Essa aí na foto é a Escadaria dos Artistas em Porto-Novo, a capital do Benim. Símbolos e artes da cultura e religião local que aqui se mistura ao cristianismo e ao islã.
A África Ocidental é cheia de segredos, cheia de coisas que não aparecem naquela África dos documentários ou de Tarzan. É uma África mais perto de nós — íntima — e que ainda assim pouco conhecemos, ainda que eles aqui adorem o Brasil, que haja nomes deixados pelos portugueses em toda parte, e que tenhamos mais proximidade cultural do que supõe a nossa vã filosofia.
A propósito, vocês sabiam que esta África está mais próxima do Brasil (2.800 Km) do que certos estados dentro do próprio Brasil estão um do outro? Este “rio chamado Atlântico” — para usar o título do livro do historiador Alberto da Costa e Silva — é mais estreito que parece.
E como vir aqui a esta África de modo independente (ou de qualquer modo)? Eu não conheço agências brasileiras que tragam as pessoas aqui, e as raras agências locais (voltadas a um público europeu) cobram o olho da cara — e não se justifica. Eu aprecei, e depois viria sozinho e faria praticamente tudo por conta própria. Os relatos detalhados estão aí nas páginas do Togo e do Benim, e aqui você tem o balanço do que achei e as dicas.

Eu pretendo que este post sobre Benim e Togo — o primeiro de dicas na África Ocidental, após aquele na Tanzânia, que é África Oriental — seja um primeiro passo rumo a um compêndio maior sobre toda a região, e aproveito aqui para fazer uma “checagem de realidade”.
Há os mochileiros intrépidos que tiram meses pra viajar pela África, mas essa não é a realidade da maioria. Se você dispõe de 1-2 semanas e gostaria de vir aqui, um roteiro exclusivamente por Benim e Togo faz sentido.
É tentador pretender fazer a África Ocidental toda de uma vez, mas isso é uma ilusão: são 16 países distintos, com má conexão logística para se deslocar entre muitos deles, e vários exigem visto físico à moda tradicional. Creia-me que talvez seja mais rápido você fazer um périplo pela Europa inteira que pela África Ocidental. Aqui, é preciso vir mais de uma vez em pedaços separados se você quiser ver tudo. Não é uma fruta que você coma inteira de uma bocada só.
Uma bocada você pode dar no Benim e no Togo juntos, aí sim. Até porque o deslocamento entre eles é super fácil e corriqueiro. Os vistos são eletrônicos, tirados pela internet, e fáceis de obter.

