(Este será um post longo.)
O Senegal é dos países africanos mais conhecidos entre os brasileiros. Ou “conhecidos”, pois poucos eu encontrei que já tenham vindo aqui. Mas ao menos se sabe do Senegal. Há o Rally Paris-Dakar, as canções brasileiras sobre o Senegal, e o país até se destaca nas Copas do Mundo — o critério definitivo para entrar no imaginário brasileiro.
Chico César cantou que “Deve ser legal ser negão no Senegal“ na sua clássica canção Mama África, e os fãs de música baiana jamais se esquecerão do Canto para o Senegal da finada Banda Reflexu’s — que um dia deveria receber um prêmio por inaugurar o ensino de História da África através da música, de um modo que até hoje ninguém no Brasil soube fazer melhor.
Uma curiosidade, entretanto, é que esse Senegal imaginado não corresponde tão bem assim à realidade. Eu acho que até que — na mistura que sempre se faz dos países africanos — se atribuam ao Senegal coisas da cultura iorubá, dos nagô, gente dos atuais Benim e Nigéria a quase 2 mil Km daqui, lá na antiga Costa dos Escravos, e que pouco tem a ver com o Senegal. Assemelham-se na cor preta, mas até o biotipo é diferente. Seria como dizer que russos e franceses são iguais só porque são brancos.

Por exemplo, 97% da população senegalesa é muçulmana, e influenciadíssima pela cultura árabe. Em alguns aspectos, parece até que você está no Marrocos, só que com gente preta. Há uma população cristã residual pelos contatos com europeus — portugueses, holandeses, ingleses, e depois a longa colonização francesa que legou o francês como língua oficial no país —, mas você não demora a perceber que os séculos de contato com os árabes desde a Idade Média pesam mais.
É hora de conhecermos e de darmos umas voltas por esta Dakar de verdade, pela capital senegalesa como ela é, com suas atrações, suas ruas, monumentos, igrejas, mesquitas, e sua gente.
Há coisas de que gostar e coisas de que não gostar — a realidade é assim. Um detalhe a observar é que Dakar é bem mais desenvolvida do que se geralmente pensa. Às vezes, até parece que estamos no Brasil, mas é no nosso vizinho separado por um oceano que se fez rio com as navegações.

O Senegal na África, parte da antiga Senegâmbia

Permitam-me um breve preâmbulo aqui só para posicionar o Senegal antes de continuarmos.
Estamos num país do tamanho do Estado do Paraná, onde as areias desérticas do norte da África começam a encontrar a África Ocidental tropical, que tanto parece nossa Mata Atlântica. São 16 milhões de pessoas de seis grupos étnicos principais (37% são wolof, 30% são fula, e o terço restante são várias minorias).
Quase todas as pessoas são islâmicas. Como seus idiomas nem sequer se parecem uns com os outros, usa-se em geral o francês na vida pública — uma herança colonial.
Os franceses colonizaram o Senegal desde os idos de 1850, quando os europeus decidiram adentrar o continente e dominá-lo administrativamente. Até então, pouco se atreviam a se distanciar da costa. Quem se atrevia, em geral padecia de doenças tropicais como a malária, e o interesse europeu aqui era essencialmente comercial. Houve um interesse — sobretudo português no início — de conversão de almas ao cristianismo, saídos que estavam de séculos de guerras santas contra os mouros na Idade Média, mas isso logo adquiriria um papel secundário.
Os portugueses aparecem aqui ainda no século XV, os primeiros europeus a navegar por estas bandas e a inaugurar o comércio de escravos no Atlântico. Os árabes e turcos já comerciavam escravos negros da África Oriental desde o medievo, mas os europeus dariam a isso proporções bem outras. Holandeses, ingleses e por fim os franceses tomariam o controle das feitorias portuguesas na costa do atual Senegal a partir do século XVII — mas da escravidão eu tratarei melhor quando visitarmos a Ilha de Goreia (ou Gorée), pertinho aqui de Dakar.
Senegâmbia?

