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Os melhores lugares onde passar o Natal na Europa

Agosto no ar, e quem ainda não decidiu começa às vezes a conversar sobre onde passar o Natal. Para muita gente, essa é uma decisão fácil ou até óbvia: em casa, com a família. Já outros cogitam viajar, com ou sem familiares.

A Europa acaba sendo um sonho de consumo de muitos nessa época, devido às férias, às chances de neve, e — claro — aos enfeites natalinos. De fato, não há lugar do mundo onde a celebração pública do Natal seja mais tradicional.

Mas onde passar o Natal na Europa? Como moro na Europa há mais de 10 anos e já tive a chance de celebrar a ocasião em uma penca de países europeus diferentes (Itália, Alemanha, Holanda, Tchéquia…), resolvi fazer um balanço e dar um pitaco sobre este tema.

A saber, muito do que eu direi aqui se aplica não apenas à data do Natal especificamente, mas a todo o período de dezembro — às semanas chamadas Semanas do Advento — antes do Natal, quando a Europa mergulha no seu período mais sublime.

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As Feirinhas ou Mercados de Natal que tanto marcam muito do continente nessa época. Esta foto é na cidade de Dresden, na Alemanha.

Dezembro na Europa

Como qualquer um que vive na Europa pode facilmente constatar, se não fosse pelo Natal, dezembro seria um mês deveras inadequado para turismo no velho continente.

As temperaturas ficam em queda com o fim do outono — mas normalmente ainda não o bastante para haver neve. A neve às vezes só cai depois, inverno adentro em janeiro ou fevereiro, e o que se tem em dezembro é aquele chuvisco frio aos 15ºC, 10ºC, ou 5ºC, a depender de onde na Europa você estiver.

Claro que há os golpes de sorte, mas eu diria que se seu interesse for conhecer um país em si, independentemente do Natal, é melhor optar pela primavera (abril-maio) ou pelo verão (junho-setembro). Novembro e dezembro, junto com janeiro, são talvez os meses com o clima mais deprê do ano.

As origens pré-cristãs da celebração do 25 de dezembro são precisamente em torno do renascimento dos dias mais longos após eles ficarem bem curtinhos durante novembro e dezembro nesta região temperada do mundo. Nessa época, o sol se põe às 18h em Roma, às 17h em Paris, e às 15h em Estocolmo, após dias frequentemente cinzentos e molhados.

Quem dá o tom e a alegria a esse tempo do ano é precisamente o Natal — os enfeites, os eventos, e as comidas típicas. As feirinhas fazem as vezes de ilhas de alegria no meio de cidades algo adormecidas pelo frio.

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Não é à toa que todo mundo vem para as atividades que há nos centros da cidade. (Não se engane: as feirinhas podem ficar bastante cheias, sobretudo nas cidades mais populares.) Esta é a praça principal de Praga, capital da Tchéquia.

A Europa não é toda igual neste tempo

A Europa inteira celebra o Natal, mas ainda que tenha havido certa homogeneização dos hábitos nestas últimas décadas, não é tudo a mesma coisa.

Não é só o clima que muda entre Lisboa, Berlim ou Oslo; mudam também a forma de celebrar o Natal, as datas-chave, e os tipos de eventos. 

A Europa latina se foca muito no presépio, como era tradicional também no Brasil. (Meus avós viam árvore de Natal como algo exótico, uma “modernidade” desnecessária inserida na celebração.) Já a Europa Central e Nórdica se focam bem mais na árvore e nas figuras gnômicas à là duende do Papai Noel, embora as igrejas também ponham presépios.

A maior diferença está mesmo no fato de os russos, bielorrussos e ucranianos cristãos ortodoxos celebrarem o Natal dia 7 de janeiro, não 25 de dezembro. Portanto, não estranhe se o escolhido para o turno da noite de Natal na recepção do seu hotel for um refugiado ucraniano.

Isso se deve ao fato de a Igreja Ortodoxa seguir o calendário Juliano (não o Gregoriano) nas suas festividades. Romênia, Bulgária, e Grécia também são predominantemente ortodoxas, mas celebram o Natal no 25 de dezembro por decisão própria.

E na prática, como turista, o que encontrarei?

Encontrará dias curtos e cidades relativamente quietas, com exceção notável para a Europa Central — que é onde, sem rodeios, eu recomendo ir para experimentar o melhor do “Natal de rua” europeu.

Fora dela, haverá enfeites de rua, mas nada muito além disso. Inclusive, já presenciei vésperas de Natal completamente ordinárias em lugares como Veneza ou Amsterdã, em que só havia os imigrantes muçulmanos com suas bodegas abertas em ruas molhadas e vazias.

O Natal é uma festa de família, e os europeus são bem tradicionais a esse respeito. Significa que as pessoas se embrenham dentro de suas casas, também pelo frio, e na maior parte do continente não há muito ocorrendo exceto lojas e ruas decoradas — um pouco como na América do Norte.

Hoje em dia, muitas cidades têm tentado pôr barraquinhas de rua com algo, mas nada se equipara à autenticidade centro-europeia, onde a tradição das feirinhas de Natal remonta à Idade Média.

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Esta é a Europa Central, para quem estiver perdido.
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Feirinha de Natal em Breslávia (Wroclaw), Polônia.
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Dentre as muitas barraquinhas que há, você não pode deixar de experimentar das comidas típicas, como as castanhas-portuguesas assadas na rua. Quentinhas e saborosas, elas são um bálsamo no frio de dezembro.

