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Israel-Palestina

Hebron, cidade fisicamente dividida com a Tumba de Abraão na Terra Santa

(Este será um post bastante longo.)

“Mágica”, é o que talvez lhes venha à mente com essa foto de capa em Hebron. E “mágica” também é o que me ocorre quando percebo — aqui mais claramente que em qualquer outro lugar da Terra Santa — a profundidade das disputas entre Israel e Palestina, e penso no que seria necessário para resolvê-las.

Brincadeira, eu creio na política e seus meios, ela que é “a arte do possível” (como sugeriu Otto von Bismarck ainda no século XIX). Mas uma vinda a Hebron lhe desnuda a complexidade de tudo aqui, ela que é uma cidade histórica reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade. Fica no seio da Cisjordânia, o principal Território Palestino, porém com um assentamento judaico também em seu seio. É como uma daquelas bonecas russas, uma dentro da outra, mas como se elas fossem inimigas.

Claro, para dar raízes profundas a este fratricídio étnico mais famoso do mundo, temos em Hebron a Tumba de Abraão, o profeta patriarca tanto do judaísmo quanto do islamismo. Neste último, Maomé não aparece do éter. Como no caso do cristianismo, eles constroem por sobre toda a narrativa do Antigo Testamento (e de Jesus), tendo o pai de Isaac e Ismael também como uma figura chave.

A quem contempla o coquetel quente de historicidade antiga e contemporânea na Terra Santa, Hebron é uma apoteose. Todas as profundas tensões aqui estão magnificadas, numa cidade física e socialmente dividida quase à là Berlim. Hebron não é um lugar fácil, é um lugar intenso, mas que pode coroar uma viagem aqui a Israel e Palestina. Deixei-a para o fim, então vamos, à última parada desta viagem.

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Esta é a Tumba ou Mausoléu de Abraão, formalmente conhecida também como Caverna dos Patriarcas, pois há uma caverna debaixo dessa estrutura onde se crê estarem as ossadas de Abraão, Isaac, Jacó, e suas respectivas esposas (Sara, Rebeca e Lea). Os mais audaciosos chegam a dizer que as ossadas de Adão e Eva (!) também estão aqui. Bela a edificação de pedra? Ela tem mais de 2000 anos. É a última obra ainda praticamente intacta do rei Herodes, de antes de Jesus.

A História de Hebron

Vamos começar com uma significação do lugar, já que “Hebron” é provavelmente um nome familiar a muitos, mas sobre o qual a maioria não sabe tanto a respeito.

Hebron é uma das cidades mais antigas da Terra Santa, de desde antes de esta ser chamada assim.

Segundo a Bíblia, Abraão e sua família eram semitas descendentes de Noé vivendo em Ur na Caldeia (Mesopotâmia, atual Iraque), a quem Deus teria inspirado para migrar a Canaã, atual Israel-Palestina, prometendo-lhe que nesta terra ele seria pai de uma grande nação. Começa aí o papo de “Terra Prometida” que é recorrente na História judaica.

Abraão e suas duas mulheres

Abraão veio para Canaã, mas cá encontrou fome e falta de recursos. Seguiu para o Egito, lugar próspero aqui vizinho, com sua mulher Sara, mas depois de um tempo o faraó os expulsou. É então que, vagando, Abraão termina por se instalar aqui em Hebron, no sul do que era Canaã. Ainda assim, 10 anos se passam sem eles terem nenhum filho.

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Hagar e Ismael no deserto (1851), pelo pintor italiano Luigi Gillarduzzi.

Estéril, Sara então traz sua serva egípcia Hagar para que conceba um filho de seu marido. (Trama de novela da Globo. Noutras versões, se sugere que Hagar é, na verdade, filha do faraó.)

Todo mundo já sabe que a coisa não dará certo. Hagar dá a luz ao menino Ismael, mas anos depois a estéril Sara acaba por também ela ter um filho, Isaac, e nas brigas a serva e seu menino acabam sendo banidos ao deserto.

Deus, porém, então manifesta a Sua misericórdia também a ela, indicando-lhe água no deserto e dizendo-lhe que seu filho daria origem a outra grande nação.

Na tradição rabínica judaica, a história de Hagar termina aí, e os escritos se voltam para Isaac que, com seu filho Jacó, constituiriam cá em Canaã outra “grande nação” prometida por Deus — o povo de Israel.

Os filhos de Abraao
Sara e Isaac veem Ismael (que é vários anos mais velho que seu meio-irmão) e sua mãe Hagar partirem ao deserto.

Os descendentes de Isaac e seu filho Jacó acabariam escravizados durante séculos no Egito, para mais uma vez voltar — desta vez com Moisés cruzando o Mar Vermelho — à sonhada “Terra Prometida”. Após a morte de Moisés, Josué lidera o retorno via Jericó, e mais tarde é aqui de Hebron que o rei Davi primeiro governa o Reino de Israel, antes de sua capital passar a ser Jerusalém.

Na tradição islâmica, o lugar onde Hagar e seu filho encontram água no deserto é o Poço Zamzam em Meca, onde ela é acolhida pelos nativos, e assim se forma o povo árabe (que é semita como os judeus, e as línguas são bem parecidas). Esse poço é parada obrigatória na famosa peregrinação dos islâmicos a Meca, e sua água é tida como sagrada, um tanto como a água benta no cristianismo ou a água do rio Ganges no hinduísmo.

E o que diz a História?

Mitos são sedutores, são simbólicos. Dá quase vontade de se agarrar àquilo tudo como se fosse explicação factual e deixar para lá todo o resto. É o que muita gente faz.

Aqui em Israel, como noutras sociedades religiosas, as pessoas se aferram ao conto como se fosse uma questão de fé. Aí fica um tanto como se a gente fosse à Grécia hoje e, mentalmente, se mantivesse no mundo encantado da sua mitologia antiga, caminhando e se dizendo: “naquela montanha Zeus fez isso ou aquilo”, “este foi o poço onde Narciso se apaixonou pelo próprio reflexo”, etc.

A História não tem evidência nenhuma da existência de Abraão, eu devo dizer. Seu nome, inclusive, literalmente significa “pai de muitas nações”. A leitura da maioria dos historiadores é a de que se trata de uma personagem simbólica construída na altura do século VI a.C., quando a Torá foi escrita. A ideia do povo de Judá teria sido reclamar a ancestralidade da sua presença nesta terra, numa época em que persas e babilônios saíam em conquista da região expulsando gentes e mandando outros em exílio.

Mas quem sou eu para observar isso aos milhões de pios judeus e muçulmanos — além de talvez muitos cristãos — que peregrinam aqui a este túmulo, e quiçá até creem que os ossos de Adão estão mesmo aqui.  

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A existência de um Abraão histórico é tão certa quanto a de Orfeu ou Hércules (ou seja, mais provavelmente se tratam de personagens mitológicos), mas o mito hebraico é aqui levado a sério, já que forma a base de três das grandes religiões atuais.
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Por detrás destas palmeiras, por detrás destas muralhas edificadas sob ordem de Herodes (72-4 a.C.), fica a Caverna dos Patriarcas onde Abraão teria enterrado Sara e depois sido também ele e seus descendentes enterrados, em Hebron.