Não é raro que os países africanos extraiam seus nomes de rios ou lagos que já tinham esses nomes antes.
É o caso do Senegal, batizado assim por causa do rio Senegal, que constitui sua fronteira norte (com a Mauritânia). Tudo indica que o nome do rio, por sua vez, advém de como os portugueses chamaram os Zenaga, um povo berbere hoje extinto do sul da Mauritânia, justo no lado norte desse curso d’água.
Mais a sul, o próximo rio a chamar a atenção dos navegadores portugueses seria o rio Gâmbia. É onde no mapa você vê aquele país comprido no interior do Senegal. A Gâmbia, um país independente e soberano, é basicamente o curso do rio e suas margens.
Como se deu de serem países diferentes? É simples. Quando os portugueses se embrenham em guerras contra os holandeses no século XVII e depois ambos dão lugar à França e à Inglaterra como potências europeias supremas, os franceses agarram a foz do rio Senegal e os ingleses, o rio Gâmbia. Só que a França veio a dominar quase tudo aqui na África Ocidental, restando aos ingleses apenas uma pontinha.
Hoje, o Senegal portanto fala francês, e a Gâmbia fala inglês. Eles tentaram estabelecer nos anos 1980 uma confederação chamada Senegâmbia, de 1982 a 1989, mas que não deu certo. Hoje, são países distintos.
Pois muito bem. Vem muito Senegal por aí. Quem não conheceu a clássica música dos anos 1980 sobre o país, ouçam-na aí abaixo, num certo vídeo explicativo. Acompanhem-me em seguida para desembarcarmos em Dakar, e virmos conhecer a cidade.
Descobrindo Dakar
Eu tratei no post anterior sobre minha chegada no Aeroporto de Dakar e suas mumunhas, assim como minha experiência com a Air Senegal.
Foi ali me buscar Mamadou [lê-se Mamadú], um coroa senegalês de bigode com o ar daquele seu tio, já de seus 60 anos e que tinha um tique curioso de dar uns estalidos na língua quando falava — eu não sabia se era sotaque ou se algum problema de fala. Sei que dirigia com aquela gana de quem quer chegar logo, sem piedade no acelerador. Quase todas as estradas no Senegal são retões a perder de vista.
Ele parecia querer embolsar logo os 25.000 francos (a mesma moeda do Togo e do Benim, outra herança colonial francesa), equivalentes a quase 40 euros, que concordei em pagar. Também pudera: são nada menos que 50 Km deste distante aeroporto até o centro de Dakar.
Pelo menos a estrada era boa, observou ele, dizendo que havia sido feita pelos franceses num regime de concessão por 35 anos. Paramos apenas para os pedágios, ao que casas apareciam nas secas e empoeiradas laterais da pista. O dinheiro vai para a concessionária francesa. Mamadou ia conversando comigo enquanto a rádio dava o noticiário em francês. “Eles continuam a nos explorar”, disse-me naquele tom vivido de quem diz “eu já conheço como é o esquema”.

Ao que finalmente começamos a adentrar Dakar dezenas de quilômetros de poeira depois, não se demora a notar que ela é uma cidade bem maior e mais desenvolvida que Lomé ou mesmo Cotonu, que eu havia recentemente visitado no Togo e no Benim.
Se você imagina o Senegal como aquelas tribos de gente semi-nua passando fome que a mídia ocidental mostra, está desatualizadíssimo. Existe muita pobreza, mas ela hoje é uma pobreza à brasileira — urbana, de desigualdades, de crianças de rua e desabrigados que zanzam em meio a prédios modernos com os logotipos de empresas internacionais, frequentemente francesas.


