó de barroco tardio dessa igreja com seus mármores e cores. Ela foi erigida — e derrubada para reconstrução — diversas vezes ao longo do último milênio, a mais recente obra (a atual) sendo finalizada em 1772.
A concatedral fica de frente a uma praceta pitoresca no que são de outro modo ruelas bem apertadas no centro de Monopoli, onde não passaria sequer uma carruagem. Aqui, entretanto, há um espaço amplo com arte nas rochas e oliveiras a decorar — a cara do sul da Itália.




Se você está a se perguntar o que é “Madia“, o nome vem do português e do espanhol. Ou melhor, do árabe. Almadia — que consta no nosso dicionário — designa uma forma de jangada nas línguas ibéricas.
Reza a lenda que, ainda no século XII, quando liderava uma reforma anterior da catedral, o bispo Romualdo solicitou a intervenção da Virgem Maria para encontrar madeira que lhe permitisse finalizar a obra.
Dizem que um morador da cidade sonhou com Nossa Senhora lhe dizendo que uma almadia havia encalhado aqui, e levantou-se de noite para ir avisar ao bispo. Dom Romualdo mandou-lhe embora, que fosse para casa dormir.
Entretanto, três vezes o sonho se repetiu, até que o bispo teria vindo ver com uma procissão e ali visto uma imagem sobre a almadia — ela que ficaria conhecida por Maria Santíssima della Madia em italiano.

Vamos adentrar o que é uma igreja belíssima, plena de mármores coloridos.







Toda essa riqueza foi, em parte, efeito do vigor artístico deflagrado no sul da Europa pelo movimento da Contrarreforma. Com o protestantismo espalhando-se nas Europas Central e do Norte a partir dos idos de 1520, a Igreja Católica reage com a constituição de ordens missionárias (notadamente, os jesuítas) e certa revisão de algumas ações.
Coincidindo com a Era dos Descobrimentos, a pujança comercial portuguesa, e pilhagem dos recursos das Américas, estes países católicos conseguiram investir bastante na arte e nestas obras.
Mas houve coisas pitorescas também, como uma insistência redobrada na doutrina do purgatório. A crença num limbo onde as almas permanecem após a morte é algo vetusto, pré-cristão, mas que provou ser um ponto de discórdia quando no século XI a Igreja Católica construiu toda uma teoria em cima da noção de purgatório e de como as pessoas em vida podiam orar assim como realizar indulgências materiais para essas almas com destino ainda indefinido.
Por que estou falando disso? Porque os protestantes foram rápidos em negar a existência de tal coisa, e a Igreja reagiu construindo várias igrejas dedicadas precisamente ao purgatório aqui pelo sul da Itália. Há figuras de esqueletos e, dizem, múmias de finadas eminências da Igreja aí no interior.





Meandros brancos e cremes em Monopoli — e o mar
Se as cidadezinhas costeiras das regiões da Campânia, onde fica Nápoli (costa amalfitana, Sorrento…), e da Ligúria (Cinque Terre & cia), têm por tradição aquele casario colorido, neste lado de cá da costa da Puglia a tradição é mais grega: coisas nas rocha ou pintadas de branco. Talvez seja simplesmente porque a Grécia está bem perto, e historicamente ela influencia esta parte da Itália há milênios.
Adentrando pelos meandros dos bequinhos de Monopoli (cidade de nome grego), temos portanto as coisas em tom de rocha creme ou pintadas de branco — com um quê italiano aqui e ali, é claro.
Você tem um lado mais residencial, quieto, deste centro histórico e outro mais comercial, turístico. Você saberá qual é qual, e dá facilmente para percorrer ambos. Eu comecei pelo residencial, ainda bastante autêntico.







Verdade seja dita, a “praia” de Monopoli me lembrou muito mais uma costa medieval onde navios de madeira atracam do que uma praia no sentido instagrâmico de hoje em dia — aquela coisa bonita, com sol, palmeiras e grandes extensões de areia diante de um mar belo.
Vide o mare quant’è bello, e ele inspira mesmo sentimento, mas não me foi exatamente o de entrar ali naquela apertada faixa de areia entre as águas e a antiga muralha da cidade.
Entretanto, viam-se vários aqui em Monopoli a boiar em colchões infláveis sobre a ela ou passear com cachorro ali na costa.



Esse castelo data do início do século XVI, quando os turcos otomanos ameaçavam invadir esta costa da Itália. Ele é relativamente pequeno, e se vê ele basicamente por fora. Fica numa das pontas deste centro histórico, logo ali ao mar.
Você daí facilmente migra — sem perceber — da área mais residencial para a área mais comercial e turística do centro de Monopoli. Começa a ver cadeiras e mesas ali, algumas vendas chamativas, e ocasionalmente pessoas não-italianas a passar.






Aí você encontra daquelas coisas pitorescas típicas italianas…



E assim a vida segue, e seguiria eu. Antes de retornar a Bari, eu teria ainda mais uma parada: Polignano a Mare. Vejo vocês lá — é onde cairá a nossa noite.
Uaaaauuu. Que coisa linda essa cidadezinha à beira mar plantada, como diz o poeta…com cara do Medievo… lindinha… Parece que se entrou na máquina do tempo e acordou na idade Média… que belas construções, linda e poderosa fortificação…Beliiisiiimos tons das pedras …diante do maravilhoso azul do mar e céu do Mediterrâneo. Esplendoroso o efeito visual…
Que lindas as casinhas brancas, a cara da Grécia… as ruelinhas floridas ..Encantadoras…Com mesinhas lindas enfeitadas, nos belos, luminosos, convidativos e alegres bequinhos , com gente simpática . Que maravilhoso cenário. Parece cidadezinha saída de algum filme romântico. E que pracinhas fofas… arborizadas, com banquinhos, bem arrumadinhas, e bem decoradas… Uma graça.
Esse tom bege das casinhas, com suas escadarias floridas são de uma delicadeza e graça sem igual…Uma fofura, a cidadezinha.
Belos e históricos edifícios, com seu elegante e vetusto estilo arquitetônico, tudo bem conservado e cuidado que enche os olhos de quem chega. Um espetáculo…
E o que dizer dessa magnifica catedral, ricamente decorada com belíssimos e coloridos mármores.
Seu interior é de perder o fôlego, tamanho é o esplendor…Uma preciosidade…Uma riqueza…
Quanta beleza nessa cidadezinha desta belíssima e encantadora Puglia…
Apaixonei-me.
Adorei meu jovem amigo. Pretendo conhecer…