Vamos ao meu balanço pessoal antes das dicas.
- O que mais gostou. De experimentar as comidas típicas. Você não vê monumentos de pedra aqui, mas um dos maiores legados culturais desta região da África está na gastronomia.
- Visita obrigatória. Ajudá (ou Ouidah), a cidade histórica que era feitoria de escravos no Benim.
- O que não gostou. Nada específico de Benim e Togo, mas aquelas constantes na África: ausência de transporte coletivo (portanto, dependência de contratar motorista para se locomover, o que não é barato); policiais parando os carros a toda hora na estrada para tentar obter um trocado por qualquer pretexto; e os hotéis que não servem comida africana — você precisa perguntar, procurar, ou até fazer amizade com o cozinheiro e pedir que lhe faça algo típico (eles aí fazem).
- Queria ter visto mas não viu. Os tamberma, uma tribo no extremo norte do Togo e do Benim que vive em pitorescas casas de adobe — mas são centenas e centenas de Km adentro.
- Comes & bebes a experimentar. Muitos! Sobretudo os comes. Fufu, pâte rouge, pratos com molho de amendoim, azeite de dendê, e bastante coisa que detalho a seguir. Faça-se um favor cultural e mergulhe na culinária local; não deixe que os hotéis mutilem a sua viagem lhe empurrando comida “internacional” aqui.
- Momento mais memorável da visita. O
- Alguma decepção. As cidades históricas têm história, mas não são aconchegantes como as da América Latina. Togoville, Ajudá e Porto-Novo são lugares com ares de periferia do Brasil, onde você circulei de carro, vê isso e aquilo, e segue. Não espere recantos pitorescos onde ficar passeando a pé.
- Maior surpresa. Que o Benim seja tão desenvolvido e tão cheio de coisas brasileiras feitas tanto por escravos retornados quanto por mercadores. Isso eu não aprendi na escola.
PRINCIPAIS DICAS
Visto & imigração. Eu dei detalhes sobre o visto para o Togo aqui e sobre o visto para o Benim aqui. São obrigatórios a brasileiros e portugueses, mas ambos são simples e eletrônicos — tirados pela internet, portanto você não precisará ir a embaixada nenhuma.
Uma observação é que o Togo não exige que você tire o visto antes, você pode fazê-lo também na chegada (o visa on arrival), mas eu francamente sugiro que você opte por tirar o visto eletrônico (e-visa) antes. Sobretudo se você for entrar pelo Togo e sair pelo Benim, como eu fiz.
Isso porque a cia aérea ou a imigração togolesa pode implicar com o fato de você não ter passagem de saída do Togo. Por outro lado, o visto eletrônico exige apenas que você informe (e forneça a prova de compra) do voo de entrada, e com esse visto em mãos ninguém lhe criará caso.
Portanto, o caminho aqui é primeiro comprar as passagens aéreas e depois solicitar os vistos eletrônicos. O do Benim sai quase que instantaneamente, mas o do Togo leva cerca de uma semana para chegar por e-mail. Dê-se tempo.
Embora as fronteiras terrestres na África tenham má fama, estes dois países têm talvez a fronteira mais simples e rápida de atravessar em toda a região. Não demorei nem 15 minutos. Você facilmente arranja um motorista que o leve de Lomé a Cotonu — respectivamente, a duas maiores cidades do Togo e do Benim. E se não conseguir na sua acomodação, abaixo eu recomendo um na seção de Transportes.
Note que viajantes com passaporte brasileiro ou vindos do Brasil precisam apresentar o certificado internacional de vacinação contra a febre amarela. Não me pediram, mas oficialmente é exigido, e podem pedir. (A lista completa de países que exigem esse certificado você sempre encontra aqui.)
À altura de junho de 2023, o Togo ainda exigia também certificado de vacinação contra a Covid (qualquer vacina), ou então resultado negativo de teste PCR realizado nos últimos 5 anos, mas acredito que é questão de tempo até isso cair. (Você pode sempre acompanhar as regras atualizadas de todos os países neste mapa interativo da IATA.)

Clima, quando vir & melhor época. A África Ocidental fica no hemisfério norte, o que significa dizer que são as mesmas estações da Europa e da América do Norte.
Os verões (junho a setembro) são chuvosos, daquela chuva tropical forte, e época pouco recomenda para se vir aqui. Não é só questão de gostar de chuva ou não, mas de cancelamento de voos e viabilidade de se chegar nos lugares para ver as coisas.
Recomenda-se em geral a época seca, que vai de outubro a março. Não quer dizer que não chova nunca (estamos nos trópicos, senhoras e senhores), mas é menos frequente.
Entretanto, a partir de fim de novembro, começo de dezembro, até os idos de março, chegam os ventos áridos vindos do Deserto do Saara trazendo poeira — é o chamado harmattan. Não fiquei para presenciar, mas as pessoas no Benim não me pareceram muito encantadas com ele. Tudo se cobre de pó, a visibilidade fica reduzida, e a qualidade do ar para a respiração não é das melhores.
A época melhor, portanto, é no começo ou no final da estação seca: outubro-novembro ou março-abril.