Eu me instalei num hotel bem no centro da cidade, pois gosto de vir aos lugares para conhecê-los, afinal. (Não me fale em hotel distante em que você fica numa bolha isolado). O lugar não era nem um pouco luxuoso, mas tinha o básico e me servia para ir a pé à maioria das atrações.
Uns franceses que encontrei em Porto-Novo no Benim haviam me dito que caminhar pelo centro de Dakar era impraticável, mas isso foi um exagero grosseiro. Pode não ser exatamente uma Paris, mas não é tão diferente do centro do Rio de Janeiro.
Dakar é uma cidade bastante espalhada, e há lugares aonde só se vai de táxi, mas mesmo em retrospecto eu acho que o melhor lugar onde se hospedar é o centro, a zona também chamada de Dakar Plateau. Não espere encontrar nada muito antigo na cidade, pois Dakar não era a capital colonial (esta seria Saint-Louis, aonde depois iremos), mas há bastante coisa com ares de começo do século XX.
Dakar tem uma geografia um tanto sui generis e que lembra uma alabarda — o que os menos versados em armas medievais dizem que parece um martelo. O centro fica bem na ponta, o que é um convite aos engarrafamentos, mas é onde estão os principais pontos de interesse da cidade.


A acolhida
Acolheu-me no hotel Aicha, com quem eu já havia me correspondido para acertar a logística do traslado. O nome é árabe, a quem não reconhece. Aicha foi a terceira esposa do Profeta Maomé — e o título talvez da canção mais famosa do inesquecível cantor argelino Khaled. Estamos aqui naquele ambiente, meio África Ocidental, meio magrebino com as influências mouras.
Esta Aicha tinha um jeito espirituoso, altivo, e um olhar vivo de universitária de humanas ou de quem faz negócios sem se deixar levar pela ganância. Era uma moça de seus 30 anos, um tom de pele mulato escuro e tranças curtas por detrás do pescoço. Às vezes usava óculos, e tinha um breve sorriso franco. Resolveria-me tudo aqui; era uma daquelas pessoas a quem você sabe que pode apelar.
O hotel em si era simples, com um quê de influência mediterrânea tropicalizada. Um pátio interno no meio, com plantas, mesas e algumas palmeiras. Vários quartos se situavam ao redor no térreo e num primeiro andar. As faxineiras circulavam, e naquelas mesas funcionava um restaurante onde moças pretas assistindo à televisão serviam café da manhã, almoço e jantar. Eu ali experimentaria várias comidas típicas do Senegal.


Voltas em Dakar, Parte 1: A Catedral
Dakar pode não ser em si própria uma cidade bela, mas há marcos bonitos a visitar.
Naquela mesma tarde, ainda antes de a noite cair, fui dar umas voltas pela rua e vi a bela catedral da cidade, onde quase que pela primeira vez na vida eu vi vitrais com figuras sacras negras. Do mesmo modo como os europeus alouraram Jesus, eles aqui enegreceram São Cristóvão, por exemplo. No teto, um lindo mural de inspiração artística europeia com figuras de aspecto africano.
A Catedral de Dakar foi consagrada em 1936, ainda durante o período colonial francês, e tem algo de semelhante ao Art Déco daquele tempo. Formalmente, contudo, o estilo de suas torres é chamado de neo-sudanês, com uma abóbada central neo-bizantina.




Se a igreja não lhes parece muito cheia (diferente da que mostrei em Lomé, por exemplo), isso é porque o grosso das pessoas aqui são muçulmanas, e portanto vão à mesquita.
Eu logo visitaria duas mesquitas que não se deve sair daqui sem ver, mas não hoje. Por ora, circulei pouco, apenas até a noite cair. O centro de Dakar é muvucado, com mais pedintes que no Brasil, mas menos violenta. De toda maneira, eu não quis abusar zanzando demais à noite.

Voltei ao hotel para o que seria minha primeira refeição senegalesa. No dia seguinte eu veria Dakar em todo seu fulgor.
De volta ao restaurante do hotel, tratei logo de pedir um suco de ditakh, fruta africana de que eu nunca havia ouvido falar. (Eu acho engraçado como nós brasileiros frequentemente supomos conhecer todas as frutas que existem na Terra. Fico então fascinado quando acho uma nova.)
A fruta é verde por dentro, e seu gosto me lembrou kiwi batido com folhas — tipo aqueles sucos de clorofila. (Fica melhor se não encherem demais de açúcar, o que eles aqui facilmente fazem igual em certos lugares do Brasil.)
Ele acompanharia um yassá de peixe com arroz. O yassá é um prato feito com cebolas e limão no molho, que portanto tem uma pontinha acre. Acompanha arroz como de hábito nos pratos senegaleses — influência árabe medieval, que trouxe o grão asiático para estas bandas e, consequentemente, também para o hábito alimentar brasileiro. (Vocês provavelmente não sabem, mas os estrangeiros ficam surpresos com a frequência com que os brasileiros comemos arroz, quase tanto quanto os chineses e japoneses.)



