O gótico e seus vitrais misturam-se aos homens de cor aqui em Togoville, vilarejo histórico desta terra que já se chamou Togoland, na África Ocidental. Hoje, ela atende exclusivamente por Togo, nome que quer dizer “detrás das colinas”. A internet abunda com outros significados (“terra de lagunas”, “atrás do rio”, “lugar do lago”, mas “detrás das colinas” foi o que os togoleses me disseram).
E o que há por detrás das colinas, afinal? Uma terra tropical de gente preta que há séculos os europeus tentam controlar, deixando marcas. Não espere encontrar edificações muito antigas aqui, pois a alta umidade é imprópria à conservação material — mas há legados do século XIX para cá, de quando os portugueses foram dando lugar aos europeus do norte nestas costas.
As pessoas da América do Sul costumamos ouvir “colônia alemã” e pensar logo em povoamento, n’algo benigno, diferente de quando ouvimos falar em “colônia inglesa” ou “colônia portuguesa”. É que nos esquecemos de que também a Alemanha tinha colônias do tipo de exploração aqui na África. A noção só nos parece estranha porque o país de Angela Merkel as perdeu todas com sua derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e os togoleses acabaram por estudar francês em lugar de alemão.
Bem-vindos a Togoville — devidamente adaptada no nome ao idioma de Napoleão, ainda que os togoleses nutram uma curiosa nostalgia pelo tempo de Bismarck. Estamos no lugar mais histórico que há no Togo, a uma breve jornada de 1h30 desde a sua capital Lomé, e onde fica o Lago Togo, associado ao nome do país. Foi aqui o centro da colônia alemã e depois francesa, uma necessária jornada ao passado deste país.

A Jornada a Togoville: Marcas da escravidão na costa
Esse atrás de mim vestido de amarel0-gema é Francis, meu motorista para o dia (recomendadíssimo, e cujo número eu posso passar a quem quiser vir aqui caminhar estas paragens). Amigo de De Gaulle, o que foi me buscar no aeroporto de Lomé, quando também conheci o próprio Francis rapidamente. Francis fala inglês fluente, by the way, mas a nossa comunicação foi em francês mesmo. Eu achei até que reveria De Gaulle, mas ficou sendo só aquela vez mesmo.
Ao café da manhã do hotel, encarei com uma pinta de adrenalina aquele mamão ao copo, cortadinho em pedaços junto com outros de abacaxi. Não muito indicado para dias de passeio. Comi mesmo assim, mas recusei quando Mariette me perguntou se trazia mais.
Era menos de 8h da manhã, e já fazia grande calor em Lomé. Não havia ar condicionado no escuro restaurante do subsolo, ainda que arrumadinho ele fosse. O principal sinal de eletricidade era a televisão ligada em francês. O que se come também é inspirado na França — baguete com manteiga, geleia, suco, café e graças a Deus omelete.
Mariette, a minha contemporânea de óculos, nesta manhã se revelou marfinense. Achei engraçada a minha tolice de ter suposto que todos aqui no Togo eram togoleses. Ela me contou sobre como veio para cá a trabalhar há alguns anos, que acha Lomé um lugar parado, onde tudo adormece já às 6h da tarde, que o vizinho Benim seria mais animado e que Abidjan na Costa do Marfim — sua cidade — ainda mais. Eu achava interessante escutar estas percepções regionais sobre as quais eu nada sabia.
Com uma certa “saudade de casa” na voz, Mariette comentou como na Costa do Marfim se fala francês por todo lado, que não é como aqui que ficam impondo idioma local (ewê) em você. Que lá há mais variedade de coisas a comer também, que produzem mais a própria comida e até se planta o arroz próprio, enquanto que aqui eles dependem de importações da Ásia.
Togo, de fato, se mostraria mais pobre que seus vizinhos.