Nesses países centro-europeus, qualquer cidade de médio porte que se dê ao respeito terá sua tradicional feirinha iniciando nos fim de novembro ou início de dezembro. Diariamente.

São artesanias manuais, brinquedos de madeira, enfeites natalinos, utensílios domésticos com madeira de oliveira, curiosidades exóticas de outros continentes, e as barracas de comidas — tanto as típicas da época quanto as cotidianas.

Haverá cachorro-quente e cerveja tanto quanto guloseimas específicas de cada país (fritadas de batata na Tchéquia, cilindro de pão quente açucarado com canela na Hungria, queijo de ovelha defumado na Polônia, e por aí vai). Há também as presenças inevitáveis, de lei, que você encontrará por toda parte. As castanhas-portuguesas assadas são uma delas, e outra é o vinho quente ou quentão (o glüwein, em alemão, como é mais conhecido).

O glüwein é o vinho quente cozido com especiarias: cravo, canela, rodelas de laranja, e açúcar. Normalmente, há versões infantis sem álcool para quem preferir. 

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Um copinho de vinho para esquentar o coração em Estetino (Szczecín), Polônia.
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Oscypek é um queijo de ovelha defumado tipicamente polonês, que eles servem grelhado nesta época natalina, em geral acompanhado por geleia de cranberries.
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A vida é bela quando estamos felizes — e o Natal ajuda.

Para qual desses países é melhor ir?

Já deixei claro, portanto, a minha avaliação de que a Europa Central é — de longe — a melhor região da Europa a se visitar em dezembro. Os Países Bálticos  (Estônia, Letônia e Lituânia) até que seguem um pouco na mesma esteira, bebendo da mesma influência cultural. 

Os Países Nórdicos vão um pouco na mesma toada, mas com certas diferenças. Em lugares como Dinamarca e Suécia, por exemplo, não é raro que as feirinhas de Natal se deem dentro de parques temáticos com entrada paga. Nos centros de cidades como Estocolmo e Copenhague, você vê algumas barracas em áreas públicas, mas nada comparável. Eu digo porque é onde moro já há vários anos. Nem se deixe enganar pelo glögg deles, que é uma versão mais doce e menos saborosa do glüwein — com amêndoas e passas boiando em vez de cravo e canela.

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Tomando vinho quente sob um sol frio de dezembro em Basileia, Suíça, com as típicas xícaras colecionáveis. Sobretudo no mundo germânico, é habitual haver xícaras daquele ano — por vezes em várias cores, para você querer uma de cada. Se você devolver a xícara, recebe parte do dinheiro de volta. Se não, leva para casa. A bagagem volta tilintando se você bobear.
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Casal simpático que conheci numa barraca vendendo uma birita de mel típica da Eslovênia, na capital Ljubljana.
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Os biscoitinhos (bredle) de época na Alsácia, em Estrasburgo — A cidade francesa aonde ir no Natal caso você insista na França. Isso porque a Alsácia, por muito tempo, foi parte da Alemanha e preservou estas tradições.

A Alemanha sozinha tem dezenas de cidades com feirinhas natalinas, a Áustria outras tantas, e o mesmo para os países centrais do que se costumava chamar de Leste Europeu no tempo da Guerra Fria (Hungria, Eslovênia, Tchéquia, Eslováquia, Polônia). Algumas cidades, como Viena, chegam até a ter várias feirinhas acontecendo em lugares diferentes.

Francamente, já fui a todos eles e não há um que seja sempre superior aos outros — varia um tanto a cada ano, um pouco como é o São João pelo Nordeste.

Duas diferenças a ter em conta são os custos e as datas. Os países germânicos, mais ricos, são naturalmente mais caros que Polônia, Hungria, ou Tchéquia. Isso vale para os custos gerais de hospedagem etc. tanto quanto os custos das coisas pelas feirinhas.

As datas são a pegadinha de que muita gente não se dá conta: os alemães e austríacos têm por hábito encerrar as feirinhas já dia 23 de dezembro. À véspera de Natal, estará tudo fechado. Se você pretender vir durante ou logo após o Natal, é melhor negócio buscar os países do antigo Leste Europeu — Hungria, Tchéquia, Polônia e outros. Eles geralmente conservam as feirinhas até Dia de Reis (6 de janeiro) ou pelo menos até o fim de dezembro.

Se você der uma busca na internet, geralmente descobre as datas específicas do Christmas Market da cidade que você procura. Ou pergunte nos comentários se tiver dúvidas.

Já fiz vários posts do Natal por aí Europa afora — e não me caso. É das minhas épocas preferidas.

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Breslávia (Wroclaw), Polônia.

Você pode ver lugares específicos em detalhes nas postagens abaixo, ou em várias outras nesta página com todos os meus posts de Natal.

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Como é o Natal na Alemanha: Minha experiência

O Natal em Praga, na medievalesca capital da Tchéquia

A História e o Castelo de Kalmar (Suécia) no Natal

Gdansk, Polônia: Às vésperas do Natal

Natal na Polônia, Parte 2: Breslávia (Wroclaw)

Natal na Polônia, parte 3: Cracóvia (Kraków)

Copenhague no inverno e no Natal

Na Suécia, entendendo o significado original do Natal

Estrasburgo, a Capital do Natal

Rovaniemi, Finlândia: Visitando a Lapônia e o Papai Noel no Ártico
(PS. Para este último, vale ir em qualquer época do inverno. Lá, sempre é Natal ;-))

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

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