Hebron milênios depois

Como você há de imaginar, tanto judeus quanto islâmicos atribuem grande importância a Hebron — mais que os cristãos. Aí começam as disputas, pois Hebron é a quarta cidade mais sagrada para os muçulmanos (após Meca, Medina e Jerusalém), assim como também é uma das quatro cidades sagradas do judaísmo (Jerusalém, Tiberíades, Safed, e Hebron). Pode-se dizer que o problema começou lá atrás com os meio-irmãos Isaac e Ismael.

Como, entretanto, a trama real não é de Manoel Carlos nem de algum outro autor global, não faltaram sangue nem disputas ao longo do tempo. Por outro lado, houve exemplos também de entendimento.

Eu já contei como os judeus foram conquistados por Roma ainda antes de Jesus (em 63 a.C.) e, mais tarde, massacrados e expulsos daqui (ver Massada). Também já falei sobre como os árabes conquistam no século VII esta região do que foi a província romana da Palestina, e desde então são a maioria aqui.

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As estruturas medievais no outro lado da Tumba de Abraão, no lado de Hebron controlado pelos palestinos (já explicarei). Note tanto a torre quanto os padrões em vermelho e branco que lembram a Mesquita de Córdoba, na Espanha, padrões árabes medievais que influenciariam a estética das igrejas italianas da Idade Média.

O sétimo degrau

Nos primeiros séculos de domínio árabe, os judeus tinham liberdade para orar aqui, e chegaram a edificar duas sinagogas. Quem mudou isso foram os cruzados, que conquistaram a cidade em 1100 e tiraram a liberdade de culto tanto dos judeus quanto dos muçulmanos.

Desse tempo cruzado, há relatos de viajantes europeus falando da peregrinação que já existia às cavernas subterrâneas onde as ossadas supostamente se encontram. 

Quando o líder muçulmano Saladino (1137-1193) derrota os cruzados e retoma Hebron para os islâmicos no fim do século XII, ele então reabre a pluralidade de culto — permitindo-o inclusive aos cristãos.

Porém, isso mudaria a partir dos idos de 1270, quando uma nova dinastia árabe impôs que os judeus só poderiam subir até o quinto degrau da escadaria da edificação. Isso depois é estendido ao sétimo degrau. Quem subia mais que isso era rechaçado na base do cipó, uma humilhação mantida pelos turcos otomanos quando estes conquistam a Palestina no século XVI.

Foram 700 anos até os judeus retomarem um certo controle sobre Hebron após a Guerra dos Seis Dias em 1967. Uma curiosidade que nos contam é que o general israelense havia apanhado quando menino por tentar subir além do sétimo degrau. Quando ele volta, adulto, manda então demolir todos os degraus, que não existem mais.

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Foto antiga com os judeus limitados ao sétimo degrau da escadaria de acesso ao Mausoléu de Abraão.
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Os degraus foram demolidos em 1967 por ordem de um general israelense que havia apanhado aqui quando criança por ir além do sétimo degrau. Note que hoje há uma escada montada. Aquela pessoa ali é um judeu rezando no lugar, ainda que hoje eles possam entrar.
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As marcas de onde ficavam os degraus que já não são mais.

Visitando Hebron hoje, uma cidade dividida

Venhamos a Hebron, uma das visitas mais marcantes que se pode fazer na Terra Santa, seja por razões bíblicas, históricas, políticas, ou meramente humanas. Prepare-se para um centro histórico medieval rico, da época árabe pré-turca e também do período otomano, com coisas que a UNESCO reconhece mas que livro nem noticiário nenhum costuma lhe mostrar. Enquanto cidade histórica, afora Jerusalém, Hebron acabaria por ser talvez a mais interessante de todas que vi na Terra Santa.

Por outro lado, Hebron é também um choque de realidade. Estamos no seio do território palestino da Cisjordânia, numa área de imensa maioria árabe. Porém, desde 1967 Israel controla todas as fronteiras e boa parte do que se passa aqui dentro. Como lhes expliquei em Ramalá, apenas 18% do território palestino é realmente controlado pelos palestinos. Na prática, a Cisjordânia se converteu em bolsões árabes sem governo dentro de um Estado judeu.

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Hebron no mapa, dentro do Território Palestino da Cisjordânia (West Bank), e 30 Km ao sul de Jerusalém.

E dentro deste bolsão palestino árabe, devido à forte significação de Hebron, os judeus instalaram um dos seus vários assentamentos. É como as bonecas russas — aquelas umas dentro das outras — a que me referi.

São cerca de 800 a 1000 judeus numa vizinhança murada rodeados por 200.000 palestinos, numa cidade hoje plena de muralhas, guaritas, e cercas de arame farpado à là o que deve ter sido Berlim durante o século XX. 

A Tumba de Abraão fica justamente no meio disso tudo, com uma entrada para os palestinos islâmicos de um lado e uma para os israelenses judeus do outro.

Turistas que não sejam judeus nem muçulmanos podem visitar ambas as zonas, e é o que nós vamos fazer.

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A cidade de Hebron atualmente está dividida assim, em duas partes. A zona H1, com 175 mil palestinos, é uma área tipo A (ver meu post em Ramalá), sob completa administração pela Autoridade Palestina. A zona H2 é militarmente controlada pelo exército israelense, onde vivem 40 mil palestinos e 800 assentados judeus.

Vindo a Hebron

A forma mais simples de vir a Hebron atualmente é num tour bate-e-volta saindo de Jerusalém. Não só é mais seguro, como você também se beneficia de guias que podem lhe explicar tudo o que está por trás dos lugares e os ocorridos aqui.

Você aí pode estar pensando que um guia facilmente estaria enviesado a puxar a sardinha ou para o lado dos judeus ou dos palestinos, então que tal dois guias, um de cada lado? É o chamado Dual Narrative Tour que a Abraham Tours oferece, e que eu recomendo fortemente. Vale o preço, e é uma experiência inesquecível.

Passaríamos metade do dia com um guia judeu ortodoxo, visitando e conversando com as pessoas do assentamento israelense, e a outra metade com os palestinos com guias árabes. Vocês aí veem que nem todo mundo é radical, e muitas vezes as pessoas se entendem melhor que seus representantes.

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Tudo começou com a nossa viagem de 1h10 em ônibus blindado de Jerusalém até Hebron naquela manhã de sol. Não se trata de algum transporte especial, mas do coletivo comum — o ônibus público que se toma na rodoviária, mas que acontece de ter vidros grossos e à prova de bala por segurança. 

Rumávamos ao lado judaico primeiro, acompanhados já desde Jerusalém por Eliahu, um judeu ortodoxo de origem californiana. Tinha portanto aquele jeito algo conversador mas impessoal dos norte-americanos, e atendia também por Eli [y-lái]. Senhor de seus quase 50 anos, ele era uma figura gordinha, algo burlesca, judeu ortodoxo de trancinhas de cabelo do lado e uma barba grande meio emaranhada. Seu jeito humoresco, porém de olhar atilado, ironicamente me lembrava Hans Landa, o personagem de Cristoph Waltz no filme Bastardos Inglórios. Tinha o mesmo jeito de rir e de falar.

