Pode parecer até que estamos numa cidade colonial latino-americana, mas esta é Porto-Novo, assim nomeada pelos portugueses no século XVIII, capital do Benim. Estamos na África Ocidental, de todas as Áfricas uma das que mais têm laços com o Brasil — embora não a única.
A curiosidade é que ninguém diria que esse edifício colorido com ares de igreja colonial é, na verdade, uma mesquita. Sim, um templo islâmico com cara de catedral católica barroca. É que ela foi obra de escravos brasileiros retornados — os chamados agudás. À época, o que eles conheciam como modelo de edifício sacro eram as igrejas da Bahia. Instados a edificar uma mesquita aqui, eles acharam que era a mesma coisa, e a fizeram à imagem e semelhança do que eram as casas de Deus em Salvador.
Não deixa de ser pitoresco, ver as típicas torres — porém sem sino — em lugar de minaretes, os enfeites barrocos da fachada e as características portas de madeira sob os arcos redondos a lembrar o Brasil colônia.
Mas calma, pois essa parte os meios de comunicação convencionais mostram. Houve algumas reportagens sobre isso no saudoso El País Brasil, n’O Globo e noutras partes internet afora. Só que Porto-Novo segue viva, e é mais do que isso, ainda que encontrar os vestígios de um legado brasileiro aqui seja mesmo curioso. Venhamos dar um mergulho.

Porto-Novo entre africanos, portugueses e brasileiros
Como cantou o meu amigo argentino Atahualpa Yupanqui em bom espírito de América Latina, “Yo tengo tantos hermanos, que no los puedo contar“, e assim poderiam dizer também os africanos.
São muitos os povos aqui, nem sempre em irmandade, e foram os Gun a se situar neste local. (Pelamordedeus ninguém leia como se fosse gun em inglês; lê-se Gũ com o som nasalizado, à maneira como a maioria dos brasileiros leria.) Às vezes, também se chamam Ogu ou Ogum, como o orixá conhecido no Brasil.
Ao seu lado viviam — e ainda vivem — os iorubá da Nigéria e os fon, que são a maioria do Benim, povos que batalhavam por proeminência antes e durante a presença europeia aqui. Porto-Novo, vocês podem ver no mapa abaixo, fica quase na fronteira entre esses dois países.
Os portugueses, que foram os primeiros europeus a navegar por estas bandas, apareceram por aqui já nos idos do século XV, nas suas primeiras navegações na costa da África, mas só a partir dos séculos XVII e XVIII é que o tráfico negreiro ganha mais peso.


É curioso, pois em muito desta metade norte da África você tem uma influência islâmica que precede os europeus. Os árabes se espalharam pela costa norte da África e foram fazendo a volta, margeando o mar, assim como penetrando o interior com suas caravanas comerciais transaarianas — mas apenas até um certo ponto. Aqui, nesta altura do Togo, do Benim e da Nigéria é onde essa influência árabe-muçulmana começa a ficar rarefeita. Há africanos islâmicos aqui, mas já mesclando o islamismo com as religiões tradicionais, que são mescladas também ao catolicismo trazido pelos portugueses e, mais tarde, pelos franceses.
É em 1730 que o português Eucaristo de Campos aparece por estas bandas e decide chamar este povoamento de Porto-Novo, segundo dizem porque lhe lembrou da cidade do Porto em Portugal. (Não vi semelhança nenhuma atualmente, mas vá lá, crédito ao senhor Eucaristo. Vai ver que naquela época parecia.)
Os gun estavam sendo acossados pelos fon do Reino de Daomé, que capturavam os povos vizinhos para vender como escravos aos europeus, e com isso pedem proteção aos vizinho reino iorubá de Oyô. Nesse meio, os portugueses instalam suas feitorias onde trocar utensílios, ouro, tabaco e cachaça por escravos em Ajudá e também aqui. “Fazemos qualquer negócio”, diriam eles.
No século XIX, Portugal já não era mais aquele. Perdera o Brasil, independente em 1822, e os britânicos ocupavam a atual Nigéria, adentrando cada vez mais a África. Isso levou o pequeno rei dos gun em Porto-Novo a aceitar uma oferta de protetorado dos franceses, saindo assim do fogo para cair na frigideira. Isso foi em 1863. A 1883, os franceses estariam estabelecendo sua colônia de “Daomé e dependências”, fazendo em 1900 de Porto-Novo sua capital.
É nessa época — final do século XIX e começo do XX — que vêm para cá os retornados afro-brasileiros, os chamados agudás, alforriados ou libertos após a abolição em 1888. As obras que veremos datam, portanto, sobretudo desse período.