Segurança. Insegurança sempre é algo que preocupa quem vêm à África, mas me deixem logo dizer que isso varia muito de país para país, e que Benim e Togo são bem mais seguros que o Brasil.
A Nigéria, por exemplo, é comparável ao Brasil por tudo o que ouço dizer (inclusive aqui), mas no Benim e no Togo, basta não bobear demais. Há furtos com os incautos, mas roubos são raros. Não se ouve falar de assalto a mão armada, nem essa coisa de “dois homens numa moto” para lhe roubar o celular, nem nada disso.
Portanto, basta ficar atento aos seus objetos de valor, não os deixe à mostra, e não deixe dinheiro no hotel. Leve-o consigo num porta-dólares debaixo da roupa, e tenha num bolso separado montantes menores de moeda local que você vá usar. Pode caminhar pelas ruas com relativa tranquilidade durante o dia. (Durante a noite, evite, até porque está tudo fechado e tudo escuro, já que a iluminação pública é péssima.)
Eu sei que tem gente com nóia de sair com o passaporte original em mãos, que prefere deixá-lo no hotel, mas minha sugestão costuma ser o contrário: aqui a chance é muito maior de você ser parado por um policial que exija ver a sua documentação original (e queira extorqui-lo se você estiver sem) do que por algum ladrão que porventura quisesse lhe roubar o passaporte. Tenha-o consigo, deixe-o bem guardadinho, e aproveite a viagem.

Dinheiro & Câmbio. Ambos o Togo e o Benim — assim como outra dúzia de países — utilizam a mesma moeda, o franco da África Ocidental, também chamado Franco CFA (Colonies françaises d’Afrique, que o politicamente correto depois exigiu que se alterasse para Communauté Financière Africaine, mas que são basicamente as antigas colônias francesas na África Ocidental, e o lastro da moeda continua sendo a França, onde fica o banco central).
O franco CFA é pregada ao euro, com o câmbio fixo de 1 euro = 656 francos. (A abreviação dessa moeda no sistema único internacional é XOF).
Há hotéis que aceitam cartão de crédito (não é tão raro em Lomé ou Cotonu), mas se prepare para pagar quase tudo em espécie, e nesta moeda local. As pessoas aceitam euros ou talvez até dólares americanos em situações visivelmente turísticas (certos hotéis, ou lojas de souvenirs), mas não é algo corriqueiro — e há quem faça uma cara perguntando se realmente você não pode pagar em francos.
Melhor ter, portanto, francos sempre consigo em abundância. Como é uma moeda amplamente utilizada África Ocidental afora, pelo menos não bate tanto aquele medo de chegar o dia de sair do país e estar com um calhamaço na mão.

Como o câmbio é fixo, o ideal é trazer euros e trocá-los em qualquer casa de câmbio — pode haver modestas diferenças, mas coisa pouca. Aqui não é o Sudeste Asiático ou a América Latina, onde você pode bater perna em busca da melhor cotação; casas de câmbio são relativamente raras nas pobres cidades, então saiba que se perder a chance de trocar já na chegada no aeroporto, pode acabar tendo trabalho para encontrar outra ocasião.
Há caixas eletrônicos onde tirar dinheiro com cartões internacionais, mas eles nem sempre funcionam. Os dos aeroportos tendem a funcionar bem, mas no mais, seria como fazê-lo nas periferias das grandes cidades brasileiras — ou numa cidade de zona rural que não tivesse a agência do Banco do Brasil.
Por fim, faça bem o manejo das notas. Quando trocar, peça já uns quebrados, senão vai ganhar tudo em notas de 10.000 francos. Equivale a 15 euros, mas aqui é uma bagatela. São como as notas de R$ 100 no Brasil.
Há uma conversa desde 2019 sobre desvincularem-se esta moeda da França e criarem uma nova, chamada eco, mas a coisa me pareceu estar ainda longe de sair do papel.

Transportes. (Falta de) opções de transporte, algo que quase sempre pega aqui na África.
Togo e Benim tem, cada um, apenas um aeroporto internacional: Lomé (LFW), a capital do Togo, e Cotonu (COO), que não é a capital, mas é a metrópole econômica do Benim. Ambas são relativamente bem servidas de voos. Afora as aerolinhas europeias conectando você ao Velho Continente, você tem a Ethiopian Airlines e a Air Senegal fazendo várias rotas intra-africanas.
Até aí tudo bem, e ambos esses aeroportos são até dignos. O atual de Cotonu chega até a ser mais novo e asseado que alguns aeroportos brasileiros.