Saímos 8h e algo do albergue ponto-de-encontro a pegar o bonde até a rodoviária, de onde tomamos o ônibus das 9:00 para Hebron, e já dentro do ônibus Eli pediu que sentássemos por perto para que fosse nos comentando parte do que já lhes contei acima.

Você batia com o dedo no discreto vidro do ônibus e sentia aquele peso com som fundo de uma espessura de não sei quantos centímetros.

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Bem-vindos a Hebron, com suas colinas, casas e palmeiras, no sul da Palestina.
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Desembarquemos. Era uma manhã de sol de inverno, com seus 20 graus. As ruas aqui eram um certo ermo excessivamente vazio.
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Primeira parada: a Tumba de Abraão, lado judaico. Note as bandeiras de Israel por toda parte, ainda que aqui estejamos na Palestina — mas num enclave judeu. Era curioso também perceber a diferença de público neste grupo. Se as jornadas aos lugares bíblicos são plenas de estadunidenses e latino-americanos religiosos, aqui tínhamos sobretudo europeus interessados nos conflitos atuais.

Fomos pelo sol, e a vantagem de ter um guia é também você não precisa se explicar aos vários soldados montando guarda aqui — ele abre o caminho por você.

Aproximamos-nos daquela edificação do tempo de Herodes e entramos. Alguns judeus oravam à parede do lado de fora, e havia também damas de lenço judaico no cabelo com carrinho de bebê sentadas a ler à beira das plantas como se estivesse no parque de uma cidade tranquila.

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Subamos para entrar na edificação sobre a Caverna dos Patriarcas pelo lado judeu. (Estes degraus não foram demolidos.)
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Precisei cobrir a cabeça com o que encontrei, um chapéu que pedi emprestado de uma senhora do grupo, pois os homens devem fazê-lo nos espaços sacros judaicos.

Havia muitas pessoas dentro, sobretudo homens. Os muitos vãos de teto algo baixo e arcadas góticas medievais guardam muitas áreas de estudos dos textos sagrados judaicos, espaços amplos com ares de biblioteca, assim como áreas de oração divididas por gênero — homens de um lado, mulheres de outro. Os islâmicos não são os únicos a impor essa separação. 

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Os espaços internos deste lado judaico da Tumba de Abraão. Note as arcadas góticas, feitas assim no medievo. Percebem-se ainda os padrões vermelho e branco nas paredes, do tempo quando isto era controlado pelos árabes.
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Os caminhos aqui dentro.
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Área de estudos.
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Homens mui cobertos em oração, no lado masculino.
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Tumba de Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão.

Há várias destas tumbas assim por detrás de grades, e é o que hoje se pode visitar. Até a Idade Média, era possível descer até as cavernas subterrâneas onde estariam as ossadas, mas ainda no tempo otomano (1517-1918) isso ficou proibido e a passagem foi cerrada. Apenas um buraco no chão permitia que olhassem as cavernas escuras cá de cima.

Aí há um “causo” de que, certa feita, o sultão otomano veio ele próprio aqui, e sua espada adornada em ouro e brilhantes — como se sabe que os muçulmanos gostam de pôr nos utensílios — caiu no buraco. Daí teve início um quadro que bem poderia estar num filme de Indiana Jones, pois o sultão ordenou que seus soldados descessem pelo buraco com uma corda amarrada no corpo para reavê-la.

Lá embaixo no escuro, um a um os soldados morriam sem causa aparente. Subiam-se só os corpos com a corda. Até que alguém teve a ideia de descer um judeu, o rabino Avraham Azulai (1570–1643). Preparando-se em oração, ele teria descido e, lá embaixo, encontrado as figuras espirituais de Abraão, Isaac e Jacó. Azulai quis ficar com seus ancestrais, que entretanto lhe disseram que subisse e retornasse a espada ao sultão, para a paz da comunidade hebraica em Hebron — e que não se preocupasse, pois em sete dias estaria junto deles no outro mundo. Assim foi, e uma semana depois, Azulai faleceu.

Isso muito provavelmente se trata de um conto, mas um conto há séculos difundido entre as pessoas daqui. Daí você imagine o pavor quando, em 1968 após Israel conquistar este lugar, surgiu a conversa sobre “quem desceria pelo buraco”. A “felizarda” acabou sendo a filha de 12 anos de um chefe da segurança israelense — pelo visto a única que passava pelo buraco do jeito que ele estava àquela altura. Deste episódio há fotografias, e fotografias ela também tirou lá debaixo.

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Michael Arbel, menina de 12 anos, em 1968, descendo com a corda pelo buraco até a Caverna dos Patriarcas. Ela hoje é uma senhora, professora da Universidade de Tel Aviv.

Desde os anos 1980, já ninguém mais desce lá. Nem pesquisadores.

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Hoje o que temos são cenotáfios, portanto, tumbas cerimoniais sem restos humanos dentro. Eis o de Abraão, o principal dos patriarcas do judaísmo.
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Passando-se a câmera grade adentro, o que se tem é este espaço, com o cenotáfio de Abraão. Do outro lado, há outra janelinha destas de onde os palestinos o veem.

Visitando um assentamento israelense na Palestina

Qualquer pessoa que acompanhe o noticiário internacional sabe que um dos grandes pomos da discórdia entre palestinos e israelenses é a persistência de Israel em criar “assentamentos” judeus encravados dentro do território palestino. Há centenas deles, de modo que a Cisjordânia é cravejada de bolsões — na prática, espécies de condomínios fechados com milhares de judeus que vivem relativamente bem, com conforto econômico, rodeados de uma massa palestina pobre. 

Claro que quem “bate” em ambos os lados é a insegurança, pois ninguém pode viver em paz — ainda que as baixas do lado palestino sejam sempre maiores. Por que as pessoas escolhem viver nesses lugares apesar da insegurança? No caso dos palestinos, eles não têm escolha, isso lhes é imposto. No caso dos israelenses, uma convicção quase heróica de que estão certos, que a Palestina toda lhes pertence, e que não deveria sequer haver Estado palestino. Se as pessoas vão à guerra por tais convicções, antes se dispõem a vir morar em tal situação.

Isso significa que, se em Tel Aviv e outros centros urbanos de Israel você encontra muita gente crítica às políticas atuais do Estado de Israel, nos assentamentos o que você em geral tem é a galera sionista de raiz, à direita de Netanyahu, e que acha que o governo dos anos recentes não faz o bastante.

Foi assim que fomos visitar então Avraham Avinu, um desses bairros fechados que é o centro do enclave judaico em Hebron. Eles têm site na internet, publicam livros, acolhem os visitantes num museu com lojinha e café, e fazem toda uma bem-estruturada corte para lhe vender a sua versão da história. (Uma pena apenas que grande parte dos visitantes jamais cruze ao outro lado para ver nem ouvir o que os palestinos têm a dizer.) No seio dessa comunidade judaica, seu coração: uma sinagoga de 1540, tempos em que judeus e muçulmanos conviviam relativamente em paz aqui.