O Museu da Silva anda fechado desde a pandemia, e não sei quando — ou se — vai reabrir. Trata-se de um lugar de memória sobre o comércio triangular português, numa casa de 1890 dessa família que retornou logo após a abolição da escravatura. Como notei em Ajudá, são várias e conhecidas aqui no Benim as famílias de origem brasileira com seus sobrenomes de Souza, da Silva, entre outros.
Por toda parte na cidade você vê da chamada arquitetura afro-brasileira, que a nós talvez não evoque nada de especial exceto familiaridade. Pode parecer as casas antigas do seu bairro ou daquela cidade histórica que você visitou, mas que aqui é coisa distintamente brasileira.




Muito está aos pedaços, como no Brasil (nas cidades onde não há injeção de dinheiro para o turismo).



É curioso se dar conta destes paralelos, destes vínculos culturais de que pouco ou nada ouvimos falar.
As pessoas aqui circulavam no seu dia-dia sem me dar assunto — não há grande apelo turístico nem você verá grande visitação aqui. Eu desci do carro, tirei minhas fotos, vi de perto o belo prédio em deterioração, e as pessoas casualmente me olhavam com breve ar de curiosidade, mas não muita.
As crianças, essas sim, volta e meia gritavam “Yovô!” com empolgação, usando o nome que se aplica a “brancos” ou “estrangeiros” — gente que não são eles. Às vezes, chegam perto e olham naquele misto de curiosidade e espanto para ver se você existe mesmo, tem superpoderes ou por que tem a aparência tão exótica.
Eu aos poucos daria minhas voltas por Porto-Novo, esta pouco turística capital do Benim, a vê-la um pouco melhor e conhecer mais da cultura local.

Ouadadá: Entre comidas, música e macumbas
Calma, povo de Deus, que aqui não há nada que lhes faça mal — nem a música, nem a comida, nem a macumba, que chamo assim de forma jocosa por pura casualidade. Se eu a chamasse de vodun, como o vodu, imaginariam gente enfiando agulha em boneco para espetar os desafetos, tamanho que são o preconceito e a má visão que se faz das religiões africanas.
Ouadadá, por sinal, foi onde eu me instalei em Porto-Novo, um centro cultural com ares de pousada brasileira. Eu não recebo para recomendar lugar nenhum, e não costumo fazer propaganda de hotel exceto em situações excepcionais, e este é o caso. Ouadadá é definitivamente o lugar mais interessante onde se hospedar em Porto-Novo.
Eu ali despertava no meu quarto com ar condicionado, mas rodeado de canteiros de plantas, elas ali fora num jardim que belamente contornava as acomodações. Eram plantas de folhas coloridas e flores exóticas, e uma delícia ter essa África numa pousada que mesmo certas partes do desenvolvido Brasil carecem de ter.
Como estávamos num lugar que é também centro cultural, após o café não demoravam aos artistas subirem no palco do jardim para ensaiar, texto em mãos em caderninhos dobrados, e gritos daqueles de ator de teatro. Era interessante observar como essas pessoas “funcionam” de forma diferente. O ofício de artista parece lhes dar uma certa leveza de movimentos, ar sublime que às vezes se confunde com modorra ou falta de foco, como que se permitindo exercitar o drama de existir em vez de dar lugar ao modus operandi produtivo da maioria de nós outros.
Foi aqui que eu passei uns dias, até mais do que pretendia inicialmente. Não por vontade própria, mas porque os pepinos fazem parte do show.


