Você olha e talvez até pense que eu estou no Brasil, mas estou no Benim, na África Ocidental. Para ser mais preciso, estou na sua maior cidade: Cotonu — que aqui em francês eles escrevem Cotonou. Não é a capital; esta seria Porto-Novo, cidade fundada pelos portugueses aqui no século XVI, mas a ela nós iremos depois.
Cotonu seria a minha porta de entrada a este país, um recanto relativamente organizado, estável e seguro da África. Vindo do vizinho Togo, notei de imediato que o desenvolvimento aqui é maior — com os seus prós e contras. O tráfego, por exemplo, é bem mais intenso. Mas nada tema, não faltam africanidades muitas aqui, desde as mui coloridas roupas (típicas aqui da África Ocidental) às pessoas equilibrando de tudo na cabeça nas ruas.
Esta é a primeira postagem de uma série sobre o Benim, que nos levará aos lugares mais importantes do país. Nisso, acabei descobrindo semelhanças e vínculos surpreendentes com o Brasil. Fui, por exemplo, a alguns dos mesmos lugares aonde tinha ido Laurentino Gomes para escrever o primeiro volume do livro Escravidão. (Não faltam marcos e memórias da escravidão por aqui.) Entretanto, o hábil Laurentino estava debruçado sobre a questão da escravatura, não sobre o Benim. Sobre este você melhor — e verá — aqui.
Começarei pela questão do visto, um dos mais simples que há de obter. Depois entraremos no Benim em grande estilo, oriundos do Togo mais a ocidente; fazendo o ajuste de 1h para frente nos nossos relógios, e caindo nesta descoberta do país que talvez seja o que melhor representa a ancestralidade afro-brasileira e nossas raízes comuns.

Tirando o visto eletrônico para o Benim 🇧🇯
O Benim tem dos vistos eletrônicos mais fáceis de tirar na face da Terra. Sai quase que instantaneamente após seu pagamento de 50 euros. O meu e-visa chegou, literalmente, dois minutos depois de eu terminar de realizar o pagamento.
E o melhor é que nem precisa anexar NADA (nem cópia de passaporte, nem passagem aérea, nada), apenas pôr suas informações, os dados do passaporte, e a data pretendida de chegada. Seu visto será válido por 30 dias contando a partir dessa data. The end.
Só se certifique de utilizar o site oficial, https://evisa.bj, pois não faltam agências aí internet afora disfarçadas de página oficial e prontas para coletar uma sobretaxa administrativa de você.
Uma vez recebido o visto eletrônico (e-visa) pelo e-mail, imprima-o em uma ou duas cópias (de preferência colorido, pois os africanos são meio à moda antiga e apreciam a coisa no papel e bonita), e partiu Benim.
(Tenha consigo uma cópia desse papel até a sua saída do Benim! Em tese nem precisaria, pois você ganha um carimbo no passaporte ao entrar, mas à saída me pediram e eu tive que rebolar para encontrar onde tinha posto. Por sorte, eu tinha uma cópia extra na mochila.)


Chegando desde o Togo até o Benim
Eu estava no vizinho Togo, passeando por sua capital Lomé e outras paragens que lhes mostrei nas postagens anteriores. Francis então de manhã apareceu com seu carro para tomarmos a estrada rumo a Cotonu, a maior cidade do Benim. Estamos falando em coisa de 3h de viagem numa estrada ampla, asfaltada e relativamente boa.
Eu sei que a noção de cruzar fronteiras por terra na África evoca certo receio, mas saiba que há fronteiras e fronteiras. Esta daqui é uma relativamente inócua, que gente cruza de carro a todo momento. Inclusive, é habitual que motoristas do Benim conheçam bem o Togo (eles não precisam de visto) e vice-versa. São dois países pequenos, afinal, e com boa infraestrutura e curta distância entre suas cidades principais.
Há transporte público? Há, mas da pior espécie possível. Esqueça os ônibus ou vans da América Latina aqui. Aqui o coletivo faz mais o estilo pau de arara. Não sei como compra, só sei que leva um dia ou noite inteira para fazer o que o carro faz em 3h, então imagine.
O mais habitual é mesmo perguntar a alguém que conheça um motorista no WhatsApp e que lhe faça um preço. Eu já havia ido com Francis até Togoville, ele se mostrou super hábil, e com ele eu acertei o preço de 65.000 CFA (coisa de 100 dólares, menos da metade do que me custaria um voo, e bem mais prático). Vale negociar, e se for mais gente no carro, você pode dividir.
Neste caso, fui sozinho, apreciando as paisagens costeiras à saída de Lomé, até que logo estaríamos à fronteira com o Benim. Você chega a ela já pouco após a primeira hora de estrada.