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Saindo da Tumba de Abraão. Um dos famosos checkpoints, os pontos militares de checagem aqui, feito pelo exército israelense.
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Vamos com o grupo caminhando para cá. Estamos na Zona H2 de Hebron, aquela controlada pelas forças de Israel. Lembrando que nela vivem 40 mil palestinos, além dos 1000 judeus.
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Ruas desertas, abandonadas após Israel ganhar o controle em 1967, patrulhadas pelos soldados israelenses, porém convertidas numa espécie de terra de ninguém.
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Marco observando que aqui Shlomo Yitzchak Shapira, um rabino “de abençoada memória“, que “foi brutalmente assassinado por terroristas árabes“, com a citação do Salmo 79:10. “Seja a vingança pelo sangue derramado dos Seus servos conhecida entre as nações, à nossa vista.” Glup.

As crianças brincavam inocentes no parquinho. A vizinhança de becos e pátios, cercados por edificações de poucos andares, me lembrava os centros de pequenas cidades históricas mediterrâneas. Muralhas cercavam tudo em redor, de modo que a única vista que se tem aqui de dentro é para o céu.

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Lugar tranquilo, ainda que seja um bolsão de paz murado.
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Em todo lugar, um ressentido marco de ocorridos trágicos. Aqui, nosso guia nos contou que foi o local onde a bebê de 10 meses Shalhevet Pass foi assassinada por um franco-atirador palestino. Seu nome em hebraico quer dizer “chama”, daí a ilustração do fogo no carrinho de bebê.

O guia palestino depois nos diria que hoje são em média quatro guarda-costas por pessoa, pois há cerca de 1.000 judeus residentes e 4.000 soldados para proteger o lugar. O contribuinte israelense que não é fanático às vezes questiona se tal serviço é o melhor uso do dinheiro público, mas enfim.

Ainda estávamos com Eli nesta manhã, que observou que mais judeus viriam morar aqui se pudessem, mas não há onde. Falta espaço. Tentam portanto comprar as casas dos palestinos, às vezes com um belo pacote de relocação para a Austrália (dinheiro, documentação, etc.). Na prática, não creio que queiram mal aos palestinos em nível individual, mas não há dúvida de que estes israelenses gostariam de controlar Hebron — e a Palestina — inteira.

Não é suposição minha; é o que vi e ouvi em primeira mão. Conversaríamos com pessoas daqui, e uma com candura me colocou que “Os palestinos sofrem sobretudo é com disputas entre as facções deles próprios. Alguns deles francamente falam que seria melhor se o Estado de Israel tomasse conta.

Entraríamos na Sinagoga Avraham Avinu, de 1540, para depois ver o breve museu judaico de Hebron, onde conversaríamos com quem vive aqui há décadas.

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O interior medievalesco da Sinagoga Avraham Avinu, de 1540, há séculos o centro da comunidade judaica de Hebron. Os turcos otomanos, suseranos da Palestina de 1517-1917, tinham uma política de tolerância e faziam os árabes e judeus conviverem. Ela chegou a ser ampliada em 1864, com o aumento da imigração judia à Palestina a partir do século XIX.
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A bela mesa de leitura da Torá (que equivale, em grande medida, ao que é o Antigo Testamento cristão).
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Nosso guia apontando as torás escritas a mão, abertas apenas de quando em vez.

A paz da convivência entre judeus e árabes acabaria de modo efusivo em 1929, quando a Palestina estava sob a tutela dos britânicos (1920-1948). Foi quando ocorreu o chamado Massacre de Hebron, em que a Grã-Bretanha deu pouca atenção e deixou a panela de pressão explodir.

Os árabes, desde os idos de 1500 sob domínio turco, ansiavam por ter soberania novamente, o que os britânicos lhe concederam no Egito, Iraque e outras partes que formam tais países atuais, mas não aqui. Aqui, o rumor era da formação do Estado de Israel, e que os judeus tomariam Jerusalém para si.

Tal como nos pogroms da Europa, em que se pintavam os judeus como comedores de criancinhas para justificar linchamento e morticínio, surgiu a conversa aqui de que os judeus de Hebron estavam matando muçulmanos. Foi o que bastou para extremistas árabes lançarem um ataque sobre a comunidade judaica, matando 62 pessoas. Houve judeus que sobreviveram porque famílias árabes amigas suas os acolheram, mas de modo geral foi um choque que vizinhos de repente matassem uns aos outros.

A sinagoga que vocês viram acima foi dessacrada e arruinada, até que após 1967, quando Israel vence a Guerra dos Seis Dias e ganha o controle militar daqui, ela é restaurada ao estado em que se encontra atualmente.

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Você caminha por ermos pós-apocalípticos aqui, ainda na área controlada por Israel.
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Máquinas abandonadas, num cenário meio The Last of Us.
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Indiferentes à miséria humana estavam as flores, que na sua existência própria sempre vencem o canhão.
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Descemos a Rua Al-Shuhada em Hebron, que era área pululante de comércio palestino — pois é a rota que leva à Tumba de Abraão –, fechada desde 1994 pelo exército israelense.
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Ainda há quem more aqui, todavia, só que detrás de grades, quase como em gaiolas. São famílias palestinas que se gradeiam desta forma para se proteger de judeus que possam jogar pedras ou algo pior pela janela. São casas assim que há israelenses querendo comprar de palestinos vencidos pelo cansaço.

Chegamos ao pequenino museu Beit Hadassah, onde há objetos históricos sobre Hebron, uma linha do tempo (do ponto de vista judaico), e muita coisa à venda.

Quando chegamos, um grande grupo de soldados norte-americanos tomava um banho de doutrinação ao longo do museu. Um guia deles, também soldado, explicava alto as coisas, mencionando a disposição heróica destes judeus de virem morar aqui e lutar por sua liberdade às custas da dos outros

Aprendemos que Hebron — que em hebraico eles pronunciam Rhe-vrôn — significa algo como “amigo”, às vezes também traduzido como “aliança”, em referência a Abraão e Deus. Na sua visão, eles são “o povo indígena que voltou para reclamar o seu lugar sagrado“, nas palavras do meu guia. 

No museu, livros mostravam tudo em termos de conflito: árabes ferozes, judeus vítimas de violência retomando o que é seu por direito histórico. Triunfos. Contos e histórias de horror do que os árabes fizeram em momento X ou Y. A coragem do virtuoso e bravo povo judeu.

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O milagroso renascimento da Comunidade Judaica de Hebron, a própria existência da comunidade hoje, é o maior triunfo do Ocidente sobre o terror e a Jihad islâmica — um triunfo que merece o apoio ativo e continuado de todo ser humano que preza pela liberdade!“. Você não precisa ser um ás da interpretação de texto para captar os vieses.
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Mapa mostra o tanto de áreas de Hebron — que, vale não esquecer, fica na Palestina — interditadas aos judeus, apesar dos lugares sagrados seus ali. Como lhes disse, seu anseio é que Israel tome conta da Palestina toda.
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Estamos aqui, em Beit Hadassah, hoje um memorial às vítimas do Massacre de 1929 e centro de visitantes.
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Não faltam referências aos mortos.

Breve, viria nos falar uma gentil senhora, das primeiras a sair de um assentamento vizinho para “reclamar” este lugar em Hebron. Escreveu um livro a respeito, e nos contou com emoção o que sua avó dizia à época de 1929 e como, mais recentemente, seu pai foi assassinado a facadas por um terrorista. Não há como não se sensibilizar com as histórias individuais ou como não perceber a espiral de violência.