Comendo e aprendendo. Na manhã seguinte, lá estaria eu ali pronto para ir mais além em Dakar.

Voltas em Dakar, Parte 2: A Mesquita da Divindade e o Monumento da Renascença Africana
Há duas mesquitas dignas de nota e de interesse ao visitante na cidade: a Mesquita da Divindade e a Mesquita Massalikoul Djinane, a maior de toda a África Ocidental. Ambas ficam longe do centro e exigem tomar um táxi, pois não há transporte público. Peça na recepção do seu hotel uma estimativa de preço. Tudo aqui é negociado, então esqueça taxímetro. Mas não é caro, estamos falando em coisa de 3.000-5.000 francos (o equivalente a 5-8 euros).
À Mesquita da Divindade (Mosquée de la Divinité), a mais pitoresca, eu fui num táxi que me levaria também ao famoso Monumento da Renascença Africana, já que eles ficam próximos um do outro, ambos a vários quilômetros do centro da cidade.
Os táxis de Dakar são umas arabacas velhas amarelas e pretas. Todos parecem do século passado — dos anos 90, 80, ou até do tempo de colônia, uns Peugeot claramente no bagaço e às vezes até remendados com portas de outra cor. Em vez de irem para a sucata, parece que os veículos estragados aqui são postos para circular na rua como táxis.
Foi um desses que eu tomei naquela fatídica manhã de sol, que me lembrava uma manhã na Bahia ali à beira-mar, só que menos úmida. O Senegal é tão quente quanto, porém mais seco.

Ao que rumamos naquela manhã pelas ruas de Dakar, ainda antes de o sol esquentar muito, estava escrito — e Allah o sabia — que a arabaca velha do taxista morreria justo na altura da Mesquita da Divindade, diante da falésia e do mar. É bonita, dizem que sobretudo por fora e vista assim à de longe na paisagem. Aproveitei-me daquilo para atravessar a pista onde estávamos e tirar algumas fotos da vista com a mesquita ali perto do mar.


Caso você esteja a se perguntar, há muito de costa e pouco de praia propriamente dita. O litoral aqui é quase todo rochoso, e talvez também por uma questão cultural, não se vê — como seria no Brasil — a gente toda dentro d’água nem pegando sol. Isso é cultural nosso. Aqui, são mais as vistas, e a mesquita faz parte do conjunto.
O taxista pareceu consertar o necessário, o carro já estava pegando de novo, e reatravessei a pista para enfim continuarmos até o Monumento da Renascença Africana.
Menos de 10 minutos depois, o carro morreria de novo mais adiante ainda antes de chegarmos. Vi o ponteiro da velocidade cair aos poucos, aquela coisa de filme, e cheguei mesmo a ter a sensação de que já nos movíamos meramente por inércia, sem mais o motor do carro funcionar.

Já vendo a alta estátua da Renascença Africana no alto a poucas centenas de metros de nós, eu lhe disse que resolvesse o problema do carro em paz e que eu terminaria o trajeto a pé, mas ele insistiu que seria coisa simples de ajustar e que me levaria.
De fato, não demorou muito. Logo estaríamos fechando a corrida, eu diante da escadaria que leva ao alto do monumento. Não é pago, então não deixe nenhum matuto lhe cobrar nada. Aqui é um tanto como no restante do mundo muçulmano ou na Índia, e há desses espertos na rua abordando os turistas.
Como ainda estávamos às 9h da manhã, tudo seguia quieto. O monumento acabava de abrir. Umas barracas cá embaixo seguiam com uma lona branca por cima, a suposta lojinha seguia às escuras, e só gradualmente umas turistas francesas começavam a se fazer presentes. Um casal europeu passou por mim acompanhado de um guia negro explicando, e eu agora contemplava a subida.