A limitação nos transportes aparece quase se trata de deslocamento doméstico, por terra. Não há rotas dignas de ônibus interurbanos no Togo ou no Benim. Se você quiser se deslocar entre uma cidade e outra — ou entre um país e outro — terá que contratar carro com motorista.
Os preços aí variam conforme o destino, o prestador de serviço, e a sua habilidade de negociação. Todos os preços são pelo carro fechado, independente do número de pessoas, então fica mais barato se vocês forem vários. Vão aí alguns valores de referência:
- Lomé a Togoville e Agbodrafo: 40.000 francos (maior parte do dia, bate e volta)
- Lomé ao Monte Agou e região de Kpalimé: 70.000 francos (um dia inteiro, bate e volta)
- Lomé a Cotonu, 65.000-75.000 francos (só ida)
- Cotonu a Ajudá (Ouidah), 40.000 francos (maior parte do dia, bate e volta)
- Cotonu a Ganvié, 10.000 francos ida e volta
- Cotonu a Porto-Novo ou vice-versa: 10.000 francos

É habitual que sua acomodação conheça algum motorista. A coisa aqui é na informalidade, não espere empresas, mas aquela coisa de “eu tenho um amigo que faz passeios, vou te passar o número dele“. As pessoas usam WhatsApp a toda hora feito no Brasil. E lembre que, como no Brasil, nem todo mundo sabe ler e escrever direito, então rola muito áudio.
Se você estiver em Cotonu, vale muito a pena usar o aplicativo Gozem. Como cheguei a explicar no meu post em Cotonu, nada há de pornô aí. É o Uber do Benim, com opções de motos e carros. Sai beeeem mais barato que motoristas particulares, e ainda que você não queira baixar o aplicativo, pode pedir a alguém da sua acomodação que o use, e aí você negocia de boca com o motorista e faz algum arranjo. Eu poupei bastante dinheiro assim na minha ida de Cotonu a Ganvié.
A qualidade do veículo e do serviço, obviamente, varia. Abaixo, vai o cartão de Francis, um senhor muito competente, experiente, e de preços razoáveis, que recomendo. Ele fala inglês e francês.

Custos & Acomodações. Vamos à parte de que muita gente mais gosta: os custos da viagem.
Tudo depende muitíssimo do nível de acomodação que você escolher. A África costuma ser mais visitada por dignatários estrangeiros (prontos para ficar em hotéis 5 estrelas) que por viajantes como eu e você, então não há uma abundância muito grande de opções de baixo ou médio custo. Se você achar uma na cidade, agarre-a tão logo quanto for possível.
Em Lomé e Cotonu, você é capaz de achar hoteizinhos até arrumados por coisa de €80 por noite. Há pousadas mais baratas por €40 por noite, mas se certifique de ver as avaliações na internet. Há lugares baratos que são bem podreira, e minha recomendação é evitá-los. Eu recomendo o Résidence Hotelière Océane em Lomé e o B&B Chez Rita em Cotonu.
Em Porto-Novo (capital do Benim), eu diria até que não há salvação fora do Centro Cultural Ouadadá. Procure-o e o acharás — ele também é ótimo para organizar passeios próximos, como a Adjarrá e o Riacho Negro.

Os gastos do dia-dia dependerão de onde você comer e das lembranças que quiser comprar. As compras de souvenirs são coisas avulsas, aí por sua conta, mas para o dia-dia imagine em média 10 euros por refeição.
Alimentação aqui não é tão barato quanto você talvez imaginasse. Se comer em hotel, sai um tanto mais que isso (15 euros fácil). Se comer em restaurantes africanos populares, pode até sair 5-7 euros, mas será difícil economizar muito.
O cômputo vai depender sobretudo dos passeios que você vai escolher fazer e de quantas pessoas houver no seu grupo. Viajar sozinho sai bem mais caro. Acompanhado, você pode partilhar os custos de acomodação e dos passeios.
Se quiser passar coisa de 1 semana intensa — fazendo todos os passeios acima — aqui entre o Togo e o Benim, eu sugiro preparar coisa de 900 euros afora os voos. Se ficar em muquifo, economiza; e se ver em mais de uma pessoa, também economiza. Com agência, eu aprecei pelo menos uma, e cobram o dobro disso para lhe levar aos mesmos lugares que eu acabei vendo por conta própria.

