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Israel-Palestina

Visitando Jerusalém (Parte 2): O Monte do Templo, o Domo da Rocha e o Muro das Lamentações

Não há vista de Jerusalém que não inclua essa cúpula dourada, que muita gente vê e nem sabe o que é.

Eis o Domo da Rocha, a edificação mais famosa da cidade, no alto do seu chamado Monte do Templo (ou Monte Moriá na antiga tradição judaica). Ali ficava o principal templo sagrado do judaísmo na Antiguidade, até os romanos o destruírem em 70 d.C. O que resta é apenas uma parede sua, o que ficou apelidado de Muro das Lamentações, onde os judeus ainda oferecem suas preces.

Quando os árabes conquistaram esta região no século VII, o templo judaico portanto há séculos não existia mais. Fizeram então lá no alto uma mesquita — ou melhor, duas: a Mesquita Al-Aqsa e esse Domo da Rocha, este último em 692 d.C., quase 1350 anos atrás. Segundo a fé islâmica, foi dali que Maomé ascendeu ao céu com o Arcanjo Gabriel no fim da vida.

Sim, Jerusalém é sagrada aos cristãos, mas também aos judeus e aos islâmicos. Eu já percorri com vocês a Via Dolorosa na Parte 1 em Jerusalém, terminando na Igreja do Santo Sepulcro. Aquele pode ser o coração do interesse de peregrinos cristãos e turistas ocidentais, mas o centro mesmo de Jerusalém é este cá.

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Judeus rezando no Muro das Lamentações em Jerusalém.
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O Domo da Rocha, mesquita originalmente construída em 692 d.C. no centro de Jerusalém velha.

O Monte do Templo em Jerusalém

Os primórdios de Jerusalém

Voltemos à origem da simbologia disto tudo. Esse pequeno monte no coração do centro histórico de Jerusalém é sagrado para os judeus porque se crê que foi ali que Abraão quase sacrificou seu filho Isaac. Isso se dá ainda no livro do Gênesis (22), quando o deus de Israel testa a lealdade de Abraão ordenando-lhe sacrificar o próprio filho.

Aí eu não tenho como não me lembrar do que ponderou uma alemã que certa vez conheci. “O cara ouve uma voz na cabeça dizendo que é pra matar o próprio filho, e ele vai lá e segue” (!). Não deixa de ser curioso, mas é assim a tradição. 

Como se sabe, Abraão jamais enterrou a faca, pois um anjo o teria detido dizendo que aquela demonstração de sujeição já era suficiente. Aí há todo um debate religioso sobre até que ponto Abraão estava mesmo disposto a fazê-lo.

Cá no alto desse monte, os judeus da Antiguidade edificariam seu chamado Primeiro Templo da religião de Javé (Yahweh), também conhecido como o Templo de Salomão, por ter sido construído durante o reinado deste. Ali, ele teria depositado a famosa Arca da Aliança, um baú de madeira e ouro contendo as tábuas da lei com os Dez Mandamentos recebidos por Moisés.

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Maquete do que se imagina ter sido a Jerusalém de 1000 a.C., tempo do rei Salomão com o Primeiro Templo do judaísmo.

Estima-se que esse templo tenha sido fundado dos idos do ano 1000 a.C. Com maior certeza a História sabe que ele foi destruído em 587 a.C. pelos babilônios, quando seu rei Nabucodonosor conquista Jerusalém.

Os judeus são então mandados ao exílio no império babilônico, até que este também cai pelas mãos de Ciro, o Grande, rei dos persas. Os judeus retornam a Jerusalém e constroem então um Segundo Templo a cerca de 516 a.C., o templo que Jesus conheceu e que viria a ser demolido pelos romanos em 70 d.C.

O Muro das Lamentações, também chamado Muro Ocidental (Western Wall) pela sua localização, é o que sobrou desse Segundo Templo, e portanto onde os judeus rezam. Eles, entretanto, não sobem para orar no alto do monte, e há duas razões para isso.

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Jerusalém, seu Muro das Lamentações e a mesquita do Domo da Rocha. Chega-se ao alto por aquela ponte coberta de madeira. Nós chegaremos lá.