A Casa dos Escravos em Agbodrafo
Foi neste dia que eu fiz a visita ao Marché des Fetiches — o mercado de coisas vodu em Lomé — que lhes mostrei no post anterior. Depois, eu descobriria que aqueles chapas que me atenderam também eram de fora, do Benim, não togoleses. Há mais migração intrarregional nesta África Ocidental do que desconfiava minha vã filosofia.
Dali, nós seguimos para Agbodrafo, um lugar histórico na costa e que antes se chamava Porto Seguro — assim mesmo em português.
Vocês vejam que os portugueses daquele tempo não tinham lá muita criatividade para nomes geográficos — eu já perdi a conta de quantos lugares há aqui neste meu roteiro pela África Ocidental com o nome de Porto Novo. (É tipo lista de contatos de celular, em que você vai pondo Fulano Novo, aí depois que a pessoa troca de novo de número você põe Fulano Novo outra vez e já não sabe qual é qual. Ou Fulano Novíssimo, e por aí vai.)
Tomamos enfim a estrada enfim para fora de Lomé.
As estradas aqui são boas, eu preciso dizer. Asfalto competente, embora haja mão dupla numa boa parte — e os motoristas, sobretudo os motociclistas, sejam às vezes uns loucos. Uma hora de estrada e você já vê cada coisa… mas o trânsito flui razoavelmente bem.
Passando quase todo o tempo no que é uma zona peri-urbana destes arrabaldes de Lomé, parei para tomar um lanche com suco de graviola e, 1h mais tarde, chegávamos à vila costeira de Agbodrafo.




Neste lugar, recebeu-nos Edmond, esse senhor que você vê na foto. Não se sabe há quanto tempo ele está aqui fazendo as vezes de recepcionista e de guia.
Ele nos contou que esta Casa dos Escravos (Maison des Esclaves) funcionou oficialmente entre 1830 e 1852, uma edificação de arquitetura afro-brasileira — é este o nome técnico — que pertenceu nesse período ao traficante negreiro escocês John Henry Wood. Os escoceses, muita gente não sabe, participaram desproporcionalmente no imperialismo britânico — ainda que hoje paguem de diferentões e queiram se separar.
Foram os portugueses os primeiros europeus a navegar por estas costas, e por um longo tempo tiveram exclusividade nas descobertas e no tráfico negreiro. Já desde os idos de 1450, os portugueses andaram cá com feitorias costeiras de onde em temo realizariam o afamado comércio triangular (Brasil – África – Europa) de escravos, ouro e especiarias. Já em 1500, Portugal experimentava em ilhas africanas (como em São Tomé e Príncipe, mais a sul daqui) o modelo de monocultura de açúcar com base em trabalho escravo negro que depois instalaria no Brasil.
Os portugueses cá trouxeram cultivos das Américas (mandioca, milho, frutas como o maracujá e o abacaxi), e daqui levaram plantas africanas como o quiabo, o dendê e o inhame.
Em tempo, já no século XIX, haveria forte troca comercial e negreira entre o Brasil independente e esta Costa que continuava a ser Dos Escravos. O estilo dito afro-brasileiro da arquitetura é efeito desse período.



Como em tantas outras partes da costa africana, Portugal fundou um forte que lhe permitisse realizar comércio e conversões ao cristianismo, mas não houve uma ocupação nos moldes do que ocorreria mais tarde durante a segunda metade do século XIX, quando as potências europeias correram para repartir a África quase inteira entre si.
Os portugueses tinham sua feitoria nesta Porto Seguro, mas já nas alturas do século XVII havia outros — holandeses, ingleses, franceses e dinamarqueses — também traficando escravos aqui para as suas colônias. O forte português, por sinal, nem existe mais.
Foi assim que o escocês Wood terminou estando nesta casa, traficando escravos legalmente até 1852 e, depois, na clandestinidade. A Grã-Bretanha aboliu o tráfico negreiro em 1807 (nas colônias, apenas em 1833), e o Brasil em 1850 promulgaria sua famosa Lei Eusébio de Queirós, proibindo a vinda de negros cativos — mas a coisa continuou ainda às escuras por um tempo.
Eu aqui encontrei ainda o cofre do Senhor Wood, e desci a debaixo do assoalho para sentir o lugar de chão arenoso onde os escravos viviam e dormiam. Às festas, ficavam a ouvir o tilintar dos copos e receber a poeira que caía por entre as tábuas do assoalho. Se necessários, eram solicitados a trazer algo aos convidados.