O nosso guia depois brincaria que este é um tour de “vitimologia comparada”, alertando-nos que do outro lado ouviríamos também histórias dramáticas da parte dos palestinos. E ouviríamos mesmo.

Dei uma olhada nos vinhos israelenses, nos livros (mui enviesados) que lhes mostrei, sabonetes, coisas finas, e acabei pegando uma bobagem com uma moça do caixa que não falava bem inglês. Os israelenses daqui, definitivamente, não são a gente internacionalizada de Tel Aviv.

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Exibições e alguns objetos arqueológicos da região no pequenino museu de Beit Hadassah, sobre os judeus em Hebron.
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Estão servidos um picolé? Na arrumada e agradável lojinha do museu dos judeus em Hebron. Museu arrumadinho, com lojinha asseada e produtos da região. Mel, vinhos, cerâmicas, livros politicamente doutrinários.

Saímos do museu e terminamos de caminhar um pouco por esta Zona H1 de Hebron controlada pelo Estado de Israel, com seus ermos e ruas vazias, algumas outras habitadas por palestinos persistentes. Mesmo nessa zona, porém, há áreas proibidas a palestinos e outras proibidas a judeus (e depois querem dizer de que não há apartheid). Estes arredores do museu, por exemplo, são proibidos aos mais de 40 mil palestinos que vivem deste lado. Aos demais, nem se fala.

Passamos portanto por mais um checkpoint com guarita e soldados, com barricadas de metal ali dispostas, mas no momento deixando a rua aberta, por onde passaríamos desimpedidos.

Não sabia eu que ali havia a barreira invisível do apartheid, pois quando os meninos palestinos do lado de lá chutaram a bola, não puderam vir buscar. Acabou sendo eu a lhes chutar de volta a bola. Nunca havia me antevisto neste papel. 

Passamos, mas não estávamos ainda na Zona H2, controlada pela Autoridade Palestina. Caminhamos por mais ruas ermas até, enfim, avistarmos as portas giratórias, grades e barreiras de metal que fizeram eu me sentir numa prisão de segurança máxima, daquelas de filme. Deixando Eli para trás, cruzamos nós ao outro lado.

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Abundantes ruas vazias, de comércio palestino fechado desde os anos 1990, no lado de Hebron controlado pelas Forças de Defesa de Israel.
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Os gatos, indiferentes, eram mais presentes mas ruas que as pessoas.
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Aqui, senhoras e senhores, é por aqui que se atravessa ao lado de lá.
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Um dos portões de acesso entre os dois lados de Hebron, dividida.
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O distópico aparato com ares de prisão de segurança máxima.

O lado principal de Hebron, controlado pelos palestinos

Bem-vindos a este lado de cá. Realço que é o lado principal porque, como você deve se lembrar pelo mapa, esta Zona H2 é bem maior que a H1, a qual é basicamente um enclave.

É deste lado de cá que vive 80% da população e onde está o grosso da Hebron histórica — além do lado islâmico da Tumba de Abraão, que eles chamam Ibrahim. Daí a tumba com a Caverna dos Patriarcas ser conhecida como Mesquita de Ibrahim. Já a cidade eles não chamam Hebron, mas Al-Khalil (“o amigo” em árabe). Al-Khalil Al-Rahman (“o amigo do Misericordioso”), em referência a Abraão, amigo de Deus.

Quisera eu que essa concórdia na reverência à figura de Abraão se traduzisse em concórdia no dia-dia.

Já à primeira vista, este lado palestino me lembrou Feira de Santana. Os fruteiros com carrinhos ou barracas nas ruas, um certo zum-zum-zum, carros buzinando alto, pessoas a atravessar as ruas, muvuca. “A única diferença é que o povo lá em Feira é mais escuro”, lembro-me de ter pensado no ato. 

Não é exatamente a única diferença, mas impossível não lembrar o Brasil — até também pelo ar mais caloroso das pessoas deste lado de cá das muralhas. No lado israelense, as pessoas me foram menos “dadas”, ainda que prestativas fossem. Talvez a própria pobreza esteja vinculada a maior humildade, como São Francisco sugeria. 

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A primeira vista deste lado controlado pelos palestinos. Note os blocos de concreto impedindo que veículos se aproximem do — ou invistam contra — o portão de separação.
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Deste lado de cá, tudo em árabe.
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Bem-vindos a Feir… digo, a Hebron.
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Os vendedores de verduras e o movimento na rua me lembraram o Brasil.

É praticamente outra cidade, ninguém haverá de discordar. Ou melhor: aqui é uma cidade, por mais muvuca que tenha, enquanto aquele lado outro é, na prática uma zona militarizada, não uma cidade.

Deste lado de Hebron, fomos acolhidos por três guias palestinos. O principal era Táriq, um cidadão também de quase 50 anos, de olhos meio esbugalhados, bochechas largas e jeito um tanto atrapalhado, com ares – como diria minha avó — “de quem comeu muita banana amassada quando era pequeno”. Ele e Eli, o nosso guia judeu ortodoxo, parece que foram colegas de universidade por um tempo nos Estados Unidos e resolveram montar juntos este tour.

O segundo guia era um senhor mais idoso, já de cabelos brancos e óculos, com certo fenótipo de europeu e que acabava tomado por gringo, mas árabe da gema, segundo ele. (Chegou a me sugerir que a sua brancura se dava a ancestralidade europeia dos tempos das cruzadas.) A terceira guia era Marwa, uma moça árabe de véu de seus 28 anos, e que parecia mais lúcida e atilada que os outros dois juntos.

Breve percorreríamos as ruas e mercados de Hebron rumo ao almoço (mas havia um museu no meio do caminho, no meio do caminho havia um museu). Nisso, pode parecer anti-climático dizê-lo, mas eu fiquei impressionado como, afora o óbvio fator político dos abusos e da privação da liberdade, os palestinos me pareceram viver melhor que muita gente no Brasil. Hebron deste lado me parecia um bairro de classe média baixa em cenário histórico, mas não se compara à miséria econômica de um favela ou dos rincões Brasil afora. Fiquei aliviado e triste ao constatá-lo — aliviado pelos palestinos, triste pelo meu país.

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As ruas de Hebron.
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Sigamos mercado adentro.
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Mulher com a criança.
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Um certo camelódromo por aqui…
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…até se chegar à parte mais histórica da cidade.

Hebron, ou Al-Khalil, é uma cidade que deve a sua morfologia ao medievo árabe aqui, sobretudo ao período de 1200-1500. A UNESCO a registra como Patrimônio Mundial da Humanidade sobretudo por essa herança histórica, uma atmosfera que você sente ainda melhor se entrar em certas lojas seculares que permanecem em funcionamento.

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Olhem só este interior de pedra da loja.
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Cerâmicas pintadas, uma longa tradição mediterrânea levada a cabo pelos romanos, depois os árabes, e herdada pelos ibéricos na forma de azulejos etc. (O nome “azulejo”, inclusive, vem dessa cor azul predominante.)
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Vendedor nos apresentando esta prensa de óleo de 850 anos em Hebron. Animais rodavam fazendo a pedra girar.
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A rocha esmagava grãos de gergelim, usado para óleo e também o tahine, pasta usada na culinária árabe.
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Vidros pintados em Hebron.