A primeira razão pela qual os judeus não oram no alto do monte é teológica. Há disputas sobre isso, mas a maioria dos rabinos considera que não é digno entrar de qualquer forma e pisar no lugar onde ficava o Santíssimo — o espaço sagrado no antigo templo onde estava a Arca da Aliança e Deus manifestava sua presença.

Há rabinos que divergem, mas a maioria da comunidade ortodoxa acha impróprio, ou sobem com um guia que esclarecem partes onde se pode pisar e outras onde não. E há os que chegam a um meio-termo, dizendo que pode subir, mas não com calçados de couro. Então há quem venha descalços ou com sandálias de borracha.

A segunda razão pela qual os judeus não oram no alto do monte é política. Tecnicamente, perante a lei internacional, Jerusalém Oriental (onde fica o centro histórico) não faz parte do Estado de Israel, mas do que é para ser o Estado da Palestina. Houve acordos e resoluções da ONU sobre isso, porém Israel conquistou militarmente a região na Guerra dos Seis Dias em 1967.

Uma provisão dos acordos de paz foi que os árabes manteriam sua jurisdição sobre o monte, sob os auspícios do rei da Jordânia. Assim sendo, preservou-se o santuário no alto do monte como um espaço sagrado islâmico, e os não-muçulmanos só podem visitar a área como turistas, em horários específicos. Foi o que eu fiz.

Vamos à visita, e depois eu conto mais sobre o estado dessas tensões hoje. 

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Você se sente quase em O Clone.

Fim de semana em Jerusalém: Shabat terminado, domingo de sol

Chegado era o dia de visitar o ponto mais alto de Jerusalém.

Havia sido o shabat no dia anterior — o sábado, quando os judeus descansam e Israel quase toda praticamente para, sem transporte público nem lojas nem nada. É um dia ótimo para se dar uma escapada aos Territórios Palestinos, diga-se de passagem, já que lá o sábado é um dia normal, e a Cisjordânia é onde ficam cidades históricas como Belém e Jericó

Ainda no sábado à noite, não se espante, muito volta a funcionar. É que o shabat vai do pôr do sol da sexta até o pôr do sol do sábado, então os embalos de sábado à noite são permitidos.

Por volta das 19h, no que eu cheguei do tour Cisjordânia adentro, tudo ou quase tudo já estava aberto outra vez. Via-se McDonald’s & cia a funcionar, pessoas a passear o cachorro (não sei se pode levar o cachorro para passear no shabat), e gente na rua novamente a comprar. Era como se tivesse havido um blackout e a eletricidade de repente voltado depois de um dia. Da minha janela, eu já escutava o tunts-tunts da batida de música em algum clube. 

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Judeus ortodoxos nas ruas de Jerusalém na noite da sexta-feira, já saindo a orar.
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Tarde de sábado no inverno, Judeu ortodoxo vestido de preto anda por Jerusalém Ocidental, a parte mais moderna da cidade. A parada de bonde elétrico indica que não há serviço devido ao descanso do shabat. Ele só retorna no domingo.

Eu preciso observar que, de alguma maneira, Jerusalém me lembrava Istambul. Talvez pelos seus domingos badalados, com tudo aberto e as pessoas na rua.

Não era a geografia da cidade, mas provavelmente o misto de Oriente Médio ocidentalizado e rico, os hits de música eletrônica com melodias árabes a tocar nos bares, o ar cheio de si dos endinheirados de barba e das moças altivas de véu ou não (fosse ele islâmico ou judaico), e do outro lado o tradicional, os becos do vendedor de verduras, os gatos de rua, o lojista de especiarias, o tio de bigode dos doces e tudo isso.

Os bazares em geral e os tipos de produtos ali vendidos também são bastante parecidos. Não estão assim tão longe uma da outra afinal, já que por séculos — de 1516 a 1917, portanto mais tempo que a colonização portuguesa do Brasil — Jerusalém fez parte do Império Otomano.

O sábado à noite rolava solto Jerusalém afora, uma Jerusalém de que você não ouve falar nos jornais, e a manhã de domingo no dia seguinte seria de sol.