Edmond parecia ainda carregar a gravidade daqueles tempos.
Porém, essa não é a tônica geral aqui. Os togoleses são joviais, relativamente leves, e logo de frente à Casa dos Escravos me deparei com uma simpática loja de souvenirs onde comprei uns artesanatos com bom preço de um rastafári.
Óbvio que não eram “souvenirs” da escravidão, mas coisas da cultura togolesa. Eles sabem que os turistas vêm aqui, e aproveitam o point para mercar suas artes.
Vi estátuas de madeira e máscaras tradicionais africanas pintadas a mão por 10 dólares — o tipo de coisa que custaria 100 fora daqui, se não mais. Mais barato que noutras partes da África Ocidental também, pelo que pude ver.




Quando chegamos para ver o mar, este porto parecia tudo menos seguro.
Era um mar bravio, que daria praia aos mais atrevidos se fosse alhures. Aqui, havia coqueiros solitários, com cara de lugar histórico, uma igreja velha abandonada por causa da ressaca marítima, algumas palmeiras quebradas, e uma tempestade que se aproximava no horizonte sul ao que eu fazia o meu encanto com o mar.
Era um mar ominoso, aquele no horizonte. Ao que uma tempestade parecia querer se formar, eu imaginei o Brasil lááá bem do outro lado — mas um outro lado orientado para o sudoeste em vez de reto para oeste, o que me levaria ao Caribe. Era uma sensação curiosa, estar, inusitadamente, deste lado outro de cá.




Cruzando o Lago Togo
Voltei ao carro de Francis para que finalmente fôssemos cruzar o Lago Togo e chegássemos até Togoville do outro lado — ela que já foi Togostadt. Embora seja chamado de “lago” nos idiomas europeus, ele na verdade é uma laguna que se alimenta tanto de rios quanto do mar. Togoville foi feita à sua margem, terra adentro.
Como a África continua sem muitas pontes, é preciso deixar o carro deste lado e cruzar em barco, como veremos. O ponto de travessia é o mais despretensioso que você consiga imaginar. Margens de terra enlameada onde algumas canoas de madeira se punham. Eu chegara a achar que teríamos um barco motorizado, mas ledo engano.
Debaixo de um toldo sob o tropical céu nublado, algumas pessoas conversavam, e uma moça fritava pedaços cortados do que me pareceram batatas numa cuia de metal cheia de óleo. Era batata-doce, ela depois me disse, e que havia inhame também. Deu-me com a mão um pedaço de batata-doce frita já fora do óleo. Estava uma delícia, e eu me arrependi depois de não ter pegado mais. Era hora de zarpar.




A travessia em si é plácida. O barco nem tem motor nem remo — ia o cidadão atrás na canoa com uma vara de seus 4m basicamente empurrando o barco até o outro lado. Eu havia visto na internet uns desvarios sobre 45-60min de travessia, mas leva 15-25 min a depender do vento e do cuidado necessário.
Foi aqui que talvez a ficha me tenha caído da precariedade da vida neste lugar. Na frente, diante de mim, ia uma mulher com sua criança de colo presa às costas por um pano amarrado. Pareceu-me comum.
Entre nós, o silêncio, exceto por um comentário ou outro esparso de Francis com o barqueiro. No mais, ouvia-se somente o vento — e foi na travessia que a trovoada nos alcançou.