Eu aqui virei parte da família e conheci todo mundo, como gosto que seja. À formal moda francesa que adquiriram dos seus tempos de colônia desde que lhes pediram arrego no século XIX, não me chamavam que não pelo meu último sobrenome. Eu, portanto, não era aqui Mairon, mas Monsieur Limá, pelo meu último sobrenome que eles viram na reserva.
“Monsieur Limá, vous avez oubliez vos chaussettes” [Senhor Lima, o senhor se esqueceu das suas meias]. “Merci, monsieur Limá”. “Bonjour, et bon appétit monsieur”. Os franceses herdaram essa cortesia toda dos tempos de Luís XIV, hoje já a perderam um pouco (ou hoje o fazem com um certo cinismo que é característico das ex-potências em declínio e já desgostosas do mundo), mas suas ex-colônias as mantêm ainda a rigor, tal qual os indianos preservam certos arcaísmos britânicos dos tempos da Rainha Vitória de que os próprios britânicos já não se lembram mais.
À recepção, David, um rapaz jovem e de ar pastoril, de seus 22 anos, camisa social de manga comprida, gravata e certa seriedade cordata que me parecia ligeiramente excessiva à sua idade, era dos que mais gostavam de me apelar pelo nome. Havia Félicien, o feliz rapaz da limpeza, com um sorrisão e físico de ginasta ao que passava com seus baldes e rodos cumprimentando a todos, e bastante gente amistosa nestas bandas.
O que fiz aqui foi tomar um tour para — de carro — dar umas voltas a conhecer Porto-Novo, que não é uma cidade boa de percorrer a pé. Tal qual certas periferias de grandes cidades brasileiras, ela mistura asfaltos de rodovias com ruas laterais sem calçamento. As coisas ficam distantes umas das outras nesta capital, e não há bairrinho afável onde se aconchegar.





Foi assim que num dia após o almoço eu saí com Janssen, um chapa daqui de tatuagens nos braços, óculos escuros, e sorriso franco por entre os dentes algo abertos. O pai havia sido professor de alemão e resolveu lhe dar esse nome exótico. Era guia de um tour organizado por Ouadadá por cerca de 2h30 pelas paragens de Porto-Novo, por 6.000 francos (9 euros). Vale a pena, porque nem tudo na cidade é auto-explicativo. Muito do tour é sobre a religião local, eu já aviso.
O menu do almoço de hoje havia sido massa negra (pâte noire) com montandjon (que eu tive de apelidar de Mountain John), um mexido de folha com peixe, queijo, e gergelim africano. A massa negra é feita de inhame seco ao sol e depois pilado. Eu não sei exatamente como é que ele fica tão preto. Tem uma consistência de pirão firme, mais firme que o fufu, mas tem uma ponta amarga no gosto que perturba um pouco. Já o montandjon é delicioso.

Depois da tempestade vem a encanteria
Caiu um toró de respeito logo depois que eu almocei em Porto-Novo, segurando a nossa saída para o tour.
A previsão do tempo aqui no Benim é de uma inutilidade homérica, tanto que ela erra não só o futuro como também o próprio presente. Ao que eu via o acaba-mundo de água lá fora caindo, a previsão indicava sol parcialmente nublado. E olhe que eu verifiquei para ver se estava olhando o lugar correto.
Após a tempestade, saímos finalmente Janssen e eu de carro pela cidade. Eu achei curioso que, mesmo com todo o pé d’água, pouco havia poças — a terra daqui parecia chupar tudo.
Nós paramos, primeiramente, em alguns templos de vodun onde ele explicou da sua religião. Falou que aqui praticamente todo mundo o pratica — ainda que às vezes às escondidas —, sejam os católicos, os poucos protestantes, ou os vários muçulmanos.

“O vodu é para fazer o bem“, foi me explicando Janssen, “mas você precisa ser sério com as coisas. Precisa ter compromisso. E se tentar fazer mal ao outros, muitas vezes aquilo se volta contra você.”
Deu-se um caso recente em Abomé em que oito vuduzeiros disseram a uma mulher que era preciso sacrificar um boi para o que ela desejava alcançar. Ela alcançou, doou o boi, e os caras em vez de fazerem o sacrifício corretamente, venderam o boi no mercado e repartiram a grana. Sete dos oito já haviam morrido misteriosamente desde então. O caso abalava Abomé, contava-me Janssen com reverência e crítico do desrespeito imprudente dos tais oito lá que agora pagavam por sua ganância.
Saravá!