O Monumento da Renascença Africana data de 2010, tendo começado em 2008 pelos 50 anos de independência do Senegal da França em 1958. São 49m de bronze, numa obra curiosamente realizada pelo Estúdio de Arte Mansudae, da Coreia de Norte. Eles têm experiência no ramo das estátuas monumentais em bronze.
A obra mostra um homem, uma mulher e uma criança africana — uma família numa pose um tanto heroica, com a criança a apontar para frente, ao futuro. Analisando bem, há mesmo um quê soviético popular “glorioso” no seu estilo.

O monumento é bonito, alto. Você talvez já o tenha visto no Instagram. Ele se tornou relativamente comum pelo Brasil, divulgado sobretudo em tônica de afirmação racial. (É esse, afinal, o seu propósito.)
Aos curiosos, essa é a maior estátua em toda a África e a segunda maior fora da Ásia. (Quase todas as 50 maiores estátuas do mundo são de Buda). Apenas uma, no México, chega a ser 1m maior, o Guerrero Chimalli em Chimalhuacán. Para comparação, o Cristo Redentor tem 30m de altura e a Estátua da Liberdade, 46m.
São 5.000 francos (8 euros) para subir por dentro do monumento até o topo da estátua, mas eu não vi necessidade para isso. Os duzentos e tantos degraus até a base já o trazem bem alto, onde o vento bate e você tem certa vista para o entorno de Dakar.



Voltas em Dakar, Parte 3: O miolão do centro, a Praça da Independência, e o almoço
Dali eu desci e chamei outro táxi que me levasse de volta ao centro — não de volta ao meu hotel, mas à estação ferroviária, próxima ao porto e à Praça da Independência. Vamos agora ao centro do centro de Dakar.
No trajeto, cheguei ainda a ver um outro carro morto sendo empurrado por alguém atrás, ao que um motociclista ia também atrás com o pé ajudando a empurrar o finado carro com o motor de sua moto. Ô coisa. Pelo menos o meu não morreu desta vez.
A estação ferroviária de Dakar é linda, do período colonial, mas não leva a muitos lugares. Como ocorre noutras partes do mundo, fecharam-se muitas linhas antigas do começo do século XX, e agora estão num esforço de ressuscitá-las em versão moderna. Dizem que no final de 2023 haverá um trajeto até o aeroporto — a ver.
De toda maneira, não dá para vir a Dakar e não a ver.

Pertinho daqui, logo ao lado, fica a estação marítima (la Gare Maritime) onde comprar passagens de ferry até a Ilha de Gorée. Basta comprar a passagem no próprio dia, algumas horas antes, e foi o que fiz.





Esta Place de l’Independence tem seu quê arrumadinho, com a prefeitura ali e o ministério de relações exteriores no estilo Art Déco francês dos anos 1930 — nada demais, não é um estilo que eu aprecie tanto, de arcos circulares e formas geométricas limpas na arquitetura.
É bem lá que o chama-chama fica mais forte, primeiro em francês com a cortesia habitual ou, mudando para o inglês se você não reagir, convertia-se numa informalidade meio jamaicana de Heeey, brotha! Hello, hello!
Vale ficar um pouco esperto. Muito embora não haja assaltos à mão armada como é corriqueiro no Brasil, há uns matutos de rua que vão abordá-lo. Sabe-se que turistas vêm aqui a esta praça, então tem uns espertos que ficam chamando. É só não dar trela nem se demorar muito tirando fotos.



Se você está achando tudo até bem arrumado, é porque estamos nas vias principais. Como no Brasil, a coisa varia bastante. As cidades são desiguais.
Foi justo pelas ruas estreitas que eu me meteria para achar Chez Loutcha, talvez o restaurante típico popular mais conhecido entre os turistas. É onde fazer uma boa refeição senegalesa sem ter que desembolsar demais por isso, e sem o ambiente artificialmente grã-fino dos hoteis.
Pra isso, meti-me pelas ruelas onde o movimento é mais intenso. Carros metendo-se a passar nas ruas estreitas, motos na contramão, calçadas tomadas por bancas de frutas, e gente a caminhar pela rua. Vi senhoras várias com banquinhas de amendoim cozido ou torrado, essa planta das Américas que eles aqui cultivam e usam de muitas formas na comida (o óleo, nos molhos, etc.).