Uns 10 minutos após zarparmos, ficaria claro que não chegaríamos ao outro lado antes de a tempestade nos alcançar. Os ventos surrupiavam a água, gerando ondas breves porém frequentes, e que nos acertando na lateral faziam-me indagar se não nos derrubariam.
Após os ventos, veio a chuva propriamente dita a acompanhar — aqueles pingos grossos que vão marcando sua roupa antes de você ficar completamente encharcado. Não chegou a ser assim uma torrente equatorial, mas foi uma chuva de respeito e que acordou o menino. A mãe me pareceu serena apesar de tudo, eu relativamente tranquilo, a meditar sobre a precariedade e riscos básicos a que estas pessoas vivem submetidas cotidianamente.
Se a canoa virasse, eu sabia pelo menos que não me afogaria — sei nadar e a outra margem não estava tão longe assim. Mas conforme a canoa balançava com a violência dos ventos, eu me preparava quase já para dar a extrema unção ao meu celular e à câmera fotográfica se virássemos — e eu havia já tirado umas fotos tão legais. Estaria fadado a viajar pela África sem câmera?
Pelo menos, não parecia haver crocodilos nem hipopótamos dentro do lago. Eu havia perguntado se tinha, pois aqui na África é preciso perguntar essas coisas, ao que Francis e outro responderam com um “geralmente não”. (Aquele “geralmente” me incomodou.)

Partiu um outro canoeiro do outro lado ao nosso resgate, e ao chegar ajudou a equilibrar a nossa canoa. A habilidade desses caras de ficar ali de pé nos solavancos da tempestade era incrível.
Chegamos ensopados do outro lado, mas chegamos. Francis havia me dado um saco plástico onde esconder a câmera, o que ajudou a salvar meu equipamento.
Do outro lado, foi ainda preciso passar uns 45min ou quase uma boa hora esperando — primeiro a chuva terminar e depois o guia. O tempo ali custava a passar debaixo daquele telhado de metal, lixo por todos os cantos, e vários caras a conversar e brincar uns com os outros naquele jeito das periferias brasileiras. Nessa hora, senti o privilégio de ser homem nestes locais.
Enfim apareceu o cidadão que seria meu guia. Francis aqui tomaria um perdido conversando com A e B, ele que era originalmente aqui de Togoville e conhecia gente. Enquanto isso, o guia me tomou Togoville adentro, contando-me sobre os alemães nestas bandas no fim do século XIX e começo do XX.


Togostadt, hoje Togoville
Stadt é “cidade” em alemão, como ville em francês, e Togostadt foi como os germânicos chamaram a partir de 1884 este lugar que foi o centro da sua colônia.
“Colônia” é como nós entendemos a relação hoje. À época, não faltavam eufemismos. O mais comum neste contexto africano era o de protetorado, de modo que cada potência europeia ficava responsável por tomar conta de uma parte da África. Estávamos na época áurea da noção de “fardo do homem branco”, o conveniente entendimento de que os superiores europeus tinham o duro encargo de civilizar o resto do mundo à sua imagem e semelhança.
Togo se tornaria a “colônia modelo” dos alemães, autossuficiente em alimentos, mas guiada sobretudo para a produção de commodities de exportação — café, cacau e algodão. À altura de 1905, os germânicos inauguraram uma ferrovia até Lomé para escoar a produção à Europa, um tanto como fazem os chineses África afora hoje em dia.


Adentramos Togoville por uma rua de canal — um esgotão — feito pelos alemães nos idos de 1910 no meio da rua para a drenagem. A lama era completa afora aquele rego de pedra. Passavam por mim pessoas e galinhas. A chuva dava trégua, mas oras ameaçava retornar com chuviscos — e a gente ia escolhendo onde pisar para não enfiar demais o pé na lama nem escorregar.
Vi algumas cisternas da época colonial, a estátua da amizade pelo centenário do tratado firmado em 1884 entre os alemães e o rei togolês Mlapa III, e uma igreja inicialmente luterana que os franceses depois converteram em católica.
Aprendi que os togoleses, alguns pelo menos, ressentem a partida dos alemães. Perguntei por que. “Porque no tempo dos alemães não tinha dívida pública. E hoje o Togo é o país mais endividado que há.” Eu ia dizer o que?
Mais adiante, encontra-se outra estátua comemorativa, esta de um ancião africano conversando com um jovem. Segundo meu guia, é para retratar a “negociação” entre o rei togolês da época e o emissário alemão.
A estátua simboliza, de modo mais amplo, também a percepção geral dos africanos de que têm sua sabedoria ancestral geralmente pouco apreciada pelos modernos europeus. (Nas culturas africanas, idade faz uma diferença imensa. Parte-se do princípio de que a pessoa mais velha sempre está certa.)