Eles aqui não falam dos orixás conhecidos pelo Brasil e Caribe afora, como Iansã ou Xangô — ainda que por vezes haja correlatos. Falam, em vez disso, em “deus da terra”, “deus da água”, e por aí vai.
Aqueles lugares dos egbá são, por assim dizer, a ponta do iceberg, pois segundo eles a energia maior está ali debaixo, na terra. Sobre aqueles morretes de barro com ponta de lança eles fazem sacrifícios orientados pelo sacerdote, que indica a pessoa tem de trazer — se uma galinha, uma cabra, ou o que for. Frequentemente acompanha azeite de dendê e, às vezes, farinha. (Eu não sou o maior fã de morte animal, mas pior que isso é rodeio, tourada, ou a criação industrial de animais em gaiolas.)
Tudo aqui é bastante simples. Há pequenos espaços trancados com uma gradinha, para que se veja, mas onde não é permitido entrar assim de qualquer forma. São espaços rituais, como o que chamam em francês de cuvant — o canzuá, espaço aqui reservado a sacerdote em quem às vezes baixam os espíritos.
Cada terreiro pertence a uma comunidade de famílias. Há vários, às vezes uns próximos dos outros — e às vistas. Não é como no Brasil, onde acaba precisando ser meio às escondidas, conhecido só por quem já conhece, devido à perseguição preconceituosa que se efetua desde o tempo de colônia.


As crianças beninenses geralmente circulam por aqui em meio aos turistas, mas hoje eu não via nenhum além de mim. A pandemia cessou o turismo, e ele ainda custava a voltar. Os meninos, entretanto, se divertiam em ver minha cara diferente. Um deles — que não devia ter mais que 5 anos — levantou-se do chão com pose a se dirigir a mim: “Yovô! Yovô, deux mille“, querendo dois mil francos [€3] como trocado.
As pessoas aqui não o enchem, mas as crianças pedem, sim, um trocado com alguma frequência.
A propósito, em falando ainda de religião, foi aqui em Porto-Novo que eu fiquei conhecendo os celestes, uma religião meio evangélica-espírita organizada por um pastor do século XX já falecido. Fazem grandes festas no Natal e outras datas cristãs, mas também recebem espíritos e fazem rituais na beira-mar. Costumam andar só de branco, e aos domingos vão descalços aos seus templos. São centenas de milhares de adeptos África Ocidental (e mundo) afora, e eu fascinado descobrindo estas coisas que regem a vida de tanta gente e de que eu jamais havia sequer ouvido falar.


O canto desta cidade
Não sou eu, definitivamente, mas eu fui vê-lo. Alguns, afinal, podem estar a se perguntar pela música a que me referi no título anterior.
Comecemos por um grupo de crianças (e outros já não tão jovens) que vi cantar numa associação para pessoas com Síndrome de Down que acabei por visitar em Porto-Novo. Você fica impressionado com a dedicação muito humana de alguns que, com tão poucos recursos, se põem a ajudar os outros. (Depois me vem “cristão” com aspas achar que é melhor que os outros. Pergunta-se onde estão as obras.)
Nós terminamos o tour, afinal, vendo as tais edificações afro-brasileiras que mostrei antes no post, inclusa aí a Grande Mesquita de Porto-Novo, feita à semelhança das igrejas barrocas do Brasil.
Dei umas voltas por ali, e vi algumas pessoas que não falaram comigo — só entreolharam e no muito, no caso das crianças, sorriram. As pessoas aqui são retraídas com estrangeiros estranhos.
Como alguns nesta parte do Benim são muçulmanos, viam-se os véus coloridos das mulheres — às vezes combinados com as longas vestes coloridas que são características desta África Ocidental — a se contrastar com o colorido da edificação.
Foi dali que eu, finalmente, retornaria a Ouadadá para o show de música que haveria à noite, ao que assisti acompanhado do meu abobó.