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Um novo dia se anunciava. Era inverno, mas num glorioso dia de sol com seus 18 graus.
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Venhamos à Jerusalém velha. Tomamos o bonde e depois um ônibus que já nos deixou perto do portão mais próximo da entrada para o Monte do Templo.
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As muralhas otomanas de 1541 em Jerusalém e os onipresentes ônibus lotados de turistas. A nossa sorte é que boa parte deles se atêm aos lugares cristãos ou, no muito, se limita a ver o Muro das Lamentações, mas não sobe no monte. Nós subiremos.

Subindo o Monte do Templo para ver o Domo da Rocha em Jerusalém

Como vir? Gratuitamente, num dia de sol, e preferivelmente de manhã

Os invernos em Jerusalém parecem ser assim: alternam dias de sol e céu azul com dias de nuvens e chuviscos. Durante minha temporada aqui, chegava a ser engraçado que se alternassem dessa maneira quase que com perfeição. Bem-me-quer, mal-me-quer.

Certifique-se de programar sua vinda num dia em que a meteorologia esteja prevendo sol, pois a cúpula dourada do Domo da Rocha é incomparavelmente mais linda sob os raios do astro-rei.

Afora isso, a vinda requer um cadinho de planejamento. Não é preciso reservar nada antecipadamente nem pagar nenhum ingresso, mas não-muçulmanos só podem usar a entrada turística pela ponte de madeira (não os portões de acesso térreo que há pelos becos do centro histórico), e a visita se dá numa janela de horários relativamente estreita, de domingo a quinta (sexta e sábado não há acesso).

Horário de verão: Abril a setembro: 8:30 – 11:30 ; 13:30 – 14:30.

Horário de inverno: Outubro a março: 7:00 – 11:00 ; 13:30 – 15:00. 

Tenha em conta que aquele fim da janela não é a última entrada, mas quando eles começam a pôr as pessoas pra fora. Então minha recomendação é procurar vir no miolo da janela da manhã, tipo umas 9 ou 10h. Até porque você não vai querer visitar às pressas. Eu alocaria uns 45-60 min de visita se você quiser tirar fotos etc.

Basta entrar em Jerusalém velha pelo Dung Gate, e você logo verá diante de si o acesso com a ponte de madeira. 

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Regozijai-vos por esta bela manhã de sol.

Entre pelo Dung Gate e verá o acesso já diante de si. Não é pelo Muro das Lamentações, o Muro das Lamentações você verá lá embaixo enquanto ascende pela ponte.

Há um breve controle de segurança estilo aeroporto, mas menos rígido, e anda relativamente rápido se você vier de manhã. Eu levei menos de 10 minutos na fila. Não precisa remover relógio, cinto, nem moedas etc., só celulares, câmera, e o principal. Poder entrar de mochila, mas eu achei melhor evitar. O que não pode é entrar com nenhum material religioso — cruzes, terço, Bíblia, souvenir sacro, nada disso.

Também é preciso estar com os ombros e joelhos cobertos, mas ninguém precisa usar nada na cabeça. Recomenda-se ter consigo o passaporte, mas a mim não pediram.

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Os judeus rezando no Muro das Lamentações lá embaixo. Nós vamos subir aonde estão os topos das árvores que você vê acima.

O Domo da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa

A visão árabe-muçulmana

Eu contei no início sobre a visão judaica deste Monte do Templo, mas ela não é a única. Há também a visão do povo que está aqui há 1400 anos. 

Quando os romanos esmagaram a Primeira Revolta Judaica (70 d.C.) e puseram fogo em Jerusalém, destruíram o Segundo Templo e deixaram a cidade arrasada. Fizeram então aqui uma nova cidade, chamada Aelia Capitolina e com um templo dedicado a Júpiter cá em cima. Essa construção se deu sob o imperador Adriano, por volta de 130 d.C.

Quando os romanos se convertem ao cristianismo, Constantino em 325 d.C. manda demolir o templo a Júpiter, embora permanecessem duas estátuas de Adriano aqui. Jerusalém então se torna praticamente toda cristã. Salvo por um período sob o imperador Juliano, o Apóstata (sobrinho de Constantino que voltou atrás na conversão romana ao cristianismo), os judeus tinham acesso às ruínas de seu templo só um dia por ano.