Depois de um tempo circular pelas vias enlameadas — que me lembravam a periferia de Feira de Santana noutros tempos —, olhando ao redor a me perguntar o que havia para ver, entrei na catedral. Ela é, sem dúvida, o que há de mais bonito aqui em Togoville.



Depois de ver a escultura do velho e do visitante negociando, fomos brevemente a um centro de artesanato com coisas caras, bem mais que em Agbodrafo, onde quiseram me vender um vidro pequeno de geleia de manga — que o vendedor dizia ser pura manga e não conter nem açúcar (!) — por 5.000 francos ou uns 8 euros. Tá certo, meu tio. Vá vender por esse preço aos alemães.
Não há muito o que ver em Togoville, verdade seja dita, por mais histórica que ela seja ao Togo.
Passamos por várias árvores enfaixadas — coisas do vodun, e que você também vê nas religiões brasileiras de matriz africana se for, por exemplo, ao Quilombo dos Palmares em Alagoas.
Uma delas, diziam-na tão respeitada que nem os pássaros faziam ninhos ali. Há também pequenos altares de vodu de pedra com feições humanas ou não. Várias levam manchas amarelas, que me disseram ser do azeite de dendê usado aqui nos rituais. Pelo chão, era possível ver dos lindos frutinhos vermelhos do dendezeiro aqui e ali.
Ao que tirei uma foto de uma imagem de pedra de vodu (simbolizando “o homem”; havia “a mulher” noutra parte), o guia então me falou que seria preciso deixar ali alguma oferta para poder tirar a foto. O que fosse. Eu ia quase deixar um caramelo que tinha no bolso, mas hesitei tempo o bastante para Francis reaparecido perguntar se eu precisava de uma moeda e me dar 100 francos.
Estávamos já encerrando o nosso périplo pelo que era, na prática, uma zona pobre meio rural.





Epílogo: Djékoumé e Atchiéké
Eu imagino como o pessoal mais do “pensamento mágico” pode estar pensando que estas são duas entidades do vodun. São entidades magníficas da gastronomia togolesa.
A nossa volta seria tranquila, mas eu estava com fome. Nessa conversa toda, não paramos para almoçar em lugar nenhum.
À volta, peguei 7.000 francos (coisa de 10 euros) ao guia de Togoville por suas conversas e volta na cidade, e me pus com Francis a retornar no próximo barco. Com uma vasilha plástica, ele ia retirando a água que já estava dentro da canoa quando começamos. Augúrios.
Logo, graçaDeus, estávamos de retorno ao confortável carro, eu a tentar secar minhas roupas na toalha, e nós a tomarmos a estrada. Francis, no caminho, foi-me contando sobre como de fato os togoleses tinham rancores da França e nostalgias pela Alemanha. (Não acho que teria sido tão diferente, mas eles têm essa narrativa na cabeça.) Queixou-se, por exemplo, de como a caixa-forte e casa da moeda do franco africano ocidental (XOF) seguem sendo na França. Como o câmbio é fixado ao do euro, tampouco existem política fiscal ou monetária aqui.
Há atualmente uma discussão sobre os países da África Ocidental mudarem pelo menos o nome da moeda, do colonial franco CFA (Communauté Financière Africaine) para eco, mas a França não quer ouvir falar disso. Tradições são tradições. O colonialismo não acabou de verdade, apenas mudou de formato. Amarram-se os africanos em relações desiguais, e depois fica fácil culpá-los pela própria pobreza.