Porto-Novo não é exatamente uma Salvador, mas ela carrega algo da mistura de religiões que se vê pelo Brasil. Vale lembrar que também o elemento muçulmano esteve fortemente presente lá, como na Revolta dos Malês.



O abobó, a quem estiver se perguntando, é um prato de feijão temperado no azeite de dendê com farinha. Hoje o dendê estava em falta, e veio ele no óleo de amendoim com molho de tomate. Não deixou de ser uma boa janta, diante da música ao vivo em Ouadadá. Câmbio desde Porto-Novo, Benim.

Gostei muito de Porto Novo. Bonita, histórica, com belas manifestaçoes artísticas, boa música, com certo desenvolvimento e alguns movimentos sociais. Gostei.
Lindinha essa igreja/mesquita…
Gostei muito da arquitetura, das músicas, da escada dos artistas, e de saber que os negros levaram para a Africa o que aprenderam no Brasil. Pelo menos gostaram e aprenderam algo, em meio a tanto sofrimento, coitados.
Curiosa, essa miscigenacao religiosa.
Muito interessante essa visita….
Gostando muito da Africa.
Talvez fosse interessante dar a conhecer a presença de portugueses/brasileiros nessas regiões e daí a influencia dos mesmos
por exemplo
podemos ler na Wikipedia e outras publicações
Francisco Félix de Sousa (Salvador, 4 de outubro de 1754 — Uidá, Benim, 4/8 de maio de 1849) foi o maior traficante de escravos brasileiro e Chachá da atual cidade de Uidá no Benim. É uma figura histórica controversa, tanto pelo poder e riqueza que obteve, quanto pelas suas origens, não se sabe ao certo qual a sua etnia, podendo ser provavelmente branco ou mulato claro, algo que se intui por meio das poucas descrições da época sobre a sua pessoa.
Quando já estava muito rico, Francisco Félix afrontou Adanuzam por não ter recebido os escravos pelos quais pagara adiantadamente com mercadorias. Caiu em desgraça perante o rei e foi preso quando visitava a cidade de Abomei, capital de Daomé. O poder do rei de Daomé sobre os súditos era total: era comum a morte em sacrifícios humanos, a execução de centenas de prisioneiros de guerra ou a venda de milhares como escravos para as Américas…. Francisco Félix contrabandeou armas e munições para Guapê que, em 1820,[6] derrubou Adanuzam do poder e tornou-se rei de Daomé, assumindo o nome de Guezô.
Guezô concedeu-lhe, em 1821, o cargo de primeiro conselheiro[8] e o título de Chachá.[9] A origem do nome do título é desconhecida. Possivelmente era seu apelido,[7] originado do modo com que Francisco Félix costumava apressar os negócios dizendo “já, já”.[2] Não é correto que o título de Chachá conferisse poderes de vice-rei e “chefe dos brancos… Quando os ex-escravos alforriados no Brasil ou seus descendentes voltavam para o Benim, encontravam em Francisco Félix um ponto de referência da cultura afro-brasileira na região. Ao mesmo tempo, Francisco Félix agia como um protetor local daqueles que, contraditoriamente, poderiam ter sido enviados por ele como escravos para o Brasil. Assim, em torno da rica residência do traficante de escravos formou-se um bairro de Agudás (descendentes de escravos do Brasil que retornaram para África), atualmente chamado Brasil… Seus descendentes contam que morreu com 94 anos.[6] Deixou viúvas 53 mulheres, mais de 80 filhos homens e 2 mil escravos. Guezô concedeu-lhe um funeral de grande chefe daomeano, no qual, apesar dos protestos de seus filhos, houve até a oferenda de sacrifícios humanos, honra conferida somente aos enterros reais.[7] Foi enterrado no mesmo quarto onde dormia e seu túmulo é até hoje reverenciado pelos seus descendentes e pelos Agudás.[6]
Alguns de seus filhos homens mais velhos estudaram no Brasil, alguns dos mais novos em Portugal.[2]
. Aliás, nomes de famílias beninenses ilustres são em português, como Souza, Medeiros, Silva