Há bastante história, legado cultural e estética aqui portanto, muito mais do que os noticiários ou as agências os fazem crer. (Lamento muito que algumas só levem à Caverna dos Patriarcas, como que se só importassem a histórias lá de Abraão e Isaac, e nada mais da História humana que veio depois.)

No Museu de Hebron, aberto em 2021 com assistência da UNESCO, nos detivemos um pouco para aprender mais da sua História. Traz peças da Antiguidade, do medievo desta região, assim como muitas fotos e — claro — a versão palestina das tensões com Israel. Se no lado de lá vimos o morticínio provocado por árabes sobre judeus em 1929 e outras ocasiões, aqui se veem os depoimentos e imagens das forças de Israel abusando de pessoas ou demolindo legado palestino para abrir caminho a assentados judeus. 

Não nos demoramos ali, até porque o museu é pequeno, num prédio histórico que já foi hotel no século XX. Finalmente pararíamos para almoçar na casa de uma família palestina em seguida. 

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O atual Museu da Hebron antiga, no seu centro histórico, aberto em 2021 com auxílio da UNESCO.
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Vasos e lâmpadas a óleo da Antiguidade, do período helenístico (à dir.) e do tempo bizantino (à esq.).
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Painel sobre “O impacto de medidas da ocupação israelenses sobre a cidade antiga e seus residentes.”

Já eram quase 15h quando nós finalmente paramos para o almoço — coisa que, fosse no Brasil, provocaria uma verdadeira intifada dos turistas no grupo. O lugar foi a morada de uma família palestina, como uma casa de classe média  baixa no Brasil. Só que, como estamos no centro da Hebron histórica, as paredes eram de blocos de rocha, como naqueles casarões de pedra da América Latina.

Tapetes cor de vinho com padrões árabes cobriam o chão da sala, que era uma espécie também de varanda aberta. Sofás fofos e coloridos ali postos diante de uma televisão rainha-da-casa, como em tantos lares humildes mundo afora, e uma cozinha simples ali adjacente, daquelas de lado de fora da casa. A TV era via internet, me pareceu, pois às vezes a conexão falhava e congelava a imagem. Todo mundo esperava voltar com aquele ar de que estão habituados a isso. 

A família era obviamente simples. Um menino gordinho daquele tipo “ligeiramente tímido, mas animado por estar ajudando” auxiliava da cozinha. Trazia os pratos de comida da mãe que não falava inglês, ela uma senhora já consumida pelos anos, de véu azul-escuro e aquele sorriso grato algo sem jeito das pessoas humildes que não falam a sua língua. Já vi isso em tantos lugares.

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A entrada para o lar palestino onde almoçamos no centro histórico de Hebron. O uso de pano em vez de portas, como em tantos lugares pobres nos trópicos.
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Belas paredes vetustas de pedra, acompanhada dos sinais comuns da modernidade. Esses sofás pomposos são comuns Oriente Médio afora — e a televisão, claro.

O garoto gordinho também não falava inglês, mas soltava umas palavrinhas feito “Welcome”. O guia, Tariq, é que falava empolgado, meio redondo e de peito cheio, narrando feito um palestrante o que comeríamos. Pôs uma ênfase danada na “salada árabe” — grande coisa, um vinagrete sem vinagres — com um arroz amarelado gostoso e sobrecoxa de frango.

Como eu não como carne, o prato vegetariano com aqueles à moda antiga em que lhe dão então os acompanhantes sem carne. No meu caso, arroz e salada de tomate. Vi-me naquela situação em que me pergunto se crio caso ou não. Bem que podiam ter me dado um falafel. (O almoço não era grátis.) Acho que Tariq deve ter visto algo na minha cara, pois intercedeu em tom de cantor de ópera: “Vegetariano? Vamos trazer então algo mais. Iogurte para você comer com o seu arroz.” Eu, francamente, estava sem ânimo para protestar. Pelo menos o arroz estava saboroso. 

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Meu almoço. Bom apetite para vocês. (Freud, todavia, era muito sábio e dizia que aquilo que não é expressado fica reprimido no inconsciente e depois sai de alguma forma. Sábios também os que advertem para os riscos de se ficar hangry — a fusão informal de hungry [faminto] com angry [nervoso] em inglês. A coisa voltaria.)
Não nos demoramos demais ali, por o tempo “rugia”, como dizia aquele personagem da novela. Ainda tínhamos coisa para ver em Hebron, e a tarde não demoraria a cair.

Fomos, portanto, à Mesquita de Ibrahim (Ibrahimi Mosque), que nada mais é se não o lado islâmico da Tumba de Abraão. “Caverna dos Patriarcas” é a designação judaica — até porque Isaac e Jacó são da linha dos hebreus, enquanto que os árabes teriam descendido de Ismael, meio-irmão de Isaac e tio de Jacó. Eles cá no islamismo também não costumam cultuar muito figuras outras que não sejam o próprio Allah (Deus), então se trata de uma mesquita, mas uma que leva Abraão (Ibrahim) no nome.

O lugar é fascinantemente belo, bem mais do que qualquer um havia me sugerido.

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Primeiro, precisamos passar por um checkpoint. (Se estas interrupções incomodam você, imagine quem vive aqui.)
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Lá está ela, a Mesquita de Abraão (Ibrahimi Mosque) com uma das suas torres medievais em Hebron.
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Vamos entrando.
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Primeiro se passa pela Mesquita Al-Jawali de 1320, anexa ao santuário principal.
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Note a mesma estrutura medieval de teto branco baixo e arcadas góticas que vimos do lado de lá de Hebron. Aqui homens e mulheres entram juntos, e a mulheres sem cabeça coberta tomam emprestadas estas capas de jedi.
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O lindo interior da mesquita.

Aqui pode ser útil aproveitar para lhes falar dos Acordos de Hebron, que desde 1997 regem a partilha deste lugar sacro entre judeus e islâmicos.

Quem já leu a postagem em Ramalá viu em detalhes os Acordos de Oslo (1993-1995), feitos entre a Autoridade Palestina e o governo israelense sob os auspícios de Bill Clinton. Aquilo foi um plano de paz, com termos que gradualmente levariam à criação de um Estado palestino, com Israel terminando a ocupação militar da Cisjordânia e de Gaza que persiste desde que ganhou a Guerra dos Seis Dias em 1967. Os acordos, infelizmente, nunca foram devidamente cumpridos.

Em Hebron, a coisa foi mais longe. Até os anos 90, judeus e muçulmanos tinham acesso conjunto a toda esta estrutura. Eram monitorados por seguranças no local para que não houvesse querela. Porém, em 1994, um extremista israelense de origem norte-americana chamado Baruch Goldstein entrou disfarçado de soldado e abriu fogo contra 800 islâmicos que aqui oravam num dia de Ramadã. Foram 29 mortos e 125 feridos. (O assassino acabaria morto ali mesmo pela turba.)