Aonde ir, e quantas noites em cada cidade? Togo e Benim são países estreitos e compridos, que se estendem de norte a sul entre uma costa de contato com os portugueses (e, depois, os franceses) e um interior mais remoto que se estende até o Sahel. O Sahel é a região que margeia o Deserto do Saara, já de cultura bem islâmica e, atualmente, certos perigos jihadistas.
Em ambos os casos, estamos falando de países com cerca de 100 Km de leste a oeste e 500 Km de norte a sul. Tudo ou quase tudo de interesse ou acessibilidade turística está no sul — já na costa. É ali que estão as coisas sobre a escravidão, o legado dos europeus colonizadores, assim como as maiores cidades e a grande concentração populacional do Benim e do Togo.
Ir ao norte é uma tarefa quase hercúlea e bastante cara, só feita em transporte privativo na casa de centenas de dólares. Tampouco há muito o que ver lá — a menos que você queira fazer etnografia em vilarejos pobres da zona rural africana. O que há de mais interessante lá são os Tamberma ou Batammariba, que vivem em curiosas casas de barro parecidas com cupinzeiros de tamanho humano. Eu cogitei ir, e fica a dica, mas para chegar lá, meio que só organizando particular, pois sequer se vai e volta no mesmo dia.
É, portanto, no sul do Benim e do Togo que se concentram as atrações e onde se passa a maior parte do tempo, se não todo ele.

Lomé (2-3 noites), capital do Togo, é uma cidade grande de poucos atrativos — aquela bagunça que associados às periferias das metrópoles brasileiras. Numa manhã você vê tudo o que há de interessante aqui, especialmente a catedral e o Marché des Fetiches que lhes mostrei na postagem lá. Se você se programar para estar aqui no fim de semana, pode também visitar o colonial Palácio dos Governadores, que só abre sábado e domingo.
Entretanto, ainda que não seja ela própria lá muito turística, Lomé serve de base para uma viagem necessária até Agbodrafo e Togoville — onde os alemães, e depois os franceses, tiveram sua capital colonial, e onde há coisas sobre o tempo da escravidão. É nessa mesma viagem que você vê — e cruza de canoa — o modesto Lago Togo, que dá nome ao país.
No mais, a região de Kpalimé com o Monte Agu (escrito Agou em francês) e cachoeiras onde se banhar é o que vai interessar o pessoal do ecoturismo e das trilhas. Quem não for pernoitar aqui deve assegurar então uma terceira noite em Lomé para poder vir como bate-e-volta. Quem quiser permanecer mais dias para fazer trilhas pode optar por pernoitar em Kpalimé então. Há muito pouca estrutura, e a coisa é bem “de raiz”.




Portanto, no todo, você pode fazer o básico do Togo com apenas 3 noites em Lomé. Mais que isso, só se quiser trilhar caminhos no Monte Agu em Kpalimé.
Já o Benim exige mais tempo, pois é um país mais rico e mais diverso, com mais lugares distintos e mais coisas históricas sobre a escravidão, aos interessados. Há maior proximidade histórica e afetiva com o Brasil também, pois no Benim se radicaram muitos escravos brasileiros retornados, assim como famílias de traficantes do século XIX — que ficaram amigas do então rei de Daomé, e hoje gozam de bastante estirpe social conforme carregam seus nomes brasileiros como De Souza ou Da Silva.
No Benim, você provavelmente vai precisar de pelo menos duas bases: Cotonu (a metrópole) e Porto-Novo (a capital).
Cotonu (3 noites) é onde fica o aeroporto internacional, e ela tem algumas boas opções de acomodação. A cidade em si não tem muito o que ver afora algumas igrejas coloniais e um mercado de artesanato. Porém, ela é a melhor base para se ir num bate-e-volta até Ganvié (a dita “Veneza da África”) e a Ajudá (que você verá grafada Ouidah em francês e às vezes Whydah em inglês). Ajudá era a principal feitoria de escravos no atual Benim. Não dá para não visitar. Se você não passar umas horas aqui no caminho entre Lomé e Cotonu, tire um dia para vir aqui.