Nós cruzamos a fronteira antes do rio, entretanto, pois há uma parte perto do Atlântico que pertence ao Benim de ambos os lados da desembocadura.
É a região do Grand Popo, cultivadora de dendê, e onde você vê as pessoas com banquinhas do “óleo vermelho” (como eles o chamam aqui, l’huile rouge) à beira da pista. É também uma região de praias, que atrai muitos turistas. Como eu não tenho paciência de ficar só lagarteando debaixo do sol, seguimos caminho.
Mas o nome Grand Popo me apareceria de novo, pois o Benim tem fortes identidades regionais. Às vezes, falam-se até línguas locais diferentes de uma cidade para a outra. Além disso, a locomoção ainda é precária, então imagine que cada recanto do país tem uma identidade muito coesa. Um tanto como se São Paulo e Campinas, ou Salvador e Ilhéus, tivessem idiomas distintos e hábitos alimentares diferentes.

A fronteira
A fronteira tem um certo ar de posto de gasolina de estrada — veículos estacionados e aquelas casinholas à rodovia, um tanto como no Brasil. (Imagine algo contemporâneo, não uma roça.) Estaciona-se o carro, e se vai com os papeis e o passaporte até o lugar onde ficam os oficiais. Tudo se resolve em 10 minutos.
Os oficiais de Togo e do Benim ficam no mesmo prédio em duas janelinhas diferentes. Você precisa ir primeiro na do Togo pegar o carimbo de saída (se for na do Benim primeiro, ele o mandará voltar, e você terá pegado a fila à toa — ocorreu a um cidadão). Não houve grilo, nem foi preciso pagar mais nada, nem apresentar qualquer documento adicional além do passaporte e da página impressa do e-visa para entrar no Benim.
As pessoas aqui na África, como na Índia, são bem piores que no Brasil em matéria de furar fila, então fique de olho. Houve quem já viesse esticando o braço e atravessando os papeis na minha cara para tentar ser atendido pelo oficial na minha frente. Não crie confusão, mas seja firme. Dei uma baixa no cidadão, e ele refugou.
Tenha atenção também para verificar que o oficial do Benim tenha realmente carimbado seu passaporte. O meu ele esqueceu, e eu voltei para que ele carimbasse. Se não, é problema depois na hora de ir embora. Foi cortês, pediu desculpas pelo lapso, e me desejou uma boa estadia no Benim. Bem-vindos.

A estrada Benim adentro até Cotonu
As quase 2h finais de viagem são já dentro do Benim, e nesta parte eu vou deixar várias fotos falarem por mim.
O Benim se revelou algo mais desenvolvido que o Togo. É verdade que o mato em redor da pista é inicialmente mais alto, maior, mas há mais movimento nas cidades. Há um aspecto menos rural e mais peri-urbano, com ares de que a economia aqui gira mais dinheiro. Há mais motos, e talvez mais institucionalidade também.
Cruza-se o rio Mono, com a ponte ainda a feita pelos alemães — e devidamente chamada Ponte dos Alemães, hoje já enferrujada. Diante de si, o Benim.