Paramos num supermercadinho desses de posto de gasolina no caminho de retorno, em busca de algum lanche que enganasse o estômago. Aqui, alguém vem de pronto oferecer-lhe uma cestinha e perguntar do que você está precisando.
Eu, que não gosto muito de vendedor em cima de mim, achei aquilo meio forçoso demais, mas vai lá, ça va, ali estava a moça com leve cara de fadiga. Engraçado que elas aqui, como noutras partes da África, tampouco têm a menor cerimônia em fazer aquela cara de cansada detrás do caixa, e bufar dizendo que não tem troco, e eu chegar quase ao ponto de perguntar se deveria então retornar o produto à prateleira. As atendentes eram simpáticas, mas aquela coisa modorrenta, sem vontade. Partiu de mim a iniciativa de ir buscar outra coisa que custasse 800, para com os 1200 do meu sanduíche inteirar o preço e facilitar.
Francis sugeriu que comêssemos peixe num restaurante bom que ele conhecia na tal embouchure, que é onde a água do Lago Togo se liga à do oceano pelo que parece um rio. Na prática, data venia, é um estuário besta e sujo, que me lembrou o Vietnã sob a chuva (Hue, mais especificamente). Talvez seja bonito quando faz sol.
Um grupo de turistas franceses se sentava a uma longa mesa no restaurante, falando com aquele tom de nariz em pé sabe-tudo como lhes é característico, ao que eu negava o cardápio pleno de pratos atípicos pra europeu comer. Pedi a Francis que me levasse num lugar de comida africana, por favor. Entram atchiéké e djékoumé em cena.

Um dos lugares que Francis sugeriu estava fechado, e acabamos foi por retornar totalmente a Lomé para ir jantar no Chez Brovi, um restaurante que me pareceu frequentado pela classe média togolesa.
Sentamos-nos, ao que um cidadão do restaurante com um olho pedrês e o outro cucurutado veio com uma bacia plástica plena de peixes inteiros mortos e crus, uns oito, a que escolhêssemos. O escolhido viria grelhado e acompanhando o que mais pedíssemos.
Foi aí que entraram em cena — e na minha vida — o djékoumé [lê-se djê-kumê] e o atchiéké [atchi-ekê]. O primeiro, também às vezes apelidado de massa vermelha (pâte rouge), é um pirão mais firme, feito deliciosamente com caldo apimentado e às vezes pedaços de pimentas coloridas inteiras dentro. É feito à base de massa de milho, quentinho e riquíssimo de sabor.
Já o atchiéké parece um bolo de tapioca esfarelado e sem açúcar. Lembrou um cuscuz norte-africano, só que de mandioca.