A outra paragem obrigatória no Benim é Porto-Novo (2-3 noites), sua capital. Trata-se de uma cidade bem menor que Cotonu e com certos jeitos brasileiros. Há bastante arquitetura afro-brasileira aqui (veja na postagem do que se trata), inclusive a curiosa mesquita feita à imagem e semelhança das igrejas coloniais barrocas na Bahia.
Numa tarde você vê tudo o que há para ver em Porto-Novo, mas daqui vale a pena também fazer o passeio plácido ao Riacho Negro (la rivière noire) em Adjarrá, na zona rural aqui próxima. De quebra, é um bom lugar onde ver um pouco a vida neste interior pobre do Benim.
Afora a parte histórica colonial, muito aqui em Porto-Novo — como também em Ajudá — é sobre o vodun, a religião tradicional desta região da África, e que forma a base de religiões afro-americanas como o candomblé, o vodu, ou as santerías hispânicas.
Afora esses lugares, você pode ir também a Abomé (a partir de Cotonu), a antiga capital do Reino de Daomé, e onde ainda há simples museus onde ficava a morada do rei. Não espere nada bombástico — pelo que vi, parece mais prédio de escola pública do interior, mas está aí notado a quem quiser ir conhecer o lugar histórico. É necessário ficar pelo menos uma noite por lá.


Uma observação sobre praias. Eu sei que aqui estamos no litoral, mas eu francamente não recomendo a ninguém que saia do Brasil (ou de Portugal) para vir pegar praia aqui. Há beleza no mar, mas as praias são ermas, por vezes sujas, e frequentemente inseguras, sobretudo junto das grandes cidades (Lomé e Cotonu).
Quem quer praia nestas bandas passa uns dias em Grand Popo, uma região do Benim quase à fronteira com o Togo. Não experimentei, mas soube que há turistas europeus que passam uns dias lá. Não me pareceu ter grande estrutura, mas parece haver um básico necessário.
Wi-fi e conectividade. Existe wi-fi nestas bandas da África, e ela funciona relativamente bem (sobretudo no Benim, mais que no Togo). Só não espere que seja muito rápida nem muito estável, mas praticamente toda acomodação voltada a turistas estrangeiros têm.
Em Cotonu e em Porto-Novo, eu não tive problema absolutamente nenhum com o wi-fi. Ambas as acomodações tinham, e dava até para ver uns vídeos. Já em Lomé a coisa é mais incerta. Por exemplo, depois da trovoada que me pegou em plena travessia de canoa do Lago Togo, descobri no hotel que a internet havia caído. Depois, ela voltou, mas só funcionava Instagram, WhatsApp e Facebook — sites não abriam.
Resumo da ópera: wifi é comum, mas incidentes ocorrem.
No mais, há a possibilidade de adquirir chips locais caso você acha que vale a pena para o número de dias da sua estadia. Há sinal em praticamente todo lugar nestas cidades perto da costa.

Comes & Bebes. A gastronomia talvez seja a principal atração cultural a se contemplar neste pedaço da África. Não há grandes monumentos, nem ruínas, nem nenhuma grande obra assim a se fotografar no Benim ou no Togo. A obra cultural mais notável daqui é, a meu ver, o que vem à mesa.
Como lhes observei antes, há um paradigma na África de ofertar “comida internacional” (leia-se: versões chinfrim de pratos sem nenhuma assinatura cultural, tipo peixe frito com arroz ou macarrão com molho) aos turistas, que vêm e vão sem conhecer aquilo que os africanos comem. Escape disso, fale com motoristas ou quem quer que seja, e eles o levarão onde comer bem das coisas típicas daqui.
Não se pode sair do Togo ou do Benim sem experimentar um fufu, bola de inhame pilado na hora, que eles aqui comem de mão acompanhado de algo no molho (geralmente, peixe, frango ou carne). Tampouco se pode deixar de experimentar dos molhos com amendoim, nem dos pratos com azeite de dendê. (Dito isso, não ache que toda a comida aqui são versões originais da comida baiana — nem tudo aqui é feito com azeite de dendê, embora ele seja comum e conhecido.)