Os africanos do século XXI, como eu já disse, via de regra são bem mais conservadores e pudicos que os brasileiros e outros latino-americanos. Você dificilmente verá alguém de bermuda ou com muito do corpo exposto aqui, apesar do calor.


São muitos os vendedores com banquinhas à beira da pista. Se em Lomé e arredores tínhamos muito pão ensacado à venda (despertando críticas do meu motorista Francis, dizendo que ficam ali tomando poeira), aqui no Benim vi garrafas plásticas de azeite de dendê à beira da pista, junto com farinha de mandioca (chamada aqui de gari) e farinha de milho. Tapioca também.
Nenhum deles acreditará se você lhes disser que muitos desses (milho, tapioca, mandioca), na verdade, não são produtos africanos, mas cultivos desenvolvidos pelos índios das Américas e trazidos aqui pelos portugueses.
O resultado foi que ficou sobremaneira parecido com o Brasil, só que nem nós brasileiros nem eles aqui na África se dão conta disso. Já os portugueses, os de hoje eu nem sei se tampouco se dão conta também. Tivemos uma obra enquanto povo integrado no passado — que não se resumiu às partes ruins enfatizadas hoje em dia — e que ficou para trás, esquecida, como o foram as colunas do Partenon e as cidades incas por muito tempo.

Como em muito da África (e em outros lugares, como a Indonésia), vende-se também gasolina assim informalmente nessas banquinhas. É o que você vê com aquele vasilhame plástico alaranjado aí acima indicando 450, o preço em francos africanos ocidentais.
A gente no Brasil é tão arrumadinho, tão organizado com aquela coisa bonitinha de só comprar gasolina no posto, vistoriada pelo Inmetro e paga no cartão, e a gente fica se achando o país mais esculhambado do mundo.
Sabe de nada, inocente. Aqui, gasolina é vendida em garrafa à beira da pista, frequentemente contrabandeada da vizinha Nigéria e com todas as adulterações que a sua sorte permitir.
O Brasil, eu gosto de lembrar, está na semi-periferia do capitalismo mundial. A periferia propriamente dita é aqui, a África mais que qualquer outro lugar.





Andando em Cotonu: Voltas pela maior cidade do Benim
Eu sei que a ideia de andar nessa muvuca aí acima intimida muita gente. Também a mim, mas não foi aí que eu desci.
Como nas grandes cidades brasileiras, há áreas mais muvucadas e zonas mais quietas. Seguimos com Francis pelas boas pistas da cidade, com algum trânsito mas nada tão congestionado, embora se visse claramente que aqui há bem mais veículos — e sobretudo motos — que no Togo.
Eu fiquei instalado numa área até pacata, onde ficam agências internacionais de desenvolvimento e embaixadas ou consulados. Vi o do Brasil bem pertinho de mim, inclusive.
Ali nós nos despediríamos, pois eu agora estava com a magra mulher francesa de seus 45 anos e óculos que me deu a acolhida na pousada — um casarão de dois andares, de classe média, com um portão simples e uma área com canteiro e algumas árvores onde fazíamos as refeições. Tinha aquele jeito ansioso-nervoso das pessoas que falam rápido e ajeitam os óculos com frequência, mas demonstrou cortesia e hospitalidade à moda europeia.
(Ela, que depois se revelou suíça, confessou que acreditava que o nome na reserva fosse Marion em vez de Mairon, e que eu portanto fosse uma mulher. Eu adoro a cara de choque que fazem quando se dão conta. Não é a primeira vez.)