O templo passou. Em 610 d.C., os persas, então seguidores do zoroastrismo, conquistaram Jerusalém dos romanos cristãos. Deixaram que os judeus administrassem este lugar e reconstruíssem seu templo — mas, cinco anos depois, devolveram a cidade à população cristã, que prontamente demoliu de novo o princípio de reconstrução do templo judaico. Os romanos reconquistariam Jerusalém em 615, para perdê-la definitivamente aos árabes em 637 d.C.

Construindo sobre meio milênio de domínio romano, os árabes fariam mesquitas no alto deste monte numa praça que chamariam de Nobre Santuário, onde colunas e arcos inspirados em Roma permanecem. Você chega aqui e parece você ter entrado numa máquina do tempo. 

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Edificações árabes e remanescentes da Antiguidade cá no alto do Monte do Templo.
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Estes arcos e colunas de clara inspiração romana são medievais, alguns do século XI e outros do século XIV.
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O Nobre Santuário, ampla área arborizada com as estruturas que os árabes edificaram cá em cima durante a Idade Média.

O Domo da Rocha

O Domo da Rocha não é a primeira coisa que você vê ao chegar. Antes de localizar o domo dourado por detrás dos ciprestes e outras árvores, verá a — menos conspícua — Mesquita Al-Aqsa, de 705 d.C. Ela tem um domo cinza-escuro que lembra um pouco um espremedor de laranja com o crescente islâmico no alto. À frente, arcadas ogivais plenas de pombos, numa fronte que poderia ter saído de algum conto antigo.

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O domo da Mesquita Al-Aqsa (de 705 d.C.) lá no alto, visto de fora do complexo.
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A entrada da Mesquita Al-Aqsa no alto do Monte do Templo em Jerusalém. (Não é permitido entrada aos não-muçulmanos, daqui a pouco eu explico o porquê.)

Os árabes começaram a construir tudo isto poucas décadas após conquistarem o lugar. Começaram pelo Domo da Rocha em 692 d.C., que é a mais antiga obra de arquitetura islâmica ainda de pé no planeta. Misturariam influências romanas e persas para elaborar lindos ladrilhos.

O ouro da cúpula, em verdade, é uma adição recente: de 1960. Já a “Rocha” a que se referem é bastante antiga: nada menos que, segundo a crença, a pedra a partir da qual Deus criou o mundo.

Essa Pedra de Fundação existe, ainda que sua significação seja elaboração religiosa do Talmude judaico e, posteriormente, também do islamismo. Como em outras religiões (ex. a dos incas), há uma noção de “umbigo do mundo”, e para as religiões abraâmicas, ele é Jerusalém.

Destaco que o Islã e o judaísmo concordam nesse aspecto. Afinal, ambos compartilham o Antigo Testamento, como o fazem os cristãos, e vêm basicamente da mesma matriz cultural. Só que os islâmicos têm a sua leitura, e os judeus outra, pois são religiões de uma mesma família, porém diferentes. Como conciliar?

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A praça ampla e arborizada que os islâmicos chamam de Nobre Santuário, o terceiro lugar mais sagrado do mundo para o Islã, após as cidades de Meca e Medina na atual Arábia Saudita).
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Com o Domo da Rocha ali atrás.

A saber, não é permitido aos não-muçulmanos entrar nestas mesquitas. Quem já visitou países de maioria muçulmana como a Turquia ou o Egito sabe que isso não é nenhuma restrição religiosa. A questão aqui é outra — de segurança.

Até 1969, era permitido aos visitantes o acesso ao interior destas mesquitas históricas, até que um homem australiano ouviu vozes na cabeça lhe sugerindo que pusesse fogo no Domo da Rocha para erigir ali um novo templo judaico.

O sujeito chegou a iniciar um incêndio que graças a Deus foi controlado no interior da mesquita — e que por pouco não deflagra uma conflagração no Oriente Médio.  

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Família palestina com os meninos jogando bola e o Domo da Rocha atrás.
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Os arcos medievais.
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Eis o domo.
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Ainda que não seja mais possível entrar, você aqui pode circular à vontade e tirar fotos. Você verá muitos fieis palestinos, que têm este lugar como um santuário, mas há vários turistas também.