Eu via uma quantidade considerável de homens jovens sem aparentemente fazer nada, além dos muitos grupelhos de crianças pedintes, trupes de meninos pretos pela rua que fazem parecer uma versão africana de Capitães da Areia quase um século depois da obra.
Entre um ou outro com ares de classe média, achei curioso ver um número até razoável de outras pessoas morenas, não-negras, como eu na rua. Fiquei contente de não ser mais quase o único, como ocorria no Benim e no Togo. É que há uma quantidade considerável de libaneses radicados no Senegal, vindos durante a colonização francesa, já que a França também colonizou o Líbano.
Quando eu caminhava de modo mais certeiro, ninguém me parava; mas se eu começasse a fazer um pouco cara de perdido, de quem vai olhar o caminho no aplicativo do celular, não demorava muito até alguém chegar vendendo algo ou pedindo esmola. Os matutos podem até se disfarçar naquela cordialidade afetada, não genuína, mas é tudo quase sempre naquela base interesseira, como ocorre na Índia e mundo muçulmano afora. Despistei um tio que veio com conversa de vendedor, e foi assim que eu cheguei a Chez Loutcha, finalmente.
Chez Loutcha, restaurante regido por uma senhora cabo-verdiana com sua trupe de mulheres, é lugar ideal para você ter um almoço senegalês típico. Há pratos cabo-verdianos também, mas servem um tchiebu-djienne — o prato mais famoso do Senegal — de não se colocar defeito. Foi o melhor que eu comeria nesta viagem.

Tchiebu-djienne é considerado o prato nacional do Senegal. Eles na emigração perguntam se você comeu um; se não, não deixam você sair do país. (Brincadeira).
Trata-se de um primo africano da paella, ambos pratos de influência árabe. Quem ficar surpreso, digo que o próprio nome paelha vem do árabe baqaayya, que quer dizer as “sobras” de arroz, carnes e legumes que os serventes dos reis mouros juntavam na panela na Espanha medieval. (Há quem sugira que o nome “paella” vem, em vez disso, da mesma etimologia latina de “panela”, o que é possível, mas o prato é indubitavelmente mouro.)
Já tchiebu-djienne vem das palavras chêeb (arroz) e djên (peixe) na língua wolof aqui do Senegal. Arroz de peixe, cozido junto e acompanhado de diversos legumes.


O engraçado é que você pede uma coca e eles lhe servem uma World Cola. Já esteja avisado.
Vocês que acham o Brasil desregrado, experimentem viajar por países onde não há aquela coisa chamada Código de Defesa do Consumidor. Aqui, por exemplo, eles cobram uma taxa extra se o prato for dividido entre duas pessoas. (Pode isso, Arnaldo?) Como eu não tinha mesmo com quem dividir, comi o tchiebu-djienne todo sozinho. Acho que não saiu mais que 10 euros.
Os muito observadores notarão que eu estou com uma camisa diferente nessa foto, e isso não é porque eu tivesse tomado banho na cidade. A seguir à risca cronologicamente, eu da Praça da Independência fui buscar minhas coisas no hotel, almocei por lá, e tomei o ferry rumo à Ilha de Gorée para retornar a Dakar cá no outro dia, e esse almoço em Loutcha foi após chegar.
A ida e vinda com a visita a Gorée eu mostrarei em detalhes na postagem seguinte, mas eu não quis quebrar Dakar no meio, então vamos à parte final do que mais eu vi na cidade após retornar.