Uma vez alimentado, eu estava pronto para bater perna ainda hoje em Cotonu — até porque eu tinha planos outros para amanhã.
Andar por Cotonu é uma experiência bastante distinta de circular por Lomé no Togo. As ruas aqui em Cotonu são mais largas, mais vastas, mais movimentadas. Há inúmeros mototaxis passando, eles aqui que todos usam um colete amarelo. (Inclusive, tomar uma corrida de moto-táxi nestas ruas é condições sine qua non para experimentar Cotonu, mas nós chegaremos lá.)
Cotonu não é assim uma cidade eminentemente turística. A parte turística e mais histórica nós veremos no interior do país. Cotonu é aquela grande cidade comercial, à beira-mar, onde fica o aeroporto internacional, e de vias largas onde os negócios se concentram. Não é necessário que você se demore muitos dias aqui, mas saiba que ela é uma base útil para fazer um tour até Ouidah, talvez a cidade mais turística do Benim, assim como a Ganvié, apelidada a Veneza da África. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.
E Cotonu propriamente dita? Tem algumas igrejas coloniais francesas, uns monumentos dos anos da Guerra Fria, e um centro de artesanatos que você não pode deixar de visitar. Vamos lá ver tudo isso.




Claro que, como tudo nestes países em desenvolvimento, por vezes a beleza esconde a pobreza ali bem perto.
Nessa toada, digo a vocês que cuidado ao seguir caminho de aplicativos, seja ele o Google Mapas ou o Maps.me, na sua marcha por Cotonou (e talvez qualquer lugar por aqui). Opte sempre pelas vias principais — ainda que seja mais longe.
O Maps.me me colocou por becos e ruelas onde viviam desabrigados, com as suas roupas estendidas a secar sobre o mato e o olhar de que eu era uma visita exótica ali naquelas partes. Até aí tudo bem, nada contra os desabrigados exceto o seu infortúnio do desabrigo, não fosse o fato de que eu posso bem ter pisado em bosta humana ao atravessar os matos onde o aplicativo me colocou.

Tudo bem ainda se o roteiro não desse num caminho sem saída. Cheguei a avistar ao longe a catedral lá do outro lado — e uma grade de 3m de altura entre nós, ao fim desta área baldia, me separando da movimentada rua lá do outro lado.
Azedo por o aplicativo ter me trazido aqui (e eu tê-lo seguido às cegas na esperança da luz no final do túnel), eu não estava disposto a voltar. Não me restou alternativa se não pular a grade com desassombro, usando um muro lateral de 2m que separava este “caminho” de um matagal vizinho onde havia lixo.
Venci, mas saí marcado por fétidas fezes de animal desconhecido (chegou uma hora que eu parei de pensar demais nisso), e tive que lavar as mãos e limpar parte da bermuda na igreja. (Lavaria ela na pia da pousada à noite.) Ê laiá!
Diante de mim, a Catedral de Nossa Senhora da Misericórdia.


A Providência fez com que eu guardasse nos bolsos os lenços umedecidos ofertados pela companhia aérea que me levou ao Togo, e ao pátio da igreja havia uma pia. Pedi assistência ao guarda, e por sorte eu estava na África, onde — se me permitem parafrasear Bartolomé de las Casas (1484 – 1566) ao constatar os índios das Américas — todas as pessoas são humanas, e normais, pois se eu estivesse na Europa não-latina, era capaz de me acharem maluco por perguntar a outra pessoa se eu já estava limpo.
Enfim, resolver as pendengas da matéria às vezes é pré-requisito para a gente se focar no espiritual.
Agora eu podia contemplar melhor a arquitetura desta igreja colonial que me lembrou a Catedral-Mesquita de Córdoba, na Espanha. Aquele estilo de duas cores também visto na Itália, embora esta aqui seja vermelha e branca como a de Córdoba, não preta e branca como nas italianas. Mas a origem é a mesma.
Entrei, e ali pude ver a obra dos franceses, que colonizaram o Benim de 1894 até sua independência em 1960. Hoje, claro, são os beninenses os fieis do templo.

Vamos entrar.