Com meus dois novos amigos, eu encerraria a noite. Como eu sempre digo: a obra cultural destes africanos do Togo não está em obras de pedra, está nos pratos das pessoas. Não são apenas as pedras pisadas do cais.
Ihhh que maravilha essa foto de abertura…
Belíssimos esses vitais… com tons, cores e motivos africanos! Vistosos, com tons quentes como os trópicos…
Espetacular esse gótico com seus arcos ogivais e essa penumbra.
Otima observação.. acabaram por estudar frances em lugar do alemão…coitados… e nem se dão conta de que com isso excluem sua cultura e seus valores. Nem alemão nem francês… africanês hahaha
Nostalgia de Bismarck … hahah é ótima… prováveis esquecimento e romantização; ou fizeram algo que foi bom para eles ou o frances foi /é (?) considerado um tempo pior… todas as hipóteses podem ser verdadeiras hahah
Vilgen que o viajante está parecendo um pinto molhado.. Notre Dame…hahah
Adrenalina com. o mamao é hahah ótimo..sua amiga aqui não arriscaria haha
Deus me livre de subsolo hhh… Nao tenho vocação para minhoca hah
Em parte por isso que não gosto de cruzeiros, com dormidas em “calabouços” os hahaha hahaha
Que horror esse café francês ou italiano, com coisa doce e café pequeno… Que me perdoem ambos, mas gosto do café nordestino, com café grande, ovo, verduras de cafe, banana da terra, aimpim, inhame, batata doce pão com manteiga etc e tal. Prefiro algo com mais sustança.
Curiosa a visão dos moradores…. Pelo visto não gostam muito do pais de Macron mas gostam do idioma… Moi aussi em relação ao idioma.
A mocinha , ja situa o progresso da sua região , a importância de produzir e não depender só das importações. boa visão, no meu entendimento.
Jesus,,, que horror essa trepeça.. Uma em cima da outra… parece um leva tudo, um vale tudo e pelo visto se vende tudo .. nossa.
A vã filosofia Shakespeariana foi ótima
hahah lista de celular é ótima hahah
A auxikiar da sua amiga aqui tanto clular que ja perdeu que já está em,…. fulana de tal, abril hahaha
Ponto positivo para as estradas…. parecem boas mesmo…
Os lanches, parecidos são… agora, o saborrr ? não se sabe… É vero.
O suco de graviola parece ótimo. Tambem há muitas aqui no NE do Brasil. A Áfica dessa região tem mesmo muito do HE brasileiro
Esse intercâmbio de plantas e espécies foi enriquecedor. Muito bom.
Pena e vergonhoso pelos escravos , escravatura e tratamento que receberam.
Apesar do belo estilo das casas que se parecem com as casas de engenho do Brasil do seu simples mas belo interior, das suas reliquias, elas revelam, como essa ai, os horrores das condições sub-humanas dos negros escravos.
Muito triste ver essas coisas: viver debaixo dos assoalhos, em porões escuros e mal tratados. Uma ignomínia., bem retratada na dramática obra do poeta baiano Castro Alves, quando em no final do sec XIX denunciava aquela situação no seu poema Navio Negreiro. Uma mancha na História da Humanidade.
Lindo e representativo esse velhinho.
Muito desagradável toda essa realidade de maus tratos, embora hoje tambem haja varias formas de escravidão, essa parece ter sido das piores.
Mas ja era esperada essa realidade. Aqui muito eles sofreram e muitos ainda sofrem
Que não se repita nem sob a forma de preconceito nem de marginalização.
Conhecer , inteirar=se da problemática e buscar formas de compensar a Africa e seus filhos pelos transtornos e sofrimentos perpetrados , na visão da sua amiga aqui, é um dever do mundo moderno
Vamos que vamos.
vitrais*
Bonitinha essa área externa de terra batida. Arrumadinha.
Olhe lá o frango jacó, de pescoço pelado.. hahah. Era comum aqui no NE do Brasil ha um tempo atrás.
A modernização das cidades os colocou para fora.
Adoro esses lugares simples mais rurais e principalmente de beira mar. Um encanto.
Muito bonitos esses produtos… e parecem bem feitos. Lindas essas peças de madeira. Bem torneadas.
Lindas as telas. Adoro esse colorido forte dos africanos e esse jogo de cores.
Amo miçangas. Aqui na Bahia ha muitas delas, sobretudo em Salvador. No Bomfim tem várias barraquinhas que vendem.
Essas estão lindinhas.
A natureza como sempre prodigiosa, apesar da precariedade que se percebe, e do ar de abandono das pessoas. Essa paisagem é belíssima!.. A praia tranquila e vazia é uma riqueza…
Vilgen que o porto, não é seguro, o mar é belo e agitado, e ondas escalpeladas com Pedro Ventania dominam o ambiente… vicói…socorro
Belas espumas do mar e assustadoras núvens escuras prenunciando tempestades. Jesus…