Voltas em Dakar, Parte final: A Mesquita Massalikoul Djinane e o Museu das Civilizações Negras
Não se deve sair de Dakar sem ver o que, a meu ver, é o que ela tem de mais belo: sua Mesquita Massalikoul Djinane, a maior de toda a África Ocidental. (Não confundir com a Grande Mesquita de Dakar, que é menor apesar do nome.) Por fora, você nem dá muito a ela, embora tenha sua beleza. É por dentro que ela se revela.
Lá iria eu naquela tarde em mais uma expedição de táxi Dakar afora. Graças a Allah, desta vez não houve contratempos. Logo eu estaria naquela zona meio erma do entorno dessa mesquita, seus amplos estacionamentos e o templo islâmico ali aberto nas suas várias portas. Como de hábito, é preciso deixar os sapatos à entrada — e ninguém os rouba, só é preciso que você próprio se lembre de onde os deixou e observe que há acessos diferentes para homens e mulheres.
Estritamente falando, eu não sei até que ponto a visita de não-muçulmanos é permitida, mas é nestas horas que minha cara mourisca me serve. Você não precisa dizer nada a ninguém, é só ir entrando. As portas estão abertas.


Deixei meus sapatos numa das estantes próprias para isso nas varandas vazias deste reluzente prédio de pedra lisa, e com os pés descalços adentrei o interior atapetado. Via de regra, é permitido adentrar de meias, mas fica aí a seu critério.




Passei ali um tempo contemplando. Você olha, reolha, reflete, pensa. O ambiente é propício.
Até que por fim me retirei para tomar mais um táxi rumo à última atração que eu veria em Dakar nesta viagem: o também recente Museu das Civilizações Negras. Foi inaugurado apenas em 2018, então relatos e guias mais antigos também o omitirão — mas nós fomos conferir.
À entrada do redondo edifício, feito à imagem e semelhança das casas típicas da Casamansa (região do sul do Senegal), já se ouviam os bumbos e gritos meio árabes — igual mulheres em O Clone — de uma trupe de gente vestida com as cores do país fazendo “corredor senegalês”. Eu não soube exatamente o porquê, mas parecia estar rolando algum evento ali dentro.



Vamos lá, uma palhinha da música para não dizer que não ouviram os tambores.
Eu não vou mentir dizendo que o museu me impressionou muito. É um museu com ares de reclame cultural, de manifesto em defesa da África e seu valor, mais do que uma real exposição histórica sobre as diversas civilizações deste continente — o que eu esperava encontrar.
Ele vai encantar mais a galera cirandeira já entusiasta. Há mais sobre a pré-história que qualquer outra coisa, com ares de Feira de Ciências na lustrosa edificação. O prédio é mais impressionante que seu conteúdo (levado e guardado ainda pelos ingleses, franceses e alemães, afinal).
A parte artística — quase toda ela contemporânea — acabou me impressionando mais que a histórica, até porque pouco há sobre as várias civilizações da África.





No fim das contas, Dakar se revelou a mim uma cidade de atratividade mediana, com seus pontos agradáveis e passível de ser visitada por uns dias — não há nada de escabroso aqui como alguns podem imaginar —, mas tampouco é uma daquelas cidades cativantes e “gostosas”. De toda maneira, estão apresentados.
Eu diria que 2-3 noites aqui resolvem, seguramente com a terceira se você quiser fazer o bate-e-volta de um turno até o Lago Rosa (chegaremos lá). Há ainda outros lugares na cidade que não visitei, como o Marché HLM ou o Mercado Sandaga, mas aí é para quem quer o ápice da muvuca. Fica aí a dica a quem estiver interessado em compras, de toda feita.
Há também o Museu IFAN (Institut Fondamental d’Afrique Noire) de Artes Africanas, com certo foco em artes manuais e contemporâneas, um tanto semelhante às obras que lhes mostrei acima.
O fundamental mesmo é ir até à Ilha de Gorée, que é onde verdadeiramente está a História de Dakar. É como se seu bairro histórico, em vez de no centro da cidade, estivesse numa ilha separado — a meros 20 minutos de ferry. Ali, nos olhando, ela exige que devolvamos o olhar, e eu sugiro bastante fazer um pernoite lá. Deixemos por ora esta Dakar moderna com todas as suas vicissitudes do subdesenvolvimento para trás, e embarquemos rumo ao passado.