O Benim deixou o marxismo-leninismo para trás em 1990, trinta anos após deixar a França, e desde então segue navegando. Ou talvez, à là Paulinho da Viola, quem navegue ele seja o mar.
Eu saí da igreja e tomei de novo as ruas de Cotonu — agora restrito às grandes avenidas.
A tarde ia caindo, aquela cena urbana semi-desenvolvida plena de veículos sob o douro do crepúsculo. O tempo ia se esvaindo, mas eu queria ver ainda tanto a Igreja de São Miguel quanto a Vila Artesanal de Cotonu.



Eu caminhei por estas ruas sem ser importunado uma única vez, se você descontar as buzininhas dos moto-táxis perguntando se quer corrida. Inclusive, aqui é bem mais seguro que o Brasil durante o dia.
O único ponto ruim, e que as fotos não lhe mostram, é a poluição do ar. Eles aqui na África estão limitados a combustíveis de qualidade bem pior que aquele que circula na Europa ou no Brasil, e em pouco tempo seu sistema respiratório logo percebe a diferença. A poluição dos escapamentos na avenida é tanta que, depois de 1h circulando, você já está com dor de cabeça.
Deixei a avenida onde eu estava e virei a esquina no Boulevard Saint Michel para ver tanto a igreja homônima quanto o Village Artisanal nela mais adiante.
A Igreja de São Miguel (Église Saint Michel) é básica por dentro, mas notavelmente bela no interior. Dentro, pinturas algo modernistas, de sabor africano não visto fora daqui, decoram o altar. À entrada, os pedintes e moto-táxis habituais.



À saída, resolvi adiantar meu lado e tomar um mototáxi até o centro de artesanatos. Daria para ir a pé, mas eu queria chegar lá ainda com a luz do dia — e antes que fechassem. Ademais, eu diria que a experiencia de pegar um mototáxi aqui em Cotonu é fundamental — de preferência nas horas de maior movimento no fim do dia. Você vê toda aquela muvuca por dentro, de um outro ângulo.
Por coisa de 200-500 francos você faz corridas pela cidade. Isso dá menos que 1 euro. Não lhes deixe cobrar muito mais! Eles pode querer acrescer um zero ali porque você é turista, mas não caia nessa, e sempre negocie o preço antes.
Vambora.

Cheguei a cogitar puxar a mão para fazer um vídeo em meio à corrida de moto, mas me vi facilmente me espatifando — celular e tudo — em plena pista de Cotonu, e evitei. O equilíbrio não me pareceu o bastante.
Afora isso, tudo é seguro. Inclusive, o mototáxi não irá sequestrar você.
Aliás, aqui no Benim não há sequer a nóia dos “2 homens numa moto” que existe no Brasil. Aqui, na verdade, você vê o “3 homens numa moto”, mas não constituem ameaça — exceto no trânsito. Volta e meia, você vê até quatro pessoas numa mesma moto, se contar as crianças.
Chegamos ao Centro Artesanal, ou Village Artisanal, que eu diria ser parada obrigatória ao turista em Cotonu. Sobretudo se você gosta de arte popular local. Os vendedores regozijaram com a minha chegada, já que poucos caras-pálidas eu vi por aqui.


Só atente para as mentiras. Tanto sobre a qualidade do produto quanto sobre a situação da pessoa. Eu não sei quantas vezes me chamaram, com ares de piedade, para vir ver o estande dele, que era o último estande ou era “a última loja” (le dernier magasin). A um deles eu disse que já tinha visitado o último estande duas vezes, e ele riu.
Os vendedores são persistentes. Com frequência, soltam um “Pour m’encourager“, que seria equivalente ao “Pra me ajudar” lá do Brasil. Uma alegação comum é que a pessoa está precisando de dinheiro “para poder voltar ao vilarejo” (pour rentrer au village). O divertido é que você pode comentar em voz alta essas coisas, e há uma zoação entre os próprios vendedores. Um se rachou de rir que o vizinho tinha alegado isso.
— “Voltar pro vilarejo? Kkkkk, se você vier amanhã de manhã vai encontrar ele aí.”
As pessoas são uma diversão, e via de regra muito simpáticas, porém barganhe. Eles iniciam com preços bem lá em cima. Qualquer coisa que você comprar aqui, via de regra, não pague mais que a metade do preço inicial. De preferência, um pouco menos.
Eu circulei até as lojas fecharem e escurecer. Por sorte — ou, melhor, por planejamento — estava a uma curta caminhada de casa. As ruas aqui, porém, são escuras, quase sem iluminação pública nenhuma. Fica-se dependendo de carros passarem com seus faróis ou do celular à mão para iluminar o chão.