Fazia uma agradável manhã ensolarada de inverno, e ver o domo de tão perto a reluzir com o sol era um esplendor.

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“Glória a Deush”, como dizia o inesquecível Cabo Dacciolo. E viva a arte.
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A ampla praça do Domo da Rocha e seus ladrilhos azuis em Jerusalém.
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Em detalhes. (Quem gosta de azul-turquesa — que leva esse nome por causa dos turcos — precisa conhecer o Uzbequistão.)

Maomé viveu e morreu na Arábia, mas segundo a crença islâmica, o Arcanjo Gabriel o teria trazido aqui primeiro, de onde ontem subiu ao céu.

Inclusive, muita gente não sabe, mas no começo do islamismo os muçulmanos rezavam voltados para Jerusalém. Só depois de um tempo é que passaram a orar na direção de Meca. 

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Palestinos circulando. Eles têm acesso livre, e você facilmente os vê circulando aqui como quem vem à praça passear. É um dos poucos lugares onde costumam ter paz.
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Há toda uma área verde ao redor da praça. Preveja um tempo para visitar.
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Vistas para as edificações desta Jerusalém velha através dos arcos.

Até que deu 11h. Em ponto, um cidadão árabe de ar meio enfezado começou a pastorear os turistas para fora, bradando que começassem a rumar às saídas. Não é para retornar à entrada, pois a saída se dá por altos portões medievais que levam direto à medina de Jerusalém — os becos de seu centro histórico.

Você sabe como os turistas são, então todo mundo queria ainda mais uma foto ou tentava contornar por aqui ou por ali para passar mais tempo. O cara ficava fulo. Por isso que é bom chegar com tempo, bem antes do fim do horário de visita.    

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A gente sai por qualquer um destes portões de acesso dos palestinos. Note como a arquitetura islâmica daqui é semelhante àquela que você encontra no Marrocos ou na Espanha (em Sevilha ou Granada, por exemplo).
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Os policiais, que só deixam entrar muçulmanos por estes acessos. Sair, qualquer um pode, e você se vê de volta ao labirinto comercial árabe desta Jerusalém Oriental.
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O comércio que caracteriza esta cidade antiga.
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Até que tomei um rumo no labirinto, seguindo setas, e achei o acesso ao Muro das Lamentações.

Visitando o Muro das Lamentações

Eis o Muro das Lamentações, o pedaço remanescente do Segundo Templo dos judeus. 

Ele é menos extenso do que você talvez imagine, mas o suficiente para todo mundo ali chegar sem drama. Você mais uma vez passa por um detector de metais naqueles túneis e, voilà, se encontrará naquele largo onde fieis e turistas se misturam.

É curioso, pois se nota uma mudança brusca no ambiente social. Quase tudo aqui é segregado, afinal. Se lá no alto do monte estão os palestinos, outros muçulmanos e turistas em geral, cá embaixo ao Muro você encontra judeus e uma quantidade grande de visitantes evangélicos. 

Havia também toda uma estrutura mais elaborada, asseada e moderna: banheiros, panfletos de divulgação sobre o judaísmo, banquinhas oferecendo folhetins ou livros judaicos, avisos ao turistas, e bebedouros. Há um ar bem mais de “recepção ao peregrino” e charme para cativar o visitante.

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Bem-vindos ao Muro das Lamentações, a última estrutura do Segundo Templo judaico da Antiguidade.
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São 19m de altura do Muro aqui. Há uma seção masculina (à esq.) e outra feminina (à dir.).

Aproximei-me e vi os judeus — ortodoxos ou não — de pé diante do Muro ou sentados, por vezes acompanhados de livros sagrados em mesas. Vários seguravam livros com que oravam ao pé da parede, às vezes naquele característico balançar-se pra frente e pra trás que me lembrou um pouco a dança do pombo de Richarlison e Tite. 

Tomei o lado dos homens e por ali andei, chegando perto o bastante para ver os inúmeros papeizinhos que se põem nos interstícios das pedras.

A saber, essa não é uma prática ancestral, mas algo surgido no século XVIII, e para a qual alguns rabinos torcem o nariz. Na prática, contudo, é hábito geral pôr orações, versos bíblicos ou nomes de pessoas a quem se deseja o bem. Verdade seja dita, não é muito diferente das simpatias de outras religiões. 