Esse mar bravio parecem aqueles “Verdes mares bravios da minha terra natal” , no caso o Ceará, cantados em verso e prosa por Alencar no seu livro “Iracema”.
Vida simples, precariedades várias, dificuldade de transportes, baixa infra=estrutura.. vida de gado, como diz o cancioneiro aqui no Brasil sobre os brasileiros pobres. uma tristeza.. tantos anos de “colonização”, tantos lucros para os países colonizadores, e nada para o povo e o país colonizado…Que horror…
A travessia poderia ser simples…a precariedade faz parecer dramática…
Vilgen.. crocodilos… esqueci que na África eles aparecem… jisuis… ô coragem…Que risco… eita lê lê… resposta horrivel… indefinida hahah … Deus me livre…
E é de vara… arremaria… e vai? nossa… e que porto…uau.. coitados… o mar está um breu.. hum hum hum. Habilidosos…os tais
Hahahaha Barqueiro Caronte é ótimo…E simbólico para a ocasião… ainda bem que não …. hahaha
Deveriam ter esperado a tempestade passar..
E o viajante se mete em cada uma… terrível… ficou parecendo um pinto molhado .. Oô coitado …..
Assim “navega” a humanidade …. hahah Liz Taylor ficaria aterrada dos “caminhos que andam”dos africanos. Misericórdia…
Eletrizante a postagem…
E vamos a Togoville…
Belo monumento ã amizade.. Se é que a relação era de amizade entre os dois povos. Um protetorado(?)… Discutível…
Famoso esse “fardo” do homem branco… No rastro dele vem Tar zã, o homem branco rei da Selva. Lenda com a sutil mensagem do homem branco superior e justo.
Fez sucesso no Brasil nas décadas de 1950 e 1960. Filmes e livros de aventuras. Sua amiga aqui curtiu muito… hahahah
Famosas tambem essas “commodities”…. por conta das quais se conquistava, colonizava e explorava, sem preocupação de nenhum retorno para os países produtores…
Horríveis esses acessos com cara de massapê.. esses esgotos abertos… imagino o quiabo… coitado do povo…
Pois é… É por ai mesmo o desgosto com a relaçao de alguns com o pais de Macron. A dívida pública alta do Togo…
Essa relação com a França parece mesmo a desejar pois, pelo visto o pais africanos continua amarrado à metrópole ,que pelo visto, “não larga o osso.”
Belo e sugestivo o monumento representando o Velho e sábio povo africano, e o “novo” povo europeu.
Lindinha, a Catedral…
Eita lêlê… que maravilha esse interior da Catedral…uau… Belíssimo… colorido, bem arrumado simbólico e de belos vitrais. Lindo, o painel do Altar Mor..
Que cores maravilhosas, vibrantes… Magnificas essas barras decorativas… Linda essa galeria de Mártires cristãos africanos. Muito sugestiva. Belas pinturas com motivos africanos.
Ai sim, bela mistura de influências e arte.
Lembro de ter visto em algumas regiões e países asiáticos, árvores assim enlaçadas com cores diversas, principalmente vermelhas.
Amo dendê… bonito e saboroso. As comidas típicas bahianas são ricas em dendê e saborosíssimas. Muitos restaurantes exibem comidas baianas todas as sextas-feiras, dia de Oxalá/Senhor do Bomfim , no sincretismo religioso.
Nossa… O retorno de Jedy.. vilgen que a canoa tinha água dentro… Jesus…
Um olho pedrês e outro cucurutado …” é divertidissimo… hahah imagino… hahah
Vilgen Huê… hahah parece mesmo.. Vi na vossa postagem a região e tambem achei parecida…Parece ai que é daquelas de segurar o sapato na lameira hahahahOlhe seu menino… que é coisa que acontece com esse viajante hahaha.
Bom retorno…
Comer é preciso!…
Avemaria .. Que denominações horríveis desses pratos hahah dificil até de pedir hahah, muito embora estejam com una buena cara hahahah.. Bom apetite hahaha
Adorando as aventuras hahah
By the way, adorei o comentário final sobre o marco cultural dos Togoleses, e quiçá de vários dos habitantes dos paises africanos, está, entre outros aspectos, nas pessoas e na culinária… concordo com o senhor meu jovem , e a Bahia representa muito bem no caso da culinária.
E parabéns pela alegoria. “e não só nas pedras pisadas do cais.”… lembrando a saga de João Cândido, apelidado o Almirante Negro, lider da Revolta da chibata, 1910, contra os sofrimentos dos marujos no Rui de Janeiro, no governo do Marechal Hermes da Fonseca, e imortalizado por Aldir Blanc e João Bosco na música, O Mestre Sala dos Mares, cujo monumento ” são as pedras pisadas do cais”….
Obrigada, jovem viajante, pela lembrança comparativa a respeito dos valores desses africanos habilidosos, fortes, corajosos sofridos no Brasil. nas Américas como um todo, na África e em outros lugares, que sustentaram a nossa História com suas vidas.
Valeu…