Epílogo: As tretas
A noite em Cotonu é escura, mas é menos cheia de horrores que crê a vossa brasilidade. Só não bobeie demais.
Como eu estava ficando na zona dos consulados, uma vizinhança plena de residências oficiais e maior segurança, acabei indo parar numa loja chique, com ar condicionado, onde entrei para aplacar o calor que ainda fazia à noite. Dentro, camisas a preço de Europa, 60-80 euros (!). Dois atendentes, um homem e uma moça com ares de bons moços. Ao que eu olhava umas camisas, ele perguntou se eu queria um café. Achei divertido estar nesta bolha rica em Cotonu.
A moça, ao que eu sairia, perguntou se eu poderia lhes deixar meu nome e meu número. “Número de quê“, perguntei eu sonso e descrente. Ela meio que não entendeu a réplica. “Número de telefone?“, indaguei ajudando. “Pra que?“. “Pra lhe enviar fotos com os nossos produtos” (!). Imagina se eu iria me prestar a ser vítima voluntária de spam. Prefiro não, obrigado, eu pego o cartão de vocês e olho no Instagram. Ok, au revoir.
À saída, eu presenciaria o golpe mais velho de toda a África: aquele em que um cidadão qualquer se engraça para o seu lado se insinuando ser alguém que você conheceu nos trâmites de imigração do aeroporto mas não se lembra.
— “Meu amigo! Está me reconhecendo?”, indagou-me ele tomando essa liberdade onde eu não sei.
Fiz-me de desentendido.
— “Da imigração!”, completou com um sorriso primitivamente falso perante o meu ascendente em escorpião.
Mal sabia ele que eu me lembrava com muita clareza do oficial de aspecto nerd que havia me atendido, mui diferente deste gordinho numa moto. Não dei bola. Ele ainda ousou perguntar aonde eu queria ir. “Voltando pra casa“, respondi, e ele foi embora.
Cheguei em meio aos outros gatos pardos, precisando descansar, pois no dia seguinte partiria a conhecer Ouidah (também chamada de Ajudá pelos portugueses), uma cidade história de onde centenas de milhares de escravos foram embarcados ao Brasil.
Bela, misteriosa, mamma Africa…
A cara do Brasil… Parece Salvador…
Ve-se que é mais desenvolvida que aquelas do Benin.
Pais esprimido, nossa. Parece interessante.
Ainda bem que as estradas sao boas…
Coitados… pau de araras…
Linda a faixa litoranea do Lomé, linda a natureza…
Gostei da tirada … com a musica de Vandré…
Interessante essa conexao…Essa integracao… E que algo e bom ficou dessa relaçao…
Horrivel essa venda de gasolina a granel. E aqualidade, pior ainda.
Ainda bem que se pode constatar o que ha de bom no Brasil.
Coitada da Africa com esses carros velhos.
Nossa mae… que arte perigosa pular mureta carregada com criança e trouxa, com o tráfico… Jesus
Adoro as tiradas… naquelas tardes fagueiras…Casemiro de Abreu…
Gostando muito de Cotonu..
Que horror esses aplicativos…Coitado do viajante…. Ossos do ofício…
Lindinhas, tanto a catedral quanto a Igreja de Sao Miguel…..
Gostei muito de Cotonu, bastante arrumadinha, clara, ensolarada
Valeu