Uma característica geral da gastronomia africana é o uso cotidiano de pirões, massas que podem ser de milho ou de outra planta que sirva de “base”, com o inhame. Em francês, eles falam portanto na massa branca (pâte blanche), feita de milho; na massa preta (pâte noire), feita de inhame; e na massa vermelha (pâte rouge), também chamada de djewô ou de djenkumê, e que a meu ver é a mais saborosa delas, já preparada no molho com legumes e, às vezes, frango.
Eles aqui também fazem uso de farinha de mandioca, como no Brasil, e têm pratos que lembram a tapioca, como o atchiekê (ver abaixo). A comida da África Ocidental costuma, de praxe, ser bastante picante, então tenha isso em mente. Se tiver problemas com isso, avise, e quem sabe podem fazer algo mais brando para você. Se não, caia dentro.
Já no reino dos “bebes”, não há lá grande coisa — pelo menos não que eu tenha descoberto. Há álcool fermentado ou destilado a partir de seiva de palmeira, aqui chamado de vinho de palmeira (vin de palme), mas não acho que você estará perdendo nada se sair sem experimentar. A versão destilada disso é incolor e insípida feito uma vodka, enquanto que a versão fermentada — mais tradicional — parece uma água de coco estragada. Prove por curiosidade se quiser; em Adjarrá, por exemplo, você acha.




Compras. Há muito artesanato africano à venda aqui tanto no Togo quanto no Benim. Via de regra, trata-se das mesmas coisas: máscaras tribais, pequenas esculturas de madeiras, balangandãs de plástico, vestes típicas mui coloridas, e telas pintadas.
Algumas peças, você as verá exatamente as mesmas em mais de um lugar (às vezes, em ambos os países), provando que são feitas n’algum lugar central e distribuídas. Portanto, não caia facilmente em história de que “este aqui foi meu finado avô que fez”.
As pessoas contam o que você quiser ouvir acerca da qualidade, do material ou da proveniência, então não acredite em tudo o que ouvir — e barganhe, pois tudo aqui é negociável. Comece tentando baixar o preço de um item e, se quiser outro, deixe para agregá-lo depois e pedir mais uma redução “se levar este e também aquele”.
Ainda que os produtos sejam todos praticamente os mesmos, os preços variam bastante. Os melhores que achei foi nas vendinhas diante da Casa dos Escravos em Agbodrafo, Togo.


Idioma & trato com as pessoas. As pessoas aqui no Benim e no Togo são simpáticas, lembrando bastante os brasileiros de classe pobre ou média-baixa, mas menos abertos. Os beninenses e togoleses são mais taciturnos que nós latinos, mas aos poucos podem ir ganhando confiança e ficando mais à vontade.
Via de regra, estamos em sociedades bastante tradicionais, em que homem com homem de idade semelhante se relaciona na base da “brodagem”, mulher com mulher tem aquela solidariedade de gênero, e interações entre um sexo e o outro dificilmente escapa de certos aromas de corte sexual (como costumava ser no mundo todo e ainda é em muitos lugares do Brasil). Às mulheres eu sugiro cautela se fizerem “amizades” por aqui. No mais, há incrível respeito por pessoas mais velhas — como em praticamente toda a África —, e diferença de idade (sobretudo de geração) é algo que jamais será ignorado.
Mas vamos à parte prática: dá para se virar bem com inglês?
Não. Ou será o mesmo que tentar se virar com inglês na China, na Rússia, ou no interior do Pará. Ou seja, você pode dar a sorte de achar um gato pingado aqui e outro ali com um breve domínio da língua, mas no geral, parta do princípio de que ninguém fala nada do idioma de Shakespeare.
Sem francês, que é a língua corrente do Benim e do Togo, suas possibilidades serão bastante limitadas. Quase todos os turistas aqui são francófonos. C’est la vie.
Se você ficou com alguma dúvida, quer algum toque, ou tem alguma pergunta que eu não respondi, é só pôr abaixo nos comentários.
Adorei.