DAKAR….A famosa e histórica Dakar…no histórico Senegal..Cantada/do em prosa e verso pelos grupos negros baianos,.. parte dessa Africa tào nossa…tào sofrida e tào bela e misteriosa que tanto nos atrai….
Vamos lá… Que venham suas belezas…
Lindo esse painel de abertura. A cara da África .. luzes, cores, alegria de viver independente das circunstâncias. Povo guerreiro, corajoso, vibrante, como o sol que domina aquele continente. Belo painel.
Que beleza… assistindo feliz…a saudosa banda Reflexu’s, com sua memorável música … Sene Sene Senegal.. cantada como um hino de amor aos seus antepassados, por todo o grupo do Yle Aiê em carnavais passados, pelas ladeiras da velha Salvador… uma apoteose…
A cidade tem partes bonitas e arrumadas. Parece desenvolvida. Embora se vejam sinais de subdesenvolvimento.
Linda a postagem. Linda a música. Ouvindo novamente para matar a saudade… Encantada e saudosa de outros carnavais…
A cidade tem algo de semelhante ao Vietnã e o Cambodja… nào sei bem o quê… Talvez as ruas e parte do seu auê…
Bela Aicha.. linda interpretaçào.. Linda música,… o macaquinho é uma graça. conheci um chamado Rafael…
Gostei muito do hotel do senhor, meu jovem amigo… lindo o interior.. adoro esse estilo… mais bonito que os Riads do Marrocos, embora tenha gostado tanbem dos de la.
Bela a catedral… gostei da fusao de estilos… deu certo…
Elegante e vistosa… Bonito e arrumado o interior…
Aprecio esses tons leves, gostei da iluminaçao e decoraçào.. De muito bom gosto. Linda e sugestiva a pintura… Aprecio o estilo.
Essa frutinha parece filha da fruta pào. mas o suco, pelo visto parece kiwy.
Amei a Estaçào Ferroviária de Dakar…Elegante, colorida, bonita a agradável… Estacào de embarque acolhedora…
Cidade bonita, céu lindo…
Lindo o edifício da Câmara do Comercio… Belo estilo.
Praça bonita…limpa, arborizada, com dignos e charmosos edificios… Tudo bonito…
E o viajante, todo prosa hahaha…
Vilgem que rua horrorosa,,, que auê..Jisuis..
Haja bandeiras…
Parece haver alguns locais como o SE asiàtico..umas bodegas a la Hong Kong….Hanoi…
a cara da comilança está ótima… Molho vermelho bonito…
A casa feliz do viajante ja diz tudo…
UAAAUU…Belissima,,,Soberba, essa Mesquita.. Linda… mais bonita ou do nível daquela de Casablanca… Estilo magnífico… Adoro esses arcos mouriscos, lindamente decorados.. nesse precioso e acarpetado interior…Um charme…
Belíssima cúpula… Os tons delicados são encantadores…
Bela sintonia do viajante com o templo, Alhah, Clemente e Misericordioso acompanhe o jovem viajante e o proteja sempre…
Gostei do Museu tambem…Belos tons… doces e elegantes…Moderno e interessante…
Bom que estava acontecendo algo… Certamente saudando a visita ilustre do viajante…
Bem animados…
Mais um lindo interior…Essa árvore no meio ficou bem bonita…símbólica…
Gosto sempre das vestimentas, suas cores, padronagens, motivos, tons brilhantes.. uma graca…
Amo tambem suas pinturas…Lindo jogo de cores, de luzes e sombra.. uma beleza…
Vilgens os calhambeques .. coitado do viajante ..hahah
Gostei muito de Dakar.. A cara da África, com suas belezas e dificuldades associadas aos problemas do subdesenvolvimento.
Que venham mais belezas da Mamma África, tao parecida com o nosso Brasil, na outra margem desse ”Rio chamado Atlantico” como o chama o escritor brasileiro..
Obrigada, jovem viajante brasileiro, por descortinar para nós esse cenário intrigante e históricamente tao próximo de nós brasileiros, particularmente nordestinos.
Vamos que vamos…