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Rapaz judeu diante do Muro das Lamentações cheio de papeizinhos. O lugar recebe esse apelido porque, historicamente, se viam judeus aqui a lamentar a destruição do templo e às vezes a rezar aos prantos.
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Alguns rapazes judeus conversavam ali sentados.
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Mesas instaladas com livros judaicos e pessoas em oração. Eles ficam ali um tempo. Via de regra, os judeus rezam 3x ao dia, voltados na direção de Jerusalém — e, mais especificamente, deste lugar.
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O Muro segue um pouco lá por dentro, onde mais pessoas rezavam.

Muita gente que visita este lugar hoje não sabe, mas esse Muro das Lamentações ficou soterrado só os destroços que os romanos deixaram, e só foi redescoberto no século XVI. Ainda assim, havia casas e construções da cidade no que é hoje essa praça ampla.

Até 1967, aqui ficava o chamado Bairro Marroquino de Jerusalém — ou, mais corretamente dizendo, o Bairro Magrebino, referente ao norte da África. As autoridades israelenses o demoliram para abrir este acesso mais amplo dos judeus, que por tanto tempo ficaram proibidos de chegar para orar aqui.  

Você vê estes dois povos juntos, e parece aqueles casamentos de duas pessoas que apenas se toleram, cheios de rusgas, mas que precisam viver juntas.

No momento, a situação está relativamente estável, mas não se sabe até quando. Certos grupos sionistas radicais há muito entretêm a ideia de erigir um Terceiro Templo no alto do monte — pesadelo constante dos palestinos, que seguem aqui apesar de terem perdido o controle do restante de Jerusalém. Neste Oriente Médio, as cenas dos próximos capítulos sempre vêm antes do que se espera.

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Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

One thought on “Visitando Jerusalém (Parte 2): O Monte do Templo, o Domo da Rocha e o Muro das Lamentações

  1. Eita maravilha esse templo, com essa monumental cúpula dourada. E que maravilha os azulejos. Espetacular. Principalmente diante desse céu de um azul diáfano .. Ave Maria. Lindo
    A esplanada, as colunas os arcos, a arquitetura. Uma obra prima!…
    Belas pedras, e uma magnífica decoração em azul, com escritas árabes, certamente com partes do Alcorão. Um espetáculo.
    Belíssimo este Monte do templo.
    Creio que a destruí.cão do 2º templo, se não me engano se deu com os Romanos nos anos 70 dC
    Interessante o registro dessa subida de Maomé.
    Esse Muro das Lamentações é bem citado em Jeremias, que lamentava a destruíção do templo e os infortúnios dos Judeus diante de Nabucodonosor. Só com Ciro, o Grande eles conseguiram se libertar e retornar à Palestina.
    Possivelmente este templo seria um neto famoso do Templo de Salomão . Muito interessante a história.
    Não sabia que hoje esse Domo era uma Mesquita.
    Linda essa Jerusalem de ontem e conservada hoje. Que bom. Linda vegetaçao, pedras, muralhas, ruelas, ciprestes e um lindo céu azul. Lindos arcos ogivais. charmosos ladrilhos. Bela. Merece ser visitada.
    Os ladrilhos, foram herdados pelos portugueses, quando da ocupação da Península Ibérica pelos árabes .
    Dentro do Muro das Lamentações sobressaem os belos arcos romanos.
    Belíssima praça.
    Que bela imagem desse Domo Dourado magnifico diante do céu azul e o senhor prestando reverência, meu amigo. Soberba. Linda e sugestiva. Parabéns pelo clima de seriedade que o momento e o local requerem, independente de credo. Momento ímpar.
    Bela escadaria
    Foto histórica de homenagem ao Criador do Universo. É isso ai.
    Esplendorosa, também essa foto do senhor de braços abertos diante do magnífico Domo
    Linda essa Jerusalém antiga. Bela arquitetura. Uma riqueza.
    Nossa com esses ortodoxos de preto. Porque será?
    Essa medina iluminada também esta linda.
    Deus nos livre da destruição dessa beleza.
    E que difícil é conviver!…O ser humano ainda tem muito a aprender

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