Foi aí que chegamos a ter os Acordos de Hebron (1997) dividindo a cidade entre as zonas que vocês viram. Aqui a Tumba de Abraão ganhou um protocolo especial: muçulmanos cultuam de um lado, por uma entrada, e judeus do outro, sem se ver. Por 10 dias no ano, durante o Ramadã, mês sagrado islâmico, os muçulmanos ganham acesso ao complexo inteiro, e os judeus rezam do lado de fora. Durante outros 10 dias ao ano, em feriados judaicos, estes é que ganham acesso total, e os muçulmanos rezam fora. É um equilíbrio frágil, com descontentes de ambos os lados, mas tem persistido.

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O cenotáfio de Abraão, que para os islâmicos é o profeta Ibrahim, visto deste lado de cá. É a mesma sala que vimos antes pela janelinha do outro lado.
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O enfeitado cenotáfio de Abraão.
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Olhem a maestral mesquita que é este lado de cá.
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Tapete vermelho ao chão.
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Inscrição grega antiga falando da tumba de Abraão.
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Lembram do buraco por onde a menina desceu? Olhe ele aqui.
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Boas tardes, senhoras e senhores.

Já existe uma mesquita aqui desde o século VII, após os árabes conquistarem a Palestina. Quando os cruzados invadem-na na altura de 1100, transformam o lugar numa igreja, que é reconvertida em mesquita um século depois com a vitória de Saladino sobre os europeus 1187.

O que você encontra hoje data sobretudo de 1300-1500, da última dinastia árabe antes de os turcos otomanos ganharem o controle. Os turcos, sendo também eles muçulmanos, conservaram o lugar, mas muito do que você vê tem portanto mais de 500 anos. 

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A beleza da Mesquita de Abraão em Hebron. O nicho que indica a direção de Meca aos fieis.
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Os detalhes em mosaico medieval no mihrab, o nicho que dá a direção de Meca.
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Lustres e arcadas. O chamado arco gótico já era usado pelos islâmicos antes de virar moda na Europa.
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Esta estrutura de madeira é o minbar, a versão islâmica do púlpito católico que ainda se vê nas igrejas mais antigas. Este, confeccionado em 1092, é nada menos que o mais antigo minbar de madeira do mundo.
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Os detalhes do minbar de Hebron, o mais antigo do mundo, trazido para cá pelo próprio Saladino após 1187 e aqui desde então.
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Olhem também os avôs dos azulejos portugueses aqui.

Saímos da linda Mesquita de Abraão — que talvez sozinha já valha a vinda aqui — quando o sol já começava a querer se pôr em Hebron. As pessoas no mercado pareciam já querer começar a recolher as suas coisas. Hebron não é como Marrakech ou Amã ou outras cidades árabes onde o comércio persiste noite adentro após uma sesta. Não se se pela questão da segurança, mas antes do completo escurecer tudo já se fecha.

Passamos por gaiolas de galinhas e coelhos vivos à venda, como no Brasil — a versão de quintal do que ocorre nas fábricas por detrás dos seus olhos.

Passamos também por meninos que ainda jogavam bola no fim da tarde, por lojas de conhecidos de Tárik (onde comprei belas cerâmicas a preço de banana nas mãos de uma moça palestina simpática), e você via a enorme diferença de preço entre Israel e Palestina. Um garoto persistente, destes vendedores informais, acompanhava-nos insistindo para que eu comprasse umas pulseirinhas de borracha com a bandeira palestina — daqueles que vêm caminhando com você e narrando o preço.

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Doces árabes, estão servidos? Espécie de baclava com nozes e bastante açúcar (o knafeh de Belém estava melhor). O tio queria me cobrar 2 shekels, mas comprei por 1.

Paramos, por supuesto, também à casa de um rapaz que havia sido abusado pelas forças de segurança de Israel, e que relatou como a sua mãe havia sido jogada ao chão e o seu pai perdeu um olho. Na tal coisa da vitimologia comparada, todos os sofrimentos, infelizmente, são reais.  

Uma muralha de concreto erigida por Israel — como tantas que se veem em Hebron e Palestina afora — passava bem à sua casa, da qual queriam lhes despejar, e a família resistiu.

Era sensibilizante ver o rapaz esforçar-se para comunicar suas emoções e fatos no seu limitado inglês. Como havia sido sensibilizante também ouvir a senhora judia contar de quando achou o pai esfaqueado. Não há lado bom e lado mau neste embate todo; há males humanos feitos uns sobre os outros, e um problema político que requer muito mais que maniqueísmo para ser resolvido.

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O rapaz palestino a nos contar das violências sofridas por sua família — com o paredão de concreto bem ali atrás, ao lado de sua casa.
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Fim de linha. A muralha de concreto erigida pelos israelenses em torno do seu enclave, bloqueando as ruas.
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As ruas do belo centro histórico medieval de Hebron, já quieto e com as portas fechadas ao fim do dia.

Qual a sua religião?

Nunca antes na minha vida havia sido essa a pergunta-chave, eu que faço pouca questão de rótulos convencionais e gosto da minha vida de abelhinha coletando néctar onde acho para fazer o meu mel.

Nós deixamos lá o rapaz, que recomendou assistir ao documentário de 2004 “Na Teia da Aranha” (In the Spider’s Web, disponível no YouTube) sobre o que a população palestina em Hebron sofre, aos que acertarem ler legendas em inglês. E seguimos caminho, pois já era praticamente noite, e ainda havíamos de retornar ao lado de Hebron controlado por Israel e dali a Jerusalém. Meu voo de partida era no dia seguinte, então esta era minha última noite aqui.

Comprei, afinal, das pulseirinhas que o menino insistentemente quis me vender, e uma ou outra criança ainda circulava nas ruas cada vez mais vazias, todas as portas já praticamente fechadas.

Eu achei que essa história de “se perder na medina” fosse do passado, confinada aos tempos pré-GPS, pré-smartphone. Ledo engano. O aplicativo de mapas funciona muito bem quando você sabe aonde precisa chegar. E se nada no mapa lhe diz muita coisa, e você só se vê indo da esquerda para a direita, de uma rua para outra, sem aquilo lhe dizer nada? Nem a “fronteira” fática que há entre o lado israelense e o palestino estava bem descrita, e eu só via a noite cair.

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A boca da noite em Hebron.

Eu sei que, num dado momento, só vi eu e uma senhora idosa do grupo, a procurar onde os guias haviam se metido neste labirinto de passagens medievais. Escafederam-se.

Pedi a ela que se acalmasse, pois começava a parecer que ficaríamos em Hebron deixados para trás. Eu tinha o número do guia, que não contudo atendia o telefone.

“Já começava a me ocorrer que acabaríamos por pernoitar em Hebron na casa de alguém.”

Dois meninos aproximaram-se de nós a indagar, mas não falavam inglês. Só faziam indicar que a Tumba de Abraão era para lá — mas já a havíamos visitado, a questão agora era achar o guia para ir embora.

Já começava a me ocorrer que acabaríamos por pernoitar em Hebron na casa de alguém. O jeito seria abandonar o grupo que nos abandonou e ver um lugar onde dormir, e tomar o ônibus de volta a Jerusalém na manhã seguinte. Eu o faria em tempo de pegar o meu voo.

Eu falava em Tárik (o nome do guia) aos meninos, e um deles fez que nós o seguíssemos. A sorte foi darmos com um senhor idoso que falava inglês. Os meninos tagarelavam-se em árabe, ao que ele com a mão lhes disse que ficassem quietos. Em bom inglês, instruiu-me então sobre como sair. Tinha, segundo ele, vindo de lá há 5 minutos e visto Tárik no caminho.

A “baixa” que eu dei no guia foi tão grande que — surpresa! — chamou a atenção das forças de segurança.

Tomamos rumo de volta aos becos onde raros transeuntes nos olhavam, alcançamos e cruzamos um checkpoint de catracas, e voilà, lá do outro lado estavam Tárik e os demais guias com o ar abobado. “Eu já ia mandar alguém buscar vocês“, disse Tárik.

Não prestou. A senhora, aliviada, só não disse todos os desaforos possíveis porque não soube fazê-lo em inglês. Ficou para mim, ali na noite e já meio inconscientemente azedo com ele pelo arroz com iogurte, lhe dar um bom carão sobre o básico de ver se os membros do grupo estão presentes em vez de sair em disparada — ainda mais ali. 

A “baixa” que eu dei no guia foi tão grande que — surpresa! — chamou a atenção das forças de segurança. “Venha cá“, falou-me um dos rapazes soldados na guarita à saída do checkpoint. Eu, francamente, não sabia se eram israelenses ou palestinos. Vendo a coisa azedar, o próprio Tárik interveio lhe dizendo que éramos turistas e que eu era brasileiro. Se o soldado queria repreender a mim ou que eu lhe contasse direito a história para repreenderem o guia por irresponsabilidade, não estava claro.

Eu sempre ando com o passaporte. Não me aproximei, apenas reiterei que era, sim, turista brasileiro. Mas ele não se deu por satisfeito. 

— “Qual a sua religião?

— “Cristão

— “Ah, está bem. Tenha uma boa viagem!“, terminou ele fazendo até um joinha de lá.

Só aqui para ser esse o critério chave. Entenderam que, entre as brigas dos filhos de Isaac e Ismael, eu não tinha nada com isso.

A noite caiu escura aqui deste lado de Hebron. Quase não há iluminação pública, a luz toda dependendo dos faróis dos carros. Esperamos o ônibus de volta a Jerusalém acompanhados por Eli, que retornaria conosco. 

Um dia de emoções, em que entendi por que Hebron recebeu da UNESCO o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, e também em que vi de perto as tensões da Palestina moderna.

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Ao aguardo do ônibus de volta para Jerusalém em Hebron.

Epílogo: Deixando Israel e a Palestina

Que jornada inesquecível foi esta pela Terra Santa. De volta a Jerusalém já à noite, tomei um suco ainda na rodoviária para me abater um pouco a fome, e retornei ao hotel para o que seria a última dormida aqui. O contraste social e econômico entre Israel e a Palestina faz, realmente, você ver que são dois países distintos, um afiambrado com o outro num enlace fatal. O problema são ambos querendo para si os mesmos lugares, e nas últimas décadas tem sido Israel o bem-sucedido em ver feita a sua vontade, à custa dos palestinos.

Na prática, Israel é um país rico e desenvolvido, com um quê curioso de modernidade não-ocidental — um tanto como o Japão, com uma cultura sua e distinta. Já no lado palestino, temos o mesmo povo árabe irmanado dos jordanianos, sírios e libaneses, mas que reclamam uma identidade própria e também o seu apego histórico milenar a esta terra.  

Naquela tranquilidade frágil, eu rumei na manhã seguinte para o Aeroporto Ben-Gurion a esperar meu voo. Passei sem problemas pelos trâmites de emigração que lhes narrei já no post inicial, e na zona de embarque eu ainda peguei coisas para comer. Foi daqueles lugares onde tomam o seu nome e depois gritam quando o pedido fica pronto. “Mrron“, é o que gritava esse povo sem vogal que me bota para ter que reconhecer o meu nome em todas as pronúncias possíveis. Valha-me.

Hasta la vista, Israel e Palestina. Até um dia, até talvez, até quem sabe.

Mairon Giovani
Cidadão do mundo e viajante independente. Gosta de cultura, risadas, e comida bem feita. Não acha que viajar sozinho seja tão assustador quanto costumam imaginar, e se joga com frequência em novos ambientes. Crê que um país deixa de ser um mero lugar no mapa a partir do momento em que você o conhece e vive experiências com as pessoas de lá.

2 thoughts on “Hebron, cidade fisicamente dividida com a Tumba de Abraão na Terra Santa

  1. Meu jovem amigo, que viagem maravilhosa essa do senhor!… Postagens magnificas, tocantes, dessa região bela, histórica, famosa, embora conturbada e cheia de desafios para os seus habitantes e para todos nós, que é a Chamada Terra Santa , com Israel e Palestina, juntas, embricadas e se digladiando. Que eles terminem essa disputa de irmãos diferentes ,mas com tantas coisas em comum. Verdadeiros Patrimônios da Humanidade.

    Mas que espetáculo essa Mesquita que abre a postagem. Fantástica… magnífica… Que beleza esses lustres, os tapetes, as luzes, as cores, os maravilhosos azulejos que Portugal incorporou ao seu patrimônio cultural, herança do tempo em que esteve ocupado eles árabes … os detalhes semelhantes encontrados em templos de Andaluzia, na Espanha…etc e tal…revelam a influencia árabe na região. Um espetáculo…
    Que tons soberbos…. O verde, o dourado, com pedrarias, luzes , madeiras caprichosamente trabalhadas , elegantes candelabros, etc e tal… Formam um conjunto magnífico… Belíssimo. Preciosidades das Arábias, dos filmes de Alladim… Nossa… Que espetáculo. Adorei!.. Coisa de Cinema , como dizia um amigo.
    Pelo visto quase a Terra Santa toda é um Museu magnífico, muitas vezes a Céu aberto.
    Fiquei encantada…Tem muito a ver e a visitar… Já estou com saudades dessa viagem maravilhosa à Terra Santa nas postagens do senhor, meu caro viajante brasileiro.

  2. Vale tambem fazer referência a esse triste conflito/separação/guerra, entre irmãos, quando poderiam viver harmonicamente na mesma terra.
    Muito desagradável essa realidade, inclusive para quem visita a região.
    Cria tensão tantos arames farpados, catracas e paredões enormes; além de soldados armados. Deus nos livre.
    E que labirinto de caminho, que perigo voces enfrentaram, meio que perdidos entre tantos caminhos a levar a diferentes lugares.
    Terrivel a possibilidade de ter que se abrigar entre pessoas estranhas e com voo no dia seguinte. Jesus. Imagino a tensão.
    Ainda bem que apareceu esse senhor e os orientou.
    Curioso esse perguntar da religião. Ao que parece ser Cristão os livrou de mais aborrecimentos.
    Olhe que o senhor se mete em cada uma, meu amigo hahaha …
    Bom que terminou tudo bem.
    Valeu, meu jovem amigo viajante.
    Bela viagem, apesar desses percalços finais.
    Que venham